Três perguntas: Antiprisma

por Renan Guerra

O duo Antiprisma, formado por Elisa Moreira e Victor José, lançou seu primeiro disco, “Planos Para Esta Encarnação”, em 2016, e entra em 2017 divulgando um vídeo para a faixa “Sermão”, delicado encerramento do álbum. Produzido pela Coagula Produções, o clipe é simples, apresentando o registro da gravação da faixa, com o mesmo caráter intimista que é usual da banda.

Quando do lançamento do “Planos Para Esta Encarnação”, escrevemos aqui que o Antiprisma era “quase um antídoto para a velocidade cotidiana”, constatação que soa ainda mais necessária em 2017. Em meio à necessidade de fazermos deste ano algo melhor e mais palatável, nada mais importante do que pararmos alguns minutos, respirarmos e tentarmos concatenar as coisas com mais calma, mais delicadeza. E é sobre isso o trabalho da dupla: olhar a vida com mais simplicidade.

Não pense assim em um caráter hipponga, nada disso. A simplicidade do duo se aproxima mais do nosso sertanejo, daquela perspectiva de enxergar a nossa brejeirice com bons olhos e fazer disso parte do nosso cotidiano. Essa busca pela simplicidade é refletida no vídeo de “Sermão”, faixa que na versão do disco faz referência a “Easy Rider”, clássico de Dennis Hopper de 1969. Uma referência que congrega perfeitamente com tudo falado aqui.

No final das contas, o Antiprisma segue buscando uma unidade em suas produções, querendo reforçar seu caráter intimista e delicado, que traz consigo um cuidado quase artesanal. Nesse sentido, trocamos uma ideia com eles sobre esses processos de trabalho, as escolhas estéticas e também futuras de Elisa e Victor. Confira abaixo:

Vocês têm um cuidado com tudo que cerca o Antiprisma, indo desde esse clima intimista do disco e do vídeo até os kits que estão à venda e acompanham uma embalagem feita à mão. Esse processo mais pessoal e próximo do público é algo que vocês já refletiram sobre ou que surgiu de forma natural, como uma perspectiva mesmo de enxergar a arte e a vida?
Victor: A gente costuma pensar em fazer as coisas de modo que dê para se aproximar dos outros. Qualquer mínimo detalhe que faça uma pessoa perceber que ali está sua mão já vale mais que muitos likes! A gente gosta muito dessa coisa de “faça você mesmo”, ainda mais sendo um grupo independente. E você tem razão, a gente tem muito cuidado com o visual das coisas, gostamos de participar de tudo que envolve nosso próprio universo e queremos dividir isso com os outros o máximo que pudermos.

Há sempre um caminho que, quando se fala em folk, muitos acabam relacionando a instrumentos menos usuais no Brasil, como o ukulele, por exemplo. Vocês acabaram indo para o lado da viola caipira, que cria uma estética singular ao disco. Como foi esse “encontro” de vocês com esse instrumento tão típico da nossa cultura?
Victor: Na verdade, nem foi muito pensando em termos de folk, mesmo porque a maior parte das nossas influências não vem desse lugar específico do folk. Mas não dá pra negar que a viola caipira nos puxou ainda mais pra esse universo. A ideia de usá-la veio durante a pré-produção do álbum, e lembro que estávamos procurando um som diferente, explorando afinações. Gosto muito da afinação em sol aberto que o Keith Richards usa nos Stones, e por coincidência acabei descobrindo que a afinação que os violeiros chamam de “Rio Abaixo” é exatamente a mesma coisa, então me animei com a ideia de explorar o instrumento puxando um pouco as coisas pro blues também, e acho que casou bem com a gente.

O “Planos Para Esta Encarnação” saiu no ano passado, então certamente vocês já pensaram nesse caminho do que vem agora, os próximos passos, não? No primeiro registro vocês buscaram manter a gravação o mais próxima do que vocês realizam no show, com esse clima mais íntimo mesmo, de roda de viola, porém vocês já pensaram em outras possibilidades, como por exemplo, de, em algum momento, gravar com uma banda cheia ou mesmo inserir sonoridades mais distintas ao projeto?
Elisa: Este ano nós pretendemos continuar dando um gás na divulgação do “Planos…”, através dos shows e do lançamento de clipes e tal. Mas já estamos em processo de composição de novos materiais, e algumas músicas novas estão pedindo uma abordagem mais elétrica, com percussão, piano… Ainda não sabemos exatamente o que vamos fazer a respeito. Por enquanto, nossa abordagem acústica está sendo suficiente para nós e para servir às nossas músicas, mas não queremos ficar presos a nenhum formato específico. Então se as músicas pedirem, nós podemos gravar ou até nos apresentarmos com banda cheia, por que não? Vamos ver pra onde as músicas vão nos levar.

Confira abaixo uma entrevista exclusiva em vídeo com a Elisa e o Victor, produzida pela Coagula Produções:

Renan Guerra é jornalista e colabora com o sites You! Me! Dancing! e Scream & Yell. A foto que abre o texto é de Carol Munhoz Fotografia / Reprodução

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