Meu disco favorito de 2022: Spiritualized por Alessandro Andreola

MEU DISCO FAVORITO DE 2022 #7
“Everything Was Beautiful”, Spiritualized
escolha de Alessandro Andreola

Artista – Spiritualized
Álbum – “Everything Was Beautiful”
Lançamento – 22/04/2022
Selo – Fat Possum Records
Ouça – Youtube / Spotify / Bandcamp

Lá pelo final de 2021, quando o Spiritualized divulgou a capa de “Everything Was Beautiful” com a imagem de uma caixinha de remédio, muita gente deve ter pensado “Meu deus, será que vem aí outro ‘Ladies and Gentlemen We Are Floating In Space‘?” Eu, pelo menos, pensei.

Só que “Everything Was Beautiful” não é “Ladies and Gentlemen We Are Floating In Space”. Não, claro que não. Não tinha como ser. O disco que Jason Pierce lançou em 1997 é uma obra-prima que transcende gêneros e convenções. Um álbum sobre fé, morte e outros delírios narcóticos empacotado conceitualmente como um medicamento para as mazelas da alma. Nós que tomamos uma hiperdosagem nunca mais nos recuperamos.

Mas a boa notícia é que “Everything Was Beautiful” não precisa ser nada além do que é: outro belo disco de um bom momento criativo do Spiritualized. Está mais para uma sequência direta do trabalho anterior, “And Nothing Hurt”, de 2018, e os quatro anos que separam um álbum do outro demonstram como a banda mantém a coesão.

Ambos são bastante parecidos em sonoridade e estrutura, tanto que podiam ser uma coisa só — mas ainda bem que não são, porque desde que a opção pelo suporte físico foi pra escanteio, as MADAMES resolveram que é ok gravar discos imensos, e que a rigor seriam álbuns duplos. Poxa, Dylan, os Beatles, o Clash e o próprio Spiritualized ensinaram que disco duplo é coisa séria, um recurso para quando você realmente tem muito a dizer.

De modo que “Everything Was Beautiful” é um disco econômico para os padrões atuais, com sete canções emocionantes amparadas pela parede sônica característica do trabalho de Pierce. A abertura com “Always Together With You” (que por sinal faz mais um paralelo com o disco de 1997, sussurrando o nome do disco já nos primeiros segundos) vai sobrepondo camadas até explodir em um redemoinho feliz. Está entre as coisas mais lindas que o Spiritualized já gravou — aliás, já perceberam como Pierce sempre abre seus álbuns de forma matadora?

E o resto do disco segue pela mesma toada. “Everything Was Beautiful” é um álbum que aposta no seguro e não reserva grandes surpresas para quem já está habituado ao som do Spiritualized. Por isso, admito que talvez seja forçar um pouco a barra escolher este disco como o melhor de 2022. A concorrência é forte e é possível que a honraria se adeque melhor ao revamp country de Angel Olsen em “Big Time”, à ópera pop do Beach House em “Once, Twice, Melody”, ou ao punk chiclete da estreia do Wet Leg. Todos excelentes discos, tudo bem. Mas o negócio é o seguinte: se Jason Pierce resolveu mostrar serviço, rasga-se o regulamento. Não importa quem fez mais pontos, quem marcou mais gols ou quem levou menos cartões — entramos conscientemente no terreno da marmelada. Desculpe a trapaça, mas é um novo álbum do Spiritualized, entende? Apita o juiz, eis aqui o melhor disco do ano.


Alessandro Andreola é jornalista, autor dos livros “Música do Dia” e “The War On Drugs: Lost In The Dream” e um dos responsáveis pela Editora Barbante

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