Música: Riot Act, do Pearl Jam

“Riot Act”, do Pearl Jam
por Giselle Fleury

11 de setembro. Nove mortos em um show. Um divórcio. Talvez tenha sido tanto sofrimento para pessoas tão esperançosas, lutadoras e defensoras de causas nas quais acreditavam piamente, que a quebra foi inevitável. 2002 foi o ano do lançamento do sexto álbum de estúdio de uma das bandas mais adoradas, odiadas e copiadas da década de 90, o Pearl Jam. E, ao contrário do que se pode imaginar, dessa vez a quebra foi grande mesmo. Letras amargas e revoltadas em um tom mais maduro recheiam “Riot Act”, o ato mais rebelde da banda de Eddie Vedder.

A essa altura, tudo que deveria ser dito sobre o álbum do final de 2002 já deve ter sido dito. Ou quase tudo. Porque o Pearl Jam dividiu fãs e crítica em uma coletânea agridoce. Já na primeira faixa, “Can’t Keep”, nostalgia permeia o ambiente em uma canção que traz o ‘querer e não poder’ de “Wishlist” (“Yield”, 98) de volta. Sua levada doce engana o ouvinte mais desapercebido do que vem pela frente.

O antagonismo de sentimentos presente nas músicas de “Riot Act” acaba por isolar certas canções e destacá-las, merecidamente ou não, por sua singularidade em relação ao todo. Assim, pode-se destacar “You Are” pelas guitarras nervosas de Cameron e as referências implícitas a Freud (“Love is a tower and you’re the key”); “Green Disease” poderia ter figurado em “O Descobrimento do Brasil”, da Legião Urbana, se fosse em português; e, claro, “Love Boat Captain”, a canção em que Eddie exorciza os monstros dos nove jovens mortos durante a turnê de “Binaural” com versos de Lennon (“I know it’s already been sung, it can’t be said enough: Love is all we need, all we need is love.”).

No entanto, a revolta com o mundo, que culmina na pergunta de “1/2 full” (“Ninguém vai salvar o mundo não?”) deixa a desejar em um quesito: a melodia. “Riot Act” mostra um Pearl Jam cansado de lutar sozinho e pedindo ajuda para que outros passem a comprar a briga.

Não soa como uma despedida, mas nos dá indícios de que até eles já se incomodaram com o fato de nada ter mudado (“Lembro quando você cantava aquela música sobre os dias de hoje / Agora é aquele amanhã e tudo mudou.”). O sonho de doze anos atrás não se realizou e as decepções acabaram por nos presentear com um álbum cheio de homenagens àqueles que, com boas influências, cruzaram o caminho da banda. Por isso mesmo, Lennon ganha novo timbre e Neil Young, de “Harvest Moon”, volta a ser lembrado com uma gostosa balada, “Thumbing My Way”. Mas a melodia… Essa ficou perdida em algum lugar entre “Black” e “Given To Fly”. Mesmo o primeiro single do álbum, “I Am Mine”, não convence.

Pode parecer que a causa empobreceu a essência, ou que apenas estava esperando um novo “Ten” surgir. Pode até ser. Mas a mensagem chegou, só que não como costuma chegar. Uma pena, já que esses meninos sempre tiveram tanto a dizer, mesmo quando se calavam. E se eles mesmo dizem que não há nada a esconder, de desonestos, ao menos, não podemos acusá-los. Que fique a sugestão, então: ouça, mas não espere muito.

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