Ao vivo: Marcelo D2 faz do Circo Voador um terreiro de samba numa noite antológica

texto por Bruno Lisboa
fotos de Rafa Catarcione / Acervo Circo Voador

Em toda sua trajetória, seja com o Planet Hemp, seja solo, Marcelo D2 construiu relações intrínsecas entre a sua cidade natal e a música em seus mais variados estilos e formatos. E esse relacionamento ganhará novos contornos em 2023 com o vindouro “Iboru”, álbum que terá o samba como força motriz. O primeiro single já lançado, “Povo de Fé”, dá uma clara noção das intenções do artista, e nada melhor do que dar o pontapé inicial desse novo projeto em casa, no Circo Voador.

O Circo, aliás, tem uma relação icônica não só com o Rio de Janeiro como também com Marcelo, que é assíduo frequentador do espaço, fator que contribuiu para sua formação musical e pessoal, o que torna a noite ainda mais especial. Jogar em casa costuma ser um fator primordial para que se conquiste a vitória e, cercado de amigos e familiares, o centroavante rapper sambista prometia uma autêntica festa de afro samba digital.

O agito começou com Sain, projeto com sonoridade ligada ao rap que dialoga, tanto com beats contemporâneos quanto a escola boom bap dos anos 90. Capitaneado por Stephan Peixoto, filho primogênito de D2, a apresentação conciliou trouxe faixas conhecidas do público presentes assim como novas canções a serem lançadas num álbum vindouro. A participação relâmpago do próprio Marcelo foi um dos pontos altos do show.

Entre as apresentações, a DJ Tatá Ogan manteve o clima quente, trazendo o supra sumo do rap brasileiro e da escola clássica do samba. Prólogos e introduções feitas, era chegada a hora de D2. Tendo como músicas incidentais faixas como “Padê Onã”, de Kiko Dinucci, Marcelo adentrou ao palco escudado por um time de 12 músicos entre coro, percussão, violão de sete cordas, cavaquinho e metais, transformando o Circo num terreiro de samba.

Com visual de palco acachapante que mesclava trechos de filmes e videoclipes de sua discografia no telão, a apresentação durou cerca de duas horas, colocando em evidência um dos seus principais fundamentos: conciliar, como poucos, tradição e modernidade.

O longo e surpreendente set mesclou (seis) canções novas, clássicos e hinos de outros artistas do samba / pagode indo de Zeca Pagodinho (“Maneiras”, “Delegado Chico Palha) a Beth Carvalho (“Água de Chuva do Mar”), de Fundo de Quintal (“A Batucada dos Nossos Tantãs” e “Lucidez”), a Seu Jorge (“Zé do Caroço”) e Renato da Rocinha (“Castelo de um Quarto Só”) deixando claras suas referências musicais.

De forma acertada, D2 resgatou faixas de sua autoria que já tinham conexões com o samba, mas também soube recriar outras que ganharam versões ainda mais rítmicas: “Desabafo”, “1967”, “A Maldição do Samba”, “Qual é?”, “Rompeu o Couro”, “A Procura da Batida Perfeita” e “Pilotando o Bonde da Excursão, música em que Marcelo convidou ao palco uma garota do público que realizou uma exímia performance de dança. “Cabô, Meu Pai”, outra de Zeca Pagodinho, colocou ponto final numa apresentação que foi uma ode precisa a alegria, ao amor e a esperança que tanto necessitamos em 2023.

–  Bruno Lisboa  escreve no Scream & Yell desde 2014. 

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