Três CDs: Bruni, Cañas e De La Riva

por Marcelo Costa

“Little French Songs”, Carla Bruni (Verve)
São dez anos desde o primeiro álbum, “Quelqu’un m’a dit” (2003) e cinco de silêncio desde o terceiro, “Comme si de rien n’était” (2008), que Carla Bruni lançou logo quando seu marido, Nicolas Sarkozy, assumia a presidência da França, o que a impediu, na função de primeira dama, de trabalhar na divulgação daquele que é seu melhor registro. A carta de intenções deste recém-lançado quarto álbum é exibida de forma transparente na fofa faixa título: “Quando tudo dá errado, quando a vida vai mal, tente uma pequena canção francesa / canções francesas talvez sejam ultrapassadas, mas são tão doces”, justifica Bruni, que elenca nomes como Edith Piaf e Jacques Brel, mas compara: “Claro, não é como Duke Ellington, Elvis ou Jackson”. Esse espírito de simplicidade e doçura permeia “Little French Songs”, que novamente mostra a língua afiada e confessional da compositora, que provoca o atual presidente francês François Hollande em “Le Pingouin”; se imagina no começo dos anos 70 na casa do casal narcótico Keith Richards e Anita Pallenberg (“Alguém está enrolando um baseado, ó, eu não fumo”, ela canta em “Chez Keith et Anita”); e faz um acerto de contas com a posição de Primeira Dama em “Pas une Dame: “Eu não sou uma dama / Sou apenas um depósito de melancolia”. Livre para cantar, Carla Bruni faz as pazes com a carreira em um disco ensolarado. São pequenas canções francesas (inferiores a “Comme si de rien n’était”) dispostas a alegrar o dia de quem as ouve. Parece pouco, e talvez seja um leve passatempo (francês).

Nota: 6,5
Preço em média: R$ 45 (importado)

Leia também:
– “Comme Si De Rien N’Était” encanta e se confunde com o noticiário, por Mac (aqui)

“Volta”, Ana Cañas (Slap)
Uma das cantoras compositoras mais interessantes da nova música brasileira, a paulistana Ana Cañas viveu um drama pessoal quando, afundada na bebida em meio a uma crise, caiu de um palco no Rio em 2009. Era a turnê de divulgação de seu segundo álbum, “Hein?”, produzido por Liminha e mais pop (e forçado) que a bela estreia, “Amor e Caos”, de 2007. No meio da crise, Ana assistiu a “Stones in Exile”, documentário que registra a gravação do clássico “Exile on Main St.” (1972), dos Rolling Stones, e optou pela mesma saída de Mick Jagger e cia: trocou uma muvucada capital pelo refugio em um sítio, no caso dela, no Rio, e começou a burilar ali o repertório de seu terceiro álbum, “Volta”, lançado em outubro do ano passado. O exilio serviu para a cantora colocar a carreira nos trilhos e gravar seu melhor álbum, uma coleção de pop jazz, blues e rock que reúne 13 canções autorais e três covers tendo o violão de Ana como base. O primeiro grupo mostra uma unidade de repertório que valoriza o belo blues sexy “Diabo” (“No meio das minhas pernas eu te vejo”, diz a letra), a parceria com Dadi “Será Que Você Me Ama?” e as ótimas e econômicas “Difícil”, “Falta”, “L’amour” e o reggae “Foi Embora”, todas sobre amores complicados e/ou desfeitos. No terreno das covers, Ana registrou belas versões para “La Vie en Rose” (clássico de Edith Piaf) e “Stormy Weather”, do repertório de Nina Simone, mas surpreende pelo arranjo acústico (dois violões e baixo) e contagiante de “Rock and Roll”, do Led Zeppelin.

Nota: 7,5
Preço em média: R$ 20

“Idílio”, Marina De La Riva (Universal)
Entre o álbum de estreia, que leva o nome da cantora, e este “Idílio”, lançado no segundo semestre de 2012, passaram-se cinco anos, e o intervalo entre os registros não sugere rompimento de formato ou ideais, pelo contrário, reforça a gênese de interprete desta cantora carioca (filha de pais cubanos) e o campo (seguro?) em que ela pretende atuar (e continuar atuando). A produção respeitosa de Pupillo e Pepe Cisneiros (assistidos por Marina) cria um universo charmoso que faz uma ponte entre músicos (e músicas) do Brasil e da América Hispânica num disco que soa tão conservador quanto interessante. Marina pinça Vinicius de Moraes (“Ausência”, gravada por Marilia Medalha em 1972, num arranjo econômico cuja percussão a quatro mãos se destaca) e Pablo Neruda (“Voy a Tatuarme”, canção de Amaury Gutiérrez, aqui com trecho do Soneto LXVI do poeta chileno), Mercedes Sosa (“Cancion de Las Simples Cosas”, com lágrimas escorrendo do violino de Ernesto Villalobos), Luiz Gonzaga (“Assum Preto”, carregado na bela voz de Marina e com o baixo acústico de Fábio Sá na função da percussão), o cantor peruano Raúl Vazquez (o sucesso “Voy a Guardar mi Lamento” aparece tanto em espanhol quanto em português, “Meu Lamento”, em versão originalmente cantada por Diana, em 1972) e Celly Campello (através de “Estupido Cúpido”, versão de Fred Jorge para o clássico de Neil Sedaka). O tempo passa, e Marina de La Riva o ignora por vontade própria optando por deitar-se numa zona de conforto que encanta o ouvinte.

Nota: 7
Preço em média: R$ 25

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