Duda Beat leva quase 4 mil pessoas para a exuberante estreia de sua “Blond Ambition Tour” em São Paulo

texto por Marcelo Costa
fotos por Fernando Yokota

Para muitos, Duda Beat surgiu praticamente do nada em 2018 com um disco extremamente pop, “Sinto Muito”, que, como bem observou Renan Guerra aqui no Scream & Yell, “foi bem além do público alternativo e correu o Brasil com sua mistura romântica de ritmos”. O segundo álbum, “Te Amo Lá Fora”, lançado no primeiro mês da pandemia em 2021, poderia ter passado batido diante da crise sanitária mundial, mas Duda “trabalhou” o disco intensamente nas redes, com clipes geniais (a superprodução “Nem Um Pouquinho” é um arraso), além de novos feats, preparando o terreno para sua volta aos palcos… quando fosse possível.

Demorou muito mais tempo do que todos nós supúnhamos, afinal adentramos o 25º mês de pandemia, e ainda que os números estejam caindo, existem riscos, que diminuem para todos aqueles com três doses de vacina nos braços, mas a dúvida, o medo e a insegurança fazem cama na nossa alma. Ainda assim, cerca de 4 mil pessoas (!!!!) “vacinadas” preencheram de maneira impressionante os 7 mil lugares do enorme Espaço das Américas para conferir a estreia da “Duda Beat on Tour”, com palco super produzido, balé com seis dançarinas, banda com backings e metaleira, luzes impressionantes, troca de roupa e famosos (Yasmin Brunet, Bela Gil) na plateia.

A parte visual e conceitual do show “Duda Beat on Tour” ganhou atenção especial da artista, que contou com a colaboração do light designer Paulo Denizot na idealização de um cenário modular que trabalha em conjunto as luzes e movimentos cenográficos também construídos por ele para cada ato da performance. Denizot ainda implementou objetos cênicos que conversam com a dramaturgia visual do show. O resultado, kitsch, com um coração vermelho em destaque no centro do palco que se despedaça assim que o show começa, soa uma versão turbinada meio Vegas de todo o universo construído pela loiríssima Duda Beat nos últimos 4 anos em shows, aparições na TV, fotos de divulgação, clipes e feats.

A versão Brasil 2022 da “Blond Ambition Tour” é, realmente, bastante ambiciosa, mas passou bem pelo primeiro desafio da noite: o som do Espaço das Américas, que, se descuidar, pode colocar todo o trabalho de meses no chão (Noel Gallagher, Morrissey e até Marisa Monte – no começo desse ano – que o digam). No caso de Duda, ainda que não estivesse cristalino como nas noites de Bruce Springsteen, Nick Cave, Sigur Rós e QOTSA no local, não estava embolado nem com eco, permitindo que o bom público (saudado pela cantora várias vezes durante a noite, visivelmente impressionada com o volume na pixxxta) cantasse a plenos pulmões (“Tu e Eu”, o número de abertura em vídeo no final do texto, comprova).

E hits não faltaram, ainda que o show esteja longo demais, somando 25 músicas (!) mais alguns improvisos (“Meu Coração”, “Egoísta”) em quase duas horas de apresentação – juntos, os dois discos de Eduarda somam 22 canções, mas no show algumas delas ficam de fora para ceder lugar a versões dispensáveis de canções de Tiago Iorc (“Tangerina”), Erasmo Carlos (“Vem Quente Que Estou Fervendo”) e, ainda que festejada, Omulu (“Meu Jeito de Amar”). Ok, “Chapadinha na Praia”, versão não autorizada de “High By The Beach”, de Lana Del Rey, funciona muito bem ao lado dos hits “Nem Um Pouquinho” (mais samba soul com os metais), “Meu Pisero” (que o público reconheceu com apenas uma nota), “Bolo de Rolo” e, claro, “Bixinho”, que fecha a noite, primeiro numa versão suave, depois no remix de Lux e Tróia.

A extensão da apresentação faz com que o miolo do show soe cansativo e monótono, com as faixas mais lentas, reggae e românticas. O público, no entanto, se entrega (teve até calcinha arremessada ao palco no melhor estilo Wando) e faz coro de “Duda Eu Te Amo”, no que ela devolve: “Vocês vão me fazer chorar hoje, é?”. É nesse miolo que a cantora faz uma das declarações mais fortes da noite: “Eu só canto o sofrimento para poder cantar o empoderamento. Se empoderem”. Após ter recebido Jaloo e Matheus Carrilho no começo da noite (“Chega”), chama a dupla Anavitória para o palco, e juntas as três cantam o single “Não Passe Vontade” – a noite ainda teria mais uma participação, de Bivolt, no feat “Raspa Placa”.

A banda (Felipe Velozzo no baixo, Tomas Tróia na guitarra, Uirá Bueno na bateria, Lux Ferreira no teclado, Vitor Balsa e King Godoy nos metais, Camila e Luiza de Alexandre nos backings) faz o básico com muita competência, e o saldo final é bastante positivo, ainda que o show necessite de ajustes para chegar realmente azeitado ao Rock in Rio, desejo confessado por Duda no final da noite – ela toca no Palco Sunset no dia 08 de setembro. A troca de figurino, por exemplo, foi feita no segundo terço do show, com as duas backings “distraindo” o público com “Só Eu e Você na Pista” enquanto Duda se trocava – poderia deixar um bloco de cinco ou seis canções pro bis e fazer a troca nesse intervalo. Também deixar pra apresentar a banda na última canção com quase duas horas de show é abusar do condicionamento físico de um público que ficou isolado em casa por quase dois anos (muita gente foi embora nessa hora).

Nada disso, no entanto, diminui a escalada impressionante de Duda Beat no cenário pop nacional – Marina Sena, que já tinha mais estrada, segue o rastro aberto por Eduarda, uma artista nascida e criada na internet, com músicas que praticamente só existem em streaming e que pouco tocam em rádios (“Sinto Muito”, seu debute, saiu em vinil muito tempo depois de lançado, e hoje, esgotado, custa na faixa dos R$ 500 nos sites de revenda; “Te Amo Lá Fora” ainda não existe físico oficialmente, ainda que fãs comercializem versões caseiras no Shopee), mas estão na ponta da língua dos fãs. Duda Beat encontrou o seu lugar e, principalmente, o seu público na nova música brasileira, e vem reinando absoluta numa trajetória planejada com muita atenção (e que merece estudo cuidadoso). “Duda Beat on Tour”, sem os excessos, ainda pode dar muito que falar e tem potencial para, como na abertura da noite, despedaçar o coração de muita gente.

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.
– Fernando Yokota é fotógrafo de shows e de rua. Conheça seu trabalho: http://fernandoyokota.com.br/

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