Entrevista: Os Texugos – nova promessa do punk bubblegum brasileiro

entrevista por Guilherme Lage

Muitas coisas aconteceram no Brasil nos últimos seis meses em meio à quarentena imposta pelo novo coronavírus. Houve gente que precisou mudar a rotina, se adequar e teve também uma galera que resolveu tirar planos da gaveta. Foi o que fez uma galera de Santa Catarina e Paraná, veterana do punk rock, que decidiu montar Os Texugos, nova promessa do punk bubblegum brasileiro.

A sonoridade do grupo, como o próprio estilo sugere, une a estética e o som punk às baladas e melodias da música pop dos anos 50 (e daí pra frente). Em entrevista, o guitarrista e vocalista Diogo Clock falou um pouco sobre o EP de estréia, “Quarentena em Hill Valley”, que conta com produção de Davi Pacote (ex-batera do Tequila Baby). Tudo feito à distância, quarentenado mesmo, nas paragens da capital gaúcha.

No papo, ele fala ainda sobre conviver com o transtorno obsessivo compulsivo (TOC), a cena roqueira do sul e… por que diabos a banda se chama Os Texugos. Apreciem como um chiclete sonoro.

Bom, cara, a primeira pergunta logo de cara: De onde surgiu o nome Os Texugos?
Tínhamos uma brincadeira quando éramos mais novos de se chamar por nome de animais exóticos, como beluga, texugo, guinú, etc… (risos), daí quando fomos pensar no nome, relembramos dessa brincadeira e o baterista Cézar deu a sugestão do nome por soar um pouco engraçado e descontraído, que é a ideia da banda.

Cara, nem preciso perguntar se os Ramones são uma influência, né? Quais outras bandas inspiraram vocês a criar o som da banda?
Temos muito influência de Beach Boys, e das clássicas do punk rock como Screeching Weasel, Riverdales, The Queers, Mr.T Experience, The Muffs e por aí vai. Além de bubblegum das antigas como Ohio State.

Ainda sobre os Ramones, quando se fala em punk bubblegum eles são sempre a primeira referência quem vem à mente. Ainda que essa influência seja notada e vocês claramente paguem um tributo à banda, o que fazem pra manter o som original sem se apegarem demais às influências? Um pouquinho de música brasileira aqui e ali?
Sempre nos preocupamos em fazer o som que curtimos, não nos apegamos muito se estamos fazendo algo parecido com alguma banda ou não, ou se não estamos sendo originais, porque daí acho que iríamos nos perder, e virar uma bagunça. No Brasil hoje existe uma cena muito grande de punk rock surgindo, temos um grupo de whatsapp com mais de 80 bandas de punk rock bubblegum, sou fã de todas as bandas! Não vou citar nomes pra não ser injusto, mas a maior do Brasil e pioneira é o Carbona, na minha opinião, e grande influência também para nós.

No início dos anos 2000 houve uma nova leva de bandas brasileiras inspiradas pelo punk NYC de Stooges, Dead Boys, até Blondie. Uma das mais reconhecida, por exemplo, o Forgotten Boys. Essa cena do início do século inspirou vocês?
Com certeza, por meados de 2004 a 2007 tínhamos uma outra banda chamada Água de Rollmops, que dos texugos restou eu e o Conrado (baixo), tocávamos com algumas bandas em festivais e estávamos vivenciando aquilo, tocamos com Tequila Baby, Magaivers e algumas outras bandas que éramos fãs. Somos muito fãs dessa turma que fez parte da cena de ny e do CBGB com certeza.

Falando em Tequila Baby, como é trampar com o Davi Pacote? O Tequila foi uma das bandas responsáveis por mostrar esse lado mais underground do rock do Sul pro resto do Brasil, né?
Pacote considero um gênio, aquelas pessoas iluminadas e diferenciadas, em poucos minutos ele entende o propósito da banda e o som, mestre mesmo, considero ele dentro do hardcore e punk rock o melhor hoje do Brasil, o céu é o limite pra ele! Tequila Baby banda clássica, né? Ajudou a mostrar o punk rock do Sul ao Brasil inteiro, estão na ativa até hoje!

E essa ideia de montar uma banda durante a quarentena, à distância, conta um pouco disso!
Sim, já estávamos formando a banda, mas não sabíamos quando iríamos a estúdio! Com essa gravação a distância facilitou tudo

Falando um pouco do som agora… “Despautério” e “T.O.C.” parecem ter um cunho bastante pessoal pra você, né? Inclusive, “T.O.C.” te aproximou até um pouco mais dos Ramones em relação ao Joey, que também tinha a doença…
Sim, eu sofro dessa doença desde moleque, não é fácil, quem tem sabe, já era muito fã de Ramones quando descobri da doença dele, e é claro me identifiquei ainda mais com ele, nosso grande poeta. A “Despautério” é uma letra de um grande amigo que morreu recentemente de câncer, e tinha deixado alguns poemas com a gente! Resolvi fazer uma homenagem a ele, musicando o poema.

Você disse que a intenção é um fôlego de diversão em tempos de angústia. Ouvindo “Anos 80” eu tive uma certa sensação de nostalgia. Era essa a intenção também? Afinal, lembrar de coisas também é se divertir?
Somos muito nostálgicos (risos), mas acho que não podemos ter o pensamento de que tudo era melhor, todas as épocas tem o lado bom e ruim, naquela época tínhamos dificuldade a acesso a cultura, provavelmente isso nos fazia buscar e valorizar mais as coisas! Anos 80 é uma homenagem às nossas infâncias! E a essa busca por cultura que se perdeu hoje.

– Guilherme Lage (www.facebook.com/breadandkat) é jornalista e mora em Vila Velha, ES.

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