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BRMC ao vivo em Viena

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 Antes de bater perna até o lugar do show nada melhor do que uma consultada no Google Maps para verificar qual a melhor forma de chegar. No mapa parecia do outro lado de Viena, e a melhor condução sem dúvida era o metrô, mas o lugar tinha um jeitão sinistro. Uma foto que registra a fachada toda pintada, lotada de grafites, tira a dúvida: a Arena Wien é (praticamente) um squat. A noite promete.

O trajeto entre o hotel e a Arena (doze estações de metrô) não demorou 15 minutos. Chegamos mais de uma hora antes do horário marcado para o show, mas a frente já estava tomada. Na entrada, a única decepção da noite: confiscaram meu guarda-chuva… e minha câmera digital. Logo em um lugar tão fotografável quanto a Arena Wien. Recebo um ticket para retirar os objetos na saída. Tentei argumentar, mas sem choro.

A Arena Wien é um squat, mas a organização impressiona. A construção parece uma antiga fábrica tomada pelos punks, que circulam pra cima e pra baixo com crachás, piercings e cabelos azuis. O conjunto de prédios está totalmente detonado e todo pichado, mas o clima é excelente e reina uma harmonia no ar. Há, no mínimo, uma meia dúzia de bares no lugar, e barraquinhas que servem lanches, hot dogs e bratwurst.

O espaço da Arena parece pequeno, mas é muito bem aproveitado. Devem caber umas cinco mil pessoas (talvez mais) entre pista e passagens laterais, e todo mundo assiste ao show numa boa. O palco é profissional, a iluminação é deslumbrante, e apesar de parecerem detonadas pelas pichações, as caixas de som fazem bonito deixando qualquer Tim Festival/Planeta Terra e casas noturnas brasileiras no chinelo.

A garoa marca presença, e os californianos do Spindrift tem a árdua missão de aquecer a platéia para a grande atração da noite. O show é chato, cheio de clichês e exagerado, mas a tortura dura pouco. Nem 20 minutos se passam e o BRMC está no palco detonando o primeiro single do novo disco, a empolgante “Beat The Devil’s Tatoo”. Uma edição especial dupla do álbum em vinil branco de 180 gramas está sendo vendida por 35 euros na lojinha, mais camisetas e outros badulaques.

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O show é longo e o repertório caprichado passa pelos cinco álbuns dos caras. Está tudo ali: da paixão escancarada e escarrada pelo Jesus and Mary Chain até a descoberta de Bob Dylan numa porrada musical que faz parecer que os irmãos Reid nasceram no Mississipi. “Ain’t No Easy”, do álbum “Howl”, por exemplo, prova por a + b que é possível contagiar uma multidão apenas com violão, gaita, baixo e bateria. Um dos grandes momentos da noite.

E eles não economizam os hits mandando os principais até o meio do show: “Berlin” (com direito a roda de pogo), “Red Eyes and Tears”, “Weapon of Choice”, “Love Burns” e “Shuffle Your Feet” empolgam a galera, mas é “Whatever Happened To My Rock and Roll” que ganha o prêmio de catalizadora de arremessos de cervejas ao alto pelo público. Carinhosamente apelidada de “Punk Song”, “Whatever” começa com o “1,2,3,4” característico dos Ramones e incendeia o lugar numa versão arrasadora.

No palco, o baixista Robert Levon Been posa de bêbado enquanto o guitarrista Peter Hayes é mais comportado. Os dois dividem os vocais e tudo funciona perfeitamente, com a bateria segura de Leah Shapiro completando o time. Números novos como “War Machine”, “Mama Taught Me Better” e a poderosa “Consciente Killer” marcam presença na noite mostrando que o novo disco tem seus momentos calmos, mas sabe ser denso quando quer. Porém, “Half-State”, tijolada psicodélica de mais de dez minutos dispera o público.

Levon Been sabe como trazer os fãs de volta: ele pega o violão e sozinho emenda uma versão emocional de “Dirty Old Town”, música de 1949 regravada pelo Pogues nos anos 80. Dai em diante o show alterna momentos de brilho (“Six Barrell Shotgun“, “Spread Your Love”, “Stop”) com exageros psicodélicos, longos solos que parecem não levar a lugar algum. No entanto, “Shadow’s Keeper”, outra das novas, impressiona.

BRMC ao vivo é uma experiência especial. Não é um show espetacular no quesito técnico, mas a entrega da dupla fundadora é contagiante. O trio consegue emocionar ancorado em um repertório repleto de músicas brilhantes, e o público que deixa a Arena Wien quase às 23h sabe que viu uma das principais bandas da atualidade em plena forma. Valeu a garoa, o ótimo bratwurst e a boa cerveja de trigo.

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Fotos: BRMC Live At Botanique, Brussels, 14/05/10. Por Kmeron

maio 18, 2010   No Comments

A Nova Idade Média

“Você gasta um tempão e uma baita grana fazendo um disco e as pessoas pegam aquilo de graça.”
Jim Reid, Jesus and Mary Chain, na Revista Bravo (Novembro/2008) (aqui)

“Baixar a música pela internet é danosa, mas ajuda a divulgação. Música é fonte de renda para muita gente. Tem muitos profissionais por trás. O cara baixa e não vai comprar seu CD. Por outro lado, ajuda com a divulgação. Fazendo um balanço, ajuda mais do que atrapalha.
Zezé di Camargo na Folha de São Paulo (Novembro 2008) (aqui)

“No momento em que se vende menos música na história, escuta-se mais música do que nunca”.
Jesus Miguel Marcos, do Jornal Publico, de Barcelona (Julho 2008) (aqui)

A Nova Idade Média, por Marcelo Costa

A Indústria da Música está em coma, respira por aparelhos, mas continua vivendo em uma bela mansão repleta do bom e do melhor. Ela ainda sobrevive – e fatura milhões – em um mercado cujos dias estão contados, mas lamenta os dias de bonança que viveu décadas atrás, antes da Internet democratizar a distribuição da música e o MP3 derrubar o comércio de discos.

É interessante perceber que a discussão sobre a ética que envolve a distribuição de música pela Internet junta pessoas tão dispares quanto o frontman de uma das bandas britânicas mais barulhentas dos anos 80 com um dos baluartes da música brega sertaneja que dominou o mercado brasileiro no final da mesma década. Jim Reid e Zezé di Camargo simbolizam o homem desacostumado com os novos tempos, aquele que não percebe que o mundo mudou e que o passado é uma roupa que não nos serve mais.

O disco de vinil surgiu em 1948, substituindo os obsoletos discos de goma-laca de 78 rotações, que até então eram utilizados para vender música em série. A década de 50 marca o início da popularização da música de massa, mas foi nos anos 60 que o cenário tomou proporções estratosféricas. O disco mais vendido dos anos 50, “Elvis’ Christmas Album”, totalizou 7 milhões de cópias. Na década seguinte, o Álbum Branco, dos Beatles, somava quase três vezes aquele número: 19 milhões de cópias vendidas.

O que está acontecendo neste momento da história é que vivemos uma revolução sem precedentes, e muitas pessoas – principalmente as que vivem com os lucros da Indústria – ainda querem utilizar um método antigo e arcaico de comercializar e negociar música sem perceber que o mundo mudou, as ferramentas mudaram, e é preciso adaptar-se aos novos tempos. A Internet e as novas tecnologias facilitaram o ato de fazer música e distribuí-la. A cada dia que passa, a Indústria perde poder.

Mais do que qualquer coisa, é interessante observar que vinil, CD e fita K7 são suportes ultrapassados que só interessam a quem viveu os anos dourados da Indústria da Música. Adolescentes que desconhecem estes suportes e acostumaram-se a baixar músicas pela web nunca vão comprar um disco, pois aprenderam a ter isso de graça. Mais do que um problema ético, estamos diante de um símbolo de liberdade. Agora, cada pessoa ouve a música que quiser. Um disco a um clique do mouse.

“Como ganhar dinheiro com a minha arte?”, perguntam os músicos. Fazendo shows, caros amigos, fazendo shows. Estamos voltando à Idade Média. Estamos diante de um novo Renascimento. Naquela época, os artistas não tinham suportes que os permitiam vender sua música em série, e mostravam sua arte apresentando-se de cidade em cidade. Clichês repetidos a exaustão entram na pauta do dia: “O artista vai onde o povo está” ou “Quem sabe faz ao vivo”.

É por tudo isso que Matt Berninger, do grupo novaiorquino The National, agradeceu à Internet no show que fez em São Paulo, no Tim Festival. Foi ela quem possibilitou que as pessoas conhecessem sua música, e produtores os trouxessem ao Brasil, mesmo sem o grupo não ter tido nenhum de seus quatro discos lançados no país. O mesmo aconteceu com o grupo Spoon, show elogiado do Festival Planeta Terra, com nenhum disco lançado no Brasil, mas o público cantando em coro várias canções. Novos tempos.

Vivemos um momento extraordinário da história, um momento em que as novidades surgem todos os dias e qualquer coisa pode acontecer. É perfeitamente entendível que algumas pessoas queiram continuar vivendo como viviam há dez, vinte, trinta anos atrás, mas é preciso perceber que o mundo está mudando, e que certos dogmas precisam ser adaptados ao novo momento que está surgindo. E pensar que se a Indústria está morrendo, a Música está cada vez mais viva. O Rei está morto. Viva o Novo Rei.

novembro 16, 2008   No Comments

Todas as minhas rugas

A idade, meus caros, chega para qualquer um (risos). A imagem acima linka para a entrevista que concedi ao graaaande amigo Rodrigo Carneiro, do Showlivre, após uma corridinha para fugir da chuva no Tim Festival. Mais do que falar sobre os shows, impressiona a minha quantidade de rugas (Lili, não assista! – risos). Mas é isso ai. O tempo passa, o tempo voa, a poupança Bamerindus não existe mais e o Itaú e o Unibanco vão se juntar. A vida segue. 🙂 Keith Richards, nos aguarde!

novembro 3, 2008   No Comments

Nokia Trends 1 x 2 Calor

O Nokia Trends encerrou, na noite de sábado (ou, como alguns brincaram, na manhã de domingo) o calendário mais caótico de shows que este país já assistiu em um ano. O festival já saiu perdendo em termos de escalação em comparação com sua própria edição de 2006 (com Soulwax, Hot Hot Heat, We Are Scientists e Bravery), e se tivesse mantido a belíssima estrutura já seria um grande ponto a favor frente ao fiasco do Tim Festival SP deste ano.

Porém, a adaptação do palco no Memorial da América Latina apresentou alguns problemas, cujos principais foram os poucos banheiros disponíveis e, principalmente, o ar-condicionado insuficiente para a quantidade de gente que lotou o festival. A quantidade de caixas e bares foi satisfatória, com um único defeito a ser ressaltado: os caixas só vendiam cartelas de R$ 10 com cinco fichas de R$ 2. Ou seja, se você quisesse comprar um refrigerante, que estava custando R$ 4, teria que comprar a cartela de R$ 10 e “morrer” com os outros R$ 6 (eu voltei com R$ 2 pra casa).

E a música?, pergunta o leitor que entrou aqui para saber disso: Artificial, projeto do Kassin, é uma piada de mau gosto; para falar do Underground Resistence foi usar a frase de um amigo: “Só falta entrar a Gloria Estefan cantando“; não lembro do Van She, um pouco por causa da mistura de vodka e gin, e também porque eles são esquecíveis mesmo; o Phoenix foi bem bom. “Consolation Prizes“, a única música deles que permaneceu no meu computador, ficou muito boa ao vivo. Não que eles valham uma noite, mas são competentes e isso basta; e o She Wants Revenge foi… fraquinho.

Ok, estou sendo exigente demais. O She Wants Revenge é datadaço e não deveria estar tocando naquele local, uma tenda quente hiper-maxi-iluminada cheio de gente estilosa e/ou tentar mostrar algum estilo. O som do She Wants Revenge não casa com a proposta do lugar. Eles precisam de um ambiente menor, mais escuro, mais dark, mais gótico, mais tudo. Não dá para ouvir a voz a la Sisters of Mercy do vocalista do She Wants Revenge com o sol nascendo. Vampiros não podem com o sol. É tão primário.

Na verdade, a escalação de todos os grandes festivais pecou, e muito, em 2007. Tudo o que o marketing tentou vender neste ano foi por água a baixo pelo que se viu no palco. Killers não tem nada a ver com o Tim Festival. Kasabian não é uma banda de porte para fechar um festival tão bacana quanto o Planeta Terra. E She Wants Revenge não pode tocar com o dia clareando. Fica parecendo que, antigamente, os curadores destes festivais iam atrás daquilo que achavam melhor, mas agora pegam o que está dando sopa no mercado de shows. Algo tipo: “Temos essas 20 bandas querendo tocar na América do Sul, qual delas você quer?“.

Trocamos a curadoria pela facilidade (e economia) do que já está no circuito de shows. Para que um curador vai se preocupar em trazer algo novidadeiro se o Killers está dando sopa na América do Sul, não é mesmo? Acontece que a roda não deveria girar desse jeito. Para o Tim Festival, que vende o slogan “música sem fronteiras” e aposta em nomes pouco conhecidos do grande público, o Killers é mega e estaria perfeitamente encaixado como headliner do Terra (iria ser perfeito). E isso abriria para o Tim investir em nomes como Calexico (que estava rodando a América do Sul meses atrás), Beirut (top ten em dezenas de listas de melhores do ano) ou até apostar num Twilight Singers e Soulsavers, garantia de shows inesquecíveis e bom investimento pop.

Dos três grandes festivais deste ano (vamos combinar que o Motomix não existiu, ok), o Nokia Trends foi o que errou menos. O Planeta Terra foi perfeito na estrutura, mas faltou arriscar mais num grande nome que pudesse dar suporte ao evento. Quando se fala mais do quão a estrutura de uma festival foi legal estamos sinalizando que a música ficou em segundo plano. O Tim Festival SP teve alguns dos melhores shows do ano, mas foi terrivelmente frustrante no quesito produção. E o Nokia Trends desceu uns degraus no quesito produção e line-up, mas continuou na mesma vibe dos anos anteriores (nomes pequenos, produção cuidadosa, boa festa). Num mundo ideal, os erros cometidos neste ano deveriam servir de aprendizado para o ano que vem, mas não vou ficar surpreso se todo esse cenário se repetir. Mesmo.

dezembro 10, 2007   No Comments

Top Ten: 10 shows internacionais

Dias atrás, para justificar meu descontentamento com a fraca temporada de shows deste ano (em comparação com a fartura de anos anteriores), fiz uma listinha com os melhores shows que vi em minha vida, respondendo a um comentário de um leitor, meio como dizendo: “Não sou eu que sou chato, os shows deste ano é que estão muito fracos”. A listinha foi feita em cima da hora, na correria, mas quem leva cultura pop a sério não deve (e não pode) fazer qualquer lista despretensiosamente. A consciência pesa.

E foi assim: acordei na madrugada do mesmo dia em que fiz a primeira lista decidido a fazer uma definitiva. E fiz. Era para ser um Top 10, virou um Top 20, depois um Top 25, em seguida um Top 30 e por fim um Top 50, ou melhor, dois Top 50: um nacional e um internacional. Não foi uma tarefa fácil. Por fim acabei incluindo mais dois Top 10 (isso não tem fim! – risos): um dos shows que eu criei muita expectativa, e me frustei; outro com os shows que eu queria ter visto, mas por algum motivo qualquer, perdi. A lista completa pode ser conferida aqui, mas nas próximas quatro semanas vou resgatar na memória pensamentos sobre cada Top Ten, e publicar um a cada sexta-feira. Pra começar, a lista internacional. E a pergunta: qual foi o melhor show internacional que você viu na vida?

Top 10 Internacional
01) R.E.M. no Rock in Rio, Rio de Janeiro (2001)

Não basta admirar um artista para que ele seja responsável pelo melhor show que você viu na vida. É uma pequena conjunção de fatores que torna um show algo especial. Particularmente, admiro (muito) e já vi ao vivo gente como Brian Wilson, Patti Smith, Neil Young e Echo & The Bunnymen, e apesar deles terem feito grandes shows, nenhum deles está neste Top Ten pessoal. É um preâmbulo necessário para evitar comentários óbvios tipo “esse é o seu show preferido porque você é fã da banda”. Nem sempre as bandas que mais admiramos são aquelas que fazem os melhores shows de nossas vidas. Às vezes são os piores…

Não é o caso do R.E.M. no Rock In Rio 3. O show aconteceu no segundo dia do festival, num sábado, e estava cercado de expectativas. Quando recebi no meio da tarde o set list que a banda iria apresentar mais à noite, fiquei impressionado: era impossível que eles fizessem um show ruim com aquele repertório. O trio havia selecionado um repertório best of para seu show no Brasil, que viria a se tornar o maior público para o qual a banda já tinha se apresentado. Assim que o Foo Fighters encerrou sua apresentação, tratei de arrumar um lugar na “fila do gargarejo” para presenciar o show. E foi… inesquecível.

Michael Stipe estava visivelmente emocionado. O som – que havia derrubado Beck e Foo Fighters – começou ruim, com o baixo à frente dos outros instrumentos, mas em três músicas já estava tudo ok. Daí vieram clássico atrás de clássico: “Fall On Me”, “Stand”, “So Central Rain”, “Daysleeper”, “At My Most Beautiful”, “The One I Love”, “Man on The Moon”, “Everbody Hurts”… Até hoje em dia, quando ouço o CD com o áudio do show, me arrepio quando Peter Buck dispara no bandolim o riff inconfundível de “Losing My Religion”, e ouve-se a massa vibrando (imagine 150 mil pessoas atrás de você gritando insanamente quando ouvem uma das músicas mais lindas já escritas na música pop). No final, “It’s The End” embebida em microfonia e Michael Stipe repetindo “and i fell fine” sem querer sair do palco. Antológico, clássico e inesquecível.

Texto da época especial para a revista Rock Press

02) Page e Plant no Hollywood Rock, São Paulo (1995)
Eu ainda morava em Taubaté, e só consegui ir a esse show porque ganhei o convite em uma promoção do Estadão. O lance era mais ou menos o seguinte: os sorteados se encontravam às 16h na porta do jornal, e um ônibus fretado levaria a turma toda para o estádio do Pacaembu. Claro que a maioria dos ganhadores chegou mais cedo, e a turma foi se conhecendo enquanto biritava num boteco ao lado. Na hora de ir pro estádio todo mundo já se tratava como amigo de infância.

Jimmy Page e Robert Plant chegavam ao Brasil para divulgar o álbum “No Quarter”, baseado em canções do Led Zeppelin e algumas faixas novas. Ao vivo, o repertório do disco que trazia “Kashmir”, “The Battle of Evermore”, “That’s The Way” e “Thank You”, entre outras, recebeu o acréscimo de clássicos como “Imigrant Song” (que abriu a noite), “Heartbreaker”, “The Song Remains The Same”, “Whole Lotta Love” (com Plant inserindo “Light My Fire” e “Break On Throught” do Doors no meio), “Black Dog” e, mama mia, “Rock’n’Roll”.

Além de Robert Plant engasgando para cantar o trecho rápido de “Going To California”, o que permaneceu mais fresco na memória foi o seguinte: após uma versão densa de vários violões para “Gallows Pole”, o palco fica completamente escuro. Permanece assim durante cerca de uns 50 segundos. De repente, as luzes do estádio inteiro se apagam. E surge, cortando a escuridão, o riff poderoso do blues “Since I’ve Been Loving You”. Nada mais a declarar sobre esse show…

03) Elvis Costello no Tom Brasil, São Paulo (2005)
Um show de Elvis Costello no currículo é muito pouco para se falar dele ao vivo. Na verdade, para se falar de um show de Costello e banda é preciso ver, ao menos, quatro apresentações, sendo que em cada uma você fica concentrado em apenas um dos músicos. Ao vivo, ele é acompanhado pelo grupo The Imposters, uma versão atualizada dos Attractions, que como única mudança traz o excelente baixista Davey Faragher no lugar de Bruce Thomas. O baterista Pete Thomas e o tecladista e mago do theremin Steve Nieve estão com Costello desde o início dos tempos.

A banda é tão coesa que fica difícil não se prender a uma linha de baixo por meio minuto para logo em seguida descobrir que Nieve está fazendo alguma maluquice nos teclados ou que o próprio Costello está brincando de guitar hero. O instrumental é tão poderoso que dá vontade de ver o mesmo show várias vezes, para ir colhendo detalhes que possam ter passado despercebidos em uma primeira audição. Costello entregou ao público paulista seu suor, seu melhor repertório em uma execução primorosa. Música da noite: uma versão extensa e violentamente crua de “I Want You”, com citações de U2 (”Ever Better The Real Thing”) e Beatles (”Happiness Is A Warm Gun”).

04) Morrissey no Personal Fest, Buenos Aires (2004)
Antes de abrir a boca, Morrissey reuniu o grupo na frente do público e se curvou em sinal de agradecimento. Suas quatro primeiras palavras: “Cry for me, Argentina”. O local foi ao delírio. Vestido de reverendo, (uma roupa toda preta com um pequeno detalhe branco na gola), Morrissey arrasou com cinismo, clássicos dos Smiths e extremo bom humor. O que dizer de um show cuja segunda música é “How Soon Is Now?”, a quinta é “Bigmouth Strikes Again” e a última (ou décima sexta, como quiseres), “There Is A Light That Never Goes Out”? Ah, teve “Everyday Is Like a Sunday” também…

Texto completo no Scream & Yell

05) Mercury Rev no Curitiba Rock Festival, Curitiba (2005)
Entre o público, pouca gente acreditava que Jonathan Donahue e sua turma conseguissem superar a perfeição indie do Weezer na noite anterior do Curitiba Rock Festival, mas a banda foi além: fez uma apresentação com momentos instrumentais impecáveis, imagens no telão (perfeitamente sincronizadas com as músicas) com citações que iam do filósofo prussiano Arthur Schopenhauer ao piloto norte-americano Michael Andretti; do cineasta Stanley Kubrick, passando por Vladimir Nabukov e Yuri Gagarin até chegar em E.T. e no Mestre Yoda. Inspiradíssimo, o vocalista Jonathan Donahue regeua banda como se fosse um maestro em uma orquestra, cuja batuta fora trocada por uma garrafa de vinho branco. No fim das contas, uma frase no telão resumiu tudo: “O mundo não é feito de átomos. É feito de histórias”. O Mercury Rev fez história em Curitiba.

Texto completo no Scream & Yell

06) The Cure no Ibirapuera, São Paulo (1987)
Meu único show internacional na década de 80, embora eu quisesse (e tivesse tentado) ver outros. A impressão, hoje, é que tudo foi maravilhoso, mesmo com o som estando prejudicado pela péssima acústica do local (embora qualquer acústica fosse melhor que a do TCC, local que abrigava todos os shows nacionais em Taubaté), muito devido ao fato de que era tudo novidade. Claro que não foi só isso. O Cure, quando aportou no Brasil em 87, era uma das maiores bandas do mundo. E Robert Smith estava de muito bom humor. Hoje é impossível cantar “In Between Days” sem soar nostálgico, mas, aos 17 anos, após perambular pela rua matando tempo para aguardar o metrô abrir e voltar pra casa (horas depois), a única coisa que eu conseguia pensar era em assoviar a canção infinitamente.

07) Lou Reed no Credicard Hall, São Paulo (2000)
Ele é aquilo mesmo que você imagina: jaqueta de couro, uma fender jogada elegantemente a sua frente, e um repertório de clássicos que não vão ser tocados no show. E mesmo assim é um show inesquecível. Ele enfia goela abaixo do público uma porção de canções novas – boas, mas sem o brilho das canções do Velvet e de sua carreira solo no início dos anos 70 – e quando você já não está conseguindo mastigar mais, ele saca do bolso “Sweet Jane”, “Dirty Boulevard” e “Perfect Day”, e enfia no meio uma anção nova com cheiro de velha, a bela “Baton Rouge”, e te faz ir sorrindo pra casa.

08) Betty Gibbons no Tim Festival, Rio de Janeiro (2003)
Beth Gibbons, só ela, é um show. A cantora agarra o microfone de um jeito que fica difícil imaginar alguém arrancá-lo de suas mãos. Ela mastiga cada palavra, sente cada sílaba, arrepia quando se encolhe junto ao microfone, parecendo se esconder. E isso acontece praticamente o tempo todo. Ela esbanja carisma tanto quanto timidez. A rotina é quase sempre a mesma. Ela desfia suas letras doloridas. Quando a letra abre espaço para a melodia, a cantora se coloca de costas e toca um singelo pandeiro, acompanhando a bateria. A canção termina, o público aplaude. Alguém grita “Portishead”, e ela, de costas, levanta um copo em sinal de brinde. No final, após toda banda deixar o palco, ela ficou pedindo desculpas pelo seu português, por sua voz. Parecia não ter noção que havia acabado de realizar um dos melhores shows que já passaram pelo País.

09) Sonic Youth no Free Jazz, São Paulo (2000)
Eu não esperava nada desse show. Havia ganho o convite de uma amiga que tinha ficado em casa, e precisou voltar para Porto Alegre na última hora. Sua recomendação: “se eu não voltar pra ver o show, vá você”. E eu tinha medo do Sonic Youth. Achava que seria um show de barulhos e microfonias. Após três dias virando balada, e acordando cedo no quarto dia para uma extensa prova de admissão no saudoso Noticias Populares, cheguei ao Jóquei Clube arrebentado de cansaço. Na hora do show eu só pensava em dormir, mas cada música que surgia me arrastava para frente do palco. Foi um hino atrás do outro. Um sonho em forma de show de rock. Mesmo. Eu sei que para quem viu o show do Claro Que é Rock, anos depois, fica difícil acreditar, mas é sério. Foi um show assustador de tão bom.

10) Pearl Jam no Estádio do Pacaembu, São Paulo (2006)
Eu também não ia nesse show. Acabei convencido por uma amiga, na última hora. Comprei o ingresso na mão de cambista e adentrei ao Pacaembu. Primeira tapa na cara da desconfiança: o carisma de Eddie Vedder é algo impressionante. O repertório foi algo de histórico. Da arquibancada, as cenas mais impressionantes aconteceram logo no começo do show, com o público da pista acompanhando em ondas o crescendo da melodia de “Given To Fly”, e no final, com Eddie Vedder arremessando seu coração para o público brasileiro após exercitar um punhado de frases em português. Emocionante.

novembro 30, 2007   No Comments

Top 100 de shows

Respondendo a um comentário do Diego, no post abaixo, fiz uma listinha rápida de meus shows preferidos. Graaande bobagem. Uma listinha dessas não pode ser feita assim, a toa. Deitei na cama, coloquei a cabeça no travesseiro e dezenas de shows foram pintando na minha memória. Resolvi levantar e fazer o que tem que ser feito: listar os melhores shows que assisti em minha vida. Era para ser um Top 10, virou um Top 20, depois um Top 25, em seguida um Top 30 e por fim um Top 50. Não foi uma tarefa fácil, e sei que ainda estou esquecendo um e outro, mas paciência. No mais, a lista que segue serve como explicação para aqueles que acham que ando insatisfeito demais com o mundo e achando qualquer showzinho do Killers, Arctic Monkeys e Kasabian medianos… o nível é que anda alto por aqui. :o)

Top 50 Internacional
01) R.E.M. no Rock in Rio (2001)
02) Page & Plant no Hollywood Rock (1995)
03) Elvis Costello no Tom Brasil (2005)
04) Morrissey no Personal Fest (2004)
05) Mercury Rev no Curitiba Rock Festival (2005)
06) The Cure no Ibirapuera (1987)
07) Lou Reed no Credicard Hall (2000)
08) Betty Gibbons no Tim Festival (2003)
09) Sonic Youth no Free Jazz (2000)
10) Pearl Jam no Estádio do Pacaembu (2006)
11) Rolling Stones na Praia de Copabacana (2006)
12) Brian Wilson no Tim Festival (2004)
13) Neil Young no Rock In Rio (2001)
14) AC/DC no Estádio do Pacaembu (1996)
15) Patti Smith no Tim Festival (2006)
16) Super Furry Animals no Tim Festival (2003)
17) Damon e Naomi no Sesc Vila Mariana (2002)
18) Iron Maiden no Parque Antártica (1992)
19) Bad Religion no Close-Up Planet (1996)
20) Gang of Four no Campari Rock (2006)
21) And You Will Know Us By The Trail of Dead no Sesc Belenzinho (2001)
22) Alice in Chains no Hollywood Rock (1993)
23) Black Sabbath no Olympia (1992)
24) Ian McCulloch no Directv Music Hall (2005)
25) Metallica no Parque Antártica (1993)
26) Supergrass no Campari Rock (2006)
27) Television no Sesc Pompéia (2005)
28) Medeski, Martin e Wood no Sesc Pompéia(2006)
29) Iggy Pop & The Stooges no Claro Que é Rock (2005)
30) Weezer no Curitiba Rock Festival (2005)
31) Luna no Sesc Pompéia (2001)
32) Flaming Lips no Claro Que é Rock (2005)
33) 2Many DJs no Tim Festival (2003)
34) Mudhoney no Olympia (2001)
35) Stereo Total no Sesc Pompéia (2005)
36) Echo and The Bunnymen no Via Funchal (1999)
37) Franz Ferdinand no Motomix (2006)
38) Blondie no Personal Fest (2004)
39) Libertines no Tim Festival (2004)
40) Chemical Brothers no Pacaembu (2004)
41) Teenage Fanclub no Sesc Pompéia (2004)
42) Shirley Horn no Tim Festival (2003)
43) Yo La Tengo no Sesc Pompéia (2001)
44) L7 no Hollywood Rock (1993)
45) Mogwai no Sesc Vila Mariana (2002)
46) Bellrays no Inferno (2007)
47) Björk no Tim Festival (2007)
48) Robert Plant no Hollywood Rock (1993)
49) NIN no Claro Que é Rock (2005)
50) PJ Harvey no Personal Fest (2004)

Top 50 Nacional
01) Jards Macalé no Theatro Municipal (2007)
02) Legião Urbana no Clube de Regatas em São José dos Campos (1992)
03) Titãs no Taubaté Country Club (1986)
04) Sepultura no Olympia (1996)
05) Ira! no Aeroanta (1991)
06) Graforréia Xilarmônica no Upload Festival (2001)
07) RPM no Taubaté Country Club (1987)
08) Mundo Livre no Sesc Pompéia (2001)
09) Los Hermanos no Blen Blen (2002)
10) Edgard Scandurra no Sesc Consolação (2002)
11) João Donato no Theatro Municipal (2007)
12) DJ Marky no Skol Beats (2003)
13) Raimundos no Hollywood Rock (1996)
14) Os Replicantes na Funhouse (2005)
15) Tom Zé no FMI Maceió (2006)
16) Wander Wildner no Café Camalehon (2005)
17) Paulinho da Viola no MIS (2007)
18) Orquestra Manguefônica no Sesc Pompéia (2005)
19) Defalla no Avenida Clube (2005)
20) Bidê ou Balde no Avenida Clube (2005)
21) Marcelo Nova no CCBB (2004)
22) Rita Lee no Teatro São João (1992)
23) Walverdes na Funhouse (2003)
24) Pato Fu no Sesc Vila Mariana (2007)
25) Chico Buarque no Tom Brasil (2006)
26) Jorge Mautner no Sesc Consolação (2004)
27) Camisa de Vênus no Taubaté Country Club (1988)
28) Lobão no Taubaté Country Club (1988)
29) Blitz no Taubaté Country Club (1984)
30) Banda Vexame no Sesc Pompéia (2004)
31) Capital Inicial no Taubaté Country Club (1988)
32) Blues Etilicos em Taubaté (1994)
33) Nação Zumbi no Tim Festival (2003)
34) Jupiter Maça no Blen Blen (2002)
35) Video Hits no London Burning Festival (2001)
36) Trio Mocotó & João Donato no CCBB (2005)
37) Cidadão Instigado no FMI Maceio (2006)
38) Móveis Coloniais de Acaju no Curitiba Rock Festival (2005)
39) Ultraje a Rigor no Taubate Country Club (1989)
40) Wado no Tim Festival (2003)
41) Mombojó no Itaú Cultural (2004)
42) Acústico Bandas Gaúchas (2005)
43) Paralamas do Sucesso no Taubaté Country Club (1992)
44) Autoramas no Sesc Pompéia (2002)
45) Devotos de Nossa Sra Aparecida no Estacionamento do Anhembi (1994)
46) Inocentes no Projeto Leste 1 (1989)
47) Lulu Santos no Taubaté Conutry Club (1987)
48) Mutantes no Parque da Independência (2006)
49) Superguidis no Studio SP (2006)
50) Garotos Podres no Teatro Franco Zampari (1988)

10 Shows abaixo do esperado
01) Nirvana no Hollywood Rock (1993)
02) Sex Pistols no Close-Up Planet (1996)
03) Ozzy Osbourne no Monsters of Rock (1995)
04) Kiss no Monsters of Rock (1994)
05) Devendra Banhart no Tim Festival (2006)
06) Red Hot Chilli Peppers no Rock in Rio (2001)
07) Jesus and Mary Chain no Projeto SP (1990)
08) The Charlatans no Olympia (2002)
09) The Rakes no Indie Rock Festival (2007)
10) Foo Fighters no Rock in Rio (2001)

10 Shows que eu perdi e queria (muito) ter visto
01) Wilco no Tim Festival (2005)
02) Pixies no Curitiba Rock Festival (2004)
03) David Bowie no Olympia (1990)
04) Echo and The Bunnymen no Anhembi (1987)
05) Kraftwerk no Free Jazz (1998)
06) The Smashing Pumpkins no Hollywood Rock (1996)
07) Ramones no Olympia (1992)
08) Oasis no Anhembi (1998)
09) Jon Spencer Blues Explosion no Sesc Pompéia (2001)
10) Arcade Fire na Marina da Glória (2005)

novembro 13, 2007   No Comments

CSS, Devo e Rapture no Planeta Terra

Após o fiasco da edição paulista do Tim Festival na Arena Skol duas semanas antes, a expectativa de assistir a um festival realizado em um local inóspito sem histórico de shows não era das melhores. Uma reportagem da Folha de São Paulo, na manhã de sábado, alertava: “Festival ocupa galpões e espera chuva, (…) e se chover a situação pode ficar precária”. Apesar de toda uruca, o Planeta Terra 2007 deve fechar o ano como o festival que colocou o badalado Tim no chinelo (em 2005 foi o Claro Rock; em 2006 o Nokia Trends).

De fácil acesso, a Villa de Galpões do Morumbi (na verdade, um decadente conjunto industrial que abrigou durante anos uma fábrica de plásticos) foi adaptada para o festival de forma exemplar. A produção não procurou esconder a decadência do local (e vamos combinar: isso casa perfeitamente com o rock e a música pop), e tratou de usar este fator a seu favor sem, de maneira alguma, desrespeitar o público. Tudo aquilo que o público reclamou do Tim Festival duas semanas atrás aqui estava praticamente perfeito.

Da limpeza (uma equipe passou o festival todo recolhendo o lixo produzido pelas mais de 15 mil pessoas) passando pela alimentação (além de uma praça muito bem armada com várias opções, o festival tinha vários caixas, vários pontos para comprar cerveja, e ainda carrinhos de sorvete Rochinha, de pipoca e algodão doce feitos na hora), pelo respeito aos horários dos shows (Lily Allen começou com dois minutos de atraso; CSS entrou no palco três minutos antes do previsto) e pelos preços corretos (um refrigerante ou garrafa de água R$ 2 contra R$ 5 no Tim), o Planeta Terra exibiu em sua primeira edição uma produção cuidadosa que merece elogios.

Porém, ninguém vai a um festival para comer algodão doce e tomar sorvetes Rochinha. As facilidades propostas pela organização do evento merecem aplausos, mas um festival se faz de boa música, e é nesse ponto que o Planeta Terra deixou um pouco a desejar. O line-up mediano que juntava uma inglesinha metida a besta (a fofa Lily Allen), um dinossauro da new wave (os tiozinhos do excelente Devo), uma banda brasileira famosa na gringa (os ótimos CSS) e um dos melhores nomes da nova cena nova-iorquina (o Rapture, que já tinha feito um show contagiante no Brasil em 2003) não prometia shows antológicos, mas apenas entretenimento enquanto se saboreia um bom sorvete de palito.

Um dos fatores interessantes de se assistir a um festival bem estruturado é que não há tempo para descanso: enquanto você perde tempo esticando as pernas algum bom show está começando em uma das tendas, e não dá para ficar olhando estrelas. Assim, ali pelas duas da manhã já estava difícil não pensar nos joelhos castigados. Foi um alivio quando o vocalista do Kasabian (só no Brasil para uma banda de terceiro escalão se tornar headliner de festival; chega a ser uma afronta ao Pato Fu, que tem muito mais hits e personalidade que o grupo britânico) gritou pela última vez “Sãoooo Paooolo”.

Os portões se abriam às 17h. O último show iria acabar às 2h e tanto. Tantas horas em pé andando de um lado para o outro não são uma das tarefas mais fáceis, por isso acabei cabulando os shows de Supercordas (que trouxe Tatá “Jumbo Elektro” Aeroplano como integrante especial) e Lucy and The Popsonics. No momento que pisei o Main Stage, o Pato Fu iniciava sua apresentação com “Mamã Papá”, do excelente disco novo, “Daqui Pro Futuro”. O show, mais curto que o usual, foi repleto de declarações de amor de Fernanda Takai e John Ulhoa ao Devo. “Vocês não sabem o que é passar metade da vida com uma camiseta escrita Devo no peito e estar aqui agora”, contou um emocionando John. O show valeu pelo resgate de “Gol de Quem?”, faixa título do segundo álbum dos mineiros pouco executada ao vivo.

Tokio Police Club (foto maior) e Datarock (fotos menores) fizeram um barulho dos diabos no palco Indie do festival. Apesar do som embolado, o Tokio Police Club soou interessante, mas o máximo que se pode dizer da apresentação é que foi correta. Fresquinho que é no cenário pop, o Tokio Police Club podia fazer uma noite antológica na Funhouse, n’a Obra, no Teatro Odisséia ou no 92 Graus. Num festival eles são apenas um passatempo barulhento, o que não deixa de ser ok. Já o Datarock pareceu mais bem encorpado e mais pesado que nos MP3 que circulam por ai. Não vale a comparação – na brincadeira – com o Sepultura perpretada pelo vocalista, mas é uma boa diversão.

Lily Allen é baixinha, mas invocada. Despeja palavrões em um microfone verde-limão enquanto bebe no gargalo para comemorar o último show da turnê do platinado álbum “Alright, Still” – e bêbada acaba esquecendo as letras de suas próprias canções. Desfila no palco com um bonito vestido azul enquanto sarreia o tamanho do pênis de um ex-namorado em uma canção e reclama da microfonia que insiste em marcar presença na apresentação. A banda afiada dá um sotaque ska para o som (que até cover do Speciais teve), mas o show é morno, quase frio. Se mesmo a fofíssima versão de “Everbody’s Changing”, do Keane (presente no álbum “The Saturday Sessions: Dermot O’Leary Show”) soou deslocada imagine “Heart of Glass” do Blondie. Boa ressaca, my dear.

O retorno do Cansei de Ser Sexy para São Paulo não poderia ter sido melhor. Após ter tocado em palcos de todos os cantos do mundo, o grupo mostrou em São Paulo uma unidade e uma maturidade que devem ter assustado aos detratores. É gratificante ver que a badalação da imprensa britânica – tanto de música quanto de moda – não afetou em nada o excelente desempenho de Lovefoxxx. Ela continua rolando no palco, pedindo alegria para o público e fazendo as mesmas tiradas sem graça do início da banda (desta vez foi uma brincadeira com a Xuxa). O repertório – com exceção da inédita “The Beautiful Song” e da cover do L7, “Pretend We’re Dead” – não trouxe novidades, mas canções como “Alcohol”, “Off The Hook”, “Alala” e “Metting Paris Hilton” ainda valem um show. Na perfeita “Music Is My Hot Hot Sex” (com Adriano Cintra na guitarra), Lovefoxxx engrossou a voz e trocou a frase “o que eu gosto não é farsa” por “o que eu faço não é farsa”. Se alguém tinha dúvidas já era. Agora é esperar o segundo álbum.

O Devo entrou no Main Stage introduzidos de forma inusitada: um longo vídeo que misturava trechos de clipes avisava, no final, que o Devo era uma experiência que todos precisam viver. Não poderia ter sido mais apropriado. Começando com o hit “That’s Good”, o grupo que está na ativa desde 1972 praticando um rock ácido e bem humorado (cujo exemplo clássico é a divertida versão de “(I Can’t Get No) Satisfaction”, dos Stones, presente no primeiro álbum do grupo, “Q: Are We Not Men? A: We Are Devo!”, de 1978) chacoalhou a audiência com hits do quilate de “Peek-a-Boo!”, “Whip It!” e “Uncontrollable Urge”. Além de fazer um dos melhores shows da noite, também foi do vocalista Mark Mothersbaugh a frase do festival: “Já faz um bom tempo que tocamos no Brasil (1990). Naquela época vocês ainda tinham uma floresta”. Clap clap clap.

Fechando os trabalhos do palco Indie, o Rapture voltou a repetir a aclamada apresentação de quatro anos atrás no Tim Festival. Assim como no show de 2003, o baterista Vito Roccoforte não deu descanso ao público com suas pancadas que “obrigam” a audiência a pular e dançar. Por sua vez, Gabriel Andruzzi provou mais uma vez como o sax pode ser bem usado no rock. Seu solo no hit dançante “Get Myself Into It” foi chapante. O bom baixista Matt Safer continua sendo um dos destaques da banda. E Luke Jenner recebeu o espírito de um guitar hero em vários momentos da apresentação. Conforme o show foi crescendo a massa sonora também aumentou ao ponto de “House of Jealous Lovers” ter soado ensurdecedora. “Olio”, “Don Gon Do It” e “Whoo! Alright Yeah… Uh Huh” foram outros grandes momentos da noite.

Apesar dos bons shows de CSS, Devo e Rapture, o Planeta Terra Festival ficou devendo uma apresentação antológica, daquelas que daqui dez anos alguém vai virar e falar: “Lembra, em 2007, naquele festival, que show sensacional foi aquele???”. Apesar do acerto louvável na organização faltou ao festival um grande nome no line-up, e isso ficou claro na apresentação de encerramento com o Kasabian, cujo rock com pitadas de eletrônico (claramente chupados do Primal Scream) soou tão instigante quanto um programa comandando por Gugu Liberato no meio de uma madrugada qualquer. Fica a torcida para que em 2008 o Festival consiga aliar à qualidade de produção um grupo de artistas que façam valer a pena chegar às três e meia da manhã em casa. Dedos cruzados.

novembro 11, 2007   No Comments

Revoluttion (Mini) Tour

Nesta sexta começa a Revoluttion (Mini) Tour (eeee). Ok, menos, menos. Na sexta embarco para Curitiba com o compromisso de discotecar no Jokers Bar na noite em que se juntam as duas principais bandas do meu Top 2007 pessoal: Terminal Guadalupe e Violins. Só garanto que vai rolar Cold War Kids. O resto é resto. No sábado tem Planeta Terra. Pretendo acordar lá pelas 15h e começar a me preparar com bastante energético, pois esse vai ser um festival em que as bandas nacionais tem tudo para roubar a cena das gringas. Ou seja, o lance é chegar cedo. Domingo pela manhã embarco para Ribeirão Preto onde assumo as pick-ups no Groselha Fuzz Festival (garanto que vai rolar Cold War Kids). E como canta Rubin na cover da banda do Bob Geldof: “I Don’t Like Mondays”…

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Disco da Semana: a trilha sonora do filme “I’m Not There ” “Lee Ranaldo, do Sonic Youth, montou um supergrupo para acompanhar os “sem banda”: Steve Shelley na bateria (Sonic Youth), Nels Cline (Wilco) numa guitarra, Tom Verlaine (Television) na outra, Tony Garnier (Bob Dylan Band) no baixo, Smokey Hormel (parceiro de Miho Hatori) também na guitarra, e John Medeski (do grupo Medeski, Martin and Wood) nos teclados.” Continua

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500 Toques: Britney Spears, Emma Pollock e Siouxsie “Britney é mais rock do que Coldplay, Keane e emos juntos; Emma Pollock mostra que os mandamentos praticados pelo Delgados permanecem vivos; Siouxsie chega aos 50 anos tão inspirada e criativa como quando tinha 20?Continua

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Downloads da Semana: Para quem não ficou até o final do Tim Festival em São Paulo e quer saber como soa o Killers ao vivo, o Part Of The Queue está disponibilizando a integra do show que a banda de Brandon Flowers fez em Santiago três dias atrás. O show lá foi mais completinho (18 músicas incluindo a nova “Tranquilize” e a cover de “Can’t Take My Eyes Off You”) e permite perceber que o fanfarrão Brandon Flowers não segura a peteca de um show completo (a voz falha várias vezes), mas o baterista é bem bom. De quebra você pode baixar o show que o Travis fez no mesmo festival (Fênix Festival, que ainda contou com o Starsailor) e cantar com os chilenos “Why Does it Always Rain on Me” já que ninguém no Brasil quis bancar a vinda da banda de Fran Healy ao país (eles são coxinha, mas tem umas músicas muito boas).

novembro 7, 2007   No Comments

Top 10 Setembro de 2024 no Scream & Yell

TOP 10 TEXTOS MAIS LIDOS – SETEMBRO DE 2024
01) Entrevista: Fábio Massari, por Leonardo Tissot (aqui)
02) Entrevista: Vitor Ramil, por Diego Queijo (aqui)
03) Balanço: Festival Se Rasgum 2024, por Bruno Capelas (aqui)
04) Cinema: “Semente do Mal”, por Leandro Luz (aqui)
05) Sepultura ao vivo no Rio, por Marcos Bragatto (aqui)
06) Entrevista: Papangu, por Alexandre Lopes (aqui)
07) Balanço: Coala Festival 2024, por Bruno Capelas (aqui)
08) Selo: “Trilhas Sonoras para Corações Solitários”, da Hotel Avenida (aqui)
09) Música: “Romance”, do Fontaines D.C., por Luciano Ferreira (aqui)
10) Cinema: “A Substância”, por Renan Guerra (aqui)

VIA GOOGLE: SETEMBRO
01) Cinema: “Aumenta que é Rock’n’Roll”, por Leandro Luz (aqui)
02) Cinema: “O Chef”, por Renan Guerra (aqui)
03) Assista a 20 shows completos entre 1970 e 1985, por Mac (aqui)

O EDITOR RECOMENDA: SETEMBRO
01) Entrevista: Heberte Almeida, por Bruno Lisboa (aqui)
02) Entrevista: Forgotten Boys, por Eduardo Ribeiro (aqui)
03) Entrevista: Ana Clara, por Leonardo Vinhas (aqui)

TOP 10: Apenas textos de 2024 – Nove meses
01) Melhores de 2023 Scream & Yell (aqui) FEV
02) Três filmes: “A Sala dos Professores”, “Anatomia de Uma Queda”, “Dias Perfeitos”, por Marcelo Costa (aqui) MAR
03) Cinema: “Saltburn”, por Marcelo Costa (aqui) JAN
04) Cinema: “Aumenta que é Rock’n’Roll”, por Leandro Luz (aqui) ABR
05) Cinema: “Bob Marley: One Love”, por JP Barreto (aqui) FEV
06) APCA elege os melhores de 2023 (aqui) JAN
07) Cinema: “Semente do Mal”, por Leandro Luz (aqui) AGO
08) 80 grandes discos latinos, por Aliança Faro (aqui) JAN
09) Entrevista: Julia Barth (Replicantes), por Homero Pivotto Jr. (aqui) FEV
10) Três filmes: “Sem Pressão”, “Agência do Amor”, “Todos Menos Você”, por Marcelo Costa (aqui) ABR

TOP 10 – Sem textos publicados em 2024 (Nove meses)
01) Três comédias românticas de 2023, por Marcelo Costa (aqui) 2023
02) Filmografia comentada: Woody Allen, por Marcelo Costa (aqui) 2023
03) Cinema: Os 10 filmes de Wong Kar-Wai, por Marcelo Costa (aqui) 2020
04) Top 10: livros publicados no século XIX, por M. R. Terci (aqui) 2019
05) Rockbitch: sexo, satanismo e hard rock, por João Pedro Ramos (aqui) 2021
06) Discografia comentada: Gal Costa, por Renan Guerra (aqui) 2020
07) Cinema: “Clube da Luta para Meninas”, por Lucas Reis (aqui) 2023
08) As 30 músicas mais tocadas de Aldir Blanc (aqui) 2020
09) Entrevista: Steve Albini, por Elson Barbosa (aqui) 2010
10) Matérias Antológicas: The Clash por Lester Bangs (aqui) 2019

TOP 10 GERAL 2024 (Nove meses)
01) Especial Melhores de 2023 Scream & Yell (aqui)
02) Três filmes: “A Sala dos Professores”, “Anatomia de Uma Queda”, “Dias Perfeitos”, por Marcelo Costa (aqui)
03) Três comédias românticas de 2023, por Marcelo Costa (aqui)
04) Cinema: “Saltburn”, por Marcelo Costa (aqui)
05) Cinema: “Aumenta que é Rock’n’Roll”, por Leandro Luz (aqui)
06) Filmografia comentada: Woody Allen, por Marcelo Costa (aqui)
07) Cinema: Os 10 filmes de Wong Kar-Wai, por Marcelo Costa (aqui)
08) Cinema: “Bob Marley: One Love”, por JP Barreto (aqui)
09) Top 10: livros publicados no século XIX, por M. R. Terci (aqui)
10) Rockbitch: sexo, satanismo e hard rock, por João Pedro Ramos (aqui)

Confira os textos mais lidos no Scream & Yell nos meses anteriores

outubro 1, 2024   No Comments

Top 10 Junho de 2024 no Scream & Yell

TOP 10 TEXTOS MAIS LIDOS – JUNHO DE 2024
01) Especial In-Edit Brasil 2024, por Mac e Renan Guerra (aqui)
02) Cinema: “Divertidamente 2”, por Renan Guerra (aqui)
03) Três shows: Selton, Interpol, Wry, por Marcelo Costa (aqui)
04) Cinema: “A Semente do Mal”, por Leandro Luz (aqui)
05) Entrevista: Fontaines DC, por Alexandre Lopes (aqui)
06) Entrevista: Ride, por Bruno Capelas e Igor Muller (aqui)
07) Interpol ao vivo no Rio, por Marco Barbosa (aqui)
08) 40 anos de “Piano Bar”, de Charly Garcia, por Davi Caro (aqui)
09) Entrevista: Antiprisma, por Alexandre Lopes (aqui)
10) New Model Army ao vivo em SP, por Leonardo Vinhas (aqui)

VIA GOOGLE: JUNHO
01) Cinema: “Aumenta que é Rock’n’Roll”, por Leandro Luz (aqui)
02) Cinema: Os 10 filmes de Wong Kar-Wai, por Mac (aqui)
03)Filmografia comentada: Woody Allen, por Mac (aqui)

O EDITOR RECOMENDA: MAIO
01) Entrevista: Smoko, por Leonardo Vinhas (aqui)
02) Entrevista: Claudio Marques, por João Paulo Barreto (aqui)
03) Entrevista: Joana Espadinha, por Pedro Salgado (aqui)

TOP 10: Apenas textos de 2024 (Primeiro Semestre)
01) Melhores de 2023 Scream & Yell (aqui) FEV
02) Três filmes: “A Sala dos Professores”, “Anatomia de Uma Queda”, “Dias Perfeitos”, por Marcelo Costa (aqui) MAR
03) Cinema: “Saltburn”, por Marcelo Costa (aqui) JAN
04) Cinema: “Bob Marley: One Love”, por JP Barreto (aqui) FEV
05) APCA elege os melhores de 2023 (aqui) JAN
06) Cinema: “Aumenta que é Rock’n’Roll”, por Leandro Luz (aqui) ABR
07) 80 grandes discos latinos, por Aliança Faro (aqui) JAN
08) Entrevista: Julia Barth (Replicantes), por Homero Pivotto Jr. (aqui) FEV
09) Cobertura Goiânia Noise 2024, por Bruno Capelas (aqui) ABR
10) “A Noite Que Mudou o Pop”, por Davi Caro (aqui) FEV

TOP 10 – Sem textos publicados em 2024 (Primeiro Semestre)
01) Três comédias românticas de 2023, por Mac (aqui) 2023
02) Cinema: Os 10 filmes de Wong Kar-Wai, por Mac (aqui) 2020
03) Filmografia comentada: Woody Allen, por Mac (aqui) 2023
04) Top 10: livros publicados no século XIX, por M. R. Terci (aqui) 2019
05) Discografia comentada: Gal Costa, por Renan Guerra (aqui) 2020
06) Entrevista: Steve Albini, por Elson Barbosa (aqui) 2010
07) Cinema: “Clube da Luta para Meninas”, por Lucas Reis (aqui) 2023
08) Música: “Live at Leeds”, do The Who, por Mac (aqui) 2016
09) As 30 músicas mais tocadas de Aldir Blanc (aqui) 2020
10) Manu Chao ao vivo, por Leonardo Vinhas (aqui) 2023

TOP 10 GERAL 2024 (Cinco meses)
01) Especial Melhores de 2023 Scream & Yell (aqui)
02) Três filmes: “A Sala dos Professores”, “Anatomia de Uma Queda”, “Dias Perfeitos”, por Marcelo Costa (aqui)
03) Três comédias românticas de 2023, por Marcelo Costa (aqui)
04) Cinema: “Saltburn”, por Marcelo Costa (aqui)
05) Cinema: “Bob Marley: One Love”, por JP Barreto (aqui)
06) APCA elege os melhores de 2023 (aqui)
07) Cinema: “Aumenta que é Rock’n’Roll”, por Leandro Luz (aqui)
08) Cinema: Os 10 filmes de Wong Kar-Wai, por Mac (aqui)
09) Filmografia comentada: Woody Allen, por Mac (aqui)
10) Top 10: livros publicados no século XIX, por M. R. Terci (aqui)

Confira os textos mais lidos no Scream & Yell nos meses anteriores

julho 2, 2024   No Comments