Random header image... Refresh for more!

Primavera Sound 2010: Dia 3

pri3.jpg

A escalação do terceiro e último dia da edição 2010 do Primavera Sound deixava clara a intenção da organização do festival: com Pet Shop Boys fechando o palco principal à 1 da manhã e Orbital encerrando a maratona no palco Ray Ban à partir das 3 da matina, o negócio era dançar e festejar até o dia raiar. Quase 170 shows depois, o Primavera Sound fechou às portas em 2010 com o saldo extremamente positivo.

pri1.jpg

Muitas coisas interessantes pingavam nos palcos cuja curadoria especial era do site Pitchfork (No Age, Lee Perry, The Slits, Dum Dum Girls), da revista Vice (The Drums, Matt and Kim, Gary Numan) e do pessoal do evento All Tomorows Parties (Build do Spill). Ainda tinha coisas dispares como Florence + The Machine (cujo show o El Pais classificou como um “golpe de estado no reinado pop”), Van Dyke Parks e Kimya Dawson, a última numa jam session no palco MiniMúsica.

drums.jpg

Aposta musical da BBC inglesa, o The Drums surgiu no segundo semestre do ano passado causando alvoroço com um ótimo EP independente. Contratados pela Island, o grupo do Brooklin colocou o pé na estrada e promete voar alto. O som é rock inglês tradicional mascado como chiclete, mas a energia dos moleques surpreende e faz parecer que carisma é algo que nasce com a pessoa. Um grande show, mas não solte rojões: a chance de eles se tornarem irrelevantes após três discos (como Kaiser Chiefs, Bloc Party, Interpol e Killers, pra citar quatro) é enorme.

grizzly.jpg

No segundo maior palco do festival, uma banda que cresce mais a cada dia que passa: Grizzly Bear. O show foi viajandão na medida certa, com momentos comoventes e alguns minutinhos dispensáveis. O pessoal do Flaming Lips precisa tomar cuidado, porque corre sérios riscos de perder seu post dream pop. No palco da ATP, o Build To Spill convertia almas através de guitarradas em um show delicioso… para se ver em pub fechado. O No Age fez aquela catarse que os brasileiros conferiram antes no Popload Gig, ano passado (assim como o Matt and Kim).

charlatans.jpg

Para fechar a programação pessoal, o Charlatans subiu ao palco com a incumbência de voltar até o distante 1990 recapitulando seu álbum de estréia, “Some Friendly”, e três músicas bastaram para a banda colocar no chinelo a apresentação modorrenta que eles fizeram num Abril Pro Rock, no Brasil, anos atrás. Tim Burgess parece estar envelhecendo com dignidade (embora pareça estar virando o Steve Tyler do britpop), e o show foi correto e divertido (mais tarde eles fariam um pequeno set acústico em uma das tendinhas menores do festival).

Num balanço de um parágrafo, o Primavera Sound recebeu um média de público de 30 mil pessoas por dia e antecipa tendências: o rock de arena parece estar com os dias contados, ou, então, está perdendo um grande espaço para os murmúrios. Foi impressionante ver bandas minimalistas (XX, Beach House, o próprio Grizzly Bear em boa parte do show) tocando para grandes platéias atentas, que não estavam ali para pular, mas sim pelo prazer de escutar uma boa canção. Novos tempos da música pop.

Top 5 de shows
1) Wilco (segundo o El Pais, “no se puede sonar mejor que Wilco”)
2) Broken Social Scene
3) Spoon
4) Grizzly Bear
5) Scout Niblett

Decepção
Pavement (nostálgico e melancólico, tascou o El Pais)

Toquei hits, fiz o público feliz e não sorri
Pixies

Troféu Show Chato pra Caralho
Cocorosie

Cinco shows que eu queria ver, e não vi
Hope Sandoval
Van Dike Parks
Tortoise
Delorean
The Big Pink

Leia também:
– Primavera Sound, Dia 1: The Fall, Superchunk, Pavement (aqui)
– Primavera Sound, Dia 2: Pixies, Wilco, Spoon, The XX (aqui)

pri2.jpg

Fotos da viagem e dos shows:
http://www.flickr.com/photos/maccosta/
http://www.flickr.com/photos/lilianecallegari/

Fotos gerais do festival, crédito para Colectivo Anguila (foto 1), Marta Moreiras (foto 2) e Inma Varandela (última).
As demais por Marcelo Costa

maio 30, 2010   No Comments

Primavera Sound 2010: Dia 2

barcelona-162.jpg

Na programação oficial, 64 nomes divididos em nove palcos. Na programação pessoal, nove. O segundo dia do festival espanhol prometia arrebentar com as pernas da galera, e conseguiu. O primeiro show do dia era para ser o de Hope Sandoval, mas a siesta estendida impediu que chegássemos em tempo de pegar um lugar na enorme fila que levava ao teatro do festival. Fica pra próxima. Rolou de ver a última música do New Pornographers, e o show deve ter sido bem bom. Fecho com chave de ouro.

newpornographers.jpg

No palco ATP, a inglesinha Scout Niblett convertia pessoas comuns em fãs. Com cinco discos já lançados, a menina se diz influenciada pela guitarra de Kurt Cobain (o show é ela na guitarra e um cara na bateria quando não ela sozinha na bateria), mas em alguns momentos é impossível dissocia-la de PJ Harvey, embora Scout seja bem mais calminha. Uma carreira para se acompanhar. O lenga lenga freak folk da dupla Cocorosie levou uma multidão ao palco Ray-Ban com criançinhas africanas no telão e um som que lembrava Enya saindo das caixas de som. Chato.

scout.jpg

Bom mesmo foi o show do Spoon, uma das melhores formações ao vivo da atualidade. Nem o disco novo, que é chatinho, conseguiu tirar a força da cambada de Britt Daniel no palco. O cara parece sentir cada acorde, e consegue passar isso para o público. As músicas novas (três na noite) não deixaram o clima cair, mas foi com hits como “You Got Yr. Cherry Bomb” e “Don’t Me Be a Target” que o gupo fez a apresentação realmente valer a pena. O clima no show do Planeta Terra, anos atrás, estava melhor, mas aqui a banda se superou numa grande apresentação.

spoon.jpg

Uma volta rápida ao palco ATP para ver três canções do badalado duo Beach House (acrescido de um baterista) reunir um público excelente e então era hora de ir para o palco principal encontrar Jeff Tweedy, que deu seu recado logo na primeira canção da noite: “Wilco, will love you babe”. Porém, o som em “Wilco, The Song” estava péssimo, e a banda emendou a tempestade sonora de “I Am Trying To Break Your Heart” procurando um caminho no escuro, mas ainda tropeçou nos diversos problemas técnicos.

wilco.jpg

“Estamos com problemas, mas acho que agora vai. Vamos começar o show, mas preciso que vocês cantem essa comigo”, pediu Tweedy soltando a voz com “Jesus, etc…”. Atendido. Daí em diante o show engatou coroando, principalmente, a performance arrasadora do guitarrista Neils Cline, que fez números como “One Wing”, “Handshake Drugs”  e “Impossible Germany” soarem… eternas. Hits pra cá e pra lá (“A Shot In The Arm”, “Heavy Metal Drummer”, “I’m The Man Who Loves You”, “Misunderstood”) e um show foda. Se em discos a turma de Jeff Tweedy acomodou-se, ao vivo eles continuam sendo uma experiência redentora. Ou como grifou o El Pais, a melhor banda de rock do mundo.

barcelona-165.jpg

Para o final, Pixies… em quaaaaase marcha lenta. Porém, se fosse estático, um show do Pixies ainda seria melhor do que muita coisa por ai (e do próprio festival) tamanha a quantidade de hinos que a banda apresentou no Primavera Sound. Eles foram álbum a álbum tirando o melhor. Assim, “Velouria”, “Is She Weird”, “Allison” e “Rock Music” apresentaram o disco “Bossa Nova”. Já “Tromple Le Monde” foi representado por “Planet of Sound”, pela cover redentora de “Head On” (do Jesus and Mary Chain) e por “Alec Eiffel”.

frank.jpg

O quarteto aumentou o pique das canções na metade do show, e o grosso da apresentação ficou entre “Surfer Rosa/Come on Pilgrim” e “Doolittle”. É só enfileirar as grandes canções: “Monkey Gone To Heaven”, “Debaser”, “Wave of Mutilation”, “Hey”, “Gouge Away”, “Here Comes Your Man”, “Bone Machine”, “Broken Face”, “Caribou”, “Isla de Encanta”, “Holyday Song” e, para o bis, a dobradinha “Gigantic” e “Where is My Mind?”. Até a cover de Neil Young, “Winterlong” mostrou às caras em um show saudosista e comportado, mas ainda assim um grande show.

kim.jpg

O Primavera Sound segue em seu terceiro dia com mais 64 bandas. Tem coisas boas na agenda (The Drums, Build To Spill, Grizzly Bear, Sunny Day Real Estate, Florence + The Machine e The Slits), mas isso depende mais do condicionamento físico do que da vontade de ver mais alguns grandes shows. Pernas, ajudem.

Leia também:
– Primavera Sound, Dia 1: The Fall, Superchunk, Pavement (aqui)
– Primavera Sound, Dia 3: The Drums, Grizzly Bear, Charlatans (aqui)

Fotos da viagem e dos shows:
http://www.flickr.com/photos/maccosta/
http://www.flickr.com/photos/lilianecallegari/

Fotos do show do Pixies, crédito Inma Varandela

maio 29, 2010   No Comments

Primavera Sound 2010: Dia 1

hotsanduba.jpg

Na programação do dia de abertura do Primavera Sound 2010, 44 bandas iriam se dividir entre sete palcos (esse número vai subir para 59 na sexta e para 64 no sábado). A caminhada de um para o outro nem é tão longa, mas haja pernas e joelhos para descer e subir degraus. Tonificantes rock and roll são vendidos (a saber: cerveja, muita, Jack Daniels com energético e Jagermeister), mas a sensação é de que, por mais que você queira, não vai rolar ver tudo que queria.

elmato.jpg

Os portenhos do El Mato a Un Policia Motorizado abriram a minha programação pessoal e fizeram um belíssimo show, melódico e ao mesmo tempo nervoso. Na seqüência, The Fall no palco principal. Mark E. Smith parece um velhinho caduco e tresloucado entre a molecada. Aumenta todos os instrumentos da banda no talo e canta (bem) como um doente. O som que sai das caixas é anos 80 datado (lembra muito PIL), mas se andam copiando tanto a década de 80, Mark também tem mais direito, afinal ele estava lá.

fall.jpg

O XX, por exemplo, não estava, e impressiona o fascínio que o (agora) trio inglês causa no público. As canções são tristes, melancólicas, escuras e soporíferas. Há uma pontadinha de eletrônica que impede o público de dormir, além da garoa, do vento mediterrâneo e dos hits, todos cantados em coro pela audiência, que tentava dançar as canções sem tirar os pés do chão. A tristeza pode ser bela, diria alguns. Na maioria das vezes ela enche o saco, diria outro. O show do XX fica no meio do caminho. Mundo estranho esse em que vivemos.

xx.jpg

Dos anos 80 para os 90: a Espanha ama o Superchunk. Todo ano algum festival os escala, e a entrega da banda impressiona. As canções são todas meio iguais, um pop punk que engata a sétima marcha nos primeiros dois minutos, desacelera depois do refrão e termina com todo mundo com o braço levantado e pulando muito. É uma receitinha danada que funciona quando bem executada, e o Superchunk tem o dom. O show foi ainda melhor que o do Festival de Benicassim, três anos atrás.

superchunk.jpg

O grande show da noite, porém, estava por vir. A orquestra rock and roll do Broken Social Scene fez uma apresentação arrebatadora no segundo maior palco do Primavera Sound. A desconstrução das canções tão presente em álbuns funciona muito ao vivo assim como a troca de instrumentos e vocalistas. A banda não perde o controle um segundo sequer (embora soe tremendamente Neil Young em várias passagens), mas Kevin Drew é bem mala quando tenta animar o público. Bastava saber que a música de sua banda já basta. Grande show.

broken.jpg

Para o final, Pavement em versão festival. Ou seja, os shows de três horas de duração da volta aqui se transformaram em uma hora e meia… de hits. Começou com “Cut Your Hair”, teve “Perfume V” e “Spit on a Stranger” no meio e terminou com “Stereo” e “Range Life” (fora o bis com “Gold Soundz”). Stephen Malkmus passa 80% do tempo com a alça da guitarra fora do pescoço, jogando o instrumento pra cá e pra lá, e faz a banda parecer necessitar da bagunça para legitimar a história lo-fi, e isso incomoda um pouco, mas a excelência da execução das canções torna a noite especial.

paement.jpg

O Festival continua nesta sexta-feira histórica que tem, em seqüência, no palco principal Spoon, Wilco e Pixies. Além tem Hope Sandoval & The Warm Inventions, The New Pornographers, Low, Panda Bear, Autoramas e Yeasayer (e mais 50 outros além dos hot sandwiches e da comida mexicana – olhe aqui sem medo. Haja pique). Não vai rolar ver tudo, mas o trio principal não irá passar batido. A gente se vê no caminho.

Leia também:
– Primavera Sound, Dia 3: The Drums, Grizzly Bear, Charlatans (aqui)
– Primavera Sound, Dia 2: Pixies, Wilco, Spoon, The XX (aqui)

Fotos da viagem e dos shows:
http://www.flickr.com/photos/maccosta/
http://www.flickr.com/photos/lilianecallegari/

maio 28, 2010   No Comments