Boteco: Da Bélgica, Malheur Dark Brut

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por Marcelo Costa

A história da cervejaria De Landtsheer remonta a 1773, quando Balthazar De Landtsheer fundou a casa em Buggenhout, uma cidade de pouco mais de 14 mil habitantes na região flamenga dos Flanders Orientais, meio do caminho entre Bruxelas e Antuérpia – e também principal região de cultivo de lúpulo na Bélgica. Cinco gerações da família tocaram o negócio de cerveja até a Segunda Guerra Mundial, quando os Landtsheer foram obrigados a fechar a fábrica (embora a família continuasse a plantar lúpulo). Corte para 1997, ano em que Manu De Landtsheer resolveu reabrir a cervejaria e trabalhar uma linha de cervejas chamada Infortúnio (Malheur, em francês). O especialista em cerveja Michael Jackson visitou a fábrica logo após sua reabertura, e conta detalhes em um texto empolgante de 1998 (leia aqui).

A linha tradicional da Malheur traz quatro rótulos: 6, 8, 10 e 12. Além há uma Bière Brut World Classic (rótulo amarelo), Cuvée Royale (rótulo azul) e a Dark Brut (rótulo cinza). Recentemente, a De Landtsheer lançou uma nova linha, Novice, com dois rótulos: Blue e Black Triple. Esse exemplar da foto é uma Malheur Dark Brut que, como uma tradicional Bière Brut, segue o método champenoise, sendo que o ponto de partida desta é uma receita de Malheur 12, uma Belgian Dark Strong Ale (ou seja, uma cerveja escura!). Após a tradicional fermentação e maturação, ela passa por uma segunda maturação em barricas de carvalho norte-americano jovens, especialmente desenvolvidas para cerveja. A levedura é retirada usando o tradicional método de ‘remuage’ na sequencia e o líquido é engarrafado. Surge a Malheur Dark Brut.

Eis uma cerveja com 12% de álcool, de cor marrom (com feixes vermelhos) e boa formação de uma espuma bege. No nariz, um universo: primeiro surgem notas de madeira derivadas da barrica, e, quase ao mesmo tempo, vem o frutado (damasco, frutas secas, ameixas, framboesa) e as notas que remetem a vinho (tanto Porto quanto Xerez) e condimentos (pimenta do reino). O malte levemente tostado se dispersa em notas de mel, açúcar queimado, rapadura e baunilha – com leve sensação de café. No paladar, a primeira sensação é de doçura, com remissão a mel e açúcar queimado. Há uma leve acidez, um pouco de salgado e o amargor derivado do álcool, que aquece o peito quase que imediatamente. O retrogosto é sensacional: uvas, Xerez, damasco, toffee, bananada, baunilha. Melhor abrir outra garrafa…

Bem, calma: se você é (tão pé rapado) como eu, não dá para sair abrindo uma Malheur Dark Brut atrás da outra #classemediasofre. Eis uma cerveja para ocasiões especiais: o preço da garrafa de 750 ml vai de R$ 90 a R$ 194 (preços confirmados em dois sites diferentes), o que mais uma vez permite a dica: pesquise sempre. A faixa de preços mais comum que você irá encontrar é entre R$ 90 e R$ 100, o que a coloca mais em conta que uma DeuS, que, inclusive, é produzida na mesma cidade de Buggenhout. Ou seja: 14 mil habitantes que tem fácil acesso a carta da De Landtsheer – incluindo todas as Malheur – e da Bosteels Brewery, que além da DeuS produz “só” a Tripel Karmeliet e a Kwak. Tudo isso faz o nome Infortúnio soar uma grande (e deliciosa) piada.

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Malheur Dark Brut
– Produto: Bière Brut
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 12%
– Nota: 4,47/5

Segundo o pessoal da Malheur, você precisa seguir o mesmo processo da Brut, exposto calmamente no vídeo acima, para servir a Dark Brut…

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– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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