Entrevista: Los Mentas

por Leonardo Vinhas

Los Mentas são uma banda de rock, ponto. A apresentação poderia parar aqui, para ser sucinta como o som desse quarteto da Venezuela. Mas é possível ser mais específico: trata-se daquele rock simples, direto, com coração da década de 1950 e influência ramônica (tanto que têm uma canção chamada “Jhonny Ramone” – sim, com a grafia errada). Uma banda no mais puro espírito “um, dois, três, quatro… festa!”.

Juan Olmedillo (voz e guitarra), Héctor “El Lucas” Paredes (baixo) e Richard “El Chicha” Blanco (bateria) começaram a tocar juntos em 1998. Poucos meses depois, ganharam o reforço do guitarrista Carlos Aray e, com essa formação, atravessaram os últimos 15 anos misturando rockabilly, rock de garagem, swing e folclore, sempre filtrados pela ótica do punk mais básico.

Essa mistura já rendeu cinco álbuns de estúdio, uma coletânea e um disco ao vivo, além de turnês por todo seu país natal e também pelo exterior, já tendo passagens por Argentina, México e Colômbia. E Brasil também, onde estiveram em 2011 para tocar no festival El Mapa de Todos em Porto Alegre, evento ao qual retornarão agora em 2013, no dia 28 de novembro novamente na capital gaúcha, no embalo da divulgação de “Arriba Carajo!”, disponível para download grátis no site da banda (baixe aqui).

Muitas vezes você lê “fulano estava se preparando para turnê X” e a frase é mais um recurso textual do jornalista que um fato. Mas Juan Olmedillo mostra, nessa entrevista exclusiva ao Scream & Yell, que Los Mentas tomam essa frase de forma literal: ele e seus companheiros estavam não só ensaiando um repertório diferente para o show daqui como estavam se dedicando a conhecer as bandas que vão subir ao palco com eles no festival. Pode não faltar humor (um humor moleque, quase inocente) às letras e aos vídeos da banda, mas decididamente eles levam a música (e o público) bem a sério.

Não tenho a menor ideia do seja ter uma banda de rock que segue tocando rock’n roll por 15 anos na Venezuela, de modo que peço que me explique: como é a cena roqueira por aí?
Hahaha, um jeito muito bom de perguntar! A Venezuela tem uma longa trajetória de rock. Talvez em nível regional não se sinta tanto como no Brasil, México ou na Argentina, mas nossa cena tem sido constante e em crescimento, principalmente interno. Por ser um país caribenho sempre tivemos competidores muito pesados no dial das rádios, como os gêneros dançantes, o pop latino e o folclore, mas como tempo vimos nos assentando e nos fortalecendo. Hoje em dia contamos com um circuito em crescimento no qual se pode percorrer todo o país tocando em bares, fóruns e festivais. Foi tudo conquistado no braço e sem um músculo econômico, o que torna a coisa autêntica e forte. Por termos 15 anos tocando, somos parte deste processo de crescimento e tanto as bandas laureadas como o público nos veem com respeito.

Então já é possível viver apenas de música por aí?
Quando começamos era impossível. Muitas bandas se rendiam diante do mercado e acabavam se dedicando à balada romântica e ao pop simples, mas hoje em dia já existem bandas vivendo de música graças aos seus shows e patrocínios, tanto da indústria como do governo. Nós quatro somos profissionais com carreiras paralelas à música, mas Los Mentas paga muitas das minhas contas.

Esta não é a primeira vez de Los Mentas no Brasil. Como foi a visita em 2011?
Estão nos convidando de novo, o que quer dizer que nos saímos bem, hehehe! Gostamos muito. É um festival feito para a apreciação autêntica da música e do rock. O que mais gostamos é que a escalação não é a mais óbvia e sim a mais especializada. Muito diferente aos outros festivais nos quais tocamos.

Nessa edição vocês serão uma das principais atrações do dia de encerramento – os penúltimos no lineup (com os gaúchos do Ultramen de headliners). Quais são as expectativas? Já conhecem alguma das bandas que vão dividir o palco com vocês?
Sabemos que no festival estão bandas como o La Vela Puerca, de quem conhecemos a trajetória, e temos visto algumas bandas que estarão no mesmo dia que nós por conta própria, mas não conhecemos o histórico delas. Gostamos de nos surpreender, como aconteceu na visita passada com Macaco Bong e El Mató un Policía Motorizado, que nos deixaram impressionados.

O set list vai ser parecido com o do álbum ao vivo “Arriba Carajo!” ou vamos ter alguma surpresa em Porto Alegre?
“Arriba Carajo!” é um resumo de nossos cinco discos. Muita gente conhece a história da banda aqui na Venezuela, mas sabemos que é um repertório muito local. Vamos com um repertório mais festeiro e “pra cima” para colocar o público para brincar e fazer algo mais alegre, hehehe.

Vocês começaram com a Universal Music, depois gravaram por selos menores e agora têm seu próprio selo. Como é passar de uma grande gravadora para a autogestão? Foi uma mudança por escolha ou obrigada pelas circunstâncias?
Quando começamos, as gravadoras ainda tinham estrutura para distribuir seus discos e tocar no rádio. Era uma boa opção nessa época em que a internet era algo novo. Com o tempo, as gravadoras foram fechando ou reduzindo sua capacidade, e a Universal deixou de ser conveniente. Nos custou muito assumir o controle de nossa própria promoção e distribuição, mas com o tempo entendemos que era o melhor e hoje em dia adoramos estar no comando. Definitivamente a independência permite ir mais longe sempre e quando se está disposto a se esforçar.

De todos seus discos, apenas “Arriba Carajo!” está disponível para download gratuito. Por que só ele?
Na verdade, “Arriba Carajo!” não é um disco físico. É um agradecimento a quem nos acompanha nestes 15 anos. Não nos parecia honesto cobrar por ele. É um disco ao vivo gravado em quatro cidades venezuelanas e a ideia é que as pessoas se identifiquem nesses shows. Estamos planejando lançá-lo mais para frente, mas a edição física é cada vez menos solicitada em nosso país. Vendemos mais camisetas de Los Mentas que discos, hahahaha!

Me parece que o bom humor é algo essencial para Los Mentas. As letras, os vídeos, tudo tem esse ar de piada. Levar-se a sério é algo que as bandas não deveriam fazer?
No nosso caso, sim… De fato, acreditamos que chegamos aos 15 anos justamente por não nos levarmos muito a sério. Mas isso não quer dizer que não levemos a sério os ensaios, discos, arte etc. É parte do espírito niilista do punk rock.

Por falar nisso, qual é a do travestismo em tantos vídeos? De onde vem tanta vontade de vestir roupas femininas? (risos)
Principalmente o Lucas, hahahaha. Gostamos do humor fácil. Sabemos que ver um homem vestido de mulher causa risos.

A sonoridade de Los Mentas tem uma coisa de adolescência eterna… mas o que acontece quando chegarem à idade adulta? Ou não vão chegar? (risos)
Pois quem sabe? Talvez tudo chegue ao fim no dia em que deixe de ser divertido! Tomara que nunca aconteça, mas não estamos a salvo de nos tornarmos adultos, hahahaha. Enquanto dure [essa adolescência], vamos aproveitá-la!

Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yel

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