Boteco: Quatro cervejas da paulistana Júpiter

por Marcelo Costa

Abrindo o segundo passeio pelas cervejas da paulistana Júpiter, produzida pela Blondine em Itupeva (SP), a novíssima Júpiter Lager é uma Vienna Lager com dry hop de lúpulo Hallertau Hersbrucker. De coloração âmbar translucida com creme branco levemente alaranjado (devido ao malte tostado) de formação e permanência, a Júpiter Lager apresenta um aroma suave que valoriza o lúpulo herbal (em notas que remetem a ervas e pinho) deixando o tradicional caramelado derivado do malte tostado em segundo plano, mas perceptível no conjunto. Na boca se sente um maior equilibro entre lúpulo e malte, o que resulta numa cerveja bastante refrescante, com doçura (mel e caramelo) agradável, boa presença herbal (ervas) e amargor pontual (27 de IBU). O final mantém o equilíbrio com doçura caramelada e amargor herbal enquanto o retrogosto traz leve adstringência, refrescancia e a vontade de beber outra. Boa.

Lançada em março de 2014, a Júpiter Tanger é uma ótima aposta dos paulistanos, que fizeram uma witbier com adição de casca de tangerina e os lúpulos Styrian Goldings, Saaz e Polaris, aumentando levemente seu amargor (IBU 25) sem perder o toque wit. De coloração amarelo palha e creme branco de boa formação e rápida dispersão, a Júpiter Tanger apresenta um aroma bastante agradável com destaque para as notas cítricas (limão em primeiro plano mais abacaxi e tangerina). Ainda é possível perceber condimentação (semente de cravo), acidez e leve azedume. Se o perfil aromático é bom, o paladar é ainda melhor, mérito da lupulagem que acrescenta amargor e cítrico, sensações que unidas a com a acidez (provavelmente derivada da levedura) forma um conjunto especial, refrescante e, ao mesmo tempo, provocante. O final é azedo, cítrico e ácido. No retrogosto, limão, trigo e azedinho. Delícia.

A Júpiter Chipotle Porter é uma das duas receitas lançadas em setembro de 2014 que a Júpiter desenvolveu com a De Cabrón, loja especializada em pimentas de Santa Cruz do Rio Pardo, no velho oeste paulista, que adicionou “delicadas” jalapeño na receita. De coloração marrom escura com creme marrom de boa formação e permanência, a Chipotle Porter apresenta um aroma defumadíssimo, que encobre a sugestão tradicional do estilo (caramelo e chocolate), presentes de forma discreta. Há ainda leve picancia avisando o bebedor o que virá pela frente. Na boca, há chocolate e caramelo no primeiro toque, rapidamente atropelados por defumado, amargor (32 de IBU) e jalapeño (permanente), intensos, mas inseridos de forma brilhante no conjunto. O trecho final é sensacional: começa com defumado e caramelo até a pimenta se intensificar e tomar conta, estendendo-se até o retrogosto, quente. Acho que me apaixonei…

A outra parceria da Júpiter com a De Cabrón é esta Habanero Dubbel, uma receita que une malte, água, levedura e lúpulo com rapadura e pimenta. De coloração âmbar caramelada (mais clara que a versão Porter) e com creme levemente bege de boa formação e permanência. No aroma, ao contrário da Chipotle Porter, em que o malte defumado se sobrepõe, na Habanero Dubbel, as características do estilo belga estão muito bem representados com bastante doçura (caramelo, mel e açúcar mascavo) e sugestão de frutas escuras (ameixa, nozes, uva passa) além de bubblegum. Se no aroma, a pimenta fica em segundo plano, no paladar a coisa muda de figura: a entrada oferece doçura maltada (caramelo), mais longa que na anterior, mas logo a pimenta surge ocupando espaço e se sobrepondo ao caráter dubbel da receita, que vai diminuindo conforme a garrafa esvazia (a cada gole, a pimenta se torna mais presente). O final é caramelado e apimentado. No retrogosto, pimenta. Para uma cerveja apimentada, excelente.

Balanço
Bastante equilibrada (principalmente no sabor, seu destaque), a Júpiter Lager se sobrepõe a versão IPA da casa equiparando-se a ótima Júpiter APA oferecendo amargor e refrescancia sem agressividade. O preço poderia ser mais competitivo (lembrando que uma Brooklyn Lager, a Vienna Lager dos nova-iorquinos, é vendida por R$ 10,90 no Pão de Açúcar). O mesmo pode ser dito da belíssima Júpiter Tanger, uma witbier que recebe adição de casca de tangerina e boa dose de lupulagem: com as belgas Vedett e Hoegaarden custando menos de R$ 10 em supermercados, fica difícil competir, ainda que a Tanger tenha uma lupulagem que acrescenta um algo a mais em relação as concorrentes. Parceria da Júpiter com a turma da De Cabrón, especializados em pimentas, a Júpiter Chipotle Porter é uma cerveja excelente que não decepciona apaixonados por defumado e pimentas. Se você se insere nesse grupo de loucos, vá atrás, porque o resultado é excelente. Ela pega um pouco mais pesado que a Coruja Labareda, do grande Wander Wildner. Colocados em sequencia deve combinar muito. Virei fã. A Júpiter Habanero Dubbel mantém a pegada apimentada da anterior conseguindo exibir mais do estilo, ainda que ele comece a desaparecer conforme a garrafa esvazie cedendo espaço para a pimenta. Para quem gosta do calor apimentado, uma cerveja excelente. Para quem gosta de dubbel, uma cerveja interessante, que não irá ocupar o espaço de suas dubbels prediletas. Eu gostei. Acho a experiência extremamente válida.

Júpiter Lager
– Produto: Vienna Lager
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3,15/5
– Preço pago no Brasil: R$ 12,50 – 310 ml

Júpiter Tanger
– Produto: Witbier
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4%
– Nota: 3,43/5
– Preço pago no Brasil: R$ 12,50 – 310 ml

Júpiter Chipotle Porter
– Produto: Porter
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 3,74/5
– Preço pago no Brasil: R$ 9,90 – 310 ml

Júpiter Habanero Dubbel
– Produto: Belgian Dubbel
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6.5%
– Nota: 3,75/5
– Preço pago no Brasil: R$ 9,90 – 310 ml

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