Ao vivo: Com show simples, Dua Lipa faz noite grandiosa em São Paulo, com direito a toda energia de “Future Nostalgia” 

texto por Renan Guerra

Se no feriado de 7 de setembro o tempo era frio e chuvoso, a quinta-feira amanheceu solar em São Paulo, com a previsão de 30 graus durante a tarde. Mas São Paulo não nos dá tudo. Se tivemos um dia de sol, tivemos também um dia de trânsito caótico ao final de tarde. Um dia útil pós-feriado sempre será uma provação para a cidade, ainda mais considerando que o show de Dua Lipa foi adiantado das 21h30 para às 20h30. É preciso sempre lembrar: não brinque com o trânsito de SP num dia útil, ainda mais se você precisar chegar em algum lugar que dependa das marginais.

8 e tanto da noite e muita gente ainda estava do lado de fora do Distrito do Anhembi, porém com sua pontualidade inglesa, Dua Lipa entrou no palco pouco após às 20h30 para a alegria de um público imenso que já tomava o espaço para si. É importante destacar a diversidade dessa audiência. Sim, os homens gays estavam em peso, mas haviam muitas mulheres e muitas famílias. Havia um número muito amplo de crianças, meninas em torno dos 10 anos, pra menos e pra mais, que sabiam cantar tudo. Nos ombros de seus pais, era fácil enxergar elas de longe e esse público jovem formava uma parcela importante dos fãs de Dua Lipa na capital paulista.

O show é essencialmente baseado no disco “Fulture Nostalgia”, pois ela toca o álbum na integrta incluindo algumas versões do disco de remixes. E isso não é um problema, pois “Fulture Nostalgia” foi a trilha de muitas pessoas no tempo de isolamento social e é positivo poder ouvir o disco ao vivo, em um show tão grandioso. Dua Lipa é uma artista que cresceu muito sonoramente nos últimos anos, e isso fica claro no amadurecimento entre o seu disco de estreia, “Dua Lipa” (2017) e este segundo disco. Porém, com a pausa nos shows, ficou essa tensão em suspenso de como ela se sairia no palco, mas ela provou em São Paulo que tem a energia de grande estrela pop, que sabe dar conta de um palco imenso.

Uma das questões que a internet adora retornar é o fato de Dua Lipa não ser lá uma grande dançarina. Realmente, não é. Mas isso é o de menos ao vivo, pois seus esforços em dançar são menores quando comparados a sua entrega em cada canção e a sua sinergia com seus dançarinos e sua banda que, aliás, é um tópico importante: em tempos que os artistas vêm para turnês latinas com equipes diminutas, às vezes até sem banda alguma, Dua Lipa traz uma banda completa, acompanhada de quatro backing vocals e um corpo de baile de oito dançarinos, que preenchem o palco e trazem uma força ao show ao vivo.

No palco, as canções do “Fulture Nostalgia” ganham em groove e em levada, criando uma força que cativa o público. Tanto “New Rules”, hit de seu disco de estreia, quanto canções como “Physical”, “Pretty Please” e “Boys Will Be Boys”, foram forças motrizes para que o público cantasse junto e se deixasse levar pelo universo da cantora britânica. Além das faixas citadas, destaca-se o momento em que ela canta “Cold Heart” e Elton John surge no telão, enquanto ela e seus dançarinos se enrolam em bandeiras do movimento LGBTIA+.

Na prática, é um show simples, comparado com a megalomania de diversas cantoras pop dos Estados Unidos. Dua tem banda, dançarinos e projeções, só. Em determinados momentos há luzes mais estroboscópicas ou mesmo alguns balões com o desenho do globo terrestre que caem sobre o público, porém nada fora do normal. É um espetáculo com formatação e energia de show de música, sem grandes peripécias circenses, e por isso funciona, por isso atrai o público. Dua Lipa não parece uma figura muito distante da platéia, ela parece uma pessoa normal, que encontraríamos na fila da cerveja.

Ela é uma artista jovem e que tem potencialidades a serem desenvolvidas, mas também tem uma energia de alguém que ainda pode mostrar outras facetas, porém é muito interessante ver o quanto ela já movimenta esse público e já conquista uma gama de pessoas. Sua força é inegável e é muito bom poder vê-la se divertindo em cena, se emocionando com o público brasileiro (ela chegou a derramar lágrimas de emoção em certo momento) e entregando um show que convence pela sua naturalidade, pela sua sinceridade e pela sua emoção.

– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Faz parte do Podcast Vamos Falar Sobre Música e colabora com o Monkeybuzz e a Revista Balaclava

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