Três discos: Macoco Moreira, Las Diferencias, Rosario Smowing

por Leonardo Vinhas

“Ansiedad Solar”, Macoco Moreira (Independente)
Mesmo que seja um álbum irregular, basta uma única audição de “Ansiedad Solar” para transformar Macoco Moreira em um hype pessoal. O segundo disco desse argentino de Rafaela (cidade da província de Santa Fé) tem ecos de MGMT, Jamiroquai, New Radicals, Allen Stone, Mika e, claro, dele próprio, já que seu universo lírico e musical tem visões muito particulares. A primeira metade do álbum, mais ensolarada e dançante, enfileira um hit em potencial atrás do outro, sendo que a abertura, “Manijita”, é daqueles de provocar vício imediato (algo ajudado pelo ambicioso clipe). “Gino” vai na mesma onda, enquanto “Doce” assume um caráter mais roqueiro, e “La Inmensidad” é mais sutil e introspectiva. As quatro faixas restantes, ainda que boas, não causam o mesmo arrebatamento. Ainda assim, a combinação de beats eletrônicos, guitarras minimalistas e detalhes de cello e teclados faz desse disco uma grata surpresa no cenário argentino.

Nota: 7 (ouça)

“Al Borde del Filo”, Las Diferencias (Independente)
A foto de capa já entrega o apreço ao passado, mas afaste as imagens de hipsterismo ou ranço nostálgico: o que os garotos do Las Diferencias fazem está bem além disso. O trio de Caseros (município da Grande Buenos Aires) criou sua sonoridade a partir da influência de Jimi Hendrix e do rock setentista da Argentina, mais notadamente o Manal, decano do blues local. Porém, por mais que eles sigam em um caminho que já foi aberto, caminham nele à sua própria maneira. Mesmo sendo ótimos músicos, são econômicos nas execuções, priorizando a harmonia entrosada e sem protagonismos para qualquer um dos integrantes. No Brasil, fariam um belo par com os Muddy Brothers, outra banda que bebe do passado para criar seu futuro. Na maioria das 11 faixas, o som é alto e com riffs marcantes, e nessa estética ganham destaque “Morder el Polvo”, “Pierdo el Control” e a faixa-título. Porém, os momentos em que se permitem abaixar o volume e explorar nuances bluesísticas e psicodélicas, fazem três grandes baladas: “El Futuro”, “Misterio” e “La Llama”, com um belo dueto entre o vocalista Andrés Robledo e a cantora Nathalia Cabrera.

Nota: 8 (ouça)

“No Te Prometo Nada”, Rosario Smowing (El Vaskito Records)
Mesmo sem “prometer nada”, como diz o título de seu quarto álbum, o Rosario Smowing entrega muito. Lançado no fim do ano passado, o disco volta a merecer atenção com a passagem da banda por quatro cidades brasileiras (Londrina, Curitiba, Araraquara e São Paulo). O swing e o jazz são a base na qual aplicam camadas de ska, dixieland, bebop e ritmos caribenhos, e essa combinação é valorizada com a excepcional qualidade de som do disco, produzido pela banda em parceria com Gabriel Coronel. A bateria soa alta como em seus shows e aqui continua à frente, sem que isso represente choque com o naipe de metais. O piano também tem um peso notável, raramente escutado em discos atuais. Tudo isso pode funcionar a favor do romance (“Baño de Luna”), de uma balada ébria e quase roqueira (“Varakan”), da “entortada de joelhos” (“Niña Gitana”), de um discreto sabor cumbiero-salsístico (“La Flor del Irupé”) e da dança sem limites (quase todas as faixas restantes). E o melhor: mantém o mesmo frescor e a intensidade que se ouve em seus animadíssimos shows.

Nota: 9

– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell.

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