A ira e a melancolia são as forças da banda mexicana Vondré, “um grunhido feminino frenético e cheio de distorção”

entrevista por João Pedro Ramos

Quem gosta de descobrir novos artistas, músicas e bandas costuma ter um hábito peculiar: fuçar. Seja em lojas de discos, vídeos relacionados no Youtube ou verdadeiros labirintos em playlists ou artistas relacionados no Spotify, todo grande garimpeiro musical adora escavar cada vez mais fundo até achar uma pérola musical que ainda não foi descoberta pelo mundo. Foi numa dessas jornadas pelos streamings que dei de cara com “Psicopatía”, single mais recente do quarteto mexicano Vondré.

Formada por Ana Cristina Espinosa (guitarrista e vocalista), Adrian Paz (baixista), Moty Moty (baterista) e Liz Olivarez (guitarrista) na Cidade do México, a Vondré traz um som sujo que remete ao rock alternativo do começo dos anos 90 com pitadas de grunge. Vocal rasgado, distorção no talo e a dinâmica “silêncio barulho silêncio” à todo vapor, com claras influências de bandas como Nirvana, Sonic Youth, Garbage, PJ Harvey e The Kills, porém sempre com letras em espanhol.

Nas letras do Vondré, o niilismo e o mergulho em assuntos como depressão, revolta e relacionamentos conturbados dão o tom. Em “Psicopatía”, por exemplo, já somos recebidos com um “¿A quién le va a importar si otra vez te hice llorar?” logo de cara, acompanhado de um riff contagiante e o baixo com o volume no 11. Conversei com Ana Cristina Espinosa sobre a recente carreira da Vondré, suas influências e a cena independente mexicana:

Primeiro de tudo: como surgiu a banda Vondré?
O Vondré começou em 2019, época em que decidi começar a compor minhas próprias músicas. Então, procurei formar uma banda para tocar comigo nesse novo projeto. Muitos amigos me recomendaram ligar para Moty e Liz, e assim que os conheci senti uma ligação importante. E, depois, liguei para o Adrian. Ele foi meu professor de violão no colégio e já trabalhei com ele em alguns shows, então achei que seria uma boa combinação, e foi. A primeira vez que ensaiamos, todos nós clicamos instantaneamente.

Como o som da Vondré evoluiu desde que vocês começaram a tocar juntos?
Definitivamente desenvolveu sua própria personalidade e força conforme tocamos mais e mais, estamos ganhando confiança para sermos mais criativos e honestos em nossas apresentações.

Conta pra gente um pouco mais sobre o single mais recente, “Psicopatía”.
“Psicopatía” é uma carta agressiva que você pode dedicar a alguém que o tem manipulado ou assediado. Escrevi durante a pandemia, no final do verão de 2020. É uma música sobre uma interação muito tóxica entre duas pessoas, descreve um momento em que você não se importa mais se está sendo uma pessoa má, você só quer fazer com que a situação acabe.

Como você definiria o som da Vondré?
Um grunhido feminino muito frenético e cheio de distorção.

Quais são as principais influências musicais da banda?
Nirvana, The Smashing Pumpkins, Pixies, Deftones, Placebo, Sonic Youth, Silverchair.

Você estudou na Berklee College of Music. Como sua passagem por lá influenciou o som da Vondré?
Não influenciou tanto nas composições da Vondré, mas mais na minha performance de guitarra ao vivo e na minha habilidade de improvisar no palco. Realmente me ajudou a entender a guitarra e também me ajudou muito a saber sobre áudio e engenharia em geral, então eu me sinto confiante em gerenciar equipamentos e som e saber se algo não está funcionando e por quê.

Como está a cena do rock mexicano hoje em dia?
Sinto que está começando a crescer muito, principalmente na cena underground onde novas bandas alternativas e mais barulhentas estão surgindo. Isso é algo que devemos apoiar para manter viva a cena do rock, porque sinto que só as bandas de rock antigas são apoiadas e não há muitos locais e festivais para bandas independentes e novas.

Músicas em espanhol começaram a ser mais bem aceitas ao redor do mundo nos últimos anos, algo que não era muito comum no passado. Como você se sente com isso?
Eu acho ótimo que muitas músicas em espanhol estejam se tornando muito populares, porque abre uma nova porta para todos nós, artistas latinos que escrevemos músicas em espanhol. Sinto que isso está acontecendo principalmente no reggaeton e na música urbana (notadamente no rap e em suas variações) e não tanto no rock ou no cenário alternativo, mas estamos chegando lá.

Quais são os próximos passos da banda?
Precisamos escrever mais e mais músicas, queremos trabalhar muito em nosso set ao vivo, então faremos muitas turnês. Também estamos gravando um novo álbum que queremos lançar ainda em 2023.

Vocês pretendem vir ao Brasil algum dia? Conhecem alguma música brasileira?
Adoraríamos ir um dia, com certeza! Não estamos planejando ir agora porque é um pouco difícil para nós, mas se conseguirmos viajar para o Brasil logo, estaremos aí! Eu conheço um pouco de música brasileira porque minha mãe morou no Brasil quando era jovem e costumava tocar música brasileira dos anos 70 e 80 para mim.

Para finalizar, recomende pra gente algumas bandas independentes do México para que fiquemos de olho!
Feelder, Margaritas Podridas, El Shirota, Sadfields, Fryturama, Mengers!

– João Pedro Ramos é jornalista, redator, social media, colecJionador de vinis, CDs e música em geral. E é um dos responsáveis pelo podcast Troca Fitas! Ouça aqui.

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