Ao vivo em SP, Duda Beat lança a “Tara Tour” apostando no bate estaca poperô pegação

texto por Marcelo Costa
fotos por Fernando Yokota

No século passado, um milhão de anos A.L.G. (antes de Lady Gaga) atrás, todo artista que se prezasse sonhava com o contrato com uma grande gravadora. Para se ter uma ideia, o rock nacional dos anos 1980 só persiste até hoje porque todo mundo ali assinou com um grande gravadora um dia (reclame com as majors, não tenho nada a ver com isso). Mas daí vieram o MP3 (já leu esse livro?), o streaming (já viu essa série?) e o mercado da música virou de cabeça pra baixo. A indústria estava tão perdida tentando tapar os buracos de um imenso cofre boiando no oceano que, para um artista, ter uma gravadora deixou de ser uma prioridade e, por isso, foi uma grata surpresa quando Duda Beat, uma das jovens artistas brasileiras mais interessantes (e inteligentes na leitura do mercado) da atualidade, assinou com a Universal Music, uma das gigantes do planeta.

Após dois discos independentes celebrados, “Sinto Muito” (2018) e “Te Amo Lá Fora” (2021), Duda debutou numa “toda poderosa major” com “Tara e Tal” (2024), um disco mais dançante, eletrônico e com acenos tanto ao brega quanto ao público LGBTQIA+. Esses símbolos todos estiveram bastante presentes no show de lançamento da “Tara Tour” em São Paulo, e se a pernambucana levou ao imenso Espaço Unimed pouco mais da metade do público que a viu voltar confiante pós pandemia neste mesmo espaço, reflexo claro do estouro da bolha de shows, quem esteve presente compensou cantando dos hits do primeiro disco às músicas novas, no mesmo tom de empolgação, e viu um show muito melhor roteirizado que o anterior, com começo, meio e fim definidos, um espetáculo de quem sabe onde quer chegar e de tudo o que precisa pra ir até lá.

Esse cuidado com a nova turnê (que além de uma banda tradicional com baixo, guitarra, teclado e bateria conta com duas backings, oito dançarinas e um trio de metais sem contar iluminação e projeções) também se revelou nos arranjos, que atualizaram tanto canções dos dois discos anteriores (como os hits “Bédi Beat”, “Bichinho”, uma das mais cantadas da noite, “Nem Um Pouquinho” ou “Todo Carinho”, que voltou ao set list a pedido do público, que se entregou emocionado) quanto aos singles extra discos “Chapadinha na Praia” (sempre deliciosa), “Chega” e “Meu Jeito de Amar”, todas na vibe “Tara Tour”, com o teclado se aproximando do brega, muito batidão, riffs metalizados que poderiam fazer Andreas Kisser abandonar os shows da Sandy, coreografia e, principalmente na parte final do show, um bate estaca poperô pegação que mata um pouco do charme quase inocente das primeiras canções enquanto pisca o olho sacanamente para o futuro.

Falando em sacanagem, Duda – que sempre apronta algo especial para o figurino de seus shows – surgiu provocante, com um modelito que deixava sua bunda à mostra: “É melhor vocês pararem de me chamar de gostosa, porque eu vou acreditar”, brincou com a audiência enquanto, para delírio geral, rebolava numa noite em que ela ainda regeu os fãs em vários momentos, parou tudo para pegar um copo de cerveja e brindar os corajosos que estavam numa balada numa quinta-feira tendo que acordar na sexta pra trabalhar, convidou Bryan Behr para cantar sua “Azul” com ela e lamentou a ausência de Liniker pedindo para o público cantar alto “Quem Me Dera” pra ela mandar o vídeo pra amiga. Muitos artistas insistiriam na fórmula que deu certo fazendo um “Sinto Muito 2”, mas Duda Beat segue apostando alto na maturidade musical. A “Tara Tour”, ainda que muito melhor acabada que a turnê anterior, parece ter um foco bastante nichado (sinal dos tempos?), mas não deixa de impressionar. Essa garota pode ir muito longe.

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.
– Fernando Yokota é fotógrafo de shows e de rua. Conheça seu trabalho: http://fernandoyokota.com.br/

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