Entrevista: Classicline, 1Films, Vídeo Pérola – Mercado Cinéfilo de Mídia Física 2020

entrevista por João Paulo Barreto

Terceira de uma série de 9 entrevistas sobre o Mercado Cinéfilo de Mídia Física n Brasil

Dentro da proposta de ilustrar uma variada gama de opiniões de profissionais ligados ao Mercado de Mídia Física de filmes no Brasil, o Scream & Yell, dentro da pauta Mercado Cinéfilo de Mídia Física, entrevistou por e-mail as empresas Classicline, Vídeo Pérola e 1Films. A opção única de participar através de respostas feitas por escrito via e-mail partiu das fontes.

Nas entrevistas aqui, em sequencia, teremos Alexandre Arrais, diretor da Classicline, distribuidora com longa história dentro do mercado e responsável por trazer ao Brasil um acervo variado de filmes clássicos da época de ouro de Hollywood (como “Bola de Fogo”, 1941, de Howard Hawks; e “Amar Foi Minha Ruína”, 1945, de John M. Stahl), mas que, recentemente, têm apostado em títulos como “Amores Expressos” (1994), de Wong Kar Wai, “Cidade dos Sonhos” (2002), de David Lynch, e “A Época da Inocência” (1993), de Martin Scorsese.

A Vídeo Pérola, loja virtual com mais de 10 anos de mercado que, em 2020, trouxe diversos lançamentos exclusivos em blu-ray (“Sobrenatural: A Última Chave”, “Predadores Assassinos”, “Natal Sangrento” e “O Grito”) é representada por seu diretor, Edson Marcelo. Já Ernani Silva, dá 1Flims, distribuidora que foca em obras dentro de um cinema mais voltado ao gênero de ação e terror (como “A Morte Lhe Cai Bem” e “Duplo Impacto”) fala sobre as diversas particularidade desse mercado. Confira!

CLASSICLINE – Alexandre Arrais

Tivemos, em 2020, diante de diversas prospecções negativas para o mercado da mídia física, um inesperado crescimento, com diversas distribuidoras lançando novos produtos, como packs de coleções exclusivas, títulos inéditos no Brasil, novas tiragens de produtos esgotados, bem como títulos individuais com exclusividade em diversas lojas. Vocês crêem que a percepção para com o potencial do consumidor de mídia física deverá crescer?
2020 foi um ano muito bom para a venda de mídia física. A Classicline cresceu muito e esperamos um 2021 espetacular. A pandemia, a saída da Saraiva e Cultura, o crescimento do número de colecionadores e a qualidade e quantidade dos lançamentos levaram a isso. Mas não foi fácil para ninguém. Foi preciso muito trabalho e amor ao setor. Posso dizer que Classicline, Obras Primas, Versátil, CPC Umes, Imovision e 1filmes, entre outras, que produzem e distribuem filmes, junto com os lojistas ainda existentes, são heróis por atuar no mercado brasileiro.

Qual sua análise em relação à escolha da Disney em sair do mercado de mídia física no Brasil e na América Latina?
A Disney/Fox resolveram suspender o lançamento de mídia física no Brasil em virtude do lançamento de seu canal de filmes nesse mês. Acreditamos que, com a pandemia e, consequentemente, com o fechamento dos cinemas e as dificuldades de produção de novos filmes, ela tomou essa atitude. Mas não achamos que seja definitiva.

Com qual número de tiragem geralmente trabalha a Classicline para os seus lançamentos?
1000 unidades na primeira produção.

Tem existido uma nova maneira de trabalhar o contato dos varejistas junto aos clientes, com representantes de lojas e selos em grupos de colecionadores do WhatsApp, do Facebook, participando de Lives e estreitando esse contato na busca de fidelizar os colecionadores. Para vocês da Classicline, esse novo modelo de negócio oriundo da internet e das redes sociais pode significar algo positivo em relação a um aumento de uma cartela de clientes, e tem ajudado ao crescimento das venda? Ouvir mais as sugestões, participar de grupos de WApp, de Facebook, de Lives, é um caminho que será aprofundado pela Classicline?
Atuamos em todas as redes sociais, mas nosso cliente tem uma característica única: adora ser atendido por telefone. Aumentaremos em 50% esse tipo de atendimento em 2021 para desafogar e melhorar o atendimento. Continuamos vendendo para todo o varejo e através do nosso site.

Vocês poderiam abordar o impacto do consumo do streaming para uma loja que tem como foco os filmes em mídia física?
Os colecionadores de mídia física colecionam mídia física. Eles podem até usar o streaming para assistir um filme, nada mais que isso. Filmes colecionáveis têm algo a mais. Eles trazem uma recordação, uma lembrança, um desejo. São premiados e diferenciados. Têm um algo a mais para alguém.

A percepção para com o potencial do consumidor de mídia física deverá crescer? Há novos projetos de lançamentos trazidos pela Classicline desde o estágio inicial de produção, como foi o “Código Nolan”?
Estamos com um orçamento muito bom para adquirir mais títulos em 2021. Infelizmente, o contato está mais difícil nesse período, e o dólar muito alto. Virão alguns filmes bacanas em 2021. Acho que o título mais esperado é “Elvira – A Rainha das Trevas”, já disponível em DVD pelo selo, mas agora em alta definição.

Foi anunciada recentemente uma parceria entre Classicline, o selo Obras Primas do Cinema, e a loja FAMDVD, do Fabio Martins. Poderia falar um pouco sobre o que podemos esperar em termos de lançamentos oriundos dessa parceria?
A parceria visa aumentar a oferta de títulos, melhorar a logística, dar mais opção de compra aos clientes. Títulos exclusivos de um serão trocados por exclusivos de outro.

Gostaria de abordar a questão de sublicenciamentos, bem como o modo como funciona a cessão de direitos para empresas que lançam os mesmos filmes, seja em DVD ou em Blu-ray. Há um acordo de cavalheiros entre as empresas para lançamentos de produtos que estão em catálogos diferentes? Como a Classicline trabalha essa questão?
A questão dos direitos autorais é complexa e com várias interpretações. Em qualquer problema de direito autoral entre empresa brasileira e do exterior é aplicada as leis brasileiras, muito antiga e confusa. A priori, filmes com 70 anos de lançamento são de domínio público. Alguns filmes de 1950 em diante, não se consegue identificar o proprietário, mas devem ser licenciados para se lançar. Fora o valor do licenciamento, no Brasil é cobrado o Condecine no valor de R$3000 para poder ser vendido em mídia física para alguém assistir em casa. A Netiflix pode passar o filme, você assiste e ela não paga Condecine. Uma multinacional lança um blockbuster e paga o mesmo Condecine de um filme de 1950. Nos EUA, o Condecine é de US$50 para a vida toda. Aqui, R$3000 por 5 anos, mesmo que você só licencie o filme por 18 meses. Existem ainda várias empresas no Brasil e fora que negociam contratos de filmes. É muito difícil saber se esse filme já foi registrado, pois a Ancine não tem nenhum controle. Visa só arrecadar. Empresas no Brasil acabam comprando de diferentes fornecedores. Aqui no Brasil ocorrem raríssimos casos, pois o órgão regulador, a Ancine, se você pedir o registro de um filme, e mais 10 também o fizerem, o governo dá a autorização de venda para todos que solicitarem. Assunto difícil de comentar. O governo lava as mãos e registra tudo. Nos EUA, um filme só tem um registro. Aqui, quantos forem pedidos. Na época das videolocadoras, com vendas absurdas, não foi resolvido. Imagine agora, quando acham que é questão de tempo para acabar.


Vídeo Pérola – Edson Marcelo

Na seção “Quem Somos” do site, vocês falam sobre já estarem no mercado há mais de 10 anos. Poderiam falar um pouco da história da loja? Como surgiu a Video Pérola? Em que contexto ela se lançou no mercado? Nas conversas com alguns outros lojistas, notei ser uma característica comum se tratar de colecionadores que resolveram adentrar nesse mercado de filmes como uma continuidade desse hábito cinéfilo. É o caso da pessoa que fundou a Video Pérola?
A Vídeo Pérola surgiu no momento em que três amigos abriram uma locadora, como um hobbie. Já o site surgiu com a ideia de expansão da locadora, cerca de 5 anos depois da abertura do comércio, em 1999, porém devido a limitação da época, a operação só cresceu em 2013 com a adoção de novas tecnologias.

Tivemos, em 2020, diante de diversas prospecções negativas para o mercado da mídia física, um inesperado crescimento, com diversas distribuidoras lançando novos produtos. A sua percepção para com o potencial do consumidor de mídia física deverá crescer?
Realmente, o ano de 2020 foi bom para os e-commerces em geral, especialmente para o nosso ramo por conta da pandemia, torcemos para que o futuro seja ainda mais próspero.

O streamiing tem criado uma geração de pessoas desligadas da importância de um filme em mídia física. Pessoas que não têm ciência da qualidade de um blu-ray tanto em áudio quanto em imagem. Você poderia abordar o impacto do consumo do streaming para uma loja que tem como foco os filmes em mídia física?
O streaming influencia a mídia física, porém entendemos que o colecionador de mídia física é um público distinto do assinantes de streaming. Exatamente por conta disto, o mercado deve perdurar.

Com a saída da Disney do mercado de mídia física, e diante dos números de downloads ilegais do “Mulan”, vocês acreditam em uma possibilidade de percepção da gigante estadunidense em notar o erro que significa deixar de lançar filmes em blu-ray e dvd?
A saída da Disney impacta todas as lojas do ramo, devido a importância de seus títulos, porém, acredito que é possível que no futuro retornem com a mídia física, dependendo, é claro, do desempenho do serviço de streaming. Acreditamos que o momento atual é um período em que a Disney está testando o mercado brasileiro, pois, como vemos, a iniciativa do “fim” da mídia física foi algo tomado somente aqui, então, não se trata do mercado ser notado ou não, e sim do potencial que novos projetos podem, ou não, alcançar.

As tiragens da mesma eram sempre de 3000 mil unidades, o que causava uma estagnação diante dos números e, por consequência, encalhe. Uma das soluções seria justamente essa? Tiragens menores e mais variedade de títulos?
Um dos motivos, se não o principal, para os produtos da Disney serem mais baratos que os dos concorrentes é justamente o número de unidades lançadas, quanto maior a tiragem, mas baixo o valor final, logo, acreditamos que este fator não é de primordial importância.

Em relação à curadoria proposta pela Vídeo Pérola na escolha dos lançamentos exclusivos, vocês poderiam falar acerca dos critérios escolhidos para a seleção de um título?
O critério em geral é o desempenho dos filmes nos cinemas e a aceitação do público como um todo, além do histórico das vendas do site e a preferência dos clientes.

Vocês são uma das poucas lojas a oferecer opções de parcelamento em mais vezes, chegando a 10 ou 12 parcelas. Como funciona mercadologicamente para vocês esse processo evitando prejuízos e mantendo um capital de giro? Vocês têm de volta os valores das financeiras mês a mês, ou logo no primeiro vencimento, com o pagamento de alguma alíquota?
Hoje não trabalhamos com antecipação, devido a tradição da Vídeo Pérola no mercado. Como dito anteriormente desde 1999, conseguimos manter a operação com o que foi gerado ao longo de tantos anos.

Em relação às entregas com frete grátis, trabalhar com transportadoras tem sido mais eficiente que com os correios?
Sem dúvida alguma, infelizmente, o serviço dos correios tem se tornado defasado se comparado as transportadoras. Principalmente em relação ao custo benefício, valores e prazos. Porém, uma questão que deve ser observada é a abrangência dos correios em nosso território, algo que dificilmente outra transportadora irá alcançar.

Uma das frases notórias nesse novo horizonte da mídia física em 2020 refere-se ao fato de que 29,90 é o novo 9,90. No estudo de lançamentos da Pérola, quais os valores padrões de lançamentos? R$49,90 é, para vocês, uma média atrativa de preço para um filme em blu-ray?
A questão principal é o apelo do filme no mercado, citamos o exemplo do filme “Coringa”, que mesmo sendo lançado em blu-ray por R$ 69,90 teve um excelente desempenho. Alguns filmes lançados a R$ 39,90, mas com pouco apelo não obtiverem o mesmo resultado.

Tem existido uma nova maneira de trabalhar o contato dos varejistas junto aos clientes. Diversos representantes de lojas e selos estão em grupos de colecionadores do WhatsApp, do Facebook, participando de Lives e estreitando esse contato na busca de fidelizar os colecionadores. Para vocês da Vídeo Pérola, esse novo modelo de negócio oriundo da internet e das redes sociais, tem ajudado no crescimento das venda? Ouvir mais as sugestões, participar de grupos de WApp, de Facebook, de Lives, é um caminho adotado por vocês?
– As redes sociais têm um papel fundamental na consolidação da marca, além de representar um meio mais ágil para o atendimento ao cliente. Já participamos de forma indireta de diversas lives, fornecendo produtos para unboxing e por consequência, propaganda dos mesmos e da loja.

Foi criada uma petição pela volta da fabricação de players de blu-rays no Brasil.Como lhe falei por e-mail, a para essa pauta surgiu a partir de uma petição pela volta da fabricação de blu-rays no Brasil. Você considera viável esse retorno?
Sim, acreditamos que seria viável a volta da produção destes aparelhos no Brasil por conta do alto número de vendas dos discos.

Sem a obrigatoriedade de citar títulos, quais os planos da Vídeo Pérola para futuros lançamentos e exclusivos?
No momento não temos planos para lançamentos exclusivos, pois estamos aguardando algumas alterações no mercado que devem ser resolvidas no começo do próximo ano.


1Films – Ernani Silva

Tivemos, em 2020, diante de diversas prospecções negativas para o mercado da mídia física, um inesperado crescimento, com diversas distribuidoras lançando novos produtos, como packs de coleções exclusivas e títulos inéditos no Brasil. Vocês crê que a percepção para com o potencial do consumidor de mídia física deverá crescer?
Nos últimos anos as grandes distribuidoras multinacionais têm se desinteressado cada vez mais pelo mercado de mídia física e concentrado seus negócios em outras plataformas como os serviços de streaming, por exemplo. Não só no Brasil. Mas, em compensação abriram espaço para parcerias com distribuidoras locais, inclusive fornecendo mercadoria pronta em regime de exclusividade por alguns meses. Isso se deve também à crise das livrarias que representavam um percentual considerável de tudo o que era colocado no mercado brasileiro. As grandes livrarias, especialmente Saraiva e Cultura, deixaram um espaço que naturalmente, seria ocupado por outros distribuidores. Não notamos crescimento real este ano ainda. Pelo contrário, os dois últimos anos foram bem melhores se comparados ao mesmo período. Acreditamos que estes últimos meses do ano podem surpreender, especialmente por este “novo” interesse pelos discos de Blu Ray.

O streaming tem criado uma geração de pessoas desligadas da importância de um filme em mídia física. Pessoas que não têm ciência da qualidade de um blu-ray tanto em áudio quanto em imagem. Qual o impacto do consumo do streaming para uma loja que tem como foco os filmes em mídia física?
O streaming é a evolução natural do serviço de locação de filmes. Não deveria impactar tanto no mercado que visa o consumidor final, que tem por hábito colecionar filmes. Mas, como novidade que é, acaba influenciando por um determinado tempo. Esta fase estar chegando ao fim. E estes mercados coexistirão de forma harmoniosa nos próximos anos.

Qual sua avaliação acerca da saída da Disney do mercado de mídia física? Acha que foi um erro?
Não acho que foi um erro. Isso é uma estratégia. Quando uma operação não se paga, é natural que ela seja descontinuada. Isso não deve ocorrer apenas com a Disney. Observe que outras grandes companhias estão desmontando suas estruturas por aqui. É só uma questão de orçamento e viabilidade. Se a operação não se paga, as empresas precisam buscar novos nichos de negócio e tentar reaproveitar seus melhores profissionais.

As tiragens da mesma eram sempre de 3000 mil unidades, o que causava uma estagnação diante dos números e, por consequência, encalhe. Você acredita que uma das soluções seria justamente esse novo padrão de novos orçamentos? Tiragens menores e mais variedade de títulos? Com qual número de tiragem geralmente trabalha a 1 Films?

Nossas tiragens iniciais ficam entre 1.000 e 2.000 peças por produto. Mas, nossa estrutura é bem enxuta. Se enxergamos que alcançaremos o “break-even” de determinado produto no período de pré-vendas, arriscamos um pouco mais. Para grandes companhias, não é tão simples assim.

Tem existido uma nova maneira de trabalhar o contato dos varejistas junto aos clientes. Diversos representantes de lojas e selos estão em grupos de colecionadores do WhatsApp, do Facebook, participando de Lives e estreitando esse contato na busca de fidelizar os colecionadores. Para vocês da 1 Films, esse novo modelo de negócio oriundo da internet e das redes sociais pode significar algo positivo em relação a um aumento de uma cartela de clientes, tem ajudado nessa proximidade em relação ao crescimento das vendas? Ouvir mais as sugestões, participar de grupos de WhatsApp, de Facebook, de Lives, é um caminho adotado pele 1 Films?
Toda forma de interagir com o consumidor ajuda no desempenho de cada lançamento. Não temos participado deste tipo de grupo, por questões de disponibilidade e estrutura. Mas, temos uma assessoria de imprensa competente e um departamento de marketing bem criativo.

Foi criada uma petição pela volta da fabricação de players de blu-rays no Brasil.Como lhe falei por e-mail, a para essa pauta surgiu a partir de uma petição pela volta da fabricação de blu-rays no Brasil. Você considera viável esse retorno?
Muito difícil opinar sobre isso. Países do terceiro mundo costumam “queimar” etapas na evolução de tecnologias. O Blu Ray teve uma oportunidade de se firmar por aqui e isso não aconteceu naquele momento. Deve ser muito complicado desmontar uma estrutura de produção e depois ter que retomá-la. Acredito mais na possibilidade de, em se havendo mais procura, os fabricantes decidam importar de suas plantas fabris em operação em outros países. Aí temos o problema do preço. Com o dólar próximo de R$ 6,00 fica caro pra gente. De qualquer forma, nosso parque produtivo de mídias é muito pequeno e nossos volumes também. A qualidade também caiu muito e a preocupação maior deve ser se o pouco que sobrou de estrutura de produção de discos se sustenta com interesse nos próximos anos.

Não localizei no site a comum seção “Quem Somos”, na qual, geralmente, as empresas descrevem um pouco de suas trajetórias. Assim, poderias, aqui, falar um pouco da história da loja? Como surgiu a 1 Films? Em que contexto ela se lançou no mercado? Nas conversas com alguns outros lojistas, notei ser uma característica comum se tratar de colecionadores que resolveram adentrar nesse mercado de filmes como uma continuidade desse hábito cinéfilo. É o seu caso como dono da 1 Films?
Atuo no mercado de audiovisual há mais de 33 anos. Não caberia aqui uma história de 33 anos. Mas, passei por todos os setores do mercado. De representante comercial a diretor de empresas, fui dono de empresas de duplicação, produtor musical, etc… Sou quase um “dinossauro” neste meio.

Tivemos, em 2020, diante de diversas prospecções negativas para o mercado da mídia física, um inesperado crescimento, com diversas distribuidoras lançando novos produtos, como packs de coleções exclusivas, títulos inéditos no Brasil, novas tiragens de produtos esgotados, bem como títulos individuais com exclusividade. Na 1 Films, lançamentos como o de “Duplo Impacto”, “Leão Branco”, “A Morte lhe Cai Bem”, dentre outros, também colaboram para esse período surpreendente do mercado nacional de mídia física. A minha pergunta é direcionada para essa análise do mercado a partir da impressão de um varejista como a 1 Films. A percepção para com o potencial do consumidor de mídia física deverá crescer?

Não somos uma empresa de varejo. Somos uma distribuidora. Temos uma loja virtual que representa pouco no nosso faturamento. Não acredito em crescimento do mercado de mídias físicas. Mas, acredito na manutenção e superação de crises. O que vendemos hoje justifica nossos esforços e podemos conquistar novos clientes a cada dia, cuidando com carinho dos que já conquistamos. Dentro do possível vamos agregando novos selos internacionais. Isso com certeza somará em faturamento. Mas, é preciso ter cautela neste momento. Não fazemos planejamento de longo prazo mais para este setor. Licenciamos por tiragem única ou com prazo máximo de 2 anos.

Neste viés, vejo, em buscas na Amazon (“Duplo Impacto” está em pré-venda), bem como em lojas físicas, como Saraiva (vários títulos baseados em livros do Stephen King, packs como do Van Damme, Sam Peckinpah e Clive Baker) produtos cujos nomes nos selos se relacionam à Empire (as marcas nos discos variam, no entanto, entre Vynix, Brookfilme e London) ou da própria 1 Films. Houve alguma mudança dentro da política do lançamento da empresa que permitiu que a Amazon pudesse vender seus produtos a partir de agora?
Não entendi sua pergunta. Sempre vendemos pra Amazon. Desde que eles chegaram aqui. Vendemos para quase todas as distribuidoras, revendedoras e livrarias em atividade. Sobre os selos: London e Brookfilm são marcas nossas. Vinyx é marca da Vinyx.


– João Paulo Barreto é jornalista, crítico de cinema e curador do Festival Panorama Internacional Coisa de Cinema. Membro da Abraccine, colabora para o Jornal A Tarde e assina o blog Película Virtual

Panorama do Mercado Cinéfilo de Mídia Física em 2020 no Brasil
01) Fábio Martins – Loja FAMDv
02) Fernando Luiz Alves – Loja The Originals
03) Classicline, 1Films e Vídeo Pérola
04) Valmir Fernandes (Obras Primas do Cinema)
05) Igor Oliveira (CPC UMES Filmes)
06) Daniel Herculano (Clube Box)
07) Gleisson Dias (Rosebud Club)
08) André Melo e Fernando Brito (Versátil)
09) Juliano Vasconcellos e Celso Menezes (Blog do Jotacê)

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