Boteco: de Minas Gerais, Falke Bier

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por Marcelo Costa

Fundada em 2004 em Ribeirão das Neves, cidade de 300 mil habitantes a cerca de uma hora de Belo Horizonte, a Falke Bier tem sua história iniciada em 1988, quando são fabricadas as primeiras 260 garrafas – dois kits de cerveja caseira – por Marco Antonio Falcone, no sítio da família. A marca inicial era “Cirvizia Aquila”, conforme rótulo elaborado à época, reproduzido em máquinas copiadoras (xerox) e a cerveja era fabricada para consumo famíliar. Marco continuou produzindo e a Falke Bier começou a se desenhar em 2000, quando ele viajou a Europa para conhecer diversas micro cervejarias. Hoje, a Falke mantém sete rótulos engarrafados no cardápio: Falke Tripel Monasterium, Ouro Preto Schwarzbier, Estrada Real India Pale Ale, Estrada Real Weiss, Falke Diamantina, Falke Villa Rica e Falke Vivre pour Vivre. Abaixo falo sobre três.

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Lançada em 2009, a Falke Estrada Real India Pale Ale foca no lado inglês da escola amada por norte-americanos (e lupulomaniacos). Não à toa, o rótulo crava um “London” em destaque (numa rota que passa por Calcutá e Ouro Preto) pra ficar bem claro que é uma English IPA. De bonita coloração âmbar caramelada translucida com creme branco meio alaranjado de boa formação e permanência, a Falke Estrada Real IPA apresenta um aroma perfumado com sugestão herbal, cítrica e melada em destaque, sem exageros, na medida certa. Há frutado (laranja e figo), doçura (mel e caramelo), toffee e amadeirado. Na boca, textura suave com leve picancia. O primeiro toque traz doçura caramelada logo inibida por um amargor suave, mas bastante presente (42 de IBU) abrindo o caminho para um conjunto frutado (figo, uva passa e leve laranja) e caprichadamente mataldo. O final começa adocicado e finaliza com leve amargor. No retrogosto, caramelo e leve frutado. Uma bela cerveja.

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Lançada em 2011, a Falke Diamantina é uma Bohemian Pilsener da casa que utiliza lúpulos tchecos (ou seja, Saaz) na busca por acrescentar mais sabor ao estilo que, amaciado, derivou para as cervejas mais consumidas do mundo. De coloração dourada com leve proximidade com o âmbar e creme branco de boa formação e média alta permanência, a Falke Diamantina apresenta um aroma caprichado para o estilo, e equilibrado nas boas sugestões derivadas de lúpulo e malte: há bastante herbal (lembrando grama), cereais, doçura suave e leve floral. Na boca, textura suave. O primeiro toque traz rápida doçura caramelada e, no segundo seguinte, presença assertiva de amargor herbal (não são os 50 de IBU que o site oficial diz a cerveja ter, mas chega a uns 20) abrindo as portas para um conjunto saboroso, com presença cativante de notas herbais, sugestão de cereais, doçura suave e amargor caprichado. O final é maltado com leve amargor. No retrogosto, refrescancia, herbal, amargor e cereais. Ótima!

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Fechando o trio, a Falke Estrada Real Weiss é a German Weizen da casa mineira (ou seja, feita com trigo malteado). De coloração âmbar caramelada (mais pra Weizenbock que pra Weizen) com creme branco de boa formação e permanência, a Falke Estrada Real Weiss apresenta um aroma que traz as notas típicas do estilo – tanto o frutado remetendo a banana, ainda que de uma forma mais suave, quanto o condimentado remetendo a cravo –, mas de forma tímida, abrindo espaço ainda pruma doçura caramelada que não é lá muito alemã. Na boca, a textura fica no meio do caminho entre o suave e o picante enquanto o primeiro toque traz doçura, logo interrompida pelo amargor, suave. O conjunto que surge na sequencia traz pouco do que o estilo defende: banana e cravo (derivados da levedura) aparecem de forma tímida abrindo espaço pra doçura e um leve amargor, inédito no estilo, que marca presença no trecho final. No retrogosto, amargor suave e frutado distante (banana). Uma releitura interessante.

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Balanço
No rótulo, a Falke Estrada Real India Pale Ale exibe um “London” em destaque. No texto explicativo na lateral da garrafa eles avisam que essa é uma English IPA, ou seja, de pegada mais moderada que a exagerada escola norte-americana. Esse serviço é importante e merece elogios valorizando uma belíssima cerveja, um tiquinho mais amarga que as britânicas, o que é positivo. A Falke Diamantina consegue acrescentar qualidade a um estilo que foi copiado e, depois, amaciado para se tornar o mais consumido do mundo. Os mineiros, no entanto, são fieis ao estilo original, pontuando a receita com boa dosagem de malte e lúpulo, e alcançando um grande resultado. Recomendo. Já a Weiss da casa apresenta as notas clássicas (banana e cravo) com certa timidez e carrega levemente na lupulagem, resultando em um conjunto interessante, que pode decepcionar fãs do estilo, mas tem seu valor.

Falke Estrada Real India Pale Ale
– Estilo: English IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7,5%
– Nota: 3,39/5
Preço pago em São Paulo: R$ 16 por 600 ml

Falke Diamantina
– Estilo: Bohemian Pilsener
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4,5%
– Nota: 3,40/5
Preço pago em São Paulo: R$ 16 por 600 ml

Falke Estrada Real Weiss
– Estilo: Weiss
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,4%
– Nota: 3,24/5
Preço pago em São Paulo: R$ 16 por 600 ml

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– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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