por Marcelo Costa
Oito anos após sua primeira edição no Brasil, o badalado festival espanhol Sónar retorna a São Paulo em um momento em que o mercado de shows no país está agitado, com outros festivais e artistas superlotando o calendário (e esvaziando os bolsos dos apaixonados por música). A área de atuação do Sónar, no entanto, é um pouco mais ampla, clara e definida já no nome: Festival Internacional de Música Avançada e New Media Art. Ou seja: o Sónar não quer falar só de música, mas também de tecnologia, artes visuais e cinema.
Enric Palau (que fundou o festival em Barcelona ao lado de Sergio Caballero e Ricard Robles em 1994), porém, apressa-se em explicar que, longe de ser intelectual, o Sónar está aberto a todas as pessoas. “Há uma vivência e uma experiência em participar do festival que é apresentada de uma forma totalmente aberta a todos”, garante o empresário, que este ano terá o Sónar em Tóquio, dias 21 e 22 de abril, em São Paulo, 11 e 12 de maio, e em Barcelona nos dias 14, 15 e 16 de junho (a Cidade do Cabo, na África do Sul, recebeu o Sónar em março).
Na capital paulista, o festival irá acontecer em uma área fechada do Pavilhão do Anhembi, que terá três palcos com mais de 50 atrações e diversas salas com atividades que englobam cinema e palestras vinculadas a videogames, street technology, design e aplicações para iPhone e iPad. No cardápio musical, a islandesa Bjork, que se apresentou pela última vez no Brasil em 2007, é uma das grandes estrelas ao lado de Cee-Lo Green, Justice, James Blake, Chromeo, Mogwai, Four Tet, Squarepusher, Modeselektor, Alva Noto & Ryuichi Sakamoto.
Do lado brasileiro, Enric Palau destaca três nomes: “Emicida, Criolo (que está dando um passo muito importante dentro do hip hop, mas com personalidade própria) e, no campo visual e eletrônico, a figura de Muti Randolph”, enumera, sem esquecer do encontro inédito entre DJ Marky e DJ Patife e o set elogiado de Gui Borato. “Creio que o Brasil tem alguns projetos que só poderiam ter nascido aqui mesmo. Como essa relação da música eletrônica com a música tradicional, que é o caso da Gang do Eletro”, cita um dos criadores do festival.
Na sexta, 11/05, primeiro dia do festival, o Sónar abrirá às portas às 19h e irá invadir a madrugada. No sábado, 12/05, com uma programação mais extensa, o festival começará às 15h (mas uma pulseira permitirá que o espectador entre e saia do evento no horário que quiser, podendo ir no começo da tarde, sair e retornar durante a noite) e também adentrará a madrugada. Os ingressos estão à venda (aqui) ao preço promocional de R$ 230 por dia (R$ 115 a meia) ou R$ 400 os dois dias (R$ 200 a meia) até o dia 10/05. Depois R$ 250 e R$ 450 respectivamente.
Palau conversou com o Scream & Yell por telefone e contou o que a produção do festival busca para montar o line-up do Sónar, relembrou o que motivou o surgimento do festival no começo da década de 90, e listou alguns shows inesquecíveis que passaram pela edição espanhola do festival, deixando um espaço vago: “Uma parte deste melhor está no futuro, não no passado”, garante o empresário, em uma pequena amostra da visão avançada de um festival que acredita na interativade de emoções com o público – e que o melhor ainda está por vir.
Como surgiu a ideia de fazer um festival de música avançada?
Não existia na Espanha um ponto de encontro para os artistas, a indústria e os amantes de arte e tecnologia. A ideia foi criar esse evento para ser um ponto de encontro deste público e destes profissionais, sempre buscando como objetivo ser internacional. O primeiro, em 1994, foi o sucesso com uma mescla de músicos de Barcelona com alguns nomes europeus. Desde o começo planejamos esse conceito de ser um festival de música avançada, que para nós é a música que avança junto à tecnologia, e também (escolhemos) trabalhar com artistas que levem a história da arte, da música e da estética adiante. Esta é a nossa linha de trabalho, sempre buscando causar uma experiência.
Olhando para trás: quais foram as maiores conquistas do Sónar?
Creio que foi conseguir a credibilidade de um público que veio a descobrir novas experiências, novos talentos no festival. Novos por serem atrações recentes tanto quanto pela aplicação da tecnologia. Conseguir essa confiança, levando em conta que os artistas são diferentes em cada ano, fez com que conseguissemos um público fiel em Barcelona. Esperamos criar essa mesma credibilidade em São Paulo, que nada mais é do que reafirmar a qualidade deste ponto de encontro. Outra conquista foi nos tornarmos capazes de formular propostas de formatos diferentes que permitissem com que o Sónar tivesse possibilidade de viajar pelo mundo. Em 2012 iremos a quatro dos cinco continentes.
Como é planejado o line-up do Sónar? Tanto a edição de Barcelona quanto a do Brasil?
O line-up é sempre uma busca planetária pelas novas tendências ligadas na tecnologia e na história da música. Isto nos leva, no caso do Brasil, a ter alguns nomes fortes que creio que explicam muito bem esse conceito do Sónar, como a Bjork, que é uma artista que tem um grande público no mundo pop, mas que também tem uma personalidade artística muito forte. O planejamento do line-up busca também, evidentemente, ser uma celebração, uma festa, que é a característica de um festival como o Sónar. Então por isso escolhemos Cee-Lo Green, Chromeo e Justice, nomes capazes de realizar grandes espetáculos.
O que vocês buscam quando escolhem um artista?
Originalidade, o ser diferente, e algumas vezes uma conexão histórica, como é o caso de Ryuichi Sakamoto (que tocará em São Paulo com Alva Noto). Em outros casos são artistas muito, muito novos. Modeselektor (Alemanha) não é muito novo, mas é um dos nomes mais interessantes da cena eletrônica atual, que também estará em São Paulo.
Como o Sónar vê o Brasil e a música brasileira?
(A música brasileira) é muito peculiar e muito interessante. Creio que o Brasil tem alguns projetos que só poderiam ter nascido aqui mesmo. Como essa relação da música eletrônica com a música tradicional, que é o caso da Gang do Eletro, que está no line-up deste ano, ou mesmo o funk carioca, através de DJ Marlboro, que já participou de outras edições do Sónar. São coisas muito peculiares que somente poderiam ocorrer no Brasil. Porém, há uma diversidade muito grande de nomes brasileiros no Sónar São Paulo. A mescla de tropicalismo com eletrônica conduzida pelo Dago é um exemplo. Outros são os trabalhos do Psilosamples e do Silva. E ainda (é possível destacar) três nomes muito fortes que batalhamos para ter no festival: Emicida, Criolo (que está dando um passo muito importante dentro do hip hop, mas com personalidade própria) e, no campo visual e eletrônico, a figura de Muti Randolph, conhecido por seus trabalhos para casas como o D-Edge e grandes festivais como o Coachella. Ele irá se apresentar no Sónar São Paulo com a pianista Clara Sverner, e também estará no Sónar Pro, onde mostrará para o público as ferramentas que usa para preparar e configurar suas obras visuais. Estes são apenas alguns nomes nacionais do Sónar São Paulo, mas não posso deixar de citar o encontro histórico entre DJ Marky e DJ Patife, tocando juntos, e também Gui Borato. O line-up, porém, tem muitos outros nomes interessantes.
Para você, quais foram os três shows mais grandiosos que passaram pelo Sónar?
É um pouco complicado… (longo silêncio)… creio que Kraftwerk é um clássico contemporâneo, o Van Gogh da música moderna, e eles fizeram um grande show no Sónar (em 1998), uma grande volta após um longo tempo sem tocar. Diria também que… LCD Soundsystem, que criou uma relação muito interessante entre artista e festival. Nós os apoiamos desde o primeiro momento e eles também nos apoiaram. Em sua última turnê, eles estiveram no Sónar, e foi um dos concertos absolutamente mais memoráveis (da história do festival), pela música, pela qualidade, pela energia, e pela conexão absolutamente fantástica com o público. E sempre guardo um espaço, pois acredito que o melhor ainda está por vir. Uma parte deste melhor está no futuro, não no passado. Este ano estou muito ansioso pelo show de Amon Tobin (que tocará apenas no Sónar Barcelona), que irá apresentar a escultura visual “ISAM Live”.
Qual a expectativa de público para o Sónar São Paulo e como é produzir um festival tão grande para tantas pessoas em um mesmo lugar?
Entre 15 e 20 mil pessoas, mais ou menos. Uma vantagem para a nossa produção é termos conseguido um parceiro muito preparado no Brasil, a Dream Factory. Eles encontraram um local muito interessante para a realização do festival, que é o (Pavilhão do) Anhembi, que nos permitirá fazer algo diferente, pois tudo será fechado (não vamos utilizar o Sambódromo). Isso cria várias possibilidades. Teremos um palco instalado em um auditório, o outro será o Sónar Club, que será o palco principal e estará localizado em um dos pavilhões. Ao todo serão três palcos de música. Ainda teremos alguns espaços pequenos para a exibição de diferentes conteúdos tanto do Sónar Pro quanto do Sónar Cinema.
O que é o Sónar Pro e o Sónar Cinema?
O Sónar Pro é um encontro de profissionais em uma série de palestras que acontecerão na sexta e no sábado vinculadas a videogames, street technology e aplicações para iPhone e iPad, de nomes como Eski, do Canadá, e Muti Randolph (informações e inscrições aqui). Já o Sónar Cinema é um pequeno festival de cinema dentro do Sónar, no qual temos a colaboração de outros dois festivais, o In-Edit (dedicado a documentários musicais) e Screen From Barcelona (especializado em vídeo-arte). Vamos apresentar cerca de dez trabalhos visuais.
Qual foi o número de público da primeira edição do festival, em 1994?
6 mil pessoas.
E hoje em dia em Barcelona?
70 mil.
Como o Sónar alcançou essa grandeza em termos de estrutura e qualidade? Começou pequeno…
Suponho que tenha sido o esforço e a imaginação da equipe do Sónar e também dos parceiros que nos acompanham há muitos anos. E, claro, graças a uma reação positiva do público. Acredito ainda que apostamos em vários artistas que cresceram junto com o festival além de sempre termos nos dirigido ao público de uma forma muito simpática e democrática. Quando falamos do Sónar parece que estamos falando de tecnicismos, coisas especializadas e intelectuais, e essa não é nossa intenção. O festival é aberto para todo mundo. Há uma vivência, uma experiência em participar do festival que é apresentada de uma forma totalmente aberta a todos.
– Marcelo Costa é editor do Scream & Yell e assina o blog Calmantes com Champagne.
Leia também:
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– Entrevista: Silva, elogiado músico de Vitória, estará no Sónar, por Andressa Monteiro (aqui)
– Björk brilha na fraca edição do Tim Festival 2007 em São Paulo, por Marcelo Costa (aqui)
– Perdido em Firenze e o inferno do Mogwai ao vivo na Itália, por Marcelo Costa (aqui)
– “Se Beethoven tivesse nascido na Escócia, 1980, provável que tocasse no Mogwai” (aqui)
– Mogwai em São Paulo em 2002, duas noites de barulho e risos, por Marcelo Finateli (aqui)
– “Rock Action”, do Mogwai, é o som de demônios sendo moídos, por Diego Fernandes (aqui)
– Gang do Eletro faz um dos grandes shows do Festival Se Rasgun, em Belém, 2011 (aqui)
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