Ao vivo: Franz Ferdinand em SP

Texto por Daniel Tavares
Fotos por Marta Ayora Fotografia

Numa sexta-feira feriado nacional, São Paulo recebeu novamente a banda escocesa Franz Ferdinand. Em turnê pelo Brasil, um dos maiores nomes do indie rock pós-ano 2000, o agora quinteto também passou por Curitiba (Ópera de Arame) e foi uma das principais atrações do Festival MADA, em Natal. O Grupo Tom Brasil chegou perto de sua máxima lotação para receber o carismático vocalista Alex Kapranos, acompanhado do baixista Bob Hardy, do baterista Paul Thomson e dos novos membros Dino Bardot, na guitarra e Julian Corrie, nos teclados, sintetizadores e também na guitarra. Estes últimos chegaram à banda ano passado para substituir Nick McCarthy.

Sob muitos gritos do público, o quinteto começou o show com a introdução suave de “Always Ascending” (2018), que dá nome ao disco novo. Logo os gritos se transformaram num imenso coro, com a plateia cantando junto, até Kapranos botar todo mundo pra pular. “São Paulo, tudo bem?”, em português, o vocalista já se dirige aos presentes após esse início bombástico. E, de volta ao seu idioma, continua lembrando que são de Glasgow e que estão contentes de estar de volta à capital paulista. O show prossegue com “Lazy Boy”, mais uma canção nova, e mais um momento de loucura com “The Dark of the Matinée”, do álbum que apresentou o Franz ao mundo, em 2004. Braços para o ar era o que mais se via. E, se houvesse um tanto mais de espaço, alguns até tentariam imitar os passos do clipe, é o que se supõe. Com o recinto quase lotado, todos dançavam como podiam. A festa segue com “No You Girls”, alternando entre espremidos passos de dança e palmas. A iluminação também se alterna para um vermelho vivo, enquanto Alex faz um breve interlúdio de boate antes do trecho “You Boys Never Care”.

Fazendo breves pausas entre uma música e outra, Alex sempre faz questão de agradecer ou comunicar ao público sua satisfação em estar ali, embora, vez ou outra acabe aparecendo um tanto mecânico (deve dizer sempre algo parecido onde quer que vá). “São Paulo é bom vê-los novamente. Obrigado por nos fazer nos sentir como se estivéssemos vindo pra casa”. Mas funciona.

Mais emocional, “Walk Away” ganha direito a iluminação diferenciada em diferentes tonalidades quase como acompanhando cada verso e o sentimento do “narrador”, Kapranos, que tinha dito ser essa uma canção sobre quando alguém quebra seu coração. O público balança de um lado pro outro em “Paper Cages”, uma das melhores do novo álbum. O próprio Kapranos se livra da guitarra e incentiva o movimento. “Saiam. Saiam de suas gaiolas. Estamos vivendo nossas vidas em gaiolas de papel”, diz a letra da canção.

“Vocês estão se sentindo bem”, ele brinca. “Passei o dia dormindo e quando eu acordei hoje a noite, eu disse…” Era a deixa para “Do You Want To”. Nesse clima você dança até se for uma estátua de Rodin. A música e tão empolgante que é até uma pena que não continue depois de novo inteira. “Lucky, Lucky, you’re so luck”, repete o público entre palmas. O próprio Alex diz “eu tenho sorte”, mas pergunta “alguém vai me dar uma ‘Glimpse of Love’. É outra deixa para a próxima canção (e daí vem mais uma vez o entendimento que algumas das intervenções são um tanto automatizadas, sempre coerente com a canção a seguir). Isso não atrapalha em nada e, Alex, mais uma vez sem guitarra, pode pular e andar de um lado pro outro, se abaixar (não que ele já não estivesse fazendo isso antes). E soubemos que o cara nem estava tão bem. Teria comido algo com amendoim e é alérgico. Ninguém percebeu nada disso. Só o que se via no palco era muita energia. Tanto quanto fora dele.

A surpresa da noite vem a seguir. “Quero mudar o set agora”, diz Alex enquanto pega um cartaz na plateia, mostra pra banda e, em acordo com os companheiros, resolve: “vamos tocar essa agora. É pra você”, diz, apontando pra pessoa que havia feito o pedido. A canção é “Outsiders”, do segundo disco, “You Could Have It So Much Better” (2005), e, pela parte instrumental no meio da canção, só temos a agradecer ao dono ou dona do pedido.

Depois de “Twilight Omens”, vem o comentário sobre “Michael”. “Essa canção é sobre dois rapazes bonitos dançando juntos no salão. E se alguém tem algum problema com isso, tem um problema com a gente…”. O Tom Brasil virou um liquidificador, pela canção e pelo protesto, com os dândis ovacionados no fim. “Vocês sabem o que eu sinto por vocês hoje?”, poderia ser uma reação ao som ensurdecedor que vinha da pista, mas é mais uma entradinha para a próxima canção. “São Paulo vocês sentem o amor hoje a noite?” antecede a também dançante “Feel The Love Tonight”.

“Darts of Pleasure”, sucesso que não podia faltar no set chega antes de “Take Me Out”, a campeã de celulares pro alto. Os três guitarristas no palco (Julian Corrie também assume as seis cordas) pulam no riff marcante num movimento repetido na pista. Ora, se eles fazem isso com uma guitarra pesada, como é que o público não vai fazer também? Não tem como.

O quinteto sai do palco após a muito aplaudida “Ulisses”, do terceiro álbum, “Tonight: Franz Ferdinand” (2009), mas o público bate palmas insistentemente querendo mais. E as palmas se transformam em “ele não”. Dessa vez, sem vaias (como no show de Roger Waters na última terça-feira). Pelo menos nada que desse para ouvir em meio a esses gritos. Indiferentes ao significado do mote, eles voltam. Corteses, trazem água pro povo da grade e transformam o Tom Brasil em boate de novo com a breguice deliciosa de “Finally”.

Já em “Jacqueline” temos novamente gritos histéricos quando Alex pronuncie o nome da moça. Há que se notar que, embora tenhamos novamente três guitarristas no palco, não há nenhum solo de guitarra, mas ninguém parece se importar. O Franz, entre outros que seguem o mesmo estilo, são fortes é nos riffs e refrãos grudentos. “Love Illumination”, a seguir, dá um tanto de folga para Alex, com Corrie cantando bem mais. A “folga” é essencial para a explosão que vem em seguida. Vamos dizer que o Franz incendeia o Tom Brasil com “This Fire”? Ah, Alex passou o show inteiro com esses trocadilhos baratos, então vamos sim. E até mesmo os solos ficaram guardados para o hit. “Caralho”, escreve extasiada uma moça em seu “Stories”. E o chefe Alex Kapranos, demagogo, pregador, não importa, comanda “Vocês estão comigo? Bob Hardy está, Paul Thomson está” diz ele enquanto ordena que todos se abaixem para se levantar num impulso explosivo.

Como estão em turnê de divulgação do recém-lançado “Always Ascending”, este álbum cedeu seis canções ao setlist, mesmo número de canções do primeiro álbum, até hoje o de maior sucesso comercial da banda. O resto do show foi dividido entre os álbuns “You Could Have It So Much Better” (2005), “Tonight: Franz Ferdinand” (2009) e “Right Thoughts, Right Words, Right Action” (2013), sendo este o menos visitado.

De saldo, foi um show extremamente empolgante. Embora o clamor #elenão tenha se feito presente e haja algum teor reflexivo e progressista nas letras e na abordagem da banda cujo nome vem do arquiduque cujo assassinato foi o estopim da primeira grande guerra, o show do Franz é um show para se divertir, uma balada bombástica sem maiores pretensões. Diante de tanta tensão que o processo eleitoral tem trazido nas últimas semanas, era realmente o que os três mil pagantes naquela sexta-feira foram buscar e levaram pra casa (além dos stories, vídeos no YouTube, etc e bla bla bla).

SET LIST
1. Always Ascending
2. Lazy Boy
3. The Dark of the Matinée
4. No You Girls
5. Walk Away
6. Paper Cages
7. Do You Want To
8. Glimpse of Love
9. Outsiders
10. Twilight Omens
11. Michael
12. Feel the Love Go
13. Darts of Pleasure
14. Take Me Out
15. Ulysses

BIS
16. Finally
17. Jacqueline
18. Love Illumination
19. This Fire

– Daniel Tavares (Facebook) é jornalista e mora em Fortaleza. Colabora com o Scream & Yell desde 2014.

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– “You Could Have It So Much Better… With Franz Ferdinand”: personalidade de sobra (aqui)
– “Tonight”: na balada com o Franz Ferdinand, por Marcelo Costa (aqui)
– Festival Motomix 2006: Franz Ferdinand encerra turnê de forma devastadora (aqui)
– “Right Thoughts, Right Words, Right Action”, Franz Ferdinand, por Marcelo Costa (aqui)



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