Selo Scream & Yell: Ouça e baixe a coletânea “Somos Todos Latinos”

Somos todos latinos, essa é a verdade. Se você for buscar na etimologia do idioma, vai ver que “latino” se refere ao idioma, e aí valem o português, o espanhol, francês italiano, galego e outros, muitos outros. Etnicamente… bom, aí a coisa é ainda mais vaga. O que guatemaltecos, colombianos das regiões montanhosas, brasileiros do cerrado e bolivianos dos salares têm em comum? Nada. Ou o fato de serem todos “latinos”, numa classificação que é apenas mercadológica e preconceituosa. O continente americano é muito rico culturalmente, mais ainda em diversidade étnica. E não é porque moram perto que os habitantes da região são “iguais”. Mas igualdade humana não tem a ver com semelhança. Tem a ver com igualdade. Com ser feito da mesma poeira, e pronto. Mas ainda assim, é reconfortante – e belo – acreditar que algo em comum nos une . Que, ao cruzar uma fronteira geográfica e política, é possível encontrar um semelhante, e alguém que só não se sente mais próximo de você porque calhou que nessas praias (e nesses sertões, nessas montanhas…) se fala português, e não espanhol. O que seria esse elemento de união? Quero crer que não é uma única e definível coisa, mas sim um conjunto de aspirações, comportamentos e sensibilidades, os quais são representados com a devida sensibilidade pela música. E que, por isso, os músicos podem dizer melhor do que qualquer um porque somos todos latinos.

por Leonardo Vinhas, produtor da coletânea “Somos Todos Latinos”

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Imagine que não houvesse nenhum país, cantava um João nos anos setenta. Neste mundo cada vez mais capitalista, imaginar um mundo sem fronteiras é algo incabível, afinal os países se transformaram em organizações com fim lucrativo, e, muitas vezes, para alguém ganhar outro perde. Ainda assim, mesmo que não houvesse fronteiras, cada cidade, cada povoado, cada pessoa exprimiria intrinsecamente seu universo de cultura, com comidas, língua, sons e tudo mais ligado ao seu lugar. Bem, as fronteiras existem, os países também, mas, por fim, somos todos seres humanos habitando um mesmo planeta e seduzidos por comidas, línguas e sons de todas as partes do mundo. Somos brasileiros, mas também somos latinos, americanos e mundiais. O que esta coletânea propõe é abrirmos o ouvido e o coração para sons que não são os de nosso país, mas estão tão próximos a nós e possuem uma qualidade tão visível que o valorizarmos não é apenas um modo de ampliar o olhar acima das fronteiras, mas também nos aproximarmos de pessoas que são como nós, e também abrem o coração para boas canções. Ainda que aquele João que cantava “Imagine” tenha sido vítima de um ato de violência, o sonho de um mundo melhor permanece, o sonho de uma América Latina melhor permanece, o sonho de um mundo multicultural permanece. “Somos Todos Latinos” é nossa pequena parcela de colaboração nessa integração de povos. Alguém pode dizer que é “só uma coletânea de canções”, mas nós sabemos que é muito mais do que isso. Esperamos que você também.

por Marcelo Costa, editor do site Scream & Yell

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FAÇA O DOWNLOAD GRATUITO DE “SOMOS TODOS LATINOS” AQUI

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Faixa a faixa: SOMOS TODOS LATINOS, por Leonardo Vinhas

01) Todas las Hojas Son del Viento – A faixa de abertura de “Artaud”, disco de 1972 que é considerado quase unanimemente o melhor disco da história do rock argentino, abre também este tributo. Porém, a delicadeza eminentemente acústica do Pescado Rabioso ganha muitas guitarras, violões e até um banjo encorpando a bela melodia, numa psicodélica versão do duo paranaense Nevilton.

02) Ver na Escuridão – “Ver en la Oscuridad”, do Deluxe (Espanha), é a faixa mais indie pop dentre as versionadas. O trio Bob Shut, de Caxias do Sul (RS), sabe disso e faz uma rendição bem fiel, ainda que mais romântica, em consonância com o espírito e a estética da banda.

03) O Campo em Cidade – Dé Palmeira, baixista da Panamericana, faz seu primeiro registro solo com uma composição do uruguaio Gonzalo Deniz, vulgo Franny Glass. Os ares montevideanos se transformam em uma paisagem carioca, com a melancolia do oceano umedecendo e acinzentando o fim da tarde.

04) De Nosotros Dos – A paulista Juliana R, afeita à obra de Serge Gainsbourg, faz conviver as facetas dub e romântica do compositor francês, alterando o “toco”, ritmo desenvolvido ao violão pelo uruguaio Eduardo Mateo, para algo totalmente diferente – e mais sexy.

05) Loca – Em festas de clubes e de ruas, o original cumbiero do Chico Trujillo põe a pista para dançar. O combo mezzo-paulista mezzo-pernambucano Dinâmica de Grupo prefere criar outro tipo de movimento corporal, numa versão mais intimista e sensual, com um diálogo entre voz masculina e feminina que inexiste na gravação do combo chileno.

06) Maligno – Honrando o nome, o quarteto La Carne, de Osasco (SP), recria a densa egotrip de crise de abstinência cantada pelos colombianos Aterciopelados em um registro ainda mais grave, com baixo à frente e a indefectível assinatura da guitarra sem pedais de Jorge Jordão.

07) La Edad del Cielo – A canção de Jorge Drexler já havia obtido sucesso em uma regravação (em português) de Paulinho Moska em 2003. Porém, com o devido respeito ao ex-Inimigos do Rei e ao compositor uruguaio, a carioca Vivian Benford supera o original e o primeiro cover, ao “enguitarrar” o tema, numa versão shoegazer e sentida que acentua a pungência poética de Drexler.

08) La Maza – Embora de autoria do cubano Silvio Rodriguez, essa chacarera é mais conhecida na gravação da argentina Mercedes Sosa. Na interpretação da gaúcha Lara Rossato, instrumental e voz buscam caminhos mais roqueiros sem dispensar a estrutura tradicional da canção.

09) Vivir y Olvidar – Gravada “nos intervalos de sono do bebê”, essa versão do casal Andrio Barbosa e Liege Milk, vulgo Medialunas, resultou mais acústica e otimista que o original da extinta banda argentina Los Impermeables. A “buena onda” do clima familiar toma conta do home studio da dupla e chega até o ouvinte.

10) Té para Tres – Falecido em 2014, Gustavo Ceratí foi um dos maiores nomes do rock da Argentina. “Té para Tres” era uma de suas canções favoritas e de maior sucesso, por isso, ele a executava com muitos andamentos e arranjos diferentes, fosse com o Soda Stereo ou na carreira solo. Em sua primeira gravação de volta ao formato one man band, The September Guests consegue honrar a original, sendo respeitoso e pessoal ao mesmo tempo.

11) Más o Menos Bien – “É uma canção otimista”, diz Beto Só sobre a faixa do El Mató a Un Policía Motorizado. Há quem a ache um tanto quanto irônica, outros ácida… Mas na leitura intimista e depurada do músico brasiliense, ela realmente se torna uma mensagem de esperança, e todos acreditamos que tudo vai, enfim, ficar “mais ou menos bem”.

12) Vai se Abrir – O rock de levada folk do La Vela Puerca (Uruguai) ganhou ares de rock spinettano na releitura dos curitibanos da IMOF, que também fizeram adequações na letra, num dos covers mais ousados do disco.

13) El Fantasma – André L.R. Mendes preservou o título em espanhol, mas verteu para o português a letra de uma das melhores canções da finada banda Árbol (Argentina), eliminando a referência sobre suicídio. No instrumental, o teclado que conduzia a melodia original cede lugar a uma sobreposição de violões e guitarras, uma tradição na obra do compositor baiano.

14) Nueva Era – Projeto bissexto de estúdio de André Pagnossim (Pulselooper), o Palace Hotel mantém sua cadência acústica e lo-fi, deixando ainda mais desolador esse incisivo comentário do veterano argentino Daniel Melero sobre os tempos de conexão permanente e hiperexposição online. Algumas discretas alterações nas letras foram feitas para atualizar as referências – e é bem provável que, se uma nova versão for feita em cinco anos, “Instagram” e “Facebook” soarão tão antigos e ultrapassados quanto o “Fotolog” e o “MySpace” da original.

15) Chica Rutera – Únicos representantes de Santa Catarina no disco, o quarteto Cassim e Barbária mistura dissonância e música de videogame na sua leitura (“lindamente cagada”, como eles mesmos dizem) do pequeno épico garageiro do El Mató a Um Policia Motorizado, única banda a ter duas regravações neste disco. Os argentinos aprovaram.

16) La Ruta del Tentempié – Jean Michel Jarré e pop argentino oitentista se combinam na visão do Projeto Ccoma (RS) sobre a faixa extraída de “Parte de la Religión”, um dos discos mais pop e diretos de Charly García. Mesmo o trompete que ajuda a caracterizar o som do duo de Caxias do Sul é tratado sob a sonoridade da “década perdida”, recuperando a eletrônica que o homem do bigode bicolor ajudou a popularizar na música latino-americana.

CATÁLOGO COMPLETO DO SELO SCREAM & YELL

SY00 – “Canção para OAEOZ“, OAEOZ (2007) com De Inverno Records
SY01 – “O Tempo Vai Me Perdoar”, Terminal Guadalupe (2009)
SY02 – “AoVivo@Asteroid”, Walverdes (2011)
SY03 – “Ao vivo”, André Takeda (2011)
SY04 – “Projeto Visto: Brasil + Portugal” (2013)
SY05 – “EP Record Store Day”, Giancarlo Rufatto (2013)
SY06 – “Ensaio Sobre a Lealdade”, Rosablanca (2013)
SY07 – “Ainda Somos os Mesmos”, um tributo à Belchior (2014)
SY08 – “De Lá Não Ando Só”, Transmissor (2014)
SY09 – “Espelho Retrovisor”, um tributo aos Engenheiros do Hawaii (2014)
SY10 – “Projeto Visto 2: Brasil + Portugal” (2014)
SY11 – “Somos Todos Latinos” (2015)
SY12 – “Mil Tom”, um tributo a Milton Nascimento (2015)
SY13 – “Caleidoscópio”, um tributo aos Paralamas do Sucesso (2015)
SY14 – “Temperança” (2016)
SY15 – “Ainda Há Coração”, um tributo à Alceu Valença
SY16 – “Brasil También Es Latino” (2016)
SY17 – “Faixa Seis” (2017)
SY18 – “Sem Palavras I” (2017)
SY19 – “Dois Lados”, um tributo ao Skank (2017)
SY20 – “As Lembranças São Escolhas”, canções de Dary Jr. (2017)
SY21 – “O Velho Arsenal dos Lacraus”, Os Lacraus (2018)
SY22 – “Um Grito que se Espalha”, um tributo à Walter Franco (2018)
SY23 – “A Comida”, Os Cleggs (2018)
SY24 – “Conexão Latina” (2018)
SY25 – “Omnia”, Borealis (2019)
SY26 – “Sem Palavras II” (2019)
SY27 – “¡Estamos! – Canções da Quarentena” (2020)
SY28 – “Emerge el Zombie – En Vivo”, El Zombie (2020)
SY29 – “Canções de Inverno – Um songbook de Ivan Santos & Martinuci” (2020)
SY30 – “SIEMENSDREAM”, Borealis (2020)
SY31 – “Autoramas & The Tormentos EP”, Autoramas & The Tormentos (2020)
SY32 – “O Ponto Firme”, M.Takara (2021)
SY33 – “Sob a Influencia”, tributo a Tom Bloch (2021)
SY34 – “Pra Toda Superquadra Ouvir”, Beto Só (2021)
SY35 – “Bajo Un Cielo Uruguayo” (2021) com  Little Butterfly Records
SY36 – “REWIND” (2021), Borealis
SY37 – “Pomar” (2021), Vivian Benford
SY38 – “Vizinhos” (2021), Catalina Ávila
SY39 – “Conexão Latina II” (2021), Vários artistas
SY40 – “Unan Todo” (2022), Vários artistas
SY41 – “Morphé” (2023), Rodrigo Stradiotto
SY42 – “Paranoar” (2023), YPU (com Monstro Discos)
SY43 – “NO GOD UP HERE” (2023), Borealis

Discos liberados para download gratuito no Scream & Yell:
01 – “Natália Matos”, Natália Matos (2014)
02 –  “Gito”, Antônio Novaes (2015)
03 – “Curvas, Lados, Linhas Tortas, Sujas e Discretas”, de Leonardo Marques (2015)
04 – “Inverno”, de Marcelo Perdido (2015)
05 – “Primavera Punk”, de Gustavo Kaly e os Hóspedes do Chelsea feat. Frank Jorge (2016)
06 – “Consertos em Geral”, de Manoel Magalhães (2018)
07 – “Toda Forma de Adeus”, Jotadablio (2023)

24 thoughts on “Selo Scream & Yell: Ouça e baixe a coletânea “Somos Todos Latinos”

  1. si existe la curiosidad por la musica brasilera,poco a poco los artistas del mercado hispano y del mercado brasilero van a tener mas colaboraciones.Hay que esperar.

  2. Excelente!!! qué buena producción y gran idea!!! Espero que si hay una segunda parte, puedan incluir una versión de algún tema de Sumo o Luca Prodan, un referente ineludible del rock en Argentina de los últimos 30 años.

    Salud!!!

    1. Henry, te agradezco por las palabras. Por el momento no tengo planes de una segunda edición (aunque es no es un franchising y me encantaria si otro productor armara un parte II). Sin embargo, hay una otra mirada en el mismo concepto: el disco “Brasil También Es Latino”.

      Lo encontrás acá:
      screamyell.com.br/site/2016/12/07/download-brasil-tambien-es-latino/

      Y también en Bandcamp:
      https://brasiltambieneslatino.bandcamp.com

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