O segundo disco do Franz Ferdinand

“You Could Have It So Much Better… With Franz Ferdinand”
por Marcelo Costa

Eu não acredito no Novo Rock da mesma forma que não acredito no valor nutritivo de um lanche do McDonalds ou no gosto apurado de uma cerveja Schincariol. No entanto, assim como devoro lanches do McDonalds e bebo Schincariol (na falta de tu, vai tu mesmo), ouço e gosto de muitas destas bandas, mesmo sem acreditar nelas.

No Novo Rock, a molecada parece abrir mão de se expressar por meio da música, optando por usar canais já usados por outros, muitas vezes de forma melhor. E dá-lhe derivação. E dá-lhe falta de talento. Não à toa, quase todos os segundos álbuns das bandas desta “cena” chafurdaram na lama da fama que vem fácil e vai embora da mesma forma.

Porém, uma destas bandas começa a se erguer e a se mostrar muito mais criativa que as outras. Com “You Could Have It So Much Better”, o Franz Ferdinand vence o desafio do segundo álbum, entrega para fãs e detratores um disco que beira a perfeição e se prepara para ser a grande banda dos anos 00. Mais: é a primeira grande banda da “geração zapping”!

Geração Zapping? Isso mesmo. Kapranos e Cia perceberam que ninguém mais tem paciência para ficar ouvindo aquilo que Kurt Cobain abominava: “versus, chorus, versus”. No jeito Franz Ferdinand de ser, quando o ouvinte está se acostumando com a melodia, a banda muda tudo, como se estivéssemos em outra música. Daí, quando você está se acostumando de novo, eles vão e mudam tudo novamente, como se tivessem um controle remoto nas mãos. Quando voltam ao ponto inicial, o ouvinte está conquistado. Não é genial?

Esse esquema é usado em várias canções do disco novo. “The Fallen”, a faixa que abre o matador “You Could Have It So Much Better… With Franz Ferdinand”, muda o riff de guitarra ao menos três vezes no 30 segundos iniciais. Após o refrão, nova levada. Até lá lá lá entra no caldeirão. “Do You Want To”, primeiro single do álbum, tem começo totalmente beatle, levada dançante de teclados na sequência e riff nervoso de guitarra, isso tudo em menos de 1m20s de música.

O álbum, que ganha às lojas na segunda semana de outubro, vazou para a Internet no começo de setembro, e tem sido elogiado onde quer que seja ouvido. A rigor, “You Could Have It So Much Better… With Franz Ferdinand” traz, no mínimo, quatro novo hits do quilate de “Take Me Out”, a canção de 2004 pelos votantes do Top Seven Scream & Yell. O clima é de guitarras entupidas de feedback nos canais do estéreo, bateria dançante e baixo sinuoso, que passeia sobre o barulho da melodia.

“The Fallen” abre o disco com guitarras duelando. Na letra, Kapranos conta a história de um garoto que adora a destruição. “Some say you’re trouble, boy / Just because you like to destroy/ All the things that bring the idiots joy / Well, what’s wrong with a little destruction?”. “Do You Want To” é uma canção dançante de primeira enquanto “This Boy” fala sobre cocaína, carros e losers sobre um riff de guitarra venenoso. “Walk Away”, uma das melhores canções do álbum, tem teclados oitentistas, levada de violão e reúne, na última estrofe, Hitler, Stalin, Churchill e Mao Tse Tung.

“Evil and a Heathen” é frenética. “You’re the Reason I’m Leaving” é uma canção de fim de relacionamento, e não soa piegas, talvez pelas ótimas linhas de guitarras. “Well, That Was Wasy” é rock básico, com guitarras e lá lá lá e as já famosas quebras de andamento do Franz Ferdinand. “Kill me now, Kill me now, Kill me now, As I’m leaving you now”, diz a letra. A maior surpresa do disco se chama “Eleanor Put Your Boots On'”, que tem levada à la McCartney no piano, melodia vocal que lembra Elton John e foi escrita para Eleanor Friedberger, do Fiery Furnaces, ex de Kapranos, segundo consta. Os Beatles voltam a assombrar os escoceses no refrão pegajoso da ótima “What You Meant”.

“You Could Have It So Much Better… With Franz Ferdinand” se encaminha para o final. “I’m You Villain” tem riff circular, letra depressiva, e ótimo arranjo. A faixa título começa com vocal sobrepondo as guitarras, que vão crescendo durante a canção até ensurdecer no refrão. “Fade Together” é a única balada do disco. Conduzida por pianos, traz Kapranos cantando com leveza: “Why the hell should I stay awake?”. Para fechar, “Outsiders”, levada cadenciada, bom riff de guitarras, bateria quebrada e teclados oitentistas no final.

Na maior parte dos cantos do mundo, essa será a edição que chegará às lojas. No Japão, duas bônus tracks foram acrescentadas: “Your Diary” e “Fabulously Lazy”. Uma terceira versão do álbum, especial, inclui um DVD com o clipe do single “Do You Want To”, fotos e making of das gravações.

Mais do que lançar um álbum matador, a turma de Kapranos conseguiu se desvencilhar da tribo dos recicladores lançando um álbum inspirado, que, sobretudo, mostra que a banda tem personalidade de sobra para sobreviver no disputado (e cruel) cenário pop mundial. Com “You Could Have It So Much Better”, o Franz Ferdinand entra de sola, guitarras e refrões ganchudos na briga pelo título de maior banda dos novos tempos. Quer saber? Eles entram com vantagem sobre os adversários. Aposto minhas fichas neles.

Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

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