Entrevista: Alberto Guijarro (Primavera Sound)

por Marcelo Costa

Em 2001, Barcelona recebia a primeira edição do Primavera Sound, um festival pequeno, com poucas atrações e cerca de 8 mil pessoas de público. Dez anos depois, em 2011, com um line-up extenso de mais de 120 nomes, o mesmo festival abraçava 125 mil pessoas consolidando sua presença no primeiro grupo dos grandes festivais europeus com um show antológico do Pulp e apresentações grandiosas de PJ Harvey, Grinderman, Flaming Lips, Mercury Rev, Fleet Foxes, John Cale e muito outros (você pode conferir todos os line-ups aqui).

O crescimento gradual é apontado por Alberto Guijarro, diretor do festival, como um dos fatores de sucesso do evento. “O Primavera Sound começou pequeno e fomos crescendo ano a ano sem parar”, relembra. “Só assim um festival pode ter uma base sólida”, opina. Para ter uma ideia, o Primavera pulou de 8 mil pessoas em 2001 para 18 mil em 2002, 24 mil em 2003 (quando recebeu White Stripes, Sonic Youth e Television, entre outros), 44 mil em 2005 e 76 mil pessoas em 2009. Devagar e sempre, diria o ditado.

Este crescimento gradual permitiu ao Primavera Sound ir crescendo junto com seu público, e assim que saiu do Poble Espanyol (um museu ao ar livre) para o imenso Parc Del Fòrum, a responsabilidade aumentou, mas o festival continuou se aprimorando tanto no quesito “escalação de bandas” quanto no “serviço ao público”, chegando a um nível exemplar em que a qualidade não diminui mesmo com 120 mil pessoas passando por suas catracas eletrônicas, bebendo, comendo e camelando pelos oito palcos oficiais.

E a edição 2012 promete. O festival começa gratuito e ao livre no Arco do Triunfo, no centro de Barcelona, com o Wedding Present tocando ao vivo o álbum “Seamonsters” na integra e segue durante mais quatro dias com The Cure, Wilco, Spiritualized, Afghan Whigs, Beach House, Beirut, Bjork, Death Cabie For Cutie, Girls, Franz Ferdinand, Mudhoney, Napalm Death, XX, Yo La Tengo e Jeff Mangun, ex-Neutral Milk Hotel, além de muitos outros se revezando nos diversos palcos do Parc Del Fòrum.

Durante o dia, paralelo ao festival, acontece o Primavera Pro, um evento que visa aproximar músicos, jornalistas, programadores de festivais, promotores, agentes de todo o mundo e profissionais do setor musical em geral com o objetivo de discutir o cenário, trocar informações e experiências, o que demonstra uma preocupação interessante da organização não só com o Primavera Sound, mas com todo o seu entorno (artistas, meios de comunicação, profissionais).

Para este ano, o passo a passo do festival agora o leva ao país vizinho. Além da edição espanhola em Barcelona, de 30 de maio a 03 de junho, o Primavera Sound estreia sua primeira edição na cidade do Porto, em Portugal, na semana seguinte, de 07 a 10 de junho. Para saber um pouco mais sobre o festival, o Scream & Yell conversou por e-mail com seu diretor, Alberto Guijarro, que elegeu os três shows inesquecíveis que ele viu no Primavera Sound e quem devemos ficar de olho na edição deste ano.

Como é planejado o line-up do Primavera Sound?
A equipe de booking do festival reúne as bandas e artistas que foi conhecendo e descobrindo ao longo do ano e começa a realizar sondagens com os diferentes agentes e managers para saber que outros grupos irão realizar uma turnê no ano seguinte – ou irão lançar um novo disco. A partir daí começamos a ver quem poderia tocar no Primavera Sound.

O que vocês buscam quando procuram determinado artista?
Depende. Por um lado buscamos grupos muito novos e com apenas um disco, mas dentro dos parâmetros musicais que planejamos para o Primavera Sound. Por outro, também buscamos artistas que são fetiche para o nosso público e grandes grupos que tenham marcado musicalmente a todos nós.

E para o Primavera Pro? Como funciona a seleção de bandas estrangeiras?
Os artistas que participam dos palcos e showcases do Primavera Pro, localizados no Hotel Zero – sede oficial das atividades diurnas do Primavera Pro e com acesso restringido a profissionais, meios de comunicação e artistas – e no Parc del Fórum são selecionados pela equipe de programação do festival com base nas propostas apresentadas pelos países através de oficinas de exportação de música e das organizações participantes do (próprio) Primavera Pro.

Há quanto anos existe o Primavera Pro? Como você analisa os resultados das edições anteriores?
A próxima edição será a terceira, e ele foi criado em 2010 com o objetivo de dotar de estrutura e atividade a importante participação no festival por parte dos profissionais do setor musical, especialmente programadores de festivais, promotores, agentes, etc… Na edição passada tivemos 1110 delegados provenientes de 43 países (49% espanhóis y 51% estrangeiros).

O Brasil tem uma grande dificuldade em fazer um grande festival com a qualidade do Primavera Sound. Como vocês conseguiram alcançar esse nível em termos de estrutura e qualidade?
Simplesmente crescendo passo a passo. O festival começou sendo pequeno, só um dia e com alguns poucos artistas e fomos crescendo ano a ano sem parar, tanto em público quanto em infraestrutura e palcos. Só assim um festival pode ter uma base sólida.

Para você, quais foram os três shows mais grandiosos que passaram pelo festival até hoje?
Alguns de nossos concertos favoritos na história do festival são o que o Neil Young fez em 2009, a volta do Pulp aos palcos no ano passado e um show mítico do White Stripes debaixo de chuva em 2003.

Cortando pra hoje: quais os shows que você estão mais ansiosos para ver neste ano?
As voltas do Mazzy Star e Afghan Whigs, o novo set do Justice, o Refused e, mais do que todos eles, Jeff Mangum, um cara que é um dos artistas de cabeceira para todos nós que fazemos o festival.

Quem nunca tocou no Primavera Sound que vocês sonham que um dia toque?
Não costumamos pensar nisso, mas gostaríamos de ter David Bowie, como acredito que quase qualquer festival do mundo, ainda que duvido que ele faça uma tour…

Qual a expectativa de público e como é produzir um festival para tantas pessoas em um mesmo lugar?
A expectativa é similar a dos anos anteriores. A produção de um evento deste porte é muito complexa, ainda que realiza-lo em um espaço mais ou menos adaptado para concentrações deste calibre torne tudo um pouco mais fácil.

Como foi a experiência com os brasileiros do Macaco Bong e Garotas Suecas?
Muito boa, especialmente no caso do Garotas Suecas, um grupo que nós gostamos muito e que é bombástico ao vivo.

– Marcelo Costa é editor do Scream & Yell e assina o blog Calmantes com Champagne.

Leia também:
– Primavera Sound 2010: o que de melhor aconteceu no festival, por Marcelo Costa (aqui)
– Primavera Sound 2011: o que de melhor aconteceu no festival, por Marcelo Costa (aqui)



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