Ao vivo: Paul McCartney versão 2023 é inferior a 2019, mas emociona igual

Texto por Marcelo Costa
Fotos por Marcos Hermes

O homem não para, é incrível! Aos 81 anos, Paul McCartney segue na estrada com apresentações de duas horas e quarenta minutos por noite e a sensação, ainda, é de que ele continua curtindo muito a brincadeira. Em seu 30º show no Brasil (sem contar a mágica apresentação surpresa em Brasília), na noite de 07 de dezembro, no Allianz Parque, em São Paulo, Paul mostrou a “Got Back Tour” aos paulistanos, e ainda que o balanço geral demonstre que a versão 2023 de Paul McCartney ao vivo é inferior à Freshen Up Tor, de 2019, quando ele passou pela primeira vez no país com o sensacional trio de metais acrescido, a emoção continua a mesma, pois assistir a um beatle ao vivo continua sendo um dos maiores presentes que o mundo da música pode oferecer nesses tempos incertos.

Em termos gerais, Paul McCartney diminuiu o set list de 39 canções da turnê anterior para 36 nessa nova turnê e fez algumas trocas pontuais no set que fazem uma baita diferença – principalmente a troca do hit “All My Loving” no início por “She’s a Woman”, um lado b para fãs fervorosos. 32 canções estão fixas no set e outras 8 alternam as quatro posições restantes: “Can’t Buy Me Love” ou “A Hard Day’s Night”, “Come On to Me” ou “Coming Up”, “New” ou “Queenie Eye”, “Birthday” ou “I Saw Her Standing There”. Outro ponto inferior da nova turnê são as projeções, que agora tendem ao psicodélico com muitas imagens animadas. Ou seja, saem parte das fotos clássicas de bastidores (a outra parte, quando surge, chega emoldurada na psicodelia que marca a parte gráfica da turnê) e entram Paul, John, George e Ringo em versões de animação, o que soa um pouco frustrante. Para compensar, alguns trechos do sensacional documentário “Get Back” ilustram o show – e um dos momentos mais emocionantes acontece em um dueto entre Paul e John em “I’ve Got a Feeling” (com a voz e a imagem do segundo extraída em alta qualidade do show do telhado, em 1969, pelo cineasta Peter Jackson).

Um dos pontos altos do show continua sendo a participação entusiasmada de Mike Davis, Paul Burton e Kenji Fenton, o trio de metais que atende pelo nome de Hot City Horns. Após as boas-vindas de Paul com “Can’t Buy Me Love” e “Junior’s Farm”, e ele contar que irá falar “um pouquinho de português” (com direito a um “boa noite, mano!”), o trio de metais surge em meio ao público de maneira inusitada numa arquibancada lateral para acompanhar a banda em “Letting Go”, do Wings, numa baita versão. A banda da turnê é a mesma das anteriores com o moreno Rusty Anderson na guitarra à direita de Paul, o loiro Brian Ray à esquerda alternando guitarra, violão e baixo (nas músicas em que Paul assume a guitarra), o carequinha Paul “Wix” Wickens mandando muito nos teclados e o sensacional Abe Laboriel Jr., um showman na bateria.

O trio de metais volta a brilhar em “Got to Get You Into My Life” e após “Come On to Me”, do bom “Egypt Station”, de 2018, surge um dos grandes momentos da noite, com Paul solando em sua Gibson psicodélica e citando “Foxy Lady”, de Jimi Hendrix, na sempre matadora versão ao vivo de “Let Me Roll It”. “Getting Better” é uma boa surpresa no set (precisava tirar “Eleanor Rigby”?) tanto quanto “My Valentine”, dedicada à namorada Nancy (que, segundo Paul, estava no meio do público) e acompanhada por um vídeo de Natalie Portman e Johnny Depp em linguagem de sinais, soa perda (preciosa) de tempo. Seguem-se uma dobradinha maravilhosa (“Nineteen Hundred and Eighty-Five” e “Maybe I’m Amazed”) do maravilhoso disco “Band on The Run”, e Paul mergulha nos primórdios dos Beatles com “I’ve Just Seen a Face”, “In Spite of All the Danger” (canção dos Quarrymen) e uma incrível “Love Me Do”.

Paul, então, pega o ukelele, e apresenta a fofinha “Dance Tonight”. Sozinho em cena, e num palco elevado a cerca de seis metros de altura, ele toca “Blackbird” (dessa vez, não precisou dizer que era uma música sobre direitos humanos como fez em 2019), dedica “Here Today” ao amigo Lennon, e “Something” a George Harrison. Nesse trecho, muita festa em “Ob-La-Di, Ob-La-Da”, a obra de arte que é o surgimento do violão no meio do arranjo de “Band on The Run” e “Get Back” com imagens do filme de Peter Jackson no telão ao fundo, nenhuma das que flagram Paul compondo a canção. “Live and Let Die”, como sempre, impressiona pelos fogos e “Hey Jude” surge com seu interminável “la la la” (que o público seguirá cantando na saída do estádio, depois do bis).

O bis surge com Paul duetando “I’ve Got a Feeling” com Lennon e segue com cerca de 20 minutos que poderiam se repetir eternamente com “Birthday”, “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise)”, a explosiva “Helter Skelter”, e o maravilhoso trio final com “Golden Slumbers”, “Carry That Weight” e “The End”. Ele se despede dizendo “até a próxima”, e a gente entende que a próxima vez poderá ser no ano que vem, ou no outro, porque Paul McCartney continua com pique para tocar guitarra, baixo e violão, sua voz está em excelente estado e as canções, bem, ele pode alterar a ordem, tirar essa, colocar aquela, que será um show inesquecível… sempre (aliás, nas passagens de som, que também são vendidas, estão rolando covers de Carl Perkins e The Crickets). Talvez seja a hora de levarmos filhos, gatos, cachorros, porque todo mundo precisa ver Paul Mcartney ao vivo ao menos uma vez na vida. É essencial.

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.

2 thoughts on “Ao vivo: Paul McCartney versão 2023 é inferior a 2019, mas emociona igual

  1. Estava acompanhando o setlist da turnê, me preparando para o show que eu vou, e o texto me fez perceber que a partir do 2º show em BH ele cortou três canções da apresentação, diminuindo de 39 para 36. Ele cortou Fuh You, You Never Give Me Your Money e She Came in Through The Bathroom Window lá e nas 3 noites de SP.

  2. Dessa vez vi pela tv o show do maraca. A voz já dá seus sinais de desgaste e seria impossível não rolar isso. Ainda assim, é pura emoção.

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