Boteco: 11 IPAs nacionais

por Marcelo Costa

Abrindo uma série de IPAs por Curitiba com uma Session IPA produzida pela Way Beer para os associados do Clube do Malte dentro de uma série de quatro IPAs Underground (as outras são English, Double e NE, a última já passou por aqui). De coloração amarela levemente turva com creme branco de boa formação e retenção, a Underground #4 Session IPA apresenta um aroma que combina notas cítricas bastante suaves (maracujá, tangerina, melão) com um herbal bem sutil presente (pinho) mais doçura de mel. Na boca, maracujá bem suave no primeiro toque seguido de sugestão de tangerina, pinho suave e leve amargor, 38 IBUS bastante honestos. A textura é leve e, dai pra frente, temos uma Session IPA muito agradável, ideal para dias quentes, que entrega o que o estilo pede com muito sabor e capricho. No final, amargor leve e pinho. No retrogosto, maracujá e refrescancia.

De Curitiba para o bairro de Santa Cecilia, bairro que abriga a Cervejaria Central, que produziu essa Vida Mansa Pt 2 Session NEIPA em colaboração com a turma da Big Car Crew – na receita, destaque para os lúpulos Azacca, Citra e Mosaic. De coloração amarela bastante turva, juicy, tal qual um suco de caju, com creme branco espesso de excelente formação e retenção, a Central Vida Mansa Pt 2 apresenta um aroma notadamente cítrico, com pegada de laranja e abacaxi sutis, mas facilmente perceptíveis. Na boca, o frutado cítrico remetendo a laranja chega dominando o primeiro toque e tratando de tomar á frente da sequencia, sugerindo um suquinho de laranja alcoólico (4.2%) agradabilíssimo. O amargor é bastante leve, batendo no céu da boca com sutileza e riscando a garganta com leve harsh. A textura é suave e o conjunto segue entregando o que promete, uma Session NEIPA pra beber de balde e sorrir muito. No final, bagaço de laranja (com um pouco de casca). No retrogosto, cítrico e refrescancia.

Da capital paulista para o interior, mais precisamente Nova Odessa, com a primeira da Berggren Bier a passar por aqui, a Session IPA da casa, que aposta na combinação clássica dos lúpulos Citra e Mosaic em sua receita. De belíssima coloração dourada com turbidez a frio e creme branco de excelente formação e ótima retenção, a Berggren Session IPA apresenta um aroma que combina cítrico suave e herbal mais presente, dominante, trazendo leves notas de pinho sobre uma base de cereais (nada de caramelo – ainda bem). Na boca, o herbal continua dando as cartas, mas abre espaço pruma leve presença de limão, que de certa forma valoriza ainda mais o herbal. O amargor é leve, 40 IBUs corretos e deliciosos, que cumprem sua função de equilibrar o conjunto. A textura também é leve e dai pra frente temos uma Session IPA bastante básica, mas que não decepciona. No final, herbalzinho e amargor leve. No retrogosto, refrescancia.

Retornando ao Rio de Janeiro com mais uma da Farra Bier a passar por aqui, desta vez a El Colacho, uma Sour Double IPA (!?) de coloração amarela levemente turva com creme branco de boa formação e média retenção. No nariz, perfil totalmente sour com notas funky e um discretinho maracujá. Na boca, a acidez dá as cartas desde o primeiro toque, mas é possível perceber um frutado tropical na sequencia remetendo a maracujá, que não consegue se sobrepor a acidez, mas dá um colorido especial ao perfil. A acidez dá um baile de 7 x 1 do amargor (e o 1 é só pra constar da piada, porque não há nada dos 55% IBUs aqui). Já a textura é efervescente e levemente picante. Dai pra frente, uma festa Sour que a IPA observa de camarote, mas, conforme a cerveja aquece, é possível perceber (além de maracujá) notas que remetem a manga e a caramelo, bastante sutis – e nada que entregue os 8% de álcool. O final combina acidez e frutado de maneira deliciosa. No retrogosto, acidez, maracujá, manga e refrescancia.

Do Rio de Janeiro para Pinhais, na Grande Curitiba, com mais uma Way a passar por aqui, desta vez a Ipa Loka, cuja receita aposta na adição da Artemisia Absinthium, planta utilizada no destilado Absinto, que aqui surge como proposta herbal, não alcóolica, adicionada na cerveja durante o período de maturação. De coloração amarelo alaranjada com creme branco espesso, de excelente formação e retenção, a Way IPA Loka apresenta um aroma que combina toranja, notas herbais derivadas da adição de Artemisia Absinthium, uma discreta pegada de anis, notas minerais, pinho e doçura de mel. Na boca, muita toranja no primeiro toque seguida de forte pegada herbal, que passa a dominar a percepção, mesmo com o amargor, potente (68 IBUs justos) mostrando as garras. A textura é leve e delicadamente picante. Dai pra frente, uma IPA… louquinha, com muita toranja e muito herbal. No final, amargor e herbal. No retrogosto, toranja.

De Curitiba para Porto Alegre com a Chosen American IPA, uma cerveja cuja receita destaca a combinação de “uma pitada de lúpulo Ekuanot e uma mão cheia de Citra”. De coloração âmbar com creme branco de boa formação e retenção, a Chosen American IPA apresenta um aroma que sugere cítrico pujante (tangerina e toranja) acompanhado de uma sutil, mas facilmente perceptível, presença de cereja. Há, ainda, doçura de caramelo bem discreta e herbal. Na boca, combinação sutil de frutado cítrico e frutas vermelhas no primeiro toque atropelados por uma pancada de toranja na sequencia, herbal suave, melado de caramelo e amargor distinto, 52 IBUs potentes, mas que riscam a garganta com suavidade. A textura é cremosa e levemente meladinha. Dai pra frente, frutas vermelhas sutis, muita toranja, leve tangerina e uma pitada de guaraná. No final, leveza, caramelo e amargor. No retrogosto, herbal e toranja.

De Porto Alegre para Ribeirão Preto, com a cervejaria cigana Dois Cunhados, que marca presença com sua potente Dogfight Imperial IPA, que combina lúpulos ingleses e americanos. De coloração alaranjada com creme bege clarinho, praticamente branco, de ótima formação e retenção, a Dogfight Imperial IPA apresenta um aroma marcante que combina notas frutadas (toranja, laranja e abacaxi em destaque) com uma pegada herbal (pinho) e resinosa clássica das melhores Old American IPAs. Na boca, doçura de mel no primeiro toque seguida de frutado cítrico (laranja, toranja e abacaxi) e de uma pancada de amargor que honra os 100 IBUs que a casa antecipa – e que segue adiante, riscando a garganta do bebedor com apenas um tiquinho dos 8.1% de álcool marcando presença. A textura é suave, meladinha e picante (de álcool, ainda tímido perante os 8.1%). Dai pra frente, uma Imperial IPA que honra o estilo, com muito frutado, herbal, amargor, doçura leve e álcool por ali, mas não dando na cara tudo que tem. No final, amargor longo, toranja e secura. No retrogosto, amargor, toranja e alegria.

Do interior paulista para a capital com mais uma cerveja da Trilha a passar por aqui, desta vez a Citraliz, uma Juicy IPA que combina os lúpulos Citra e Loral. De coloração amarela, juicy tal qual um suco de laranja, e creme branco de boa formação e média retenção, a Trilha Citraliz apresenta um aroma ccom sugestão de frutas vermelhas (notadamente morango) se sobrepõe levemente a deliciosa combinação de abacaxi, toranja e laranja. Na boca, a mesma sensação adiantada pelo aroma, com sugestão de frutas vermelhas no primeiro toque seguida de laranja, abacaxi e, levemente, toranja. Há mais doçura do que amargor, mas ele está presente, na casa dos 50 IBUs – e passa rápido. A textura é suave e, dai pra frente, um suquinho de frutas cítricas com morango levemente amargo e picante. No final, frutas vermelhas e picância. No retrogosto, laranja, morango e doçurinha.

Da capital para Santos, ainda que a Everbrew produza suas latas na fábrica da Startup Brewing, em Itupeva, interior de São Paulo, com a Double Mont, versão Imperial da EverMont, com os lúpulos Citra, Mosaic e Galaxy. De coloração amarela, turva, juicy tal um suco, com creme branco de excelente formação e retenção, a Everbrew Double Mont apresenta um aroma que combina notas frutadas de pêssego e maracujá, bastante presentes, e condimentação marcante no nariz. Na boca, pêssego intenso no primeiro toque abrindo com presença de maracujá na sequencia, muito mamão maduro e, ainda, um harsch médio trazendo consigo uma pancadinha de amargor, que se estende, levemente. A textura é suave. Dai pra frente, uma Imperial New England IPA frutadissima, com pêssego e mamão dominando o conjunto e uma presença sutil de maracujá. O final é mamão com leve harsch. No retrogosto, harsch suave, mamão e pêssego. Uou!

De Santos para Jundiaí, no interior de São Paulo, com a primeira da Antony’s Beer & Co. a passar por aqui, a Yes! It’s Another Double Hazy India Pale Ale, cuja receita destaca um duplo dry hopping dos lúpulos Amarillo e Citra. De coloração amarela, turva, juicy tal qual um suco, e com creme branco de excelente formação e retenção, a Antony’s Yes! It’s Another Double Hazy India Pale Ale apresenta no aroma a sugestão de uma salada de frutas cítricas e tropicais com muita manga, laranja, pêssego e um leve abacaxi. Na boca, a pancada de frutas marca presença no primeiro toque com sugestão assertiva de manga. Na sequencia, pêssego, um harsh bastante sutil trazendo consigo herbal discreto e amargor comportado (30 IBus) contrabalanceado com doçura maltada deliciosa. A textura é suave, como uma boa Nem com leve picância de álcool (9%). E, dai pra frente, uma Double NE com álcool que só aparece quando a cerveja aquece, mas que surpreende com uma deliciosa salada de frutas liquida. No final, harsh sutil e pêssego. No retrogosto, saladinha de frutas e sorriso.

Mantendo-se ainda no interior, ainda que a Croma Beer produza cervejas em pequena escala na capital, as cervejas de larga escala são produzidas na fábrica da Startup Brewing, em Itupeva, caso desta Double Sunshine, que revive a primeira Juicy IPA da cervejaria, só que mais álcool (8.2% aqui) e muito mais lúpulos (Citra, Amarillo e Mosaic). O resultado é uma cerveja de coloração amarelo alaranjada, não tão juicy como o estilo propõe, mas com creme branco de excelente formação e retenção. No nariz, uma pancada de frutas trazendo manga em destaque com laranja em segundo plano. Na boca, leveza frutada no primeiro toque seguida de intensidade cítrica (manga e laranja), cremosidade e capricho. Tanto o amargor quanto o álcool são imperceptíveis. Já a textura é suave, cremosa, delicadamente picante (com o álcool se fazendo perceber levemente sobre a língua). Dai pra frente, uma DIPA que não parece DIPA, de tão confortável, aconchegante, frutada e saborosa que é. No final, meladinho de manga e picância discreta. No retrogosto, manga, laranja e felicidade.

Underground 4 – Session IPA
– Produto: Session IPA
– Nacionalidade: Curitiba, PR
– Graduação alcoólica: 5.4%
– Nota: 3.39/5

Central Vida Mansa Pt 2
– Produto: Session IPA
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 4.2%
– Nota: 3.51/5

Berggren Session IPA
– Produto: Session IPA
– Nacionalidade: Nova Odessa, SP
– Graduação alcoólica: 4.8%
– Nota: 3.30/5

Farra El Colacho
– Produto: Sour Double IPA
– Nacionalidade: Rio de Janeiro, RJ
– Graduação alcoólica: 8%
– Nota: 3.45/5

Way Ipa Loka
– Produto: American IPA
– Nacionalidade: Pinhais, PR
– Graduação alcoólica: 6.6%
– Nota: 3.11/5

Chosen American IPA
– Produto: American IPA
– Nacionalidade: Porto Alegre, RS
– Graduação alcoólica: 6.2%
– Nota: 3.50/5

Dogfight Imperial IPA
– Produto: Imperial IPA
– Nacionalidade: Ribeirão Preto, SP
– Graduação alcoólica: 8.1%
– Nota: 3.69/5

Trilha Citraliz
– Produto: New England IPA
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3.70/5

Everbrew Double Mont
– Produto: Double New England IPA
– Nacionalidade: Santos, SP
– Graduação alcoólica: 8.2%
– Nota: 4.03/5

Antony’s Yes! It’s Another Double Hazy India Pale Ale
– Produto: Double New England IPA
– Nacionalidade: Jundiaí, SP
– Graduação alcoólica: 9%
– Nota: 4.03/5

Croma Double Sunshine
– Produto: Double New England IPA
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 8.2%
– Nota: 3.99/5

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– Top 2001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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