Tulipa, o Próximo Passo e o Jardim

texto por Bruno Capelas
fotos por
José de Holanda

Uma definição peculiar a respeito de um bom show, embora dificilmente incorreta, diria que “trata-se de um show bom aquele que se sai com dor nas mãos de tanto bater palmas”. Alguém que fosse à apresentação de Tulipa Ruiz no último dia 5, no Sesc Ipiranga, poderia muito bem se contentar com tal idéia – era simplesmente muito difícil resistir ao charme e à competência da cantora paulistana e não aplaudi-la.

Consagrada em 2010 por seu disco de estreia, “Efêmera”, Tulipa dominou a platéia em um show curto, mas muito eficiente. Com sua candura particular, ela não só cantou as bonitas canções de seu álbum, mas também destilou sorrisos para o público com gestos, coreografias, tiradas e histórias contadas durante o show. A sensação de ouvi-la cantando (e conversando) é a de que se trata de uma velha amiga a narrar histórias sobre atrasos para o cinema (“Pontual”), amigos de sexualidade dúbia (“Pedrinho”) e amadurecimento feminino (“Da menina”) numa conversa sem fim.

Entretanto, é no ponto mais alto do show que Tulipa mostra que pode ir um pouco além: ao cantar “Às Vezes”, balada composta por seu pai, mas com um gosto do melhor repertório de Rita Lee no final dos anos 70, a cantora leva a plateia a cantar a sinuosa letra inteira junto com ela, provocando lágrimas em muitos dos presentes. Na seqüência, ao cantar “Da Maior Importância”, clássico de Caetano Veloso, a paulistana, muito bem escorada por sua banda, deixou claro para quem estava ali que também é uma grande intérprete, levando uma canção a lugares onde não esteve antes. (E, diga-se de passagem: foi difícil conservar-se sentado ao balanço acachapante da música).

Talvez boa parte da grandeza deste show deva-se realmente ao fato do entrosamento entre público e artista: a própria Tulipa comentou, no decorrer do show, como era bom fazer uma apresentação depois que seu disco havia “andado por aí”. O momento que ela se encontra também é bastante peculiar: com uma ascensão rápida do anonimato para as listas de melhores do ano, a cantora vive uma fase de lua-de-mel com sua obra. E é talvez nessa zona de conforto que resida o problema que ela terá de enfrentar daqui para frente.

Sim, você já ouviu essa história antes: trata-se do velho clichê que fala sobre “o conflito do segundo disco”. Há uma pressão natural de que exista uma evolução do primeiro disco para o segundo – mas o que fazer quando se já inicia bem? Manter o estilo pode soar repetitivo e “seguro”, e ousar, mudar, “evoluir”, pode ser pretensioso e perigoso demais. E isso se complica ainda mais quando é o caso de Tulipa, cuja obra se mostra mais madura em relação à sua visão de mundo – ela definitivamente não é uma adolescente deslumbrada.

Entretanto, essa própria maturidade, perceptível em suas letras e na maneira como os arranjos de suas canções são trabalhados, é um fator que pode a ajudar. Outro bom indício que as coisas podem continuar muito bem no jardim dela é o fato dela se cercar de outros bons nomes que surgiram nos últimos anos, como é o caso dos cantores Thiago Pethit, Tiê e Marcelo Jeneci e da banda Cérebro Eletrônico, centralizada aqui na figura de Tatá Aeroplano. Tiê, por exemplo, gravará “Só Sei Dançar com Você” em seu próximo disco, a sair ainda no primeiro semestre. A capacidade de se impor como intérprete inovadora é mais uma carta na manga da cantora. E de carta em carta, é possível que ela tenha uma ótima mão para suas próximas jogadas – só resta esperar pra ver quão alto serão suas apostas e torcer para que ela não “saia de salto por aí”, como uma das personagens de suas canções.

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– Bruno Capelas escreve para o blog coletivo Pop To The People e para o blog Cinéfilos
– José de Holanda é fotógrafo. Veja mais fotos: www.flickr.com/photos/josedeholanda

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Leia também:
– Dois olhares sobre Tulipa Ruiz, por Tiago Agostini e Juliana Simon (aqui)
– Tulipa nos Melhores de 2010 do Scream & Yell: disco, música, show (aqui)

2 thoughts on “Tulipa, o Próximo Passo e o Jardim

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