Três CDs: Green Day, Descendents, Wander Wildner

“Revolution Radio”, Green Day (Reprise)
por Adriano Mello Costa
Depois do insucesso do projeto triplo que envolveu os discos “¡Uno!”, “¡Dos!” e “¡Tré!”, lançados entre setembro e dezembro de 2012, Billie Joe Armstrong, Tré Cool e Mike Dirnt retornam em 2016 com “Revolution Radio”. Novamente distribuído pela Reprise Records, o trio deixou o velho amigo e produto Rob Cavallo e fez tudo sozinho no disco. O resultado é um álbum cru, sem grandes invencionices, que aponta para os primeiros registros sem esquecer coisas posteriores como “American Idiot” (2004), o que é normal para uma banda com os anos de vida que o Green Day ostenta. A banda nunca foi de deixar problemas atuais ficarem longe das músicas e isso novamente aparece como na enérgica faixa-título e em “Troubled Times” (e vem se alongando ao vivo devido ao momento ainda mais crítico dos EUA). Os 44 minutos de “Revolution Radio” não exibem nenhuma canção estupenda e as que ficam mais próximas disso são “Bang Bang”, primeiro single, com as paradas características do grupo, e a pra cima “Youngblood”, mas “Revolution Radio” deve ser entendido como um disco de transição, com o trio novamente tomando as rédeas da carreira, saindo em turnê, sentido prazer em tocar. O grande problema do Green Day – e isso vem desde “American Idiot” – é querer se alinhar entre o punk e o rock de arena, o que gerou bons trabalhos, mas tudo indica ter chegado a um limite de saturação. Isso fica claro em faixas como “Somewhere Now”, “Outlaws” e “Still Breathing”. Já que a banda pensou esse “Revolution Radio” como uma retomada de origens, seria interessante, no futuro, retomar esse caminho sem concessões, com tudo, pois o trio aparenta ainda ter fôlego para tanto – basta só deixar de lado as pretensões. A conferir.

Nota: 6 (ouça no Youtube)

“Hypercaffium Spazzinate”, Descendents (Epitaph)
por Adriano Mello Costa
Banda essencial do punk rock californiano formada em 1977 e influência para diversos grupos, o Descendents retomou a estrada em 2010 na quinta volta do quarteto e agora chega ao sétimo álbum da carreira, “Hypercaffium Spazzinate”, o primeiro de inéditas desde 2004 (ano do bom “Cool To Be You”). Lançado pela gravadora Epitaph, “Hypercaffium Spazzinate” apresenta 16 músicas na versão principal e mais cinco numa versão deluxe que longe de ser apenas uma encheção de linguiça traz canções do mesmo nível do disco como “Days of Desperation”, “Business A.U” e “Unchaged”. Banda punk de primeira hora com discos na bagagem do porte de “I Don’t Want to Grow Up” (1985) e “Everything Sucks (1996)” (sem contar a seminal estreia com “Miles Goes to College” de 1982), o grupo já cinquentão exibe uma obra com a mesma pegada que conquistou tantos e tantos fãs. As faixas são elaboradas por todos os integrantes – a saber: Stephen Egerton (guitarra), Milo Aukerman (vocal), Karl Alvarez (baixo) e Bill Stevenson (bateria) – e apresentam as temáticas cotidianas e bem humoradas já conhecidas de outrora, com algumas mais sérias como “Feel This” que fala sobre perda. Com faixas como “Victim Of Me”, “Shameless Halo”, “Comeback Kid”, “Beyond The Music” e principalmente a chicletuda “Without Love”, o Descendents retorna com um álbum que rememora seus melhores momentos e um dos grandes discos desse ano. Escute alto.

Nota: 8,5 (ouça no site da Epitaph)

“A Vida é Uma Toalha Estendida no Varal”, Wander Wildner (Fora da Lei)
por Marcelo Costa
Wander Wildner é um herói punk, mas não o herói tradicional do mundo moderno, construído por factoides estilhaçados de uma grande mídia ávida por audiência e dinheiro público, heróis cuja máscara pode cair a qualquer momento. Não, Wander é daqueles heróis antigos, tão poderoso quanto rabugento, tão genial quanto arisco. E antissocial, um adjetivo que poderia soar crudelíssimo para viciados em redes sociais, mas que cai bem em caminhoneiros de séries televisivas e roqueiros que só precisam de uma mochila com “duas camisetas de bandas que eu gosto, uma bermuda, um chinelo e o violão nas costas” porque eles sabem que a verdade está no âmago, lá fundo da carne sangrando, nas relações humanas verdadeiras, e não numa foto do Instagram, num textão do Facebook ou num tweet engraçadinho que vira meme. É um clichê, mas é sincero: é difícil escolher uma música só de “A Vida é Uma Toalha Estendida no Varal”, 10º álbum de Wander, e um de seus melhores trabalhos. Podia ser “Sempre Que Posso, Eu Fujo do Inverno” (da boa frase “eu aprendi a ignorar as minhas dúvidas / o que não entendo eu decidi deixar pra trás”) as arrepiantes “Com Lineker e com Desapego” e “Fantasma”, a brilhante “Amigo” (“Meu amigo transcenda o preciosismo cultural / Ninguém comove em rede social”), “Script” (com participação deliciosa de Lulina), a genial “Pensando em Ratos” ou mesmo “Meio Bauhaus, Meio Inverno”, que combina com esse ano macabro em que (sobre)vivemos uma “vida de merda, de porra nenhuma, medíocre, meio rock and roll moderno, completo e sem sal”.

Nota: 9 (ouça no Bandcamp)

– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

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