Especial SIM São Paulo: Boogarins

Três perguntas para Boogarins
por Bruno Capelas

Você já ouviu essa história antes: banda brasileira independente passa quase despercebida por aqui até o momento em que uma gravadora gringa de renome assina com os caras e os transforma em uma das grandes sensações do ano. Se você pensou no Cansei de Ser Sexy, pensou errado. O nome da vez são os Boogarins, de Goiânia, que recentemente lançou disco de estreia, “As Plantas Que Curam”, pela Fat Possum, selo norte-americano de gente importante como Dinosaur Jr., Andrew Bird e Paul Westerberg, além de ter lançado Black Keys e Yuck em começo de carreira. “Boogarins é só uma banda de jovens que acreditam mesmo no que estão fazendo juntos”, diz o baixista Raphael Vaz.

A exposição em sites como o da MTV Iggy (portal da emissora americana dedicado à música independente) e da Pitchfork não impressiona o quarteto goiano, formado pelos guitarristas Fernando Almeida e Benke Ferraz, o baterista Hans Castro mais Rapahel. “É uma surpresa muito agradável. Ficamos com um sorrisão na cara com cada resenha sobre o disco, tentando não nos perder na tradução”, conta o baixista em papo via email com o S&Y.

Na conversa a seguir, ele fala mais sobre a sonoridade do Boogarins – que, para este escritor, é muito decalcada nos anos 1960 – e sobre a “retrômania” que, para o jornalista inglês Simon Reynolds, é muito presente na cultura pop hoje em dia: “Penso que essa ‘retromânia’ acontece há muito tempo e isso não pressupõe nenhuma falta de ‘inventividade’. Os grandes discos simplesmente continuam existindo. Data é uma bobagem quando sabemos que coisas bonitas e tocantes não param de acontecer”, resume. Abaixo, três perguntas:

O primeiro disco de vocês, “As Plantas que Curam”, foi lançado lá fora pela gravadora Fat Possum, e têm recebido atenção de publicações estrangeiras, como a MTV Iggy, o jornal português Público e a Pitchfork, com talvez até mais atenção do que aqui no Brasil. Como está sendo tudo isso para vocês?
Isso tudo não passa de uma grande surpresa muito agradável. Não é o tipo de coisa que se pode esperar; e quando acontece a gente fica com um sorrisão na cara tentando entender o que se passa em cada resenha sobre o disco, tentando não nos perder na tradução. Felizmente, as críticas têm sido muito boas. Acho que o processo de gravação desse disco, apesar de singelo, foi feito com muito carinho e cuidado; e isso acaba transparecendo na audição para qualquer pessoa que deixe se afetar, entendendo ou não o bom português.

Há quem aponte que o som de vocês tem muito dos Mutantes, enquanto outros chamam a banda de “Tame Impala de Goiânia” ou “Foxygen brasileiro”. O que vocês pensam sobre essas definições?
É muito complicado. O disco não é uma homenagem a nenhuma década, movimento ou artista. Na verdade ele é bem despretensioso. Ficamos lisonjeados muitas vezes por sermos comparados com artistas que admiramos, que nos influenciaram diretamente ou não… Mas isso carrega uma grande responsabilidade. Boogarins é só mais uma banda de jovens que acreditam mesmo no que estão fazendo juntos. Esperamos que as pessoas nos ouçam sem procurar algo além disso, sem esperar que aqui encontrarão uma versão interessante daquela banda que elas já adoram. Expectativa demais é um problema pra vida, não é?

A mim parece inegável que a música do Boogarins tem um sabor revivalista, e não são poucos os que dizem, como o crítico inglês Simon Reynolds, que a gente vive hoje uma ‘retrômania’. O som do Boogarins poderia ser transportado em uma cápsula do tempo para 1969 sem perder algum detalhe? Ou melhor: de que maneira vocês se conectam com a música de hoje em dia?
Acho que a música é atemporal, as pessoas não, e a gente não pode se livrar disso. E ainda bem que não podemos ser transportados para 1969, pois assim não seríamos os Boogarins. (risos). Às vezes eu penso que essa “retromânia” acontece há muito tempo e isso não pressupõe nenhuma falta de “inventividade”. Os grandes discos simplesmente continuam existindo, os grandes artistas não perdem sua potência com o simples passar dos anos. E gente nova está sempre aí, para redescobrir e para criar algo tão atemporal quanto aqueles velhos discos clássicos. Enfim, escutamos músicas de qualquer década. Data é uma bobagem quando sabemos que coisas bonitas e tocantes não param de acontecer.

Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista, escreve para o Scream & Yell desde 2010 e assina o blog Pergunte ao Pop.

Especial SIM São Paulo:
– Blubell: “Diva me remete a uma mulher triste e solitária. Estou mais pra palhaça” (aqui)
– Guri: “Estou numa fase maravilhosa. É meio hippie, mas a música ajudou (aqui)
– Finlândia: “Já nos chamaram de “folk eletrônico” e “world elétrico” (aqui)
– Conheça os detalhes da Semana Internacional da Música, a SIM São Paulo (aqui)

Três perguntas para:
– Stela Campos: “O vinil veio como uma opção natural” (aqui)
– Leo Bigode: “O Goiania Noise Festival é um festival de rock. Sem hypes nem modismos” (aqui)
– Pedro Bonifrate: “Museu de Arte Moderna” funciona mais como uma coleção de canções (aqui)
– Garotas Suecas: “Não vamos cantar em inglês para ‘conquistar os gringos’” (aqui)
– Maglore: “Está cada vez mais difícil ser uma banda independente” (aqui)
– André Mendes: “Eu queria agora era fazer um disco leve e minimalista. Está feito” (aqui)
– Gaía Passarelli e Chuck Hipolitho falam do canal Gato & Gata (aqui)
– Russell Slater, editor do site britânico Sounds and Colours (aqui)
– Pedro Veríssimo: “A Tom Bloch nunca acabou, como muita gente pensa” (aqui)
– Explosions In The Sky: “Acho que você disse a palavra principal: emoção” (aqui)
– Oy: “Senti que a música deveria crescer, tornar-se mais abrangente” (aqui)
– John Ulhoa: “Agora vamos pensar um bocado em Pato Fu, e virá algo novo” (aqui)

2 thoughts on “Especial SIM São Paulo: Boogarins

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.