Radiohead: “In Rainbows”, o álbum da década

por Alexandre Matias

Vamos falar a verdade – o Radiohead só passou a existir a partir do segundo semestre de 1997, quando “OK Computer” definiu uma fronteira ainda inconsciente. Ali terminava a carreira de uma banda do terceiro escalão da geração britpop, que se esforçava para suprir a lacuna deixada pelo U2 à medida em que Bono e companhia mergulhavam na dance music. Mesmo com algumas boas faixas em “The Bends”, o Radiohead era menos do que nota de rodapé na história do rock, fadado a ser lembrado mais por “Creep” do que por faixas infinitamente superiores, como “High and Dry”, “Fake Plastic Trees” ou “Just”. Até que, em um disco, mudaram completamente a abordagem de sua música, sua própria noção de importância e a consciência de perspectiva histórica. “OK Computer” era uma coleção de faixas que soavam tão inquietas quanto clássicos do rock, devendo tanto ao stress existencialista da geração X e à paranoia consumista dos anos 90 quanto aos discos solo dos Beatles e os discos certos do rock progressivo. E toda poeira retrô que pairava sobre as canções do último álbum da história do rock soa setentista ao mesmo tempo em que flutua pós-moderna, como se letra e música fossem atiradas à ausência de gravidade e humanidade de uma etapa cinzenta a seguir. Imagine o estado da banda ao conduzir versões com 14 minutos de uma “Paranoid Android” ainda não gravada para o público da primeira turnê americana de Alanis Morrissette, de quem foram o show de abertura.

Mal sabíamos como aquele “OK Computer” seria definitivo: surrupiada de Douglas Adams, a frase funcionava como um epitáfio para o mundo pop como o conhecíamos, de artistas inatingíveis, canções que soam como hinos, discos para serem ouvidos de cabo a rabo, a indústria fonográfica em particular e o mercado de entretenimento como um todo. Tudo começaria a ruir naquele semestre. Ao mesmo tempo em que as letras da banda pareciam concretizar-se, novas estradas digitais eram erguidas. A ausência de resistência do título não era apenas um último suspiro, uma trégua final – também anunciava o início de novas regras no jogo do pop. Afinal, o computador não era apenas a caixa cinzenta de plástico que passaria a nos conectar através de uma rede neurológica planetária artificial, mas também cada um de seus usuários. Ao ceder ao computador, a banda estava encerrando também o ciclo de relação da banda com o ouvinte passivo, afinal, a partir dali ele também inseriria dados na equação do sucesso de determinado artista que iam além da simples compra de ingressos ou de discos.

O próprio Radiohead foi cobaia desta nova realidade ao ver o disco posterior a “OK Computer” aparecer online antes de ter sido lançado. Três anos após ter subido degraus consideráveis em importância no mundo pop graças a um único disco, o Radiohead armava a contagem regressiva para o lançamento de um disco que a indústria esperava ser campeão de vendas com notícias que diziam que o disco seria hermético e experimental. E a expectativa aumentava quando gravações com as novas faixas tocadas em shows começaram a aparecer na internet –que culminou com o próprio vazamento de “Kid A” quase dois meses antes de seu lançamento oficial. Aquela novidade era uma prática que já vinha acontecendo com artistas menores, mas, com a chegada do Radiohead ao primeiro escalão do pop, abriu as possibilidades de ver a internet como vilã, ao minar as possibilidades de um artista de grande porte vender ainda mais discos. O resultado foi um esgar inicial à complexidade e densidade das canções, avessas ao classicismo de “OK Computer”, que rendeu notícias anunciando a morte prematura do disco. Mas foi o tempo necessário para o público digerir o álbum e seu conceito antipop para que “Kid A”, contrariando todas expectativas, se tornasse um dos discos mais vendidos do ano 2000 no mundo inteiro.

Com “Kid A”, o grupo virou as costas para o que havia pregado em “OK Computer” e partiu para o que mais havia de vanguarda na época. Lembro da Wire, bíblia da música experimental, estampar Thom Yorke em sua capa com um misto de admiração e culpa, pois a banda de rock mais popular do planeta tinha levado para seu aguardado disco parte do universo de exploração e experimentos endeusados pela revista. A música mais “fácil” de “Kid A” não ajudava muito, ao criar um neologismo que fundia idiotice com discothéque, numa crítica nada sutil à pista de dança. Pesado e de poucos amigos, “Kid A” é um salto no escuro tão radical quanto os álbuns negros do Prince e do Metallica – embora não tenha errado tanto quanto o primeiro nem acertado tanto quanto o último. Em seu quarto disco, o Radiohead tinha deixado de ser uma banda pop aspirando o Olimpo para assumir a expressão de uma esfinge, uma Mona Lisa de olhos tortos que ri de/com/para algo – e você não sabe do quê.

Os discos seguintes continuaram a trilha, abrindo-a para os lados. “Amnesiac” é o lado B de “Kid A” e o disco ao vivo “I Might Be Wrong” compila as músicas dos discos anteriores que poderiam ter feito o sucessor de “OK Computer” um disco palatável – mas desimportante por ser muito parecido. Com “Hail to the Thief”, eles ampliam ainda mais suas discussões ao assumir posições políticas ao mesmo tempo em que costuram o experimentalismo com sua maior qualidade, as canções.

Sete anos depois do abismo “Kid A”, o grupo dá um passo ainda mais ousado – talvez até mesmo que o de “OK Computer”. Tudo estaria resolvido em menos de um mês. Em setembro de 2007, pouco se falava sobre o próximo disco do Radiohead e no mês seguinte a banda dominava o imaginário mundial. Começou com o mínimo de barulho num site chamado www.radiohead7lp.com, que computava uma contagem regressiva para alguma coisa. Sim, era o sétimo disco do Radiohead que estava para ser lançado, mas logo a própria banda vinha em seu site para dizer que não tinha nada a ver com aquela contagem regressiva. Em alguns posts anteriores, o grupo apenas lançava mensagens enigmáticas, criptografadas – uma delas foi traduzida como sendo MARCH WAX, o que levava a crer que o próximo disco da banda sairia apenas em vinil, seis meses depois.

Ou não. Eis que o tal cronômetro chegou ao zero, revelando a frase – THE MOST GIGANTIC LYING HOAX OF ALL TIME (O MAIS GIGANTE E MENTIROSO BOATO DE TODOS OS TEMPOS, tudo em caixa alta mesmo) linkada a um vídeo do YouTube, que nos fazia cair no clipe de “Never Gonna Give You Up”, de Rick Astley, num primeiríssimo Rick Roll’d em larga escala. Ao mesmo tempo, o próprio site da banda revelava a seguinte mensagem:

“Hello everyone.
Well, the new album is finished, and it’s coming out in 10 days;
We’ve called it In Rainbows.
Love from us all.
Jonny”

Dali você era redirecionado para o site InRainbows.com, que escreveria uma nova página na história do capitalismo. No momento em que você optava por comprar o álbum, o site lhe oferecia a opção de escolher o preço que queria pagar. Não era simples altruísmo: assim, o que o Radiohead admitia era o fato de que, uma vez feito, o disco já estava lançado – pagaria quem se dispusesse a faze-lo. Mais do que ter o preço avaliado pelo comprador – o que é um conceito inovador em si –, “In Rainbows” foi dado de graça. Quem quisesse, poderia pagar pela comodidade de receber, além das 10 faixas disponibilizadas em MP3, um pacote com o disco em vinil em edição especial, que ainda incluía um disco extra. Calibrando suas faixas com um bitrate específico (160 – ao contrário dos 320, 192 ou 128 que são usados como padrões), eles logo dominavam a rede com o mesmo disco em milhões de HDs diferentes. Ao contrário do vazamento involuntário, que pode pular uma das etapas do processo de produção do disco e vir com algo menos (títulos definitivos, masterização, ordem das músicas, etc.), “In Rainbows” chegou inteiro e ao mesmo tempo para todo seu público – e exatamente como queriam seus autores. Em um fim de semana, o sétimo disco do Radiohead deixava de ser uma conspiração decodificada por fãs para se tornar um novo paradigma para a cultura pop.

“In Rainbows” ainda tem outro mérito – o de mostrar que download gratuito não pressupõe pirataria, como desinformava a guerra de nervos promovida pela indústria do disco no início da década, quando insistia em jogar na internet a culpa da má gestão de seus próprios negócios nos anos 90 e trata-la como vilã. Assim, se uma incauta geração inteira baixava MP3 como se não houvesse amanhã, outra, precavida, comprava seus MP3 com medo de prejudicar seus artistas favoritos. O Radiohead deu a esta última a chance de baixar não apenas uma música, mas um disco inteiro, de um artista estabelecido – de graça, sem dor.

O feito transformou o Radiohead em novo paradigma digital. Não apenas o universo musical, mas todos conscientes do papel da internet ouviram falar da nova estratégia da banda, que em uma semana, teve mais de um milhão de downloads só do site oficial, dominou a parada da Last.fm e apresentou-se para gente que nunca tinha sequer parado para ouvir o grupo. Além de impulsionar uma safra de artistas a adotar o formato.

Há quem desmereça o feito como mero recurso técnico feito para distrair a atenção da essência artística – reação usada para esvaziar os efeitos de “Guerra nas Estrelas” ou de “Dark Side of the Moon”, a cor em “O Mágico de Oz”, a pompa de “Sgt. Pepper’s”, o timbre de João Gilberto, a falta de respostas em Lost ou a filosofia de araque em Matrix. Os detratores do pop desvinculam tais elementos de suas obras originais de forma a torná-los ridículos para quem acompanha o fenômeno de fora, sem perceber que é justamente esse o elemento responsável por ampliar o público para longe do nicho, rumo às massas. E por mais óbvio que pareça ter sido o salto dado por “In Rainbows”, ele foi crucial, pois quebrou o parâmetro linear de produção da era analógica, que inevitavelmente faria o disco ser lançado mesmo em março de 2008, caso a banda entregasse o disco à gravadora, e não ao público. A sensação de desnorteamento foi tamanha, que havia quem considerasse o lançamento digital do disco um híbrido improvável batizado de “vazamento oficial” – sem perceber a contradição no termo. Como provocação, a banda ainda marcou o lançamento oficial do CD para o primeiro dia de 2008 – como se perguntasse a quem falou em “vazamento oficial” de quando é que eles vão datar o CD, 2007 ou 2008? Endossando a provocação, o Radiohead ainda fechou um acordo com a CurrenTV de Al Gore para transmitir um show gravado no estúdio da banda no último dia de 2007. Poucas horas antes do disco chegar às prateleiras das lojas do mundo, milhares de fãs da banda em todo o planeta cantavam todas as músicas de um disco que ainda não existira fisicamente, apenas de forma digital.

Mas o fato é que todo esse rebuliço não seria tão importante caso “In Rainbows” não fosse bom. Tanto que logo depois o Nine Inch Nails lançou um disco de forma ainda mais ousada – tanto em termos mercadológicos quanto em se tratando de narrativa – e ninguém mal ouviu falar do disco. Por que é ruim? Não, afinal de contas, o trabalho de Trent Reznor é sério. Mas por que não se conecta de forma tão intensa com a própria época como o do Radiohead.

E chamar “In Rainbows” de um bom disco é exagerar na modéstia. “In Rainbows” é o melhor álbum dos anos 00.

Pois todo experimentalismo da virada do milênio já havia sido digerido pela própria banda. Expurgando a possibilidade de se repetir ao cogitar discos de vanguarda em vez de álbuns de rock, o Radiohead aos poucos abandona a experimentação e o improviso, rumo ao artesanato cancioneiro. As texturas e timbres alienígenas de “Kid A”/”Amnesiac” surgem nas entrelinhas, nos arranjos, nos detalhes de “In Rainbows” – que é, essencialmente, uma continuação de “OK Computer”. Há uma linha de raciocínio que inclusive busca ligar ambos discos e fãs do grupo são instigados a procurar sentido em coincidências como o fato dos dois discos serem batizados com expressões com duas palavras, uma com duas letras e outra com oito. Já cogitaram até mesmo que a audição entrelaçada das faixas dos dois discos abre uma nova dimensão entre suas canções – mas o efeito é mais lúdico do que racional e poderia funcionar com quaisquer faixas dos últimos discos da banda (sinal da coesão de sua sonoridade). Mas há ainda quem veja coincidências nos detalhes – e há uma ênfase no número 10 que sugere alguma referência à linguagem binária no Código Radiohead. Além dos discos terem 10 faixas cada (“OK Computer” tem doze, sendo que uma, “Fitter Happier”, é um interlúdio), “OK Computer” e “In Rainbows” foram lançados com 10 anos de diferença entre si – e o último lançado exatamente no dia 10 de outubro (o mês 10) de 2007. E mais: o fato do título dos discos começarem com as letras “O” e “I” também seria outro aceno ao código binário. “Down is the New Up” – parece que tem mesmo algo aí.

Mas, principalmente, há a música – e ela se mostra a princípio hermética. “In Rainbows” abre fechando-se com uma rajada de beats tortos, primos da gravadora Warp, que tanto bateu no grupo no início da década. “Como posso terminar onde comecei?”, pergunta-se Yorke, sem se preocupar em nos dar as boas vindas. “15 Step” aparentemente nos guia para outro beco sem saída experimental. Mas aos 40 segundos, deixa a guitarra jazzista de Jonny Greenwood superpor-se à percussão esquizofrênica – e a de Ed O’Brien logo surge funcionando como segunda voz, junto com uma sinuosa linha de baixo e uma melodia direta e reta, oposta a seus versos de abertura. “Tudo estava bem/ O que aconteceu? O gato comeu sua língua?”, pergunta o vocalista sobre a mudez espiritual de nosso tempo. “Etc. etc./ Fatos ou o que for”. O clima apático e tenso parece dissolver-se numa melancolia pós-milênio que filtra todo o disco – um sentimento que é um vazio existencialista parente da apatia cantada por Kurt Cobain e de um blues robô, que une Kraftwerk, Daft Punk, Aphex Twin e Brian Eno numa espécie de eletrônica autoral, em que o ritmo tem mais sentido do que sensação. Mas se essa sensação oca era a mesma que causava desespero e náusea em “OK Computer”, em “In Rainbows” ela parece menos caótica e mais precisa – como se tivesse completado um ciclo (os “15 passos” seriam um programa?).

“Bodysnatchers” segue dura e rock, com seu riff distorcido conduzindo o ritmo como um cavalo selvagem, acompanhado em seguida por toda a banda. Esta alterna entre o pique inicial (cuja letra revela seu protagonista catatônico – “pisque seus olhos/ Uma vez para ‘sim’/ Duas vezes para ‘não’/ Eu não faço ideia do que você esteja falando”) e uma clareira de ritmo, quase zen, quando uma guitarra saída de um disco do Cure ou um teclado fantasmagórico sublinha os gemidos de Yorke. “A luz apagou pra você?/ Pra mim, apagou/ É o século 21”, canta numa performance, que vai do grunhidos ao sussurro, sua voz tão solta na parte final da canção como qualquer outro instrumento da banda, tão importante à formação sonora quanto as três guitarras, os teclados ou a cozinha decidida – e é ela quem encerra a faixa repetindo “eles estão vindo!”, como se impressionada com a coesão e força da usina de som que lidera, logo depois de concluir “eu estou vivo”.

“Nude”, conhecida pelos fãs de shows com outro título, “Big Ideas”, começa superpondo vocais, samples de corais, cordas sintéticas para criar um clima de catedral, que é logo esvaziado – deixando apenas Yorke com o baixo de Colin Greenwood e a bateria de Phil Selway, criando uma atmosfera bucólica e tranquila (embora a letra cante que por mais que você se apronte,“sempre algo estará faltando”), em que as duas guitarras entram como se fossem uma só, alternando detalhes dedilhados como nas baladas mais hipnóticas do Velvet Underground ou as canções mais pastoris do Pink Floyd. E logo essa estrutura instrumental serve como base para as mesmas cordas, samples e vocais que abriram a canção voltarem – e quando Yorke deixa sua voz soar sem letra, há um minuto do fim, estamos ouvindo um dos trechos musicais mais bonitos de nossa época, quase uma revelação sentimental, sentimentos que só a música consegue traduzir – palavras falham.

O disco retoma à contagem de tempo antes da bateria assumir o ritmo incessante kraut que funciona como tela em branco para três guitarras superporem dedilhados, completando-se em “Weird Fishes/Arpeggi”. Não consigo dissociar não apenas essa faixa, mas diversos momentos de “In Rainbows”, da descoberta do violão feita pelo Legião Urbana em seu segundo disco – até porque a própria trajetória do Radiohead ultrapassa um arquétipo vivido pelo grupo de Renato Russo, que é quando uma banda guitarreira descobre a eficácia da harmonia em detrimento do ritmo e a sutileza do instrumento acústico em contraste à histeria elétrica. “Weird Fishes” é parente bastarda de “Andréa Doria” e “Plantas Debaixo do Aquário”, as mesmas texturas instrumentais, mesma sensação de esperança disfarçada de desespero, mesma abordagem temática do mar (Andréa Doria era o nome de um barco italiano que afundou em 1956, perto de Nova York).

De andamento quase fúnebre, “All I Need” é outra bomba-relógio – ela parece prenunciar uma música tensa e solene, quando, na verdade, é a balada mais pop que o grupo já fez; uma canção pronta para aquecer corações, escorada em um arranjo com cara de Björk: bateria minimal, piano soturno, efeitos sonoros, ecos, muitos vazios. Ela termina em “Faust Arp”, uma microcanção em que o arranjo de cordas a deixa com ar ainda mais pastoril, nickdrakeano, onde o grupo faz valer seu anglicismo.

A linda “Reckoner” é outra música que vai sendo construída lentamente entre nossos ouvidos, cada camada de instrumento sendo disposta de forma didática, nos ajudando a ouvir o que cada um faz na banda e nos explicando sentimentalmente o que é que precisa nos afeiçoar em uma canção para que ela torne-se universal – neste caso, apenas o andamento e a melodia, todo o resto é acessório. O vocal de Thom em especial deixa a aparente psicopatia de lado e atinge seu grande momento – em especial quando, na segunda parte da faixa, canta consigo mesmo e entoa, quase em segredo, o nome do disco. “House of Cards” não deixa cair – e vai pela mesma fórmula da canção anterior nos fisgando sem pensar. Desta vez o ritmo é determinado pela guitarra, que é apenas seguida pela bateria, deixando Thom Yorke ter seu outro grande momento, cantando em tom grave, oposto ao falsete de “Reckoner”. Há tanta referência – e reverência – ao folk dos anos 70 quanto à música ambient da virada do milênio, em outra canção irretocável.

“Jigsaw Falling Into Place” é o grande momento do disco, como se fosse uma “Paranoid Android” amadurecida em dez anos – as mudanças entre as faces da música são menos abruptas e suas diferentes caras soam complementares, não antagônicas. Ela aponta para uma certeza que toma conta do disco – de que estamos finalmente vendo as coisas do jeito que elas são. Caem as máscaras erguidas pela comunicação e aos poucos conseguimos ver quem é quem, como se o ataque de pânico de OK Computer fosse substituído por uma sabedoria cínica, algo Tyler Durden, um sociopata disposto a derrubar tudo por dentro – a princípio o tom é sóbrio:

“Logo que você segura minha mão
Logo que você anota o número
Logo que as bebidas chegam
Logo que eles tocam sua música favorita
A mágica desaparece”

A letra continua dissecando toda a tensão da sociedade moderna do mesmo jeito em que a banda cresce – instrumentos acústicos e vocais que cantarolam começam a ser trocados por berros, solos de guitarra e cordas dramáticas e a música ganha um volume e densidade que no início era apenas referido. A letra invade um outro país das maravilhas de Alice, de paredes que perdem forma e gatos que sorriem mas também de ruído, ritmo e câmeras de circuito fechado. “Nunca fui lá/ Só fingi que fui”, “antes que você entre em coma/ Antes que você fuja de mim”, “Pra que servem instrumentos?/ Palavras são armas de cano serrado”, Yorke nos induz ao transe dervixe inglês antes de sentenciar que o quebra-cabeças começa a fazer sentido: “As peças se encaixam/ Não há nada a ser explicado”, canta como um guru psicodélico que guia um novato em uma viagem alucinógena – mas a viagem que a banda propõe é justamente abandonar o excesso de referências que polui e superlota nossas cabeças para “desejar que o pesadelo se vá”, pois “você tem uma luz e pode senti-la”. E ele não está sendo esotérico, como dá pra perceber.

“Videotape”, devagar quase parando, encerra o disco com a melancolia de um velho VHS, Thom Yorke vê-se póstumo ainda querendo ater-se à vida que acabou de perder (“quando eu chegar às portas do céu/ Isso estará gravado em vídeo/ Mefistófeles logo abaixo/ Tentando me puxar”), nos fazendo pensar em nostalgia e como nos apegamos mais ao passado do que ao presente. Os acordes congelados ao piano são emoldurados por ruídos e texturas, sem nunca superpor-se à canção.

“In Rainbows” é um conjunto perfeito de 10 canções perfeitas. Elas conversam entre si exatamente como falam das sensações que todos sentimos nos dias de hoje – um medo opressor cuja natureza é indeterminada, a tensão de ser humano – animal ou racional? – na medida em que a civilização entra em colapso, uma sensação vazia que se sobrepõe ao excesso de tudo. São os mesmos sentimentos desenhados em “OK Computer”, o que muda é a relação da banda com eles – se no primeiro disco parecia espantar-se e cogitar o suicídio, neste percebe que todo o ruído e poluição é só a casca de uma pseudo-realidade – e que o que há por trás do excesso de informações e caos de consciência que distorce nossa rotina é muito simples, claro e fácil.

Alie isso ao fato de “In Rainbows” não ser um disco de inéditas. Conhecidas de seu público através de shows, todas as faixas já haviam aparecido mais de uma vez e já tinham vídeos no YouTube, letras em sites de fã e sequências de acordes em repositórios online de canções cifradas para violão. Não era seu ineditismo que as tornava especiais em “In Rainbows” – mas a forma em que elas foram dispostas, sua produção, seus arranjos, o sentido que fizeram umas juntas às outras. Uma outra leva de músicas ainda podia ter se juntado à coleção inicial mas terminou como uma espécie de conteúdo extra – o segundo disco do vinil duplo vendido através do site – mas que, quis o destino, não era “In Rainbows”.

“In Rainbows” é um conceito fechado, uma declaração de princípios, um manifesto estético. Mais do que um disco que assumiu-se digital por natureza e copiável por definição, é uma coleção de canções que não apenas traduzem certas sensações que permeiam nosso dia a dia, como faz isso com estilo, bom gosto, senso de importância e perspectiva histórica. Uma obra que ainda faz valer a existência de um formato, a prova de que o fim do CD não pressupõe o fim do álbum. E, por tudo isso, é o disco mais importante da década.

Nos anos 90, o Radiohead não chegou perto deste título pois seus padrões foram estabelecidos logo no início – e “OK Computer” teria de competir com obras-primas como “Blue Lines”, “Nevermind”, “Check Your Head”, “Loveless”, “The Chronic”, “Screamadelica” e “BloodSugarSexMagick”. A década seguinte também talhou seu modus operandi de cara – e, desde o início, descartou o álbum como formato. Medidos em canções, os anos 00 esvaziaram o formato álbum de diferentes formas – de bandas que movimentam-se exclusivamente por singles (como toda a geração novo rock nascida após os Strokes) a artistas que se lançam por etapas, adicionando elementos extra à medida em que envolvem o ouvinte (pense nas carreiras de Dangermouse, Jack White, Marcelo Camelo ou Nick Cave – e suas muitas camadas de apresentação ao público). Quando o Radiohead se propôs a lançar “In Rainbows” como o lançou, sabia onde queria estar.

A expectativa para os shows do Radiohead no Brasil essa semana não é à toa: estamos às vésperas de assistir à maior banda do planeta hoje tocar o show da turnê do disco da década.

– Alexandre Matias é jornalista, escreve no Trabalho Sujo, integrante d’O Esquema

Leia também
– “Pablo Honey”, por Eduardo Palandi (aqui)
– “The Bends”, por Renata Honorato (aqui)
– “Ok Computer”, por Tiago Agostini (aqui)
– “Kid A”, por Luís Henrique Pellanda (aqui)
– “Amnesiac”, por Marco Tomazzoni (aqui)
– “Hail To The Thief”, por Marcelo Costa (aqui)

47 thoughts on “Radiohead: “In Rainbows”, o álbum da década

  1. Ótimo texto, Matias, salvo algumas ressalvas que não vou encher o saco querendo discutir aqui. E, realmente, In Rainbows é um baita disco, pau-a-pau com Ok Computer. Mal posso esperar pelo show, vou viajar mais de mil kilômetros, porém, não há dúvidas de que valerá cada metro ultrapassado.

  2. Nossa, não é so pra mim, digo pra mim, o melhor textos de todos sobre os Radiohead, como é um dos melhores textos de disco que já li, e olha, não so leio muito texto como tb escrevo,

  3. Excelente texto, “dissecou” o Radiohead mto bem, e se a gente para pra pensar, a banda só apareceu mesmo após o Ok Computer, apesar de eu adorar o The Bends, em relação ao In Rainbows é um bom disco, mas naum consigo admira-lo como The Bends, Ok Computer, Kid e Hail to the thief.

  4. Disco da década? Conjunto perfeito de 10 canções perfeitas? Declaração de princípios? Manifesto estético? Ora, por favor, nem Ok Computer chegou a tanto. E quem fala isso é um fã com ingresso comprado.

    In Rainbows é mediano (para não dizer medíocre), insípido e insosso, quase tão sonolento quanto este texto. Não chega a aborrecer como Amnesiac, mas falta uma Pyrimid Song ou uma Knives Out para lembrarmos que o Radiohead é uma grande banda. 15 Step, Bodysnatchers, Nude e Reckoner se salvam nesse lodo, mas, verdade seja dita, é um álbum que só chamou tamanha atenção por seu esquema de comercialização. E por ser o então disco novo de uma excelente banda. Só. Com boa vontade, estas músicas seriam bons b-sides de Ok Computer, embora inferiores a Melatonin, Pearly, A Reminder etc.

    Quanto às numerologias e à “nova dimensão” aberta pela junção Ok Computer/In Rainbows, um conselho: deem um tempinho na maconha. Ou daqui a pouco vocês estarão vendo Jim Morrison andando por aí, talvez nessa mesma dimensão.

    P.S. Caro Alexandre Matias, só faltou a relação com a Legião Urbana para eu pedir seu canal. Deve ser coisa muito boa.

  5. E lá vamos nós de novo!
    so que dessa vez meu filho, tuas frases de “efeito” são limitadissimas perante um texto exemplar.
    Assim como todos os textos até agora, so li termos simplistas e acusaçoes de sonolencia de alguns fulanos, MAS, ainda estou pra ler algo que mesmo contra o disco me mostre “é, ele nao gostou mais tem argumentos” . quem sabe um dia?, E Datalhe, lembre-se e organizar tua critica com letra, pq discutir sonoridades é só uma parte de todo.

  6. O texto tá quase todo muito bom, então vou me focar no que há de ruim.
    Primeiro que dizer que a obra prima Kid A erra mais do que o Metallica é um comentário de má fé.
    Segundo que nunca, jamais, poderá ser feito um comentário pretensamente sério que compare, de alguma forma, Radiohead e Legião Urbana, essa bandinha medíocre chupadora dos britânicos dos 80s, com a versão abrasileirada e diminuida do Morrissey nos vocais.
    E terceiro, talvez principal, é ignorância, no mínimo, chamar o Amnesiac de lado B do Kid A. Ambos são obras-primas equivalentes em qualidade.
    Há alguns errinhos menores, também. Nem todas canções eram conhecidas já dos fãs. Reckoner, a do cd, e Faust Arp foram completas surpresas.
    Outro; a letra de Bodysnatchers não é “I’m Alive”, mas sim “I’m a Lie”, segundo o encarte oficial. “Sou uma mentira”, portanto, bem diferente de “estou vivo”.
    Agora, comentários pessoais. Nem Thom Yorke imaginará um dia tanto significado assim em “Jigsaw…”, descrita por ele como uma música de sexta-feira após ser pago, tanto que seu título original era “Pay Day”. Muito menos pretensiosa do que a interpretação proposta por você. E, apesar de ser uma puta música, fantástica, dizê-la um amadurecimento de Paranoid Android, irretocável do jeito que é, é apenas exagero sensacionalista.
    Em suma, foi o texto mais competente da série; longe do amadorismo dos 3 primeiros, e mais desenvolvido do que os seguintes. Mas ainda assim, era de se esperar alguém menos deslumbrado e com mais conhecimento. Bom trabalho, ainda assim, no final das contas.

  7. Discordo, Pedro. Se for para entrar um BRMC é o Howl, mas ali pela sétima, oitava posição.

    No mais, as pessoas confundem qualidade com representatividade. Ok Computer e Acthung Baby são melhores que Nevermind, mas este último é o disco da década de 90.

    Nos anos 00, apesar da insignificância dos Strokes, Is This It vai pras cabeças. E In Rainbows também. São discos que resumem uma época.

    E por isso que Sgt Peppers sai na frente do Album Branco e de Revolver, embora esses discos sejam melhores musicalmente, pois Sgt Peppers é um marco.

    Sâo coisas que as pessoas precisam analizar com distanciamento de gosto, o que é muuuuito dificil, infelizmente. No fim, a verdade universal é o próprio umbigo.

  8. Nao sei de voces, mas eu que descobri Legiao Ubana muito tarde acho eles especiais. O Daniel fala em deslumbramento sem perceber que o comentario dele eh só isso.

  9. Porém gostei, o daniel foi coerente, apesar de concondar só em alguns pontos. E principalmente fugiu dos comentários simplistas que já são clichês.

    Acho que é isso ae, tipo, ninguem está aki pra impor opnião nenhuma e sim dialogar.

    pra mim, o texto do Alexandre esta irretocavel.

    e discutir significados com letras do Yorke é sempre interessante e da pano pra manga.

  10. Ok, Leno, vamos lá.
    Primeiro: isto não foi uma crítica, foi apenas uma opinião. Crítica, se é que podemos chamar de crítica, pois só li elogios e babação, é o texto postado por AM. Segundo: não tenho tempo nem saco para discutir letra de música com alguém que mal sabe escrever. Desculpe a franqueza, mas quem acompanha suas postagens por aqui sabe do que estou falando. Agora, se você quiser uma crítica crítica mesmo, deposite um qualquer na minha conta que eu penso no seu caso.

  11. ah Sr. fabrizzio então estamos discutindo a minha escrita é isso?????

    Vc é realmente um sujeito muito burro (não, não é burrice gramatical) e sim vinda do EGO.

    Relaxa, se não tens oq dizer é so dizer isso q vc escreve sempre. como é mesmo ?? “chato” “sonolanto” ok.

    =]

  12. Oq não representa vc pode representar algo importante para uma massa muito grande velho.
    além de representatividade pra arte (algo q vc ignora pq so olhar o mundinho pop).

    dica. O Mundo não gira ao teu redor.

  13. A massa, meu caro Leno (e falo isso de cadeira, pois sou publicitário) é o bicho mais burro e influenciável que pode existir. A massa acredita em tudo que vê, que lê, que ouve. Acho que, aqui, não estou falando com a massa, embora você e todos façam parte dela. Julgo que aqui há algumas pessoas sensatas e de opinião própria. Agora, se é ou não o seu caso, só você pode dizer.

  14. fabrizzio, em todas as discussões até agora, acho que vc não consegue, ou simplismente não entra na tua cabecinha, que ninguém aki quer te enfiar pela goela alguma verdade.

    Claro, Logico filho!!! que tem gente que vai contestar a relevância do In Rainbows (e isso é importante) O problema é que vc é arrogante ( não, não é pq eu discordo de vc que vc é sim arrogante) é pela tuas palavras mesmo.

    Vai ver que vc nem é assim conversando, mas, aqui, vc quer simplesmente dá sua opnião como se ela fosse UNICA E ABSOLUTA verdade do mundo e pior, vc tenta de forma (desculpe eu agora) mas de forma burra, desconstruir o outro ser humano que estar do outro lado como se ele fosse um idoita por penser diferente de vc.

    Cara, na boa, retruque o quanto quiser, mas o mundo não é vc, nem eu. Teu gosto e tua visão é só tua, mostre-a pra gente como a tua visão e não a visão máxima do mundo.

    Achas IR uma merda? (cara, não faz diferença pro disco ou pra banda isso) agora, lembre-se, é tua visão, tente olhar as coisas como um todo e não como se elas girassem a tua volta e tivesse que passar apenas pelo teu gosto pra ser setenciado se é bom ou ruim.

    In Rainbows é disparado melhor que o disco dos Strokes (mas é pra mim)
    dentro da visão geral das coisas ele tem revancia, vc goste ou não, eu goste ou nao,
    eu particulamente não gosto do disco mas entendo a representatividade dele (sim eu entendo vc, sim essa geração não fez lá grandes discos, sim não temos mais o Pink e o Led) agora, oq temos hj tem relevancia pra nossa época sim. História.

    cara isso não é dificil de compreender..pqp

  15. Leno, difícil é você entender que eu execro este argumento. Arrogância de minha parte? Sim. E daí?
    Strokes é história? Sem dúvida. Você acredita no livro didático? Então vai lá e marca Strokes na sua lista da década, cara. Para você e muitos, é referência. Para mim, é nota de rodapé. Como era o Radiohead de Pablo Honey.

  16. Nossa ja chegou em IR, ate ja cansei de falar de Radiohead. Gostei muito de IR, achei meio sonolento, talvez porque tenha sido a proposta da banda fazer um disco de andamento mais lento.

    IR ainda tem que comer muito feijão pra ser reconhecido como o album da decada, ele tem tudo pra ser, mas so saberemos ao certo daqui a alguns anos.

    Essa tal “semi-revolução” de pague quanto quiser pelo album nem foi tão marcante, outros artistas abominaram esse recurso, ate mesmo o Radiohead disse que não faria mais isso, nesses tempos de downloads alternativos é como se alguem ofereçesse um Papagaio para uma pessoa que tem uma Arara Azul que roubou da Amazonia.

    O album sofre um pouco com essa tal “semi-revolução”, IR será mais marcado por isso do que pelo merito da propria musica em si, ja que o mesmo não tem uma marcante como Paranoid Android.

    Ainda bem que existe uma grande diferença entre o disco da decada e o melhor da decada.

  17. Tento me controlar, mas acabo lendo os comentários do Leno… mas eu vou conseguir pular os posts dele sem ler

  18. Desculpe se falo merda pra ti. OU se não escrevo oq tu querias..qualquer um dos dois é lamentavelmente irrelevante dentro da discussão.

  19. Caríssimo Leno, sou um velho ranzinza de 35 anos! Gosto de textos bem escritos e de argumentos bem construídos. Só isso! Posso estar sendo muito injusto, preconceituoso, mas você “cheira a espírito adolescente”.
    Caramba!!!!! Caí em tentação mais uma vez!!!!! Li mais um post do Leno!!!

  20. Falaram uma verdade !
    Elephant do White Stripes é muito bom. E o Funeral do Arcade Fire ? São dois discos ricos musicalmente(cito apenas estes de cabeça)
    O In Rainbows apesar do conceito de marketing fica a dever musicalmente a vários outro albuns. Creio que tenha sido como a bala derradeira de uma batalha, entre a tecnologia e a industria fonológica. Mas com guerra ainda não vencida.

  21. Realmente Lugger, IR deve muito musicalmente e seu esquema de marketing pague o quanto quiser nem vingou, ate American Idiot do Green Day é mais album da decada do que esse tanto em fatores culturais como musicais.

  22. Opinioes são feitas para serem ouvidas e respeitadas. Mesmo gostando muito do In Rainbows não acho que ele seja o álbum da década pois como diz a própria matéria ele foi sim um catadão muito bem feito de canções já conhecidas e embaladas num formato de luxo que é o inegável talento da banda para criar subtramas às vezes geniais às vezes cansativas. Um grande álbum de uma grande banda, a mais relevante dos últimos tempos.
    Agora …Wilco fazendo álbum da década também merecia uma boa discussão pois de Uncle Tupelo passando por Wilco com Billy Bragg chegando ao Sky Blue Sky acho que Jeff Tweedy apenas recicla a esquisitice do Thom Yorke, vide pela mudança tremenda do alt country que só os caras da Bizz gostavam para o amontoado de ruidos do YFH.

    Abs

  23. Cara, só pra dar o pitaco: In Rainbows é sim, o álbum da década, tanto por suas qualidades musicais quanto pela questão mercadológica. O Radiohead foi o primeiro no esquema paga-quem-quer e só por isso já virou referência. O uso da Internet, das mensagens enigmáticas (eu não sou fã da banda e nem acompanhei, mas reconheço a importância), de trazer o álbum à tona primeiro para o público, daquele show concorrido e disputado no fim de 2007, das paradas conquitadas assim que o álbum físico foi lançado, da puta turnê que os caras fizeram em seguida… não tem como minimizar essas coisas, galera.

    E embora alguns reclamem, acho difícil condenar um álbum que tem “nude”, “all i need”, “reckoner”, “house of cards”, só pra ficar nas minhas preferidas… metade do que a gente ouve hoje não tem um terço desta qualidade.

    Assim como o “Is this It” também é um álbum histórico, mas pela representativade de uma geração do que pelas qualidades musicais. Daqui a algum tempo, quando se falar em rock 00, os Strokes, queira ou não, serão um verbete nobre, porque vieram e se beneficiaram intensamente do napster, da difusão do mp3 e da guerra gravadoras x internet, além de colocar o rock na boca do povo novamente – coisa que o new metal de fred durst & cia. não conseguiu.

    E eu prefiro, mil anos na frente dos outros, o acústico do Nirvana – mas não tenho como ignorar o estrago que o Nevermind fez na cabeça de uma monte de gente bem antes. Enfim…

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