Scream & Yell recomenda: Varanda lança o álbum “Beirada” sonhando levar seu som para todos os cantos do país

entrevista de Bruno Lisboa

Formada por Mario Lorenzi (guitarra), Amélia do Carmo (voz), Augusto Vargas (baixo e voz) e Bernardo Merhy (bateria) em Juiz de Fora, Minas Gerais, o quarteto Varanda vem desde 2021 experimentando sonoridades ligadas a MPB, ao pop oitentista e ao indie rock, mescla que pode ser ouvida em “Beirada” (2024), primeiro disco cheio do grupo, lançado em agosto.

Com produção cuidadosa de Paulo Emmery, que dividiu as gravações entre o estúdio local LaDoBê (Juiz de Fora) e o Pulo Home Recs (Rio de Janeiro), “Beirada” traz o single “Vida Pacata” (que ganhou vídeo – assista logo abaixo) e mais 10 canções autorais inéditas, duas delas com participações especiais: Dinho Almeida (Boogarins) e Manu Julian surgem como convidados, respectivamente, nas faixas “Desce Já” e “Cê Mexe Comigo”.

Na conversa abaixo, a banda fala sobre o processo de construção de “Beirada” (“Ele solidifica tudo que construímos até aqui”, opina Bernardo), as participações especiais, a influência da cidade de Juiz de Fora e da mineiridade (“Juiz de Fora é um celeiro de gente talentosa então é inegável que isso impacta na banda”), planos futuros e um desejo: tocar pelo Brasil. Com vocês, Varanda!

O que representa o álbum “Beirada” para vocês?
Bernardo: O “Beirada” é, ao mesmo tempo, ponto de ancoragem e de partida da Varanda. Ele solidifica tudo que construímos até aqui, através dos singles e EPs, enquanto também aponta uma direção pro futuro da banda. Gosto de dizer que é como se a Varanda estivesse fincando sua bandeira na lua, oficializando de vez sua existência, marcando seu território.

Amélia: É legal a nossa relação com o nome também, a gente fala dessa pequena parte de um todo, dessa margem, mas também desse primeiro trabalho de uma banda que surge, de início, fora do eixo das capitais, essa coisa de comer pelas beiradas, de ir chegando lá aos poucos.

Como foi a experiência de trabalhar com o produtor Paulo Emmery?
Mario: Foi uma experiência intensa, ficamos morando juntos no estúdio por 10 dias e isso fez com que a nossa relação se expandisse para além da relação profissional entre banda e produtor, acho que esse contato mais direto foi bom pra chegar no resultado que chegamos com o disco, rolou uma troca de referências maneira nesses dias juntos. O Paulo entendeu nosso som e topou levar ele pra um lugar que achava ser ideal. Algumas músicas mudaram drasticamente, outras ele mexeu em alguns detalhes mínimos, no geral ele contribuiu com as referências e experiências musicais que ele tem e sentiu que poderia crescer o nosso som.

O álbum mistura indie rock com influências da música brasileira e do pop oitentista. Como chegaram a essa combinação sonora?
Bernardo: Nós quatro trazemos referências muito distintas individualmente e nosso processo de criação/construção coletiva acaba valorizando ainda mais isso. A gente aprendeu a misturar as ideias que cada um traz consigo pra criar algo que é único, o que nos permite passear por vários gêneros sem perder a identidade da banda. Acaba que, no fim do dia, a banda tem suas referências, claro, mas o resultado é muito mais uma soma do que vem de cada integrante do que um busca por uma estética específica.

Arte capa do disco “Beirada”, por Amélia do Carmo

Uma audição atenta ao disco revela o processo cuidadoso da criação das canções que conciliam belas melodias e camadas sonoras ruidosas. Como foi o processo de composição e gravação do disco?
Bernardo: A gente tem um costume de fazer um processo que chamamos de “emerson” (imersão), onde nos reunimos no estúdio por alguns dias e trabalhamos em cima das composições do Augusto e da Amélia. O resultado desse processo são demos que servem de ponto de partida para entendermos melhor o rumo que cada canção está tomando. No caso do “Beirada”, tivemos a colaboração do Paulo nesse segundo momento, propondo mudanças e acrescentando ideias que ajudaram a formar o som que vocês ouvem no disco.

Liricamente, vocês trazem diferentes abordagens sobre o cotidiano. Como se dá à dinâmica de composição nesse quesito?
Augusto: Acredito que essa dinâmica de composição se dá pela união da minha forma de escrever com a forma da Amélia, que sempre dá bem certo. Nos dois temos algumas formas diferentes de escrita, visões e expressões, aí a mistura disso nas nossas composições se casam bem no conjunto da obra e tornam o todo, a partir dessas abordagens diferentes, uma paisagem bonita com essas várias nuances.

Amélia: É sempre bom colaborar com o Augusto nesse quesito de composição, porque a música já chega linda, a gente admira muito. Não fico com medo de sugerir alterações ou adições de elementos porque ele sempre está aberto pra discussão e acaba que nossa visão passa por caminhos distintos, mas sempre volta pra uma mesma linha de chegada.

Desde que surgiram, vocês vêm conquistando uma base de ouvintes bastante fiel e suas apresentações têm rendido elogios por parte da crítica. Como descrevem o relacionamento com o público, especialmente com aqueles que os acompanham desde o início?
Bernardo: É difícil fazer uma análise sobre algo tão subjetivo, mas acredito que a chave disso é que a gente segue sendo a gente, seja no palco, seja conversando com o pessoal antes e depois dos shows, nas redes sociais, e até em servidor de Minecraft. A gente brinca no palco como brincamos no cotidiano, nossas redes sociais são feitas por nós mesmos, da maneira mais espontânea possível… Isso aproxima as pessoas. Tudo isso sem falar das canções né, que são a porta de entrada. Acredito que a gente tenha achado uma maneira de se comunicar, através de letra e música, que chega nas pessoas com muita força e acaba criando essa conexão.

Beirada vocês contam com a colaboração de artistas como a Manu Julian e Dinho Almeida (Boogarins). Como se deu a aproximação de vocês e de que forma a presença deles contribuiu para a construção das respectivas faixas?
Mario: Eu e a Manu namoramos, então foi um contato mais fácil. Chamamos pra participar de uma música e ela topou na hora, pensamos dela participar em “Cê Mexe Comigo” ou em “Topo dos Prédios”, acabou que a voz dela encaixou bem demais na primeira fazendo o dueto com a Amélia. A Manu adicionou algumas métricas e melodias diferentes no refrão da música que funcionaram super bem e que são a cara dela, adoramos o resultado. Chamar o Dinho pra participar de “Desce Já” é uma ideia meio que antiga nossa. Quando a Amélia trouxe essa música pra banda e nós a tocamos pela primeira vez, sentimos que tinha tudo a ver com o Boogarins e com o Dinho, os acordes que usamos e tudo mais. Quando decidimos que a música ia entrar no disco comentamos sobre esse desejo e a Stephanie foi atrás de fazer esse contato. Trocamos uma ideia com ele junto do Paulo sobre a música, tiramos uma intro longa, adicionamos a parte que ele canta no final, adicionamos também algumas guitarras dele e o resultado é esse que está no disco.

Vocês falam no release para imprensa sobre a Varanda estar no “meio do caminho”, em contato tanto com bandas que estão começando quanto com artistas mais experientes. Como essa troca com diferentes grupos fortalece a banda e inspira o trabalho de vocês?
Bernardo: É aqui que a chave começa a virar, você percebe que a coisa está tomando uma proporção maior, ao mesmo tempo que você ainda vive a sua vida pacata. É aqui que o cabeça fraca periga se perder, mas, por sorte, a gente não corre esse risco. É gratificante poder estar num mesmo contexto com gente que você já admira há muito tempo, ouvindo histórias sobre coisas que pareciam muito distantes e agora já nem tanto… Enquanto isso, com quem está começando o corre agora também tem muita coisa pra aprender, justamente porque a caminhada não é linear. Além de te ajudar a se reconectar com aquele brilho no olho, quase ingênuo, que você acaba perdendo à medida que vai tomando porrada no caminho.

Varanda / Foto de Yan Gabriel

Acreditam que a cena musical em Juiz de Fora tem algo específico que impacta na sonoridade ou na identidade de vocês?
Bernardo: Juiz de Fora é um celeiro de gente talentosa então é inegável que isso impacta na banda. Talvez não dê pra traçar exatamente como é esse impacto, mas estar nesse meio e conviver com essas pessoas inevitavelmente afeta a nossa formação como músicos e indivíduos. Além da mineiridade, que é muito presente na cena de Juiz de Fora, e eu acredito ser algo bastante forte no DNA da Varanda.

Após o lançamento do “Beirada”, quais são os próximos passos? Já têm em mente algo sobre novos projetos, turnês ou colaborações futuras?
Bernardo: A gente sempre tem muitos planos, mas, enquanto banda independente, nem sempre dá pra realizar tudo, então ainda estamos definindo as prioridades. O que dá pra dizer por hora é que queremos levar nosso show pro máximo de cidades possível, romper a bolha do sudeste e das capitais, até por acreditar que os shows são um ponto forte da banda e são cruciais pra levar a nossa música a mais pessoas. Pra além disso, estamos sempre querendo fazer música nova, é um esporte pra gente, e claro que tem uma lista grande de pessoas com quem gostaríamos de trabalhar, mas tudo tem seu tempo. O “Beirada” ainda rende muito caldo e sempre existe alguma rebarba.

Qual o maior desejo de vocês em relação ao futuro da banda?
Bernardo: O meu, particularmente, seria ganhar um VMB, mas não existe mais… Falando sério, acredito que o desejo é que a banda siga crescendo, chegando a mais pessoas, e que a gente pode continuar fazendo o nosso trabalho da maneira que a gente ama. O resto acaba sendo consequência.

Mário: Que a banda renda um cascalho.

Augusto: Que nosso som chegue cada vez mais longe. Que a gente possa levar nossos shows pra novos lugares. E que a gente toque em algum festival.

Amélia: Expandir essa conexão legal que a gente sente pro máximo de lugares e situações. Ir tocar no Nordeste seria foda. Coquetel Molotov chama nóis.

–  Bruno Lisboa  escreve no Scream & Yell desde 2014. Escreve também no www.phono.com.br

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