"Febre de Bola"
por
Marcelo Costa
Fotos - Divulgação
maccosta@hotmail.com
24/05/2002
Você
quer saber o que é cultura pop? Humm, eu não saberia
explicar direito, mas poderia exemplificar dizendo que é
algo que faz dois caras de mais de 30 anos largarem seus empregos
as 16hs de uma segunda-feira para ver um filme. É claro
que há muito de inocência e irresponsabilidade
nisso, o que aproxima um fã de cultura pop de um moleque
de 13 anos.
Bem, isso é ruim? Eu não acho, ou pelo menos me
divirto sendo um desses dois caras. O filme? Bem, você
já viu a chamada, então não tem como ficar
enrolando, né. Porém, mais do que um filme, Febre
de Bola é o primeiro livro de Nick Hornby e, quando
lançado, ficou seis meses entre os dez mais vendidos
da Inglaterra.
Nick Hornby, pra não deixar as coisas pela metade, escreveu
Febre de Bola (Fever Pitch) em 1992. Na seqüência
lançou Alta Fidelidade, depois Um Grande Garoto,
e Como Ser Legal. Alta Fidelidade ganhou versão
cinematográfica pelas mãos de Stephen Frears.
Um Grande Garoto foi rodado com Hugh Grant no elenco,
mas a primeira obra de Hornby que chegou aos cinemas foi Febre
de Bola.
Ao explicar o filme Alta Fidelidade, John Cusack (que
interpretou o personagem Rob no filme) dizia que Nick Hornby
não havia ficado chateado com o fato da trama ter sido
transportada de Londres para Chicago, ao contrário, tinha
ficado aliviado. Nas palavras de Hornby: "Me incomodava o fato
dos ingleses acharem que Alta Fidelidade era um livro
que falava dos modos ingleses. Alta Fidelidade fala de
homens, mulheres e música pop, e isso é universal".
Visto por este prisma, Febre da Bola, por mais inglês
que o filme soe, fala sobre homens, mulheres e... futebol.
Se o livro segue a forma de um diário em que os dias
são trocados por datas de jogos de futebol, o filme é
mais convencional e conta a história de um casal. Problema?
Nenhum, afinal quem assina o roteiro é o próprio
Hornby. Mas não dá pra falar que é uma
adaptação. Febre da Bola, o filme, é
levemente inspirado no livro, mas não deixa de ser um
belo cult movie. E uma bela comédia romântica com
Jesus and Mary Chain na trilha sonora e vinis do Gram Parsons
largados em estantes.
Colin Firth (de O Diário de Bridget Jones) é
Paul Ashworth, um outsider que ganha a vida lecionando Língua
Inglesa. Paul é mais conhecido na escola que trabalha
por sua paixão pelo Arsenal do que pela cadeira que leciona.
O Arsenal é um time de futebol inglês que seria
o equivalente ao Corinthians aqui no Brasil.
Paul se apaixonou pelo Arsenal quando seu pai o levou a um jogo
aos 11 anos (Arsenal x Stoke City em 14.09.1968). A paixão
consumiu toda infância do garoto que, ainda, era apaixonado
por música pop. Não é de estranhar que,
28 anos depois, Paul seja o mesmo garoto, claro, agora com quase
40 anos, mas ainda dando mais importância ao futebol do
que a qualquer outra coisa de sua vida, inclua aí carreira,
família e... relacionamentos.
Tudo isso até Paul conhecer Sarah Hughes (Ruth Gemmell),
professora "caloura" que encrenca com nosso amigo na primeira
oportunidade que tem. A briga acaba atraindo os dois que logo
depois começam a dividir a mesma cama. O grande problema
é que Sarah não consegue entender a paixão
que move um homem a se apaixonar por um clube.
É lógico que há muito de obsessão
no personagem Paul sobre o Arsenal, mas há, por outro
lado, muito de todo homem que tem alguma camisa de seu time
do coração em casa.
O relacionamento do casal não é fácil e,
como em um intervalo de primeiro tempo, acaba. Mas o jogo continua
e o Arsenal, depois de 18 anos na fila, dominou o campeonato
todo e, no final, deixou escapar a liderança para o Liverpool.
A única forma de conquistar o título é
uma vitória por 2 x 0, fato que o torcedor mais fanático
do Arsenal sabe ser impossível. Mas, como diz o ditado,
o futebol é uma caixinha de surpresas. E, estendendo,
o amor também. E tanto o Arsenal quanto o casal terão
um segundo tempo inteiro pela frente, inclua ai os acréscimos.
Interessante perceber que Sarah passa o filme todo disputando
Paul não com outra mulher, mas com um time de futebol.
Mais masculino que seu livro posterior, Febre da Bola traz
Nick Hornby afiado em entregar certos fatos constrangedores
do universo masculino (seu time está jogando a final
e sua namorada desmaia na arquibancada. Você a socorre
e a leva para o hospital perdendo assim o jogo, ou, por um momento
pensa em nem ligar para o que está ocorrendo? Complicado).
O tom confessional e de auto-ironia do livro encontra voz e
atos a perfeição em Colin Firth.
E tudo isso é sobre... futebol? Sim, futebol. E futebol,
como música pop, é coisa séria. Alguns
caras sabem disso e Nick Hornby é um deles. Paul Ashworth
é outro. E Marcelo Costa também faz parte desse
clubinho. Só que não levem isso tudo para o lado
'copo meio vazio' da questão. A sacada boa o próprio
Honrby dá, na introdução do livro. "Este
livro é para torcedores como nós e para quem tiver
curiosidade de saber como é a nossa vida". O filme, de
forma mais romantizada, permite essa visão e vai adiante
tentando mostrar que também bate um coração
debaixo da camisa de um time.
Isso tudo porque nós, homens, temos tendência a
amar os esportes. Não importa qual nem como, mas há
uma seriedade no ato de se vestir uma camisa e comemorar uma
vitória com alegria, tanto quanto sofrer nas derrotas,
que eu mesmo não saberia explicar. E certas coisas não
precisam de explicação, ok.
Febre de Bola chegou a ser lançado no Brasil e
se existe uma boa locadora perto da sua casa, vasculhe. Ultimamente
tem feito parte da programação do canal pago Cinemax.
Leia também:
Nick Hornby fala sobre
seu livro Febre de Bola
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