Três perguntas: Oy

por Marcelo Costa

Em 2010, a cantora suíço-ganesa Joy Frempong estreou seu projeto Oy com o álbum “First Box Then Walk”, que um site da Cidade do Cabo, na África do Sul, resumiu assim: “Se fosse um roteiro, “First Box Then Walk” poderia facilmente ser o próximo filme de Michel Gondry. O álbum é uma viagem de inspiração dadaísta através de memórias de infância”. Há ainda algumas linhas valorizando o prazer da compositora em não se ater a estilos (é possível encontrar soul, jazz, eletrônica, rock, hip hop e muito mais no álbum).

Dois anos depois, no meio do processo de amadurecimento do segundo álbum, Joy aportou no Recife para uma elogiada apresentação no Rec Beat, onde trouxe ao palco (até então, território de domínio seu e de mais ninguém) o baterista e produtor Lleluja-Ha, que, em entrevista por e-mail, ela julga como principal referencia de mudança de sonoridade de “First Box Then Walk” para “Kokokyinaka”: “Ele tem um lado muito mais pop do que eu, e uma longa história com a música eletrônica”, avisa Joy.

“First Box Then Walk” permitiu a Joy Frempong, que vive em Berlim, rodar o mundo se apresentando em festivais como Montreux, Eurockeenes e SXSW, o que influenciou o repertório de seu segundo álbum: “Senti que a música deveria tornar-se mais abrangente”, diz a cantora. A opção – tanto pop quanto abrangente – não mudou a estética do trabalho do Oy, que continua pouco apegada a estilos, e abre o disco ensinando o ouvinte a falar o nome do álbum. Aprenda a dizer “Kokokyinaka” no player e confira o bate papo abaixo.

Como você vê “Kokokyinaka” em comparação com “First Box Then Walk”? Alguma coisa mudou?

Em primeiro lugar, a formação da banda! O baterista e produtor Lleluja-Ha participa de “Kokokyinaka”, e ele tem um lado muito mais pop do que eu, e uma longa história com a música eletrônica. Certamente seu ouvido fez as músicas caminharem para uma direção mais acessível. Em seguida, a história também mudou: “First Box Then Walk” foi baseado em memórias de infância, e, sendo o meu primeiro disco solo, foi um trabalho bastante pessoal. É bem intimo e traz essa brincadeira com a inocência da infância e o meu registro de voz de uma forma bastante suave. Em “Kokokyinaka”, após ter me apresentado em grandes palcos e alguns festivais, senti que a música deveria crescer, tornar-se mais abrangente, abrindo espaço para outras qualidades da minha voz. As histórias que conto neste álbum são inspiradas por minhas viagens ao oeste e sul da África – foi onde também gravei alguns samplers que se tornaram bases para canções do álbum. Nós chegamos a tocar algumas canções em um formato duo no Festival Rec Beat, em Recife, em 2012. O material era muito fresco, e nós não tínhamos um set completo para apresentar como duo, então combinei canções do “First Box Then Walk” com as primeiras versões de “Kokokyinaka”, na companhia de Lleluja-Ha na bateria.

Por que você escolheu “Market Place” como o primeiro single? Ela representa “Kokokyinaka”?

Não acho que haja qualquer faixa do álbum que pode representa-lo inteiramente – porque as músicas são bem diferentes. O que realmente amo sobre música são os momentos inesperados. Ter surpresas aqui e ali! Então, não, “Market Place” não representa o álbum como um todo, mas é uma das músicas mais cativantes, e também uma canção que permitia encontrar uma ideia para um clipe com facilidade.

Como foi a gravação do clipe em Gana com dançarinos locais?

Lembro-me do momento em que eu recebi um primeiro e-mail do diretor King Luu (que tinha encontrado os dançarinos para mim) com sua coreografia para a música. Foi emocionante! Eu estava em Berlim com muito, mas muito frio. O álbum nem havia sido lançado ainda, e lá estavam os caras dançando com suas habilidades acrobáticas a milhas e milhas de distância. Claro, foi ótimo conhecê-los pessoalmente, e, além da coreografia que tinham aprendido, havia também alguns improvisos acontecendo durante as gravações. King Luu e sua equipe foram incríveis para trabalhar. Conseguimos organizar tudo por telefone e e-mail – eles em Accra e eu em Berlim – por isso os poucos dias que tivemos em Accra foram suficientes para obter um ótimo clipe.

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

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