Boteco: Desbravando a BrewDog (Parte 3)

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por Marcelo Costa

Em 2011, a BrewDog estreou um projeto de single hops (cervejas com apenas um tipo de lúpulo) em que a base de quatro cervejas era uma India Pale Ale. Na oportunidade, os escoceses escolheram os lúpulos Bramling X, Citra, Nelson Sauvin e Sorachi Ace. O projeto foi um sucesso, e os escoceses logo planejaram uma segunda versão. Lançado em 2012, o pacote IPA IS DEAD trazia a mesma receita de 2011 com quatro lúpulos diferentes: Motueka, da Nova Zelândia; Challenger, do Reino Unido; Galaxy, da Austrália; e HBC, dos Estados Unidos. Além das quatro cervejas do IPA IS DEAD VOL. 2 este post traz uma quinta IPA com um lúpulo só e fecha com uma bela Russian Imperial Stout. E o terceiro passeio pelo catálogo da BrewDog.

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O Motueka é um lúpulo da Nova Zelândia que, segundo os malucos da BrewDog, é primo distante do Galaxy’s Kiwi. A BrewDog IPA Is Dead Motueka é de cor âmbar bastante turva. As coisas começam a ficar interessantes no contagiante aroma, que mostra um belo balanceamento do lúpulo (que se desfaz em notas cítricas que remetem a limão) e do malte (caramelo e pão) – e também lembra couro e alguma coisa que remete a fazendas. No paladar, o lúpulo reina (ahhhh, IPAs). O primeiro toque traz alguma coisa de doçura, mas são segundos para a avalanche de amargor bater no céu da boca e deixar o bebedor feliz. Ainda assim, não é um amargor intenso deixando-se perceber as notas cítricas e frutadas de um lúpulo bastante interessante. O final, claro, é seco e amargo deixando para trás uma leve adstringência que, provavelmente, fará você ir atrás de outra garrafa de uma cerveja bastante agradável.

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Saímos da Nova Zelândia e partimos para o Reino Unido. O lúpulo Challenger nasceu de uma fusão de um lúpulo alemão com a variante Northern Brewer na Inglaterra em 1961, mas só chegou ao mercado em 1968. Suas características principais são o cítrico e a acidez. Isso já é meio caminho para entender a BrewDog IPA Is Dead Challenger, que mantém as mesmas características de água, malte e levedura da cerveja anterior, fórmula que confere ao líquido uma cor âmbar bastante turva. No aroma, muitas notas herbais que remetem a ervas, grama e mato. Há algo de adocicado vindo do malte e um frutado ácido quase imperceptível que remete a casca de limão. No paladar, novamente (assim como a Motueka), o adocicado do malte surge em primeiro plano, mas o amargor do lúpulo bate ponto na sequencia amarrando tudo. Doçura e amargor se alternam, mas o grande vencedor é o lúpulo, que rasga a garganta no final.

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Próxima parada: Austrália, casa do lúpulo Galaxy, o mais suave dos quatro lúpulos desta segunda leva de IPA IS DEAD, da BrewDog. Na cor, o âmbar turvo permanece deixando a sensação que o malte levemente tostado é o responsável pela percepção adocicada em todos os rótulos da caixinha. O aroma é inicialmente cítrico e frutado com notas de tangerina e manga, mas uma percepção herbal que remete a grama além do adocicado do malte, muito bem inserido, também marcam presença. O paladar repete a sensação das duas cervejas anteriores, mas com um espaço de tempo maior: o adocicado do malte é mais perceptível aqui abrindo, ainda, espaço para o cítrico e o frutado (tangerina, uva), mas não adianta se fazer de desentendido, pois um amargor (não tão intenso) vai chegar varrendo tudo. Este amargor moderado e seco irá dominar o retrogosto, viciante. Uma cerveja simples e bastante gostosa.

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Fechando o segundo pacote de IPA IS DEAD, o lúpulo norte-americano HBC, que muita gente conhece como Citra, um lúpulo criado em 2007, e que vem conquistando cada vez mais pessoas. A diferença para as três anteriores percebe-se logo pela cor, um âmbar claro sem tanta turbidez. Nos quatro modelos, a espuma subiu bonita, amarela e com boa persistência. Um caminhão de frutas cítricas é despejada pelo aroma, divino. Há percepção de laranja bem doce, abacaxi, pêssego, casca de limão, uva verde, melão e, ainda, grama, caramelo e trigo. O paladar é o mais interessante dos quatro rótulos IPA IS DEAD, pois o amargor e o cítrico do lúpulo e o dulçor do malte formam um casal perfeito. O retrogosto é interessantíssimo, pois o cítrico com forte remissão à tangerina segue junto com o amargor, que deixa seu lastro pela garganta como uma boa lembrança de fazenda e poeira de roça. Uma delicia.

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Continuando no território das sazonais da cervejaria escocesa, a BrewDog Hoppy Christmas é uma single hop IPA como as anteriores, porém preparada apenas para as festas de fim de ano. Com 7,2% de álcool, lúpulo norte-americano Simcoe e três tipos de malte (Extra Pale, Cara e Crystal), a Hoppy Christmas é envelhecida por 12 meses em toneis antes de chegar à mesa do cliente. A cor é âmbar, mas o brilho, ao contrário das anteriores, é transparente. No aroma, um equilíbrio interessante entre as notas de malte e o herbal e cítrico do lúpulo. As primeiras remissões encontram notas frutadas (maracujá, laranja, abacaxi) e adocicadas (um pouco de caramelo e de mel) que se desprendem com facilidade. No paladar, a doçura do malte vem em primeiro plano, e o amargor surge na sequencia aconchegante e persistente. Notas de cítrico e frutado destacam uma cerveja versátil, com doçura e amargor em perfeita sintonia.

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Para fechar esse terceiro post com cervejas da BrewDog, mais um destaque da casa, a Rip Tide, releitura dos escoceses para o estilo Russian Imperial Stout. São dois tipos de lúpulo (Galena e First Gold) mais cinco de malte (Marris Otter, Dark Crystal, Caramalt, Chocolate Malt e Roast Barley) e açúcar mascavo resultando em um líquido escuro e brilhante, com espuma densa e acobreada. No aroma, o tostado do malte se destaca remetendo delicadamente a café com percepção de ameixas, carvalho, terra molhada e algo de cítrico (provavelmente derivado do lúpulo). O paladar é uma surpresa agradável, pois o açúcar mascavo consegue amaciar a força do amargor proveniente dos maltes torrados. De bônus, o lúpulo marca presença com um toque cítrico. Ainda assim, não se engane: há notas de café em abundancia no conjunto (como em uma clássica Russian Imperial Stout), mas os outros ingredientes tornam o conjunto macio. Bela cerveja.

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Onde encontrar o pacote IPA IS DEAD 2012? Complicado. A validade das cervejas era março/abril de 2013, e com sorte você encontra alguma das quatro garrafas por cerca de R$ 30 em locais especializados, mas o mais indicado seria esperar pelo lote 2013, que não só definiu seus quatro single hops (Dana, Goldings, El Dorado e Waimea) como já pode ser encontrado fora do país. A BrewDog Hoppy Christmas também é uma sazonal, mas mais fácil de ser encontrada (com preços que variam de R$ 21 a R$ 30), mesmo faixa de preço da BrewDog Rip Tide, todas excelentes cervejas.

BrewDog IPA Is Dead Motueka
– Produto: India Pale Ale
– Nacionalidade: Escócia
– Graduação alcoólica: 6,7%
– Nota: 3,46/5

BrewDog IPA Is Dead Challenger
– Produto: India Pale Ale
– Nacionalidade: Escócia
– Graduação alcoólica: 6,7%
– Nota: 3,41/5

BrewDog IPA Is Dead Galaxy
– Produto: India Pale Ale
– Nacionalidade: Escócia
– Graduação alcoólica: 6,7%
– Nota: 3,48/5

BrewDog IPA Is Dead HBC
– Produto: India Pale Ale
– Nacionalidade: Escócia
– Graduação alcoólica: 6,7%
– Nota: 3,55/5

BrewDog Hoppy Christmas
– Produto: India Pale Ale
– Nacionalidade: Escócia
– Graduação alcoólica: 7,2%
– Nota: 3,69/5

BrewDog Rip Tide
– Produto: Russian Imperial Stout
– Nacionalidade: Escócia
– Graduação alcoólica: 8%
– Nota: 3,72/5

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– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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