Duo inglês HONNE anuncia novo disco e avisa: “queremos ir ao Brasil”

entrevista por Alexandre Lopes

“Crescer é ótimo, mas também dói um pouco”. É assim que o vocalista e produtor Andy Clutterbuck define o conceito por trás de “OUCH” (2024), a onomatopeia que serve de título para o quarto álbum do duo inglês HONNE. “Acertou em cheio!”, corrobora a outra parte da dupla, o musicista e também produtor James Hatcher.

Ausente dos holofotes desde o fim das turnês de seu álbum mais recente – a bela gema pop “Let’s Just Say the World Ended a Week from Now, What Would You Do?”, de 2021 – a dupla resolveu dar um tempo para cuidar de suas vidas pessoais: Hatcher casou com sua namorada de longa data e Clutterbuck se tornou pai de dois filhos. Em meio a essas mudanças particulares, o HONNE descobriu a inspiração para seus próximos passos: “Nos últimos dois anos tive alguns dos melhores e mais amorosos momentos de toda a minha vida, mas provavelmente também tive algumas das coisas mais difíceis pelas quais já passei”, comenta o vocalista. “Então acho que o álbum é sobre os últimos anos, mas vai além disso e também aponta um pouco para o futuro”.

Capa de “Ouch’, o novo disco do HONNE

Formado em 2014 em Bow, subúrbio de Londres, por dois amigos universitários que começaram a compor juntos usando como alcunha uma palavra japonesa que significa “sentimentos verdadeiros”, o grupo passou por diversas experiências musicais durante a carreira, atraindo por parte dos críticos rótulos como synthpop, R&B, dance-pop e sophisti-pop para tentar definir seu som. A dupla chegou até mesmo a ser descrita como “soul futurista destinado a reinventar a música para bebês”(!) pelo jornal inglês Telegraph, mas Hatcher e Clutterbuck preferem apenas art-pop.

O duo acumulou uma lista de EPs (“Warm on a Cold Night” e “All in the Value” de 2014, “Coastal Love” e “Over Lover” de 2015 e “Gone Are the Days”, de 2016), uma mixtape (“No Song Without You”, de 2020) e os discos cheios “Warm on a Cold Night” (2016), “Love Me/Love Me Not” (2018) e o já citado “Let’s Just Say the World Ended…”, além de várias colaborações com artistas como BTS, Tom Misch, Griff, SG Lewis, Niki e Khalid.

Agora eles voltam com material novo! Para “OUCH“, desta vez o HONNE resolveu voltar às origens e trabalhar sozinhos, contando com apenas uma participação especial – que continua um mistério, visto que o duo resolveu ainda não revelar o convidado. Mas “OUCH” ao menos entrega algumas pistas de sua sonoridade diversa por seus quatro singles já lançados: “Imaginary”, “Songs in my Head”, “Girl In The Orchestra” e “Backseat Driver”.

“Imaginary” apresenta um arranjo minimalista e singelo de cordas e synth com um ritmo quase metronômico. Assistindo o clipe, é difícil não lembrar do filme “Frank” de 2014, por conta da máscara de papel machê bem semelhante à que Michael Fassbender usou para interpretar um dos personagens. “Songs In My Head” segue um clima intimista romântico, com um vídeo filmado na fazenda dos pais de Clutterbuck em Somerset.

Já o início de “Girl In The Orchestra” traz harmonias vocais que lembram os momentos mais etéreos do Beach Boys. O bonito clipe conta com as ilustrações da artista Jenny Jokela e foi montado à moda antiga, com as imagens pintadas à mão e cada quadro digitalizado em seguida para montar a animação.

“Backseat Driver” traz uma delicada canção acústica falando sobre a introspecção de Andy Clutterbuck. “Esta música foi escrita sobre minha jornada para aceitar ser introvertido”, comentou o músico, em uma postagem no canal oficial da banda no YouTube. “Por muito tempo eu senti quase vergonha disso, como se fosse errado ser assim de alguma forma, principalmente para alguém que é um dos líderes de uma banda. Desde então, mudei minha visão sobre ser introvertido e é algo que adoro em mim. Então, para todos vocês, introvertidos, saibam que vocês são ótimos do jeito que são”.

Em um encontro rápido via Zoom, o HONNE conversou um pouco com o Scream & Yell para dar mais detalhes sobre “OUCH” e contou que quer – E MUITO – vir ao Brasil em breve. Segue o papo abaixo.

Já faz um tempo desde seu último lançamento (“Let’s Just Say the World Ended a Week from Now, What Would You Do”, de 2021). O que vocês têm feito? Eu sei que Andy virou pai, teve dois filhos, mas vocês poderiam explicar o que aconteceu com vocês nesse meio tempo, por favor?
Andy: Sim, estivemos muito ocupados. Como você já sabe, eu me tornei pai. Não vou falar pelo James, mas tivemos grandes acontecimentos assim…

James: Sim, eu me casei e nos mudamos para um novo estúdio. Naquela época basicamente lançamos o último álbum e então fizemos uma grande turnê… Infelizmente ainda não passamos pelo Brasil, mas precisamos fazer isso acontecer o mais rápido possível! Mas sim, fizemos muitas turnês e então começamos a escrever músicas e depois tivemos filhos… Eu não tive filhos (risos), mas eles são basicamente meus filhos também (risos), nos casamos e estávamos apenas escrevendo o máximo de canções que podíamos entre todas essas coisas. E então, é claro, depois de terminar isso tudo, você tem que mixar e fazer videoclipes e descobrir como vai lançar [o disco] e todas essas coisas, então é um processo longo. Mas chegamos ao final disso e agora mal podemos esperar para que o álbum saia no dia 6 de setembro. Ele se chama “OUCH”.

Por que “OUCH”? É uma escolha bem diferente em relação ao álbum anterior, que trazia um nome longo…
James: “OUCH” é o antídoto para o título do álbum anterior (risos).

Andy: Sim, provavelmente pensamos “qual seria o nome mais curto e mais rápido?”. Mas é como eu disse: ser pai tem sido maravilhoso de muitas maneiras, mas também trouxe consigo muitos desafios. Nos últimos dois anos tive alguns dos melhores e mais amorosos momentos de toda a minha vida, mas provavelmente também tive algumas das coisas mais difíceis pelas quais já passei. Então acho que, no geral, o álbum é sobre os últimos anos, mas vai além disso e também aponta um pouco para o futuro. Acho que o resumo geral do título seria “crescer é ótimo, mas também dói um pouco” e é por isso que ele se chama “OUCH”.

James: Acertou em cheio (risos)!

Em entrevistas anteriores vocês diziam que todos os seus álbuns são sobre amor e positividade. Você diria que “OUCH” é a extensão disso, mesmo com este título?
Andy: Sim, embora se chame “OUCH” e tenha algumas músicas mais ‘duras’ neste álbum, eu diria que sim. Provavelmente é o álbum mais parecido com algo pessoal que escrevemos até hoje, em termos de letras. Mas ainda é um álbum do HONNE; seria errado não ser positivo, edificante e divertido e todas essas coisas que são características da nossa música. Então sim, ainda se encaixa muito nesse perfil. Não deixamos isso para trás.

Eu sei que vocês, como produtores e compositores, gostam de buscar algo diferente para cada álbum, mas como vocês diriam que esse disco se difere dos outros?
James: Eu diria que este é provavelmente o álbum mais variado que já lançamos. Temos uma música chamada “Backseat Driver” e essa é a nossa primeira faixa totalmente acústica; não há bateria, apenas violão e vocais. Nós lançamos versões acústicas de nossas músicas antes, mas nunca uma faixa completamente acústica desde o início. Então temos de tudo neste álbum. Desde músicas com mais sabor de hip hop, com beats, até Andy tocando um acordeão ou algo assim (risos). Então é muito variado, mas de alguma forma parece coeso. Foi muito divertido. E também para fazer o oposto do álbum anterior, tivemos apenas uma única participação. Talvez não possamos dizer de quem se trata, podemos ?

Andy: Não sei, podemos?

James: Acho que a tracklist do disco já foi divulgada, não é?

Andy: sim, foi.

A tracklist já saiu, mas não o nome do novo colaborador…
James: Ah, ok! Então vamos manter assim! Tem uma música chamada “Say That You Will Wait For Me” com uma participação, mas fora essa, todos os instrumentos, as composições, a gravação, produção, foi tudo feito apenas por Andy e eu. E isso já é uma grande diferença em relação ao último álbum, que foi uma espécie de “extravagância de participações”. Então é bem diferente nesse aspecto, e acho que é uma audição interessante. Estou ansioso para o lançamento e para saber o que as pessoas vão achar.

Falando sobre essa questão de focar mais em vocês dois, assisti a uma sessão acústica no YouTube e as músicas ficam muito boas neste formato mais minimalista. Vocês realmente pensaram “vamos fazer sozinhos desta vez” para este disco?
Andy: Sim, acho que foi uma escolha deliberada. Não nos levem a mal; gostamos de trabalhar com outras pessoas e é como aprendemos e melhoramos, fazendo coisas diferentes, mas, sim, depois de “What Would You Do…”, sentimos que era hora de voltarmos ao início do HONNE. E também faz 10 anos de quando começamos a trabalhar no primeiro EP: éramos um grupo independente, não tínhamos uma grande gravadora e estávamos fazendo tudo sozinhos e era tudo muito na base do ‘faça você mesmo’. E agora, 10 anos depois, nos tornamos artistas independentes novamente e parece que voltamos ao início de tudo. E no primeiro álbum que lançamos [“Warm on a Cold Night”], era tudo feito por mim e James, exceto uma única música com Izzy Bizu [a faixa “Someone That Loves You”]. Esta foi a única participação naquele álbum, certo?

James: Acho que sim!

Andy: Então sim, parece estranho que realmente fechamos o círculo e meio que voltamos ao início. E é isso, mal posso esperar para recomeçar.

Aquela mixtape que vocês lançaram, “No Song Without You”, tinha uma sonoridade mais “acústica e psicodélica” de acordo com vocês. E agora com essa música acústica, vocês diriam que ela é inspirada em “No Song Without You”? Seria um novo caminho inspirado em algo que já fizeram antes mas que ainda não tinha sido totalmente explorado?
James: Acho que aquela mixtape nos levou a um novo caminho para experimentar mais instrumentos acústicos. Naquela época, nós realmente queríamos seguir esse caminho e adoramos. Acho que meio que abriu a porta para usarmos mais instrumentação acústica e este novo álbum continuou nesse sentido, com pianos reais e muitos instrumentos de verdade e metais e violões, coisas assim. Não foi uma escolha intencional pensar ‘ah, vamos fazer assim’, porque é bem diferente. “No Song Without You” foi uma obra mais relaxada, gentil e doce, e essa nova música é um pouco mais acústica, mas séria. Mas acho que não há problema em dizer que sim, certamente nos abriu a porta para seguir um pouco mais nessa direção.

Estou ansioso para ouvir isso. Quais são seus próximos planos além de lançar o quarto álbum? Vocês vão entrar em turnê, tem planos de vir ao Brasil?
Andy: Sim, vamos sair em turnê assim que o álbum for lançado. Temos alguns festivais planejados e temos um plano de turnê pela América do Norte que também inclui o México, mas realmente devemos nos desculpar porque nunca estivemos no Brasil e não sei o que aconteceu porque realmente queremos ir (risos), mas nunca dá certo! Mas adoraríamos ir ao Brasil. Por favor, você pode nos ajudar? Como podemos fazer isso acontecer? (risos)

Talvez com a entrevista sendo publicada, devemos conseguir alguma coisa! (risos)
Andy: Perfeito! É isso que queremos! (risos)

James: Nós realmente queremos tocar por aí, então vamos fazer acontecer!

– Alexandre Lopes (@ociocretino) é jornalista e assina o www.ociocretino.blogspot.com.br



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