Três discos: Raça, Monza, Bilhão

por Renan Guerra

“Saboroso”, Raça (Freak)
Segundo disco do grupo paulistano Raça, “Saboroso” versa sobre medos de adolescência, amizades juvenis, problemas escolares, tudo envolto em uma melancolia urbana, embalada pela sonoridade que ora segue a trilha aberta pelas bandas do slowcore ora pelos caminhos do emo lá dos anos 90. Essa indefinição de gênero é uma marca dessa construção quase limitada de camadas sonoras do Raça, que acaba dando uma unidade ao disco. Com pouco mais de 30 minutos, “Saboroso” tem aquele ar de “auto ironia à toda prova” que pode afugentar alguns, mas que cativa o ouvinte mais aberto a esse intermezzo entre a melancolia e a auto-depreciação. Um disco indicado para adultos que ainda não estão aptos para a vida adulta, mas que estão preparados para rir disso de forma quase sarcástica.

Nota: 7 (download gratuito)

“Hoje Foi Um Dia Fantástico”, Monza (Freak)
Surgida em São Paulo em 2012, a banda Monza bebeu em todas as fontes dos anos 90, mas não só nas mais cool, como também por outros cenários (vide o nome da banda!). Seu disco de estreia, “Hoje Foi Um Dia Fantástico”, consegue ser coerente em misturar guitarras, um certo abafamento e um tom agridoce das canções. É interessante como as composições da banda criam e recriam cenas banais e cotidianas de forma imagética, apresentando um cenário bastante identificável para quem vive seus 20 e poucos (ou mesmo 30 e poucos). De caráter um tanto excêntrico à primeira audição, o som do Monza vai ganhando os ouvidos de forma realmente interessante, criando uma relação verdadeira com a música pop rock brasileira dos anos 90. No todo, “Hoje Foi Um Dia Fantástico” é um disco pop, de refrães pegajosos, feito perfeitamente para dias em que a melancolia tenta te persuadir, mas você segue tentando fugir.

Nota: 8,5

“Bilhão”, Bilhão (Balaclava Records)
Os cariocas Felipe Vellozo e Gabriel Luz formam o duo Bilhão, que estreia com esse álbum gravado ainda em 2015, mas lançado apenas em 2016. “Bilhão”, o disco, foge de qualquer clichê carioca: nada de praias lotadas de garotas de biquíni e por do sol. Lunar, poético e cheio de simbolismo, este é um disco que soa como se você estivesse preso no ônibus ou no metrô no centro do Rio de Janeiro, bem distante da praia, podendo apenas ter contato com o mar após o seu horário de expediente. Com ares de mistério à la dream pop, “Bilhão” consegue dar conta de criar uma ambiência suficientemente complexa, que leva o ouvinte por caminhos reflexivos e realmente vívidos entrelaçados com a língua portuguesa, sem qualquer ranço do tipo “o português não foi feito para esse tipo de música”. Após tantos discos cariocas solares para fumar um e aplaudir o sol no Arpoador, o Bilhão oferece um disco para aqueles dias em que você acaba na praia as cinco da manhã e sente a brisa do mar salgando seu rosto sem muito entender de mais nada.

Nota: 9 (download gratuito)

Renan Guerra é jornalista e colabora com o sites You! Me! Dancing! e Scream & Yell.

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