Meu disco favorito de 2023: WI-Fi Kills, por Alessandro Andreola

MEU DISCO FAVORITO DE 2023 #12
Same-Thing Variations”, WI-Fi Kills
escolha de Alessandro Andreola

Lançamento – Janeiro de 2023
Selo – Independente
Ouça – Spotify / Youtube / Bandcamp

Se você vivesse cercado por antenas de transmissão, quais seriam as chances de ficar paranóico? Pois para Klaus Koti as probabilidades são altas. Residente do Pilarzinho, bairro da zona norte de Curitiba conhecido justamente pela infestação de emissoras de rádio e tevê, ele tem, por assim dizer, lugar de fala. Essa ideia de ser ameaçado, ou pior, controlado por ondas invisíveis vem embalada em uma roupagem de ficção científica retrô, e é o que tematicamente define o Wi-Fi Kills, um dos inúmeros projetos capitaneados pelo músico e artista gráfico. Já o som é uma poderosa garageira à base de sintetizador, cuja influência óbvia é o Devo.

Em 2023, a banda lançou o que talvez seja seu melhor trabalho até agora. O EP “Same-Thing Variations”, como o nome indica, é uma coleção de variações sobre temas informáticos e como eles conduzem nossa vidinha cotidiana. Pela primeira vez, o Wi-Fi Kills resolveu cantar em português, o que é uma bem-vinda mudança. Nas letras, há uma especial atenção para tecnologias daninhas, como as redes sociais e congêneres, que aparece nas faixas “Low-Tech Life”, “RGB” e, principalmente em “Novo Normal”. Esta última, ecoando os fantasmas da pandemia da Covid-19, resume bem o estado de cretinice tecnológica ao qual estamos irremediavelmente imersos (“eu acho que não vou me acostumar”, repete a letra).

O disquinho traz ainda outras duas faixas: a robótica “Ctrl C+Ctrl V” e, minha preferida, “Corel Draw”, uma ode possivelmente não irônica ao mal afamado software de edição de imagens. Aqui está muito bem representada uma característica importante do Wi-Fi Kills (e dos trabalhos de Koti, de um modo geral): o elogio da tosquice, encarada abertamente como proposta estética. “Same-Thing Variations” não é diferente e foi gravado de forma analógica em cassete, resultando no que a própria banda chama de “tosqueira garage egg punk horrível de linda”.

A definição é precisa. Esse disco tem um grande defeito, porém: ele acaba depressa demais. Passou da hora de um novo LP do Wi-Fi Kills — o último é de 2019. Que as antenas continuem enviando os sinais.


Alessandro Andreola é jornalista, autor dos livros “Música do Dia” e “The War On Drugs: Lost In The Dream” e um dos responsáveis pela Editora Barbante

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