80 grandes discos latino-americanos de 2023

por ALIANÇA FARO

Após o final de 2023, quisemos dedicar o último Panorama do ano a um pequeno balanço musical de cada um dos sites que integram a Aliança Faro, acompanhado de uma lista dos dez melhores álbuns lançados em cada país e de uma extensa playlist. No entanto, não queríamos perder a oportunidade de vos lembrar que, apesar da boa música, este foi um ano muito triste para todos nós. Infelizmente, o nosso colega e amigo Rubén Scaramuzzino, do site Zona de Obras, faleceu prematuramente e esse foi o fato mais marcante de tudo o que aconteceu na Faro. É por isso que gostaríamos de dedicar este compilado de Melhores de 2023 à sua memória, em memória de ti, querido Rubén!

A Aliança FARO é composta por Indie Hoy (Argentina), Indie Rocks (México), MagazineAM:PM (Cuba), Mondo Sonoro e Zona de Obras (Espanha), Piiila Musica  Uruguai), POTQ (Chile), Shock (Colômbia) e Scream & Yell (Brasil) .


ARGENTINA

É comum encontrar pessoas que ainda defendem que o rock está morto. O ditado conservador de que “todo o tempo passado foi melhor” é frequentemente repetido nos comentários das redes sociais e nas críticas musicais. Isso mesmo: em qualquer lugar, menos num show ao vivo. Em 2023, as perspectivas escureceram para os detratores do rock, mas os fiéis frequentadores dos espectáculos – sejam eles underground ou de massa – foram capazes de reforçar o que estava a acontecer na cena argentina e refutar as vozes que apontavam para a hegemonia do trap. Nos últimos anos, as guitarras retomaram o controle com bandas que souberam ramificar as diferentes encarnações do rock para garantir a sua validade, o seu fortalecimento e a sua total renovação. O 20º aniversário de El Mató a un Policía Motorizado não só trouxe consigo um álbum fresco e desafiante intitulado “Súper Terror”, mas também a consolidação da banda tanto no país como no estrangeiro. O grupo que começou a tocar em casas e bares de La Plata, hoje encabeça festivais como Cosquín, Primavera Sound e Corona Capital, e até enche o Geba e o Luna Park. Mas 2023 também foi um ano exemplar para uma nova safra de artistas como Barbi Recanati, Usted Señalemelo e Fonso, que deram uma aula magistral com seus respectivos álbuns. Por outro lado, continuamos a surpreender-nos com o alcance da chamada cena postpunkdemia, liderada por bandas que sacudiram o cenário, como Winona Riders, Nenagenix, Dum Chica, Sakatumba, El Club Audiovisual e – que encabeça o nosso pódio – Mujer Cebra. Em tempos difíceis como estes, encobrir o rugido do leão com ondas de distorção é um remédio para o coração. – Juampa Barbero de Indie Hoy

Top 10 ARGENTINA
Mujer Cebra – “Clase B” (SPOTIFY)
Fonso – “Día del trabajador” (SPOTIFY)
Nenagenix – “Lo más cercano a caer” (SPOTIFY)
El Mató a un Policía Motorizado – “Súper terror” (SPOTIFY)
Faraonika – “Farsanta” (SPOTIFY)
La Piba Berreta – “Un Dios nuevo” (SPOTIFY)
Winona Riders – “El sonido del éxtasis” (SPOTIFY)
Barbi Recanati – “El final de las cosas” (SPOTIFY)
Dum Chica – “Dum” (SPOTIFY)
WRRN – “¿Qué se siente estar mejor?” (SPOTIFY)


BRASIL

2023 começou em suspense para os brasileiros: após quatro anos de pesadelo político, conseguimos retomar a democracia, que chegou a ser ameaçada de golpe nos primeiros dias de janeiro, mas sobreviveu para triunfar nos meses seguintes. E isso influenciou decididamente vários setores sociais da vida do nosso povo, inclusive o cultural: após um período tenebroso, as redes sociais voltaram a debater bobagens e fofocas e artistas pop, e ainda que o “novo mainstream pop” brasileiro atual (Jão, Luísa Sonza, Marina Sena e outros) tenha gerado mais engajamento do que discos realmente bons, a produção musical pariu diversas álbuns grandiosos para todos os gostos, do pop setentista dançante e afetuoso de Ana Frango Elétrico e FBC ao pop do novo século, cerebral e genial, de Luiza Lian e Letrux, do samba torto revisto e recriado de Marcelo D2 e Jards Macalé ao rock de guitarras ora barulhentas, ora calmas de terraplana, Pato Fu, Mateus Fazeno Rock e Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo numa lista que poderia se estender, facilmente, para 50 álbuns. A música brasileira vai muito bem, obrigado. Feliz ano velho! – Marcelo Costa de Scream & Yell

Top 10 BRASIL
Ana Frango Elétrico – “Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua” (SPOTIFY)
Luiza Lian – “7 Estrelas / Quem Arrancou o Céu?” (SPOTIFY)
Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo – “Música do Esquecimento” (SPOTIFY)
Mateus Fazeno Rock – “Jesus Ñ Voltará” (SPOTIFY)
Jards Macalé – “Coração Bifurcado” (SPOTIFY)
Marcelo D2 – “Iboru” (SPOTIFY)
terraplana – “Olhar para Trás” (SPOTIFY)
Pato Fu – “30” (SPOTIFY)
FBC – “O Amor, O Perdão e a Tecnologia Irão Nos Levar Para Outro Planeta” (SPOTIFY)
Letrux – “Letrux como Mulher Girafa” (SPOTIFY)


CHILE

Despedimo-nos de um ano em que a cultura parece reativar-se lenta e precariamente, após as crises sociais e sanitárias. Talvez no Chile não existam muitos locais para tocar ou leis que zelem pelos direitos dos artistas e do público, no entanto a qualidade dos discos lançados neste pedaço de terra é surpreendente ano após ano. Em 2023, alguns velhos amigos voltaram para nos deliciar com álbuns: maturidade pop sem perder a inquietude de ir mais longe é o que Mon Laferte nos apresentou com “Autopoiética” e Alex Anwandter com “El diablo en el cuerpo”, dois nomes reconhecidos que nos colocaram no mapa e que nunca cessam a sua busca poética, dançável e raivosa. A cena trap e reggaeton continua a construir um império tomando as paradas, a agenda de shows de fim de semana, liderando debates sobre saúde mental, despedindo-se de amigos e internacionalizando nomes. A eminência do trap espanhol, Pablo Chill-E, lançou “El duende verde” com colaborações monumentais com Duki, Aqua VS, King Savagge, Young Cister, Bryartz, Shisosa, ITHAN NY, La Zowi, Tunechikidd, Piero47, Flor de Rap, Polimá Westcoast, Gianluca e o falecido Galee Galee. “Ando” é a canção de 2023, tal como “Ultrasolo” o foi em outros tempos. Jere Klein chegou com a sua pronúncia particular e é a nova elite do gênero, com os seus hits da aguardada estreia “Énfasis”. Quem nos parece ter subido a aposta foi Akriila, que com a mixtape “001” deu novas histórias e cores à cena urbana. Não é à toa que a veremos em vários países da América Latina nos primeiros meses de 2024. O rock está vivo e jovem. Asia Menor foi um das favoritos de 2023 com o primeiro álbum “Enola Gay”, e o emo marcou presença com a estreia de Estoy Bien sob o nome de “Apoyo emocional”. As mulheres, mais uma vez, atiraram-se à experimentação com guitarras, vozes, samples, amigos, natureza, quartos e vários sentimentos que este país deixa. Niña Tormenta questionou o ritmo da vida em “Las cosas lentas”, Chini.png colocou-nos numa mistura eufórica de mitologia e cordas em “El día libre de Polux” e PDA fechou ciclos com dreampop no nostálgico “Pequeño duelo”. – POTQ

Top 10 CHILE
Mon Laferte – “Autopoiética” (SPOTIFY)
Alex Anwandter – “El diablo en el cuerpo” (SPOTIFY)
Niña Tormenta – “Las cosas lento” (SPOTIFY)
Akriila – “001 (mixtape)” (SPOTIFY)
Estoy Bien – “Apoyo emocional” (SPOTIFY)
Chini.png – “El día libre de Polux” (SPOTIFY)
Jere Klein – “Énfasis” (SPOTIFY)
Asia Menor – “Enola Gay” (SPOTIFY)
PDA – “Pequeño duelo” (SPOTIFY)
Pablo Chill-E – “El duende verde” (SPOTIFY)


COLOMBIA

Na Colômbia, é claro, muito do que soou em 2023 foi marcado pelo impacto global de novos nomes no topo do reggaeton, como FEID e Karol G. Também pela maquinaria pop de Morat. Mas o panorama da nossa árvore musical, tal como a vida aqui, é mais emaranhada e colorida. Por isso, a nossa seleção anual de álbuns e canções preferidas inclui nomes independentes que abraçam experiências electrônicas e de sound design como as de Mitú e Brenda; o rap contemplativo dos jovens Oblivion’s Mighty Trash; o pop experiencial de Juliana Velásquez; as memórias indie de Raquel Velasquez; os lamentos crus de La Muchacha e Los Ombligos; o afrofuturismo dançante de Alexis Play, Junior Zamora e Rancho Aparte; ou as variáveis mais visionárias da música camponesa de Velandia y La Tigra e de Gato e’ Monte. Há muitas cenas em movimento e mutação ao mesmo tempo na cena colombiana. – Shock

Top 10 COLOMBIA
Oblivion’s Mighty Trash – “No me acuerdo” (SPOTIFY)
Alexis Play, Junior Zamora – “Afrocolombia” (SPOTIFY)
Gato e’ monte – “El talante de la noche” (SPOTIFY)
Velandia y la tigra – “Proverbios burros” (SPOTIFY)
Rancho Aparte – “Re evolución” (SPOTIFY)
Mitú – “Astra” (SPOTIFY)
Brenda – “Ameba” (SPOTIFY)
Juliana – “Mar adentro” (SPOTIFY)
Raquel – “Paseo en carro a la costa” (SPOTIFY)
La Muchacha y el propio junte – “Los ombligos” (SPOTIFY)


CUBA

Na memória de 2023 fica o que conscientemente decidimos não esquecer, mas também o que nos magoa de alguma forma ou nos traz a alma de volta ao corpo. Num ano de notícias preocupantes que parecem não ter fim, de despedidas anunciadas e surpreendentes, de conflitos internacionais que nos roubam o sono e a esperança num mundo mais humano, felizmente pudemos refugiar-nos na liberdade e na fruição da música. Propusemo-nos reviver alguns dos lançamentos mais relevantes para o panorama musical cubano que, apesar de tudo, continua a ser forte. Tal como no ano passado, escolhemos os dez álbuns cubanos mais relevantes e, mais uma vez, o resultado surpreende-nos agradavelmente: desde os álbuns de estreia de Héctor Téllez Jr. e dos irmãos Aldama, à constante experimentação de Oscar Sánchez, a projetos como o que uniu duas bandas fundamentais da atual música popular bailável como El Niño y La Verdad e Osain del Monte, ou o inesperado grito de Land Whales, este foi um ano em que a riqueza e a vitalidade da música cubana voltaram a ser demonstradas. – Magazine AM:PM

Top 10 CUBA
Real Project – “Mutación” (SPOTIFY)
Havana D’Primera – “Pueblo Griffo” (SPOTIFY)
Omara Portuondo – “Vida” (SPOTIFY)
Harold López-Nussa – “Timba a la Americana” (SPOTIFY)
Oscar Sánchez – “Acqua di Oscaretto” (SPOTIFY)
Aldama Brothers – “Paralelo” (SPOTIFY)
Héctor Tellez Jr. – “The Great Unknown” (SPOTIFY)
La Dame Blanche – “Atómica” (SPOTIFY)
Frank Mitchell – “Páramos” (SPOTIFY)
El Niño y La Verdad, Adonis y Osain del Monte – “Lo que no se acaba” (SPOTIFY)


ESPANHA

O reinado das guitarras está de volta. É possível que nunca se tenham ido embora, mas a verdade é 2023 foi marcado pelo regresso das guitarras ao primeiro plano da cena sonora espanhola. E nós, na Mondo Sonoro, não podíamos estar mais satisfeitos. Cinco dos dez primeiros da nossa lista são, mais do que obviamente, bandas que conjugam o riff na primeira pessoa. Entre eles estão o duo catalão Cala Vento que, com o seu estupendo “Casa linda”, consolidou uma carreira repleta de hinos geracionais tão cortantes quanto diretos. La Paloma, de Madrid, e Arde Bogotá, de Múrcia, também o fazem, de diferentes cantos do ringue, com “Todavía no” e “Cowboys de la A3”, respectivamente. Também não se furtam ao instrumento Medalla, Mujeres e até Carlangas, que fizeram um dos álbuns mais divertidos e variados da temporada. Já na seção tradicional, Valeria Castro, das Ilhas Canárias, deixou-nos sem fôlego com uma das obras mais emocionantes e epidérmicas do ano. O mesmo acontece com La Plazuela, de Granada, e a sua fusão descaradamente punk de flamenco e eletrônica. Dez grandes álbuns que são a prova da boa saúde criativa da música espanhola. – Don Disturbios de Mondo Sonoro

Top 10 ESPANHA
Cala Vento – “Casa linda” (BANDCAMP)
La Paloma – “Todavía no” (SPOTIFY)
Valeria Castro – “Con cariño y con cuidado” (SPOTIFY)
Ralphie Choo – “Supernova” (SPOTIFY)
Arde Bogotá – “Cowboys de la A3” (SPOTIFY)
Carlangas – “Carlangas” (SPOTIFY)
La Plazuela – “Roneo Funk Club” (SPOTIFY)
Medalla – “Duelo” (SPOTIFY)
Mujeres – “Desde flores y entrañas” (SPOTIFY)
Grande Amore – “II” (SPOTIFY)


MÉXICO

2023 foi um ano bastante fugaz para a percepção da equipe editorial mexicana. Muita música nova vinda de todos os estados que compõem o nosso país e, claro, uma grande oferta de eventos musicais nas grandes cidades (CDMX e Monterrey) que confirmam o público consumidor apaixonado que temos. No entanto, foi notável perceber um aumento das atividades nos diferentes palcos e locais de outras cidades que, gradualmente, nos últimos anos, tiveram a intenção de gerar melhores circuitos para talentos independentes. Da mesma forma, artistas nacionais realizaram e geriram mais turnês dentro e fora do México. E apesar de continuarmos a ser um país sem políticas públicas e incentivos ausentes a favor da cultura e da música, sempre fomos um povo muito resiliente – mais ainda na música – e hoje estamos mais coletivos do que nunca. Dito isto, lembramos uma história que exemplifica o que escrevemos: logo após o Otis, o furacão que atingiu a costa de Guerrero em outubro passado, e principalmente o porto da nossa bela Acapulco, vários artistas e meios musicais reuniram-se na cabine da rádio Ibero 90.9 para enviar mensagens de ajuda e informação. Também já passámos por isso com terremotos e pandemias. O futuro e o presente são coletivos. – Indie Rocks!

Top 10 MÉXICO
Lorelle Meets The Obsolete – “Datura” (SPOTIFY)
Vanessa Zamora – “Damaleona” (SPOTIFY)
Descartes a Kant – “After Destruction” (SPOTIFY)
Titán – “Nave nodriza” (SPOTIFY)
Dorotheo – “Nada escrito” (SPOTIFY)
Amor Muere – “A time to love, a time to die” (SPOTIFY)
Valgur – “Armaggedon” (SPOTIFY)
Pahua – “Habita” (SPOTIFY)
Mint Field – “Aprender a ser” (SPOTIFY)
Perritos Genéricos – “Ke dibertido es aser musika” (SPOTIFY)


URUGUAI

Recordaremos 2023 pela sua intensidade (agendas lotadas, espetáculos esgotados, ameaça do Spotify de abandonar o país), mas também pelos marcos alcançados pelos nossos artistas. Tivemos dois jovens ícones a chegar ao seu primeiro Teatro de Verano: Luana e Zeballos. Eles mostraram que com trabalho, profissionalismo e hits é possível realizar sonhos. A coroa de 2023 será deles. Luana foi coroada como a nova rainha uruguaia da canção, enquanto Zeballos (também conhecido como o Jovem Rei), liderou um gênero urbano que estava em grande exposição: seguido por Knak e as suas colaborações (o EP “Ubi al Privado” merece uma menção especial), e também com Mili Milanss, com quem acaba de lançar outro álbum. E houve também Mesita, tornando-se o solista uruguaio mais ouvido no Spotify, com as faixas “Dale Mecha” e “Una Foto” (que acaba de ganhar remixes com Emilia, Nicki Nicole e Tiago PZK). 2023 foi também o ano em que o rock underground começou a vibrar novamente, a ponto de sair com uma força avassaladora que, sem dúvida, continuará a crescer nos próximos anos. Deste movimento incipiente destacam-se desta vez dois artistas: Flor Sakeo e Neamwave, as estreias do ano. Isto prova que temos de voltar a pôr os nossos olhos, ouvidos e corpos ao serviço da distorção. – Piiila

Top 10 URUGUAI
Zeballos – “Warp 5” (SPOTIFY)
Dani Umpi – “Guazatumba” (SPOTIFY)
Flor Sakeo – “Alba” (SPOTIFY)
Ino Guridi – “Pasará” (SPOTIFY)
Patricia Turnes – “El disco de las plantas” (SPOTIFY)
Juan Wauters – “Wandering Rebel” (SPOTIFY)
Knak – “Organiko” (SPOTIFY)
Sofía Alvez – “Febrero” (SPOTIFY)
Neamwave – “Mental” (SPOTIFY)
Mandrake y los Druidas – “La Suite de Raymundo” (SPOTIFY)

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