Três perguntas: De Florianópolis, Nouvella fala sobre a importância de um rock and roll aberto a novas ideias

entrevista de Bruno Moraes

A banda Nouvella é parte de um movimento muito importante de artistas que têm um compromisso estético com o rock clássico, mas que traz ao gênero, além de grooves, riffs bem-executados e composições enérgicas, o ar fresco de ideias novas que tanto faz falta a um estilo ironicamente marcado por pessoas e ideias reacionárias.

Eles estão lançando a segunda parte do EP “Love Cirkus” com letras falando sobre autoamor, sobre o impacto psicológico de relacionamentos abusivos e também sobre a alegria de viver com intensidade, escapando dos lugares-comuns do machismo que às vezes pode dar preguiça de revisitar clássicos do rock and roll.

Em uma entrevista no backstage do Psicodália 2024 (encurtada pelo som que vinha da apresentação teatral que começou no palco ainda na segunda pergunta) a banda compartilhou um pouco de sua filosofia artística e da história por trás do single “Não Vou Mais”, presente em “Love Cirkus – Pt 2”.

Eu queria perguntar como foram os primeiros passos da banda? E sobre o novo single, “Não vou mais”: vocês gostariam de falar um pouco do processo de compor e qual a história por trás dessa música?
Gabriel Viegas: A banda começou com algumas músicas que eu tinha no armário. Estavam guardadas, mas não estavam sendo utilizadas, e era preciso botar no mundo. Então eu tocava guita, precisava encontrar alguém para cantar. E a Yas, que já é uma amiga de muitas longas datas estava ali do lado, esperando acontecer. E aconteceu, a gente encontrou Jenks e Luna e virou o quarteto fantástico. E agora estamos aqui!

Yasmin Zoran: Compus “Não Vou Mais” tocando violão, duas notinhas só. Brisando em cima, sem pensar muito. Ela foi quase que um “vômito” ali do que eu estava sentindo. E fala muito sobre amor-próprio, sabe? Reconhecer que quando um lugar não te pertence mais, não tem porque você continuar ali. A gente tem de reconhecer o momento de sair fora e de continuar. E de se amar! Então veio um pouco dessa ideia. E ela era uma MPB praticamente, mas quando eu trouxe pra banda a gente a transformou nesse beat meio funkeado, meio rock. E foi mais ou menos assim.

O rock and roll clássico é uma coisa maravilhosa, que faz parte da história da vida de muita gente. Mas ele muitas vezes não é feito por pessoas com ideias novas. Às vezes tem ideias muito reacionárias e retrógradas. E ver bandas que estão mantendo essa estética da qual às vezes a gente sente falta, e com uma pegada que vai contra essas amarras de pensamento, com uma compositora, letrista e cantora com uma performance tão forte… Eu queria que vocês comentassem como é carregar essa estética do rock clássico, mas com ideias novas, que fogem do machismo que ficou tão forte no gênero dos anos 60, 70 pra cá?
Yasmin Zoran: Fazer música é uma responsabilidade. Ser artista, subir num palco exige uma responsa de compartilhar boas ideias. Aqueles que se oportunam dessa situação para estar dando ideias erradas não deviam estar fazendo a música, porque a arte não é sobre isso. A arte é sobre amor, sobre aceitar as pessoas como elas são, aceitar o mundo como ele é e as suas transformações. Então a gente preza muito… Como nós somos jovens, por mais que a gente seja muito ligado ao rock — que, infelizmente, tem muita essa ideia de estar relativo ao passado — a gente quer justamente mostrar que o rock é atemporal. A gente carrega muito amor no que a gente faz, e quem tem amor no coração não tem nem como estar compartilhando essas ideias nada a ver aí. Então, com certeza, a gente faz porque a gente é verdadeiro. E a gente quer realmente mostrar que o rock não é do passado. Ele é atemporal, presente, e sempre vai ser cada vez mais.

Como é para vocês estarem no Psicodália, nesse último dia? Essa despedida que deixa a gente meio triste, mas, ao mesmo tempo, para a Yasmin, se você continuar aqui você pode se acidentar uma terceira vez (risos). Porque você quebrou um dente no mosh durante o show do Black Pantera e depois torceu o dedo jogando badminton.
Yasmin Zoran: É, se não fosse para viver até o fim, eu nem estaria aqui! Eu falei pra banda: “olha, eu não sei vocês, mas eu vou abraçar a oportunidade de ir pro Psicodália e quero viver intensamente todos os dias lá!” E eu consegui convencer pelo menos alguns. Outros, por motivos pessoais, não puderam vir. A produtora também… Mas o pessoal se divertiu!

Jenks: Eu cheguei tarde, mas com certeza na próxima quero estar aqui desde o começo. Se for pra acampar, ou se for pra tocar de novo com certeza seria uma honra. Mas se for até para trabalhar aqui, pode me chamar que eu venho. A gente trabalha aqui junto com a galera, desenvolve o festival junto! Porque isso aqui é maravilhoso!

Luna: Olha, no primeiro dia eu pensei nisso também. Se não chamarem a gente pra tocar no próximo, eu vou pedir pra vir fazer um trampinho, poder pegar uma refeiçãozinha (risos) e poder curtir com a turma aqui. Porque foi sensacional! A gente vai voltar de um jeito ou de outro, tá?

Gabriel Viegas: Eu estava meio inseguro para vir desde sexta, mas me surpreendeu. É muito bom, foi muito natural! E conheci muita banda nova. Eu não conhecia a maioria aqui, tipo ao vivo. E nunca tinha escutado algumas também, e isso me surpreendeu demais.

Yasmin Zoran: Eu queria só fazer um comentário: a primeira coisa que me surpreendeu e que eu amei muito a experiência é o mictório feminino, de xixi sentade, de todes! Sentar pra fazer xixi de frente pra outras pessoas é uma experiência que eu vou carregar comigo pra sempre! Foi incrível! Muito massa! Xixi sentade para todes! De frente uma pessoa pra outra! Pra vida. A gente chega aqui no Psicodália uma coisa e volta pra casa completamente outra, e muito melhor.

– Bruno de Sousa Moraes migrou das ciências biológicas para a comunicação depois de um curso de jornalismo científico. Desde então, publica matérias sobre ecologia e conservação da biodiversidade, e está se arriscando pelo jornalismo musical.

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