Boteco: da Bélgica, Brasserie Du Bocq

por Marcelo Costa

Aberta em uma fazenda em 1858 no Vallée Du Bocq, em Purnode, na Bélgica (distante uma hora de Bruxelas e meia hora da fronteira com a França), a Brasserie Du Bocq fabricava cerveja apenas no inverno, quando não havia trabalho para os trabalhadores da fazenda. No entanto, o carro chefe da cervejaria, a Gauloise, surgiu apenas após a Primeira Guerra Mundial, fez sucesso imediato e continua encantando o mundo. A carta da cervejaria se estendeu dos anos 20 para cá e a Du Bocq mantém mais de 20 rótulos no cardápio, com destaque para a Blanche Des Moines e a Blanche de Namur (a última, eleita melhor cerveja de trigo no World Awards Beer 2009) além, claro, das três versões da La Gauloise – Blonde, Ambree e Brune – e da Saison 1858, outra premiada no World Awards Beer. E com ela que começamos…

A Du Bocq Saison 1858 é, como o nome adianta, uma Farmhouse Ale de autentica natureza belga. Na taça, uma cerveja de coloração amarelo palha com turbidez aparente (denotando não filtração) e creme branco espesso de excelente formação e média alta permanência. No nariz cumprem-se as expectativas do estilo: especiarias e ervas em primeiro plano seguida de perto por notas cítricas (principalmente limão) mais trigo, feno, cereais e sugestão de acidez. Na boca, textura suavemente frisante antecipando acidez, que surge envolta às notas cítricas e condimentadas presentes no primeiro toque. O amargor é médio e ganha força e impacto com a acidez, marcante, que abre as portas para um conjunto saboroso e refrescante, que une as notas cítricas (limão), herbais (ervas) e florais com sugestões de feno, trigo e cereais. Delícia. O final é levemente herbal e condimentado, remetendo a campos verdes. No retrogosto, ervas, cítrico e cereais. Uma delícia.

A Du Bocq Gauloise Ambree foi a primeira cerveja a ser produzida pela casa em 1858. É uma Belgian Pale Ale de coloração âmbar caramelada e turbidez suave com creme levemente bege de boa formação e media alta permanência. No nariz, aroma suave sugerindo notas florais e cítricas (abacaxi, tangerina e limão) além de leve percepção condimentada. Na base, doçura maltada de caramelo e, ainda, pão e torta de maçã. Na boca, a textura levemente picante (com leve acidez “fervendo” a língua). O primeiro toque exibe acidez cítrica envolvida em caramelo. O amargor ganha impacto com a acidez, mas, ainda assim, é moderado e eficiente, abrindo as portas para um conjunto refrescante que sugere presença cítrica (abacaxi, maçã), cereais (pã0) e doçura (torta de maçã e caramelo) comedida. O final é levemente cítrico. No retrogosto, um pouco de cítrico, um pouco de acidez, um pouco de caramelo. Gostosa.

Partindo para a Du Bocq Gauloise Blonde, uma Belgian Blond Ale que segue a risca o caráter apresentado pela versão Ambree. Na taça, uma cerveja de coloração dourada apresenta um creme branco de boa formação e media alta permanência. No nariz, as notas cítricas saltam à frente oferecendo sugestões de uvas e maçã verde acompanhadas de acidez condimentada e uma base agradável de trigo e cereais. Ainda é possível perceber algo de mel e de coentro. Na boca, a textura levemente picante (com leve acidez “fervendo” a língua). O primeiro toque traz acidez condimentada abraçada com lúpulo cítrico (uva e maçã verde) e amaciada por cereais e trigo. O amargor é médio (assim como na anterior, ganha força com a acidez) e, dai pra frente, um conjunto bastante agradável, leve e saboroso, que une frutado cítrico, doçura de cereais e acidez levemente condimentada. O final é levemente cítrico. No retrogosto, um pouco de cítrico, um pouco de acidez, um pouco de cereais. Gostosa (2).

A Du Bocq Gauloise Brune é uma Belgian Dubbel bastante interessante, com potência alcoólica (8.1%) e um conjunto que exibe, na taça, uma coloração âmbar acastanhada com creme bege clarinho espesso de boa formação e media alta permanência. No nariz, doçura caramelada (sugerindo mel e açúcar mascavo) e frutado (framboesa primeiro, depois uva passa e ameixa) se destacam, mas é possível, ainda, acrescentar percepção de Jerez, condimentação (coentro), chocolate e, suavemente, álcool. Na boca, a textura é levemente picante, e aqui não apenas de acidez, mas também de álcool. O primeiro toque traz doçura caramelada e frutada sugerindo framboesa e chocolate com leve cravo e um pouco de Jerez. O amargor é alcoólico, mas não agressivo. Conforme aquece, a doçura pula um degrau oferecendo caramelo e candy sugar, e o conjunto perde um pouco de brilho, mas continua recomendável. O final é caramelado e alcoólico. No retrogosto, leve doçura caramelada, coentro e álcool suave. Gostosa (3).

Na Bélgica ela é conhecida como Triple Moine, mas para o resto do mundo ela é apresentada como Deugniet Goud Blond, uma Belgian (Tripel) Golden Strong Ale levemente dourada e alaranjada (como o rótulo adianta) que exibe um creme branco de boa formação e média permanência. No nariz, a Du Bocq Deugniet apresenta um aroma levemente cítrico e frutado (sugerindo maçã verde e pêssego) seguido de leve condimentação (cravo) e doçura maltada além de suave álcool. Na boca, a textura é sedosa e levemente picante. O primeiro toque traz forte acento frutado cítrico que se desmembra em sugestões maçã verde, pêssego e tangerina seguida de acidez leve e amargor médio. Dai pra frente, um conjunto que eleva alguns degraus o que a Blonde oferece trazendo mais cítrico, condimentado suave e, também, álcool mais presente (7.5%), ainda que nada agressivo. O final é levemente doce e alcoólico. No retrogosto, pêssego, caramelo e leve cítrico. Gostosa (4)

Balanço
Abrindo essa série da Du Bocq com a Saison 1858, que homenageia a data de fundação da casa com uma bela receita de Farmhouse Ale, cítrica, herbal e com especiarias no ponto exato. Uma delícia. A A Du Bocq Gauloise Ambree foi a primeira receita da casa a ser produzida, e é uma Belgian Pale Ale bem agradável, com leve cítrico e leve acidez que colaboram na refrescancia. Delicinha. A mesma qualidade é estendida para a Gauloise Blonde, outra delicinha com jeitinho de verão. A Gauloise Brune me soou excelente no início da taça, mas, conforme foi aquecendo, deixou a doçura se sobrepor às notas que traziam algo de frutado e Jerez, passando a valorizar a doçura, o que decepcionou um tiquinho, mas ainda assim é uma grande cerveja. Fechando a sequencia com a boa Triple da casa, que muda de nome quase exportada, mas mantém a classe belga na taça.

Du Bocq Saison 1858
– Produto: Saison
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 6,5%
– Nota: 3,44/5

Du Bocq Gauloise Ambree
– Produto: Belgian Pale Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 5,5%
– Nota: 3,28/5

Du Bocq Gauloise Blonde
– Produto: Belgian Blond Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 6,3%
– Nota: 3,29/5

Du Bocq Gauloise Brune
– Produto: Belgian Dubbel
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 8,1%
– Nota: 3,37/5

Du Bocq Deugniet
– Produto: Belgian Golden Strong Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 7,5%
– Nota: 3,30/5

Leia também
– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.