Lançamentos: Três discos de Brian Wilson

por Marcelo Costa

Três lançamentos antecipam a vinda de Brian Wilson ao País. A gravadora Warner coloca no mercado brasileiro o aguardado “Smile” e o inédito “Gettin’ In Over My Head” enquanto a BMG presenteia os fãs com a edição de “Live At The Roxy Theatre”, disco duplo que registra shows de Brian Wilson em 2000 cantando clássicos dos Beach Boys e de sua carreira solo, além de covers como “Be My Baby”.

“Smile” é o tal disco perdido que Brian não chegou a finalizar em 1967, abandonando o projeto pouco antes dos Beatles lançarem “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band”. O disco é dividido em três longas suítes em que a harmonia vocal, aliada aos inventivos arranjos, faz do disco uma grande sinfonia pop. Em comparação direta com “Pet Sounds”, “Smile” é mais abrangente, complexo e grandioso. Abre com as harmonias vocais de “Our Prayer/Gee”, como se Brian estivesse realmente orando, e desemboca em “Heroes & Villains”, um dos grandes momentos da parceira de Brian Wilson com o letrista Van Dike Parks.

O “segundo movimento” do disco é aberto com a bela “Wonderful”, impressiona com a dobradinha “Song For Children/Child Is Father of the Man” e emociona na maravilhosa “Surf’s Up”. Para o terceiro movimento, Brian deixou um de seus últimos grandes hits, “Good Vibrations”, que fecha o disco sob os aplausos do público. Em entrevistas, Brian diz que decidiu abandonar o disco em 1967 porque era um álbum muito a frente de seu tempo. “O público não estava preparado”, acredita. Ainda assim, mesmo com o silêncio de 38 anos, Smile continua soando como um álbum visionário, espetacular e arrebatador.

Se “Smile” é o ano de 1967 ecoando em 2004, “Gettin’ In Over My Head”, é o inverso. O primeiro álbum de inéditas de Brian em seis anos é uma declaração de amor aos sixties. Após uma bonita harmonia vocal, Elton John rasga a voz em um delicioso rock, “How Could We Still Be Dancin”, solando ao piano enquanto Brian Wilson marca presença nos backings. A belíssima “Soul Searchin” une a voz do falecido irmão Carl a de Brian em uma canção perfeita para embalar casais em um salão. “You’ve Touched Me” é outro rock de inspiração sixtie enquanto a faixa título é uma balada inspirada. “City Blues” é uma das grandes canções do disco. Traz Eric Clapton arrasando na guitarra em uma melodia que trafega entre o rock sixtie, o progressivo, o blues e o soul. Já “Desert Drive” lembra os Beach Boys de início de carreira.

“A Friend Like You” registra, para a posteridade, o primeiro dueto de um ex-Beatles com um ex-Beach Boys. Brian escreveu a música após encontrar Paul McCartney em um concerto beneficente. Tempos depois, Paul decidiu colocar sua voz na música. O velho Macca também tocou guitarra acústica na música. “A Friend Like You” é um bonito atestado de esperança e amizade, remetendo a algo dos Beatles na melodia, como se Brian quisesse homenagear o amigo. Os sixties ainda rendem lindas canções, como a suave “Rainbow Eyes”, a pop “Saturday Morning in The City” e a balada “Don’t Let Her Know She’s Angel”.

O duplo ao vivo “Live At The Roxy Theatre” traz trinta músicas que passeiam pelo extenso repertório de Brian Wilson, indo de clássicos da primeira fase dos Beach Boys (“I Get Around”, “California Girls”, “Do It Again”), passando pela fase psicodélica do grupo (“Caroline No”, “God Only Knows”, “Good Vibrations”) até canções de sua carreira solo (“Love and Mercy”). Em certo momento do show, Brian diz que irá cantar sua “canção favorita em todo o universo”, dando a deixa para a bateria marcante da clássica “Be My Baby”, de Phil Spector, preencher o ambiente. A edição nacional de “Live At The Roxy Theatre” ainda traz duas canções bônus que não estavam presentes na versão estrangeira do álbum: “Help Me Rhonda” e “Wouldn’t It Be Nice”.

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

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