Entrevista: Cigana

entrevista por Marcos Paulino

Oito artistas que são apostas da música brasileira foram selecionados pela 3ª edição do projeto Original’s Studio – que a marca Levi’s promoveu em parceria com o selo Laboratório Fantasma, gravadora de nomes como Emicida, Fióti e Drik Barbosa – para gravar uma música de sua autoria para integrar uma coletânea lançada em maio e já disponível em todas as plataformas de streaming.

Entre os selecionados estão Danilo Moralles, 2DE1, Desa, Danni Lisboa, Helen Nzinga, Thiago Elniño, Abstrato + Lado B e, também, a Cigana, banda de Limeira formada em 2014 e composta por Victoria Groppo (sintetizador e voz), Caique Redondano (guitarra e baixo), Matheus Pinheiro (guitarra e baixo), Pedro Baptistella (guitarra) e Felipe Santos (bateria). Os limeirenses entraram com a faixa “Natureza”, que dá uma ideia da direção que pretendem seguir em seu disco de estreia, em fase de gravação, a ser lançado em 2018.

Se ainda está por lançar seu primeiro disco, a banda já pode apresentar um currículo composto dos EPs  (liberados gratuitamente no Bandcamp) “Sinestesia” (2014) e “A Torre” (2015) e de participações em diversas coletâneas, incluindo uma versão de “White Rabbit” (2018), da Jefferson Airplane, para “O Verão do Amor”, organizada em 2017 pelos sites Cansei do Mainstream e Pacóvios, que convidaram artistas independentes para celebrar os 50 anos do Summer Of Love de 1967.

Em 2016, a banda já participara da coletânea em tributo aos Titãs “O Pulsa Ainda Pulsa”, idealizada pelos sites Hits Perdidos e Crush em Hi-Fi. Nesta entrevista, Matheus fala mais sobre a história (“No começo, não era bem uma banda”) e o atual momento da Cigana. “Pra quem conhece a Cigana só pelas nossas gravações já lançadas, ‘Natureza’ vai ser um choque”, garante Matheus. Confira o bate papo da Cigana com o Mundo Plug, parceiro do Scream & Yell.

Como foi o início da banda?
A banda meio que teve dois inícios diferentes. Nossa primeira música, que se chama “Shine”, surgiu como uma demo sem compromisso, quando eu e a Victoria estávamos só registrando algumas ideias com o Gui Ferraz, que produziu e tocou nas nossas primeiras demos, e hoje em dia faz parte da banda DSTN. Gostamos demais dessa música e decidimos continuar fazendo mais. Mas, no começo, não era bem uma banda. Virou uma banda de verdade quando marcamos nossos primeiros shows, no finzinho de 2013 e começo de 2014.

Quais as influências de vocês?
São influências distintas de cada membro, mas temos algumas coisas que compartilhamos, como as bandas do Jack White, por exemplo. O Rancore é uma banda que sempre marcou muito a gente, a Céu… E bandas mais próximas da gente também, que são influências até maiores do que esses artistas mais mainstream, não só pela música fantástica, mas pelo corre que eles representam, como a Laranja Oliva e o Bratislava.

Que feedback vocês tiveram do EP “Sinestesia”, a estreia da banda no mundo fonográfico?
Por ser nosso primeiro trabalho, e gravado de uma maneira bem amadora, por assim dizer, ele teve um feedback ótimo. Acabamos nos conectando com muita gente que mudou nossas carreiras e nossas vidas. Por causa do “Sinestesia”, acabamos tocando no Grito Rock Limeira e conhecendo nossos irmãos do Coletivo King Chong. Fomos construindo uma história muito bonita juntos. Também conhecemos uma galera de fora, saímos pra tocar em outras cidades, conhecer outras bandas e entender o fluxo e o rolê independente de um modo geral.

Como está a gravação do disco de estreia?
Está dando muito mais trabalho do que a gente imaginava. [Risos] Estamos no momento trabalhando faz dois anos no álbum, já reiniciamos as gravações umas três vezes. O álbum acabou se arrastando por uma série de fatores. Queremos ter certeza de que todas as músicas que estarão no disco sejam especiais. E já tivemos uma experiência em que gravamos tudo correndo, com a nossa parte sendo feita nas coxas e com pressa pra termos um material logo. Foi o caso do EP “A Torre”, que apesar de ter rendido muitos shows na sua turnê, não nos agrada artisticamente e sentimos que ele não nos representa. Em 2017, chegamos a anunciar o lançamento do disco com o single “Às Vezes Cansa”, que foi muito bem recebido, nos abriu portas e nos conectou com pessoas incríveis, e tivemos oportunidade de tocar em rolês que não poderíamos recusar jamais. E nesse meio tempo recebemos convites pra participar de coletâneas como “O Verão do Amor”, um tributo ao ano de 1967, e o “Pulso Ainda Pulsa”, tributo aos Titãs. E agora, mais recentemente, de lançar um single pela Lab Fantasma e Levi’s. Isso tudo acabou atrasando o disco.

O que o público pode esperar dele?
Pra quem conhece a Cigana só pelas nossas gravações já lançadas, vai ser um choque. Tem muita coisa que não tem nada a ver com o material que já lançamos. Já tocamos muitas coisas do álbum nos nossos shows, às vezes até sem letra, só pra testar. O estilo musical tá diferente também, a definição que os caras gostam de dar é “rock complicado”. [Risos] Mas ao mesmo tempo também temos algumas das músicas com muito potencial pop, e que estamos trabalhando pra deixar esquisitas. [Risos] Estamos valorizando bastante as letras e as mensagens das músicas, sinto que estamos tendo um esmero que nunca tivemos.

Como surgiu a oportunidade de participar do Original’s Studio da Levi’s?
Era um concurso no qual tínhamos que enviar material pra curadoria da Laboratório Fantasma, que escolheu e cuidou de toda a parte artística dos selecionados. Aprendemos demais durante o processo, a gravação no Lab Estúdio foi muito boa e a equipe da Lab Fantasma foi muito legal com a gente. Além dessa exposição super massa que tivemos. Uma coisa que achei muito legal também é que fomos a única banda escolhida pro projeto, o único artista mais voltado pro rock e pras guitarradas.

O que representa pra vocês serem incluídos num projeto como esse?
Pra gente, tudo isso foi um sonho multiplicado, por que a Laboratório Fantasma não é uma gravadora qualquer. Quem está no corre da música sabe o tanto que eles representam pra tanta gente. O pessoal da banda até achou que era zoeira minha quando falei que fomos selecionados. [Risos] A Lab Fantasma construiu um lugar que dá pras pessoas sonharem, que mostra que dá pra chegar lá. Todo mundo que já tentou ter um selo, que tentou lançar material de artistas nos quais acredita, em fazer o corre, é sonhando em um dia ter a credibilidade e a relevância como da Lab. Ficamos muito mais realizados de fechar com eles, pelo que representam, do que se fosse pra lançar um single com alguma gravadora major. E a Levi’s foi incrível com a gente também, eles conseguiram até a proeza de deixar todo mundo da banda estiloso. [Risos] O evento de lançamento do single na Casa de Francisca, em São Paulo, foi um absurdo, o lugar lá é lindo, o ar estava carregado de good vibes e os shows foram incríveis, tanto do Francisco El Hombre quanto do Abstrato ZK + Lado B. Realmente, a Levi’s acertou em cheio ao investir num projeto desse e de ter fechado com a Lab Fantasma e todos esses artistas incríveis que representam o que é a cultura que desafia, a contracultura de hoje.

Como está a agenda de shows?
No momento, estamos tentando não marcar shows, pra ver se conseguimos focar e terminar o álbum o quanto antes. Claro que às vezes surgem convites que não dá pra recusar, seja pela conexão, seja pela grana pra ajudar a financiar nossas gravações, mas agora o foco está no disco. O único show que temos confirmado no momento é pra Virada Cultural, se ela for acontecer mesmo. [Risos]

Qual é o público da Cigana hoje?
Essa pergunta é difícil. Não sei explicar ao certo. Gosto de acreditar que são as pessoas que curtem música alternativa, seja rock, seja eletrônico, seja MPB. Que gostam de coisas subversivas ao que é o mainstream, que gostam de sons que fogem dessa estética muito popular e também que fogem de uma estética muito gringa, muito plastificada.

– Marcos Paulino é jornalista editor do site Mundo Plug (www.mundoplug.com)

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