Boteco: Seis cervejas da Tupiniquim

por Marcelo Costa

Abrindo uma nova sequencia da gaúcha Tupiniquim, de Porto Alegre, com a novíssima Mini Kilt, uma Scottish que busca rememorar uma época em que a Escócia produzia cervejas econômicas com pouco lúpulo (pois não havia plantio de lúpulo no país e importar encarecia o produto) e pouco álcool (quanto mais álcool, mais taxação). De coloração âmbar acastanhada com creme bege claro de média formação e permanência, a Tupiniquim Mini Kilt apresenta um aroma suave sugerindo doçura (caramelo), frutas escuras delicadas (uva passa, ameixa) e defumado distante. Na boca, textura levemente frisante (com remissão a metálico). O primeiro toque oferece doçura suave seguida de frutado (ameixa), metálico, toffee e um amargor baixinho. Dai pra frente, toffee e caramelo se destacam, mas de maneira tímida, em um conjunto que ainda sugere leve acidez. O final é suave e maltado. No retrogosto, acidez leve e doçura.

Outra da safra 2016 da casa gaúcha é a Oatmeal Stout, que, como o nome sugere, é feita com aveia na receita. De coloração marrom escura, quase preta, e creme bege meio escuro de boa formação e média retenção, a Tupiniquim Oatmeal Stout exibe um aroma com predomínio de notas derivadas do malte torrado sugerindo basicamente café. Em segundo plano é possível perceber a aveia, de forma delicada e até um pouco tímida, mas presente. Na boca, a textura é levemente cremosa. O primeiro toque traz leve chocolate amargo atropelado por café, que se insinua no amargor, ainda assim baixo, e continua dominando o perfil deste exemplar com a aveia se contentando a atuar como mera coadjuvante (ainda que seu nome ganhe destaque no rótulo). O final é amarguinho com presença assertiva de café. No retrogosto, café e suave aveia (os dois ingredientes a que se pode resumir essa cerveja numa equação 80 pra 20).

A terceira da série foi Medalha de Prata no Festival Brasileiro de Cerveja 2016 (numa categoria que só teve dois contemplados, a vencedora foi a ótima cervejaria Araucária, de Maringa, com a Ryequeoparta): Tupiniquim Rye Pale Ale, que recebe 40% de malte de centeio, resultando em uma cerveja de coloração amarela com turbidez média e creme branco de boa formação (quase a beira do gushing) e permanência. No nariz, o centeio perde a disputa para os lúpulos, que oferecem notas frutadas cítricas (limão, pera) e herbais (pinho) bastante agradáveis com leve mel, geleia e pão na retaguarda e, ainda, um defumadinho distante. Na boca, a textura é cremosa e levemente picante. O primeiro toque traz a maciez do centeio acompanhada de leve toque cítrico e mel. Na sequencia, herbal suave e amargor caprichado (não os 60 de IBU que a casa antecipa, mas uns 45, 50 no máximo) abre a porta para um conjunto bem saboroso, que finaliza levemente amargo. No retrogosto, herbal, cítrico, centeio e mel suaves.

Medalha de Ouro no Festival Brasileiro da Cerveja 2015 em sua categoria, a Tupiniquim Dubbel foi a primeira investida dos gaúchos no território interessante (e alcoólico) das cervejas belgas. De coloração marrom escura com creme bege escuro de boa formação e média alta retenção, a Tupiniquim Dubbel oferece um aroma cativante de notas derivantes do malte torrado com chocolate amargo em primeiro plano acompanhado de café, doçura (caramelo e baunilha) e frutas escuras suaves (puxado pra caldo de ameixa). Na boca, textura inicial seca que vai ficando sedosa e picante. O primeiro toque traz doçura de chocolate amargo seguida de café e frutas escuras, trio que passa batido pelo amargor baixinho (18 de IBU segundo a casa), como manda o estilo, e brilha em um conjunto bastante eficiente e saboroso, que finaliza com suave picancia alcoólica e doçura. No retrogosto, baunilha, frutas escuras, caramelo e leve álcool.

Seguindo com o primeiro experimento da Tupiniquim em linha Barred Aged com dois rótulos: o primeiro é a Saison Au Vin, envelhecida em barricas de vinho do Porto. De coloração dourada com turbidez média e creme branco de média formação e retenção. O aroma salta pra fora da garrafa assim que ela é aberta ofertando ao nariz complexidade e charme em notas diversas que remetem a vinho branco (a primeira coisa que me veio a cabeça), frutado cítrico (lichia e uva verde), amadeirado, condimentação e azedume (derivados da levedura Saison). Há, ainda, a aproximação tradicional e rústica com o campo, que marca o estilo belga. Na boca, textura frisante e picante. O primeiro toque traz vinho branco, madeira e notas cítricas (uva verde e lichia novamente), tudo misturado seguido de amargor moderado e acidez suave, que abrem as portas para um conjunto refrescante e provocante. No final, cítrico e suave adstringência, que chegam ao retrogosto com vinho branco, acidez suave, uva verde e… roça. <3

Fechando a série com a segunda Barred Aged da casa, a Monjolo Imperial Porter, que passa por barris que antes haviam envelhecido whisky. De coloração preta intensa com creme bege escuro de baixíssima formação (praticamente um fiozinho de espuma, aceitável para o estilo) e um anel que permanece nas bordas da taça, a Monjolo Imperial Porter Barred Aged apresenta um aroma que consegue domar a rispidez da versão original oferecendo notas deliciosas que remetem a chocolate, uísque e madeira em primeiro plano mais café, baunilha e frutas escuras na retaguarda, tudo isso dançando e surgindo delicadamente no nariz em algum momento. Na boca, a textura é sedosa e alcoólica. No primeiro toque, doçura achocolatada e frutas escuras envoltas em álcool. O amargor é alcoólico e, dai pra frente, aparecem a madeira e o uísque se juntando ao chocolate e ao frutado. O final é suavemente alcoólico e frutado. No retrogosto, chocolate, uísque e sorrisos. <3

Balanço
Abrindo este passeio pelas cervejas da Tupiniquim com a Mini Kilt, uma interessante aposta que, aqui, provavelmente por um off-flavour, me remeteu muito distantemente a uma Flanders Red Ale (mas muito distantemente mesmo). Isso porque, com a pouca presença de lúpulo e de álcool (3.9%), era esperado uma Scottish mais adocicada, mas uma leve acidez metálica deu um jeito de mudar o perfil. É bem possível que eu gostasse menos dela como ela foi planejada do que nessa versão… picante. Já a Tupiniquim Oatmeal Stout me pareceu exagerar no malte torrado, o que esconde a aveia (que deveria ser um dos principais destaques da receita) sob um pancada de café. É okzinha, como a anterior, e só. Não é muito comum experimentar uma Tupiniquim que seja só deles e lamentar o último gole, querendo que a garrafa não tivesse acabado, e essa Tupiniquim Rye Pale Ale conseguiu isso. Boa lupulagem, centeio muito bem inserido e um conjunto certeiro. Esqueça as duas anteriores, mas vá atrás dessa. E vá atrás também da Tupiniquim Dubbel, que replica caprichadamente a tradição do estilo belga. Passando para a linha especial Barred Aged da casa com a Saison Au Vin, uma incrível recriação do estilo belga que passa por barris de Vinho do Porto. O resultado é apaixonante! O mesmo pode ser dito da excelente Monjolo Imperial Porter Barred Aged, que coloca no chinelo sua versão original.

Tupiniquim Mini Kilt
– Estilo: Scottish
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 3,9%
– Nota: 2,97/5

Tupiniquim Oatmeal Stout
– Estilo: Oatmeal Stout
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,2%
– Nota: 2,97/5

Tupiniquim Rye Pale Ale
– Estilo: American Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 3,41/5

Tupiniquim Dubbel
– Estilo: Belgian Dubbel
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3,50/5

Tupiniquim Saison Au Vin Barred Aged
– Estilo: Belgian Saison
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6.8%
– Nota: 4,04/5

Tupiniquim Monjolo Imperial Porter Barred Aged
– Estilo: Strong Porter
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 10,5%
– Nota: 4,03/5

RANKING PESSOAL – TUPINIQUIM
– 4.04 – Tupiniquim Saison Au Vin Barred Aged
– 4.03 – Tupiniquim Monjolo Imperial Porter Barred Aged
– 3.93 – Tupiniquim Lost in Translation IPA Brett
– 3.91 – Tupiniquim Polimango Double IPA
– 3.89 – Tupiniquim Loucura de Baco
– 3.77 – Tupiniquim Monjolo Floresta Negra
– 3.75 – Tupiniquim Extra Fancy IPA
– 3.64 – Tupiniquim Saison de Caju
– 3.61 – Tupiniquim Tchin Tchin
– 3.54 – Tupiniquim O Grande Encontro
– 3.51 – Tupiniquim Funky & Sour
– 3.50 – Tupiniquim Dubbel
– 3.41 – Tupiniquim Rye Pale Ale
– 3.39 – Tupiniquim Tirana Sour
– 3.39 – Tupiniquim Tornado
– 3.38 – Tupiniquim Citrus Bomb IPA
– 3.35 – Tupiniquim Saaz
– 3.27 – Tupiniquim Monjolo Imperial Porter
– 3.15 – Tupiniquim Completely Wicked 3C Saison
– 3.14 – Tupiniquim Frutas Anunciação IPA
– 2.97 – Tupiniquim Mini Kilt
– 2.97 – Tupiniquim Oatmeal Stout
– 2.96 – Tupiniquim Helles
– 2.85 – Tupiniquim IndHed
– 2.85 – Tupiniquim Weiss Maracujá
– 2.56 – Tupiniquim Chocolate
– 2.45 – Tupiniquim Frutas de Jardim Framboesa
– 2.40 – Tupiniquim Frutas de Jardim Amora

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