Livro: “Inferno”, de Dan Brown

por Adriano Costa

Florença e Veneza, duas cidades italianas em que a arte pulsa em diversas formas a cada esquina, cidades que foram os berços principais da renascença italiana entre os séculos XV e XVI. Some-se a isso uma história onde um herói improvável acaba no meio de uma trama envolvendo uma corporação imensa e um louco de plantão que visa brindar a sociedade que nós conhecemos com uma catástrofe. Coloque também uma bela mulher, algumas informações classudas sobre pintura, literatura e arquitetura e logo teremos um livro interessante, correto? Não, não está correto.

Ler “Inferno” (2013), o novo romance de Dan Brown que traz novamente o professor Robert Langdon como protagonista, é uma aventura para pessoas extremamente corajosas, seres com estômago forte para consumir qualquer tipo de petisco, independente da sua qualidade e gosto. Depois do fraquíssimo “O Símbolo Perdido” (2009) que sucedeu o bom “Anjos e Demônios” (2000) e o razoável (porém de estrondoso sucesso comercial) “O Código Da Vinci” (2003), o autor consegue piorar o que já vinha sendo ruim. A ladeira que “O Símbolo Perdido” se prestava a descer ganha mais alguns quilômetros para que “Inferno” siga adiante.

Com 448 páginas, tradução conjunta de Fabiano Morais e Fernanda Abreu e lançamento pela Editora Arqueiro (um braço da Editora Sextante), “Inferno” coloca o professor Langdon em Florença e Veneza e se estende por outras cidades míticas, como Istambul. Com amnésia parcial, esse híbrido de aventureiro, detetive e renomado catedrático, busca solucionar mais um grave problema provocado por um gênio da genética, que assustado com os rumos do planeta devido ao aumento da população mundial, acaba por se vestir com as roupas de salvador da pátria e aciona uma radical solução para a questão.

Dan Brown desenha Robert Langdon novamente com claustrofobia, relógio do Mickey Mouse no pulso (perdido aqui) e paixão pelas artes e símbolos antigos. Ao seu lado coloca outra bela mulher (desta vez a médica Siena Brooks – quem será que irá ficar com o papel em uma futura adaptação para o cinema?) e assim distribui um redemoinho de informações culturais, viradas de cenários e descobertas que beiram o impossível. Tudo isso embalado pelo clássico livro “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri (que se pudesse ressuscitar, com certeza daria uns petelecos na cabeça do autor) como guia para que as pistas apareçam uma a uma e ajudem a destravar o cenário proposto.

Mesmo usando duas cidades repletas de história como suporte principal, além das inúmeras informações sobre quadros, prédios e livros, “Inferno” não agrada em nenhum momento e mostra esgotamento e cansaço da temática. A tentativa de ganhar conotações mais sérias e fazer o leitor “pensar” sobre a questão da superpopulação mundial é risível e carente de argumentos novos. Esse ciclo de repetição que agrada em outros livros não funciona nesse caso, pois Robert Langdon não tem tanto charme e carisma assim. E muito menos as palavras do seu criador. Inferno é escapar dos trocadilhos óbvios com o nome.

– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop

Leia também:
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One thought on “Livro: “Inferno”, de Dan Brown

  1. Eu fui com tanta sede ao pote, que tomei um banho que pesadelos monstruosos.
    Não sou uma pessoa fresca, mas além de ser um livro cansativo os pesadelos foram medonhos….

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