Entrevista: Thiago Pereira fala sobre o livro “Vida Pop”, sobre duas obras de Nick Hornby

entrevista por Bruno Lisboa

Thiago Pereira Alberto é doutor em Comunicação Social pela Universidade Federal Fluminense com estágio doutoral na Universidade do Porto, em Portugal. Em sua tese, realizou pesquisa sobre a nostalgia na música pop a partir da banda inglesa The Smiths. Atualmente é professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), no departamento de comunicação social. Para além da docência Thiago é baixista da banda Pelos, de Belo Horizonte.

Graduado em jornalismo, Thiago foi editor de cultura do jornal Hoje Em Dia, repórter e redator do jornal O Tempo e colunista do jornal Estado de Minas. Também trabalhou por 10 anos como repórter e coordenador de produção do programa televisivo Alto Falante (Rede Minas) e colaborou com veículos nacionais como UOL, R7, Playboy e o próprio Scream & Yell. Como se não bastasse tantos predicados, agora em 2021 acaba de lançar seu primeiro livro: “Vida Pop: representações e reconhecimentos da cultura pop em ficções de Nick Hornby”, via Appris Editora .

Fruto de sua pesquisa de mestrado, na obra o autor analisa o impacto da cultura pop tanto em suas dimensões históricas quanto em suas possibilidades de agenciar novas experiências e modos de vida para o sujeito contemporâneo, a partir de seus processos afetivos com a música, cinema, TV e literatura. E para tanto adota como referência duas obras do influente escritor britânico Nick Hornby que conquistaram gerações: o clássico “Alta Fidelidade” (1995) e “Juliet, Nua e Crua” (2009).

Na conversa abaixo, Thiago fala sobre cultura pop e o seu papel na atualidade, o universo da produções acadêmicas e o mercado editorial, o trabalho de Nick Hornby (seu legado e influência), o processo de composição de sua pesquisa e muito mais. Confira!

Como se deu a sua relação com este universo? E como Hornby entrou nessa jogada?
O universo da pesquisa científica, ou a ‘academia’, na verdade, vem de casa mesmo: sou filho de professores universitários, então os verbetes “aula”, “teses”, “orientações” fizeram parte da gramática cotidiana da minha formação. Era o trabalho dos meus pais, basicamente; portanto, assunto recorrente e mais ou menos inspirador, especialmente no caso de minha mãe, professora e pesquisadora de Comunicação Social – curso que tanto eu como meu irmão viemos a fazer. A diferença crucial é que, desde cedo, me decidi que iria para a prática, encarar o mercado, longe de salas de aula (apesar daqueles apelos que escutei desde cedo ‘ah, será professor como os pais’) talvez pela clássica rebeldia juvenil de ‘negar’ o percurso familiar, de alguma maneira. Fiz minha graduação em jornalismo já interessado em encarar redações e se conseguisse trabalhar com cultura, melhor ainda. Dei sorte e foi o que aconteceu: ainda na universidade, logo no início, consegui ser colaborador do jornal Hoje em Dia, fazendo críticas de discos e algum tempo depois comecei um estágio no Alto Falante, clássico programa de música da Rede Minas, que fez parte da minha formação como sujeito pop. O estágio se transformou em um casamento de 10 anos com o AF, onde eu e Terence Machado, para além da relação chefe-funcionário, criamos uma parceria muito legal, uma amizade foda e uma vontade grande de estender nossos desejos profissionais e nosso amor pela música. Chamamos o Rodrigo James, nosso comparsa, e a chancela Alto Falante ‘virou’ programa de rádio em algumas emissoras de BH, a coluna Esquema Novo, publicada no Hoje em Dia e depois por muitos anos no Estado de Minas, site, colaboração para diversos veículos, produção de eventos como as Noites Alto Falante e o Festival Garimpo, banda de farra etc. Anos incríveis, eu diria 😉. Quase uma década depois, eu me sentia meio ‘instrumentalizado’, um pouco farto daquela relação profissional com a cultura pop e querendo encarar outras perspectivas, não apenas diante do circuito da música, mas também me voltar à literatura, cinema, artes visuais… ampliar estes meus interesses. Depois de uma especialização em Produção e Crítica Cultural, o mestrado me pareceu um caminho interessante; encarar, de fato, o mundo da pesquisa acadêmica. Seguindo meu estado de espírito do período, propus um projeto de pesquisa cujo objeto central não era exatamente a música pop, mas a cultura pop como um ‘todo’. E apostei que Nick Hornby, escritor que está comigo desde a adolescência, poderia me inspirar uma discussão produtiva nesse sentido, sob a ótica da literatura (sempre fui um estudante de Letras frustrado também). Deu ‘certo’ e em dezembro de 2012 defendi a dissertação de mestrado que é a base do “Vida Pop”, lançado este ano.

No livro você faz uma análise do que se entende como cultura pop e tem na obra de Hornby como ponto de inflexão no modo operandi de se lidar com a mesma. Nesse sentido, como a obra do autor foi determinante para este ponto de transição?
Em algum momento imaginei que boa parte da obra de Hornby era um ponto de observação e análise privilegiado para entender a cultura pop não apenas como modus operandi advindo de uma série de articulações históricas, sociais, político-econômicas da segunda metade do século XX para cá; mas como modus vivendi de muitos de nós. Dentro do escopo literário, ele talvez seja o narrador definitivo de nossas vidas pop, com seus personagens absolutamente atravessados pelas possibilidades subjetivas – afetivas dos discos, filmes, séries e tudo mais que compõem esse caldo midiático que entendemos frequentemente como pop. Muitos de seus personagens são habitantes típicos desse universo e constelam suas existências muito a partir das nebulosas do afeto pop: as representações que ele sugere e proporciona através do suporte romance literário nos oferece o reconhecimento imediato dos objetos (e do nosso amor por eles) que formam um inventário composicional do ‘eu-pop’. De certa maneira, em síntese, é essa a articulação que proponho no livro: um trajeto de compreensão do que é a cultura pop (suas dimensões históricas, em um estudo sobre a pop art), o que ela faz com a gente e o que fazemos com ela (suas dinâmicas e modulações de subjetividade) e como Hornby consegue retratar esses processos com alguma precisão e, claro, afinco literário. O escritor talentoso que é, antes de tudo um sujeito pop, endereçando, em obras como “Alta Fidelidade” e “Juliet Nua e Crua”, esses reconhecimentos para leitores que se entendem como sujeites pop também. E de maneira muito engenhosa, Hornby e sua obra se estabelecem como peças pop importantes para nossas engrenagens afetivas: somos, em parte, alguns de seus personagens também.

Com carreira iniciada nos anos 90 o trabalho de Hornby atravessou por diversas fases e iria, anos mais tarde, estender o seu leque para outros estados da arte como o cinema e a música. Após estas três décadas de bons serviços prestados qual o legado deixado pelo autor?
Trata-se de um termo ‘problemático’, que não sei se seria chamado para tomar chá nas Academias de Letras, mas… Hornby talvez seja o nome definitivo de uma certa ‘literatura pop’. Discuto isso no livro, no entendimento de que esse termo pop pode chancelar – e por vezes adesivou de fato – a obra de autores diversos, que não necessariamente se comunicam em termos de estilo ou estética: Roberto Drummond e seu “Sangue de Cola Cola” é literatura pop? Caio Fernando Abreu e “Morangos Mofados”? Manuel Puig, Bret Easton Ellis, Rick Moody, Anne Tyler…a lista é longa e confusa. Nesse sentido, a obra de Hornby ofereceu um diapasão, mais ou menos estável, para a tessitura de romances que enquadram, de fato e de maneira central, o que sugiro como vida pop. No sentido de que, para além da cultura pop ser o cenário definitivo de boa parte de seus romances, ela é o modulador subjetivo principal dos personagens que são retratados, a lente mais importante que oferece a eles suas visões de mundo e as cartografias que mapeiam seus rumos neste sentido. A obsessão de Rob Flemming em “Alta Fidelidade” ou de Duncan, em “Juliet Nua e Crua”, com suas músicas, seus discos, suas séries, seus filmes é, em última instância, uma espécie de âncora existencial que justifica suas permanências no mundo. Quem nunca? Pode se discutir a qualidade de Nick Hornby como escritor, romancista, claro – mas me parece inevitável, vê-lo como cronista de uma geração, narrador de um mundo onde o pop ocupa um lugar menos ‘localizável’ em termos de idade, territórios etc. e… não poupa ninguém ou quase ninguém (risos). Nesse sentido, de representar esse modo de vida, Hornby é muito poderoso e, indo além, influente. A obsessão de listas como mania informacional do jornalismo hoje seria tão forte sem “Alta Fidelidade”? Tenho dúvidas…

Sua relação com “Alta Fidelidade” nasceu assim que o livro foi lançado, mas em que momento você percebeu que a obra seria objeto de uma pesquisa acadêmica? E a partir desta percepção como a academia abraçou este projeto?
Teve este aspecto pessoal e proposital, de querer encarar a empreitada (um mestrado, no caso), mais desvinculado de algo que até então tomava muito do meu tempo e do meu interesse – a música pop – diretamente. Então, foi um interesse genuíno de ‘fugir, pero no mucho’, do meu enquadramento usual (na época) de curiosidades. Possivelmente, a primeira pergunta que fiz ao pensar na pesquisa foi “O que é essa cultura pop que me e nos cerca?”; o passo seguinte foi pensar em um objeto para ajudar nesta análise, e neste momento, me veio Hornby e toda minha relação afetiva com sua literatura. Para além, me pareceu produtivo pensar em uma espécie de arco histórico e analítico entre duas de suas obras: “Alta Fidelidade”, que li ainda adolescente em 1998, quando de sua primeira edição nacional e seu então último livro, “Juliet Nua e Crua”. Como sugiro no meu livro, percebo um diálogo instigante entre ambos os romances, que dizem inclusive de um processo de celebração e crise desse sujeito pop. Evidentemente, não foi uma fuga tão bem-sucedida assim buscar Hornby, mas quando penso, por exemplo, no exame que realizei em meu doutorado, onde tive como objeto principal os Smiths, a questão fica ainda mais nítida para mim. Como resultado, “Vida Pop” talvez possa ser percebido como uma obra não tão vinculada ao corpo de pesquisas nos quais me dedico mais intensamente hoje, que são os estudos de música e som dentro da comunicação. Em relação à recepção da ‘academia’, talvez pensar assim seja macro demais, não sei se consigo avaliar isso; mas me lembro de um interesse de colegas e outros pesquisadores na época, em congressos, seminários e publicações, algo que vem se repetindo com o livro e que me deixa superfeliz. Em uma dimensão menor, tive um orientador interessado no tema hornybiano, que ainda era bem pouco explorado em pesquisas brasileiras, o que foi uma motivação também.

No início do livro você escreve uma carta a Rob Fleming, personagem central de “Alta Fidelidade”. Dentre os vários pontos citados você faz menção a algumas mudanças estruturais / essenciais que o mercado da cultura pop sofreu nos últimos anos, abordando em especial a mudança do formato de consumo da arte que migrou, essencialmente, do físico para as plataformas digitais. Como você lidou com essa transição? Você acha que o formato atual ajudou a democratizar o acesso a arte de modo geral?
Essa carta foi um recurso que encontrei para tentar ‘atualizar’ de certa maneira o livro, diante da dissertação de mestrado original. Esta foi uma questão importante e levemente dramática (risos) no processo: há uma grande distância temporal entre as duas coisas. Ao mesmo tempo em que era fundamental para mim atualizar o material original, também entrei numas de uma certa ‘honestidade intelectual’ própria, que me dizia o tempo todo para respeitar aquela fotografia original, por mais ‘amarelada’ que ela estivesse. A questão das mudanças de consumo, do físico para o digital, são um ponto; mas acredito que de alguma maneira já estavam contempladas na própria análise que proponho no “Vida Pop”, já que o arco histórico entre “Alta Fidelidade” (e sua loja de discos) e “Juliet Nua e Crua” (e seu fórum de internet) dão a ver com alguma precisão essa mudança – e principalmente, algumas ‘não-mudanças’, the love for the songs remains the same etc… O ponto que considerei mais crítico, diante deste vão cronológico, foi a ausência de uma abordagem mais ‘estrutural’, que avançasse a ideia de representação do que chamo de sujeito pop para algo além da representação hornbyana: homens, brancos, de meia-idade, heterossexuais, anglo saxônicos. Nesse sentido, a série “Alta Fidelidade” produzida pelo Hulu, no início de 2020, foi fundamental: ao modificar muitos desse vetores de representação (Rob como uma mulher negra, sexualmente fluída etc., cercada de pessoas assim) me levou tanto a querer ampliar a noção de sujeito pop (pensar em sujeite pop me inspira hoje) quanto a validar, tantos anos depois, tanto a obra de Hornby como meu próprio exame sobre ela. Nessa direção (e em outras), a série é brilhante e muito inspiradora, porque deixa bem evidente e segue ‘homenageando’ o ‘centro’ temático de “Alta Fidelidade” – a tal “vida pop”, afinal – mas representando, de forma lindíssima, reconhecimentos de outras ordens etárias, sexuais, raciais etc. De certa maneira, é o caminho que mais me motiva a voltar a qualquer tipo de análise sobre Hornby ou sobre meu livro sobre ele. Já comecei um pouco isso aqui em um trabalho que apresentei recentemente, em um simpósio chamado Popfilia, realizado na Universidade Federal de Pernambuco, chamado “HI (GH) (IN)FIDELITY!’: notas iniciais sobre o sujeito pop em Alta Fidelidade, de Nick Hornby e o sujeite pop na série homônima de 2020”, disponível aqui e, também, no vídeo abaixo, resumido:

“Vida Pop” é fruto de uma pesquisa acadêmica que se tornou livro, iniciativa está tem se tornado cada vez mais comum quando o assunto é o universo da cultura pop. Como se deu o convite para lançar sua tese neste formato? E como anda o mercado editorial em relação a obras desta natureza?
O convite se deu, creio, através de um rastreamento praticado por determinadas editoras, como a Appris, em relação às dissertações e teses que são publicadas nas universidades brasileiras. Não posso cravar, mas creio que estas editoras fazem uma busca geral em relação à temas que elas consideram, de acordo com seus parâmetros, publicáveis ou algo do tipo. Acho que muitos pesquisadores e autores são diretamente convidados, claro, mas em casos como o meu, seguramente é um processo menos específico – ‘encontraram’ minha pesquisa, anos atrás, e me convidaram para publicar. Em relação ao mercado editorial, realmente não saberia dizer com precisão como anda, mas, também tenho a impressão de que há um interesse em publicar perspectivas mais teóricas ou ‘acadêmicas’ sobre temas candentes na cultura pop contemporânea. Nesse sentido, “Vida Pop” é mais um entre muitos outros lançamentos que abordam e habitam esse lugar, o que muito me satisfaz. Espero que ele e outras obras neste sentido alcancem leitores interessados no(s) tema(s), para além de seus usos científicos; particularmente, mesmo como jornalista, sempre me interessou angulações mais ‘densas’ (na falta de um termo melhor) de análise sobre este universo pop. De certa maneira, é essa minha contribuição também no livro, na minha tese e nos meus artigos publicados.

“Alta Fidalidade” e “Juliet, Nua e Crua” foram as obras de Hornby que serviram de referência para nortear parte da sua pesquisa. Ambas retratam o autor em momentos distintos da carreia do autor. Dentro da sua vasta biografia por que você selecionou estas obras e quais são os pontos de consonância entre elas?
Como citei antes, percebi e percebo um diálogo interno bastante instigante e produtivo entre as obras. Entendo-as, em linhas gerais, como um movimento inicial de celebração e posteriormente, de crise deste sujeito e da vida pop que proponho sistematizar na minha análise. Particularmente, adoro pensar que, em algum lugar da prateleira que guarda a coleção pop de Duncan, de “Juliet…”, está o livro e o filme de “Alta Fidelidade”… (risos). Até por sua recepção externa, “Alta Fidelidade” é uma grande festa representativa desses sujeitos que vivem no entorno dos discos, filmes, livros e nada mais, como já diria um grande sujeito pop, Guilherme Arantes (risos). No fim das contas, pensando na obra em si, entendo-o como uma louvação à cultura pop e sua validade como uma bússola orientadora de sensibilidades contemporâneas: Rob Flemming é um homem possível, no fim das contas (risos). Seu reconhecimento público é notável, especialmente quando pensamos em parâmetros como vendagens e desdobramentos midiáticos (filme, peças teatrais etc.) – 25 anos depois de seu lançamento, estava tematizando uma série! Assim, percebo “Alta Fidelidade” como uma espécie de consagração, para Hornby como autor e para o modo literário em que ele atua; uma obra e, principalmente, uma narratividade extremamente influente, em leitores e em outros escritores. Aqui no Brasil, por exemplo, apostaria que autores (que aprecio bastante) como André Takeda e Leandro Leal leram ou se inspiraram em Hornby de certa forma. Percebo “Juliet Nua e Crua”, opostamente, como um sinal da impossibilidade de se ser apenas Rob Flemming. Seu protagonista, Duncan, é um sujeito em crise na sua vida pop, com o mundo o avisando, o tempo todo, que os discos, filmes, livros e nada mais não dão conta de tudo. É um romance muito interessante – talvez subestimado – porque localiza o sujeito pop modulações interessantes no mundo da web 2.0; transpõe aquele elitismo crítico e cultural da bancada da loja de discos para os fóruns da internet. Nessa nova encenação, mostra um aspecto que acho incrível no Hornby romancista que é um certo ‘realismo literário’, no sentido de inventariar o mundo que cerca seus personagens – e nós, leitores. Assim, “Juliet…” habilidosamente trata também de um certo redimensionamento de cultura de fãs, da obsessão pelo arquivo no mundo contemporâneo, do etarismo em relação às lógicas do afeto pop. E, por fim, Hornby atualiza um ‘subtexto’ fundamental que noto entre ambas as obras: o lidar e tensionar a ideia de ‘maturidade’ masculina. Rob e Duncan são sujeitos pop em crise; mas o primeiro consegue lidar melhor com isso também através de sua relação afetiva e romântica: ganha um final feliz e celebratório. Já o segundo, no mesmo aspecto, fica para trás, em crise completa como sujeito e como homem.

Ainda falando da esfera acadêmica parece-me que hoje em dia pesquisas cuja temática esteja ligada a cultura pop tem tido maior aceitação nesta esfera. Você também vê desta maneira? E caso sim a que se deve esta mudança de olhar?
Talvez sim, mas digo isso a partir do que me parece ser a percepção das minhas grandes referências científicas-acadêmicas, um grupo de pesquisadores incríveis (como minha orientadora Simone Pereira de Sá, e pesquisadores como Jeder Janotti Jr., Adriana Amaral e Thiago Soares, que prefaciou o “Vida Pop”) que já estão nessa ‘batalha’ há tempo suficiente para serem vistos como inspiradores e faróis para quem está chegando agora. O que posso afirmar é que, desde o início da década frequentando eventos e conhecendo pesquisas que tematizam o pop, me impressiona a quantidade e a qualidade de trabalhos, assim como o gigantesco escopo de assuntos que esses trabalhos alcançam. É um universo que me atrai muito e, suspeito, possuem também uma forte aderência com pessoas ‘de fora’, o que de alguma maneira ajuda a ‘quebrar’ o consagrado divórcio entre mercado e a academia. Particularmente, fico muito feliz com a repercussão ‘fora da bolha’ de determinados trabalhos vindos das universidades; ou quando estes pesquisadores são fonte para a produção jornalística e midiática em geral. Entendo – e talvez isso tenha a ver com minha experiência de mercado – esses processos mais como complementares para um certo ‘entendimento’ de mundo do que opostos. Um exemplo evidente disso para mim: estou organizando, junto com os pesquisadores Jeder Janotti e Jonas Pilz, um livro que reúne capítulos que tematizam e tensionam as questões e problemas que envolvem o rock na atualidade; têm previsão de publicação para o ano que vem. Muito recentemente, vi que o Pedro Antunes, na sua coluna no UOL, colocou para jogo uma questão muito similar a que estamos propomos. Idem para várias questões que o Mac aponta aqui no Scream. Volta e meia cito material jornalístico-midiático em meus trabalhos, assim como vários colegas. Entendo isso como uma via de mão dupla viável e importante.

Num exercício inevitável gostaria que fizesse um top 5 sobre Hornby. E vale misturar tudo o que ele produziu!

O bom e velho desafio hornbyano, vamos lá. Hoje vou de:

01. “Alta Fidelidade” (o clássico) (risos)
02. “31 Canções” (um livro de ensaios brilhante, onde se vê Hornby não como narrador dos sujeites pop; mas como um sujeito pop de fato)
03. “Juliet Nua e Crua” (como já disse, acho subestimado) (risos)
04. “Jesus Mamilo” (um conto genial dele, que trata maravilhosamente da eterna discussão sobre alta e baixa cultura, presente na coletânea “Conversando com o Anjo”)
05. “Febre de Bola” (as dores e delícias do futebol. Mais as dores, o que soa atualíssimo para um cruzeirense sofrido como eu)

Como bônus track, preciso citar “Slam”, um romance adolescente que foi superimportante para mim, em uma época específica da minha vida.

Qual o papel da cultura pop na vida das pessoas na atualidade?
Na atualidade e sempre: nos representar e nos reconhecer no agora, mas também nos permitir sonhar e fantasiar com outros amanhãs; nos tornar menos sozinhos e nos fazer necessitar uma solitude etc. etc. Meio brega tudo isso – mas, porra, pop é maravilhosamente isso também.

– Bruno Lisboa  é redator/colunista do O Poder do Resumão. Escreve no Scream & Yell desde 2014.

Leia também:
– “The State of the Union”, um livro de um Nick Hornby mais maduro (aqui)
– “High Fidelity”, a série, ainda é deliciosamente pop, mas soa mais… inteligente (aqui)
– “Juliet, Nua e Crua”, o filme: uma peça satírica disfarçada de comédia romântica (aqui)
– Adaptação italiana de “Slam”, de Nick Hornby, fracassa, mas faz ter vontade de reler o livro (aqui)
– “Febre da Bola”, o filme: a versão americana com  Jimmy Fallon e Drew Barrymore (aqui)
– “Febre da Bola”, o filme: a versão inglesa com Colin Firth (aqui)
– “Uma Longa Queda”, de Nick Hornby, incomoda muito mais que diverte (aqui)
– “Funny Girl” abre possibilidades temáticas interessantes para Nick Hornby (aqui)
– Sobre Nick Horby e “Alta Fidelidade”, por Marcelo Costa (aqui)
– “Febre da Bola”, o filme: a versão americana com  Jimmy Fallon e Drew Barrymore (aqui)
– “Febre da Bola”, o filme: a versão inglesa com Colin Firth (aqui)
– Entrevista: Guilherme Weber fala sobre “A Vida é Cheia de Som e Fúria”, adaptação de “Alta Fidelidade” (aqui)
– “Um Grande Garoto” é romance urgente, daqueles que retratam uma época (aqui)
– “Um Grande Garoto”, o filme, surge poético em algumas partes e patético em outras (aqui)
– “Como Ser Legal”, de Nick Hornby, é uma extensão da “teoria das calcinhas velhas” (aqui)

5 thoughts on “Entrevista: Thiago Pereira fala sobre o livro “Vida Pop”, sobre duas obras de Nick Hornby

  1. Maravilha de entrevista. Gostei de lembrar de caio Fernando abreu , que para mim também resolve muito bem as questões pop mas com tintas mais profundas que hornby, do qual tenho todos os livros. Citaria TB hanif kureishi, que como escritor talvez seja superior a hornby.

    1. De acordo com seu comentário Ismael! No prefácio do livro, Thiago Soares cita exatamente o Caio um pouco nessa perspectiva. Penso que ele oferece uma dimensão menos ‘midiática’ e mais ‘vivenciada’ do pop…os anos 70-80 né? Sobre Kureishi, escritor maravilhoso, que oferece inclusive uma leitura menos ‘norte-global’, um viés diaspórico essencial para as dinâmicas do pop.

      1. Ismael, clicando no nome do livro no abre do texto vai para o site da editora (que está com desconto em comparação a Amazon), mas é legal ver se o Thiago não tem cota pessoal para venda também.

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