Três Perguntas: Filipe Barros, criador da série “G.I.B.I.S.”

entrevista por Leonardo Tissot

Explorar o universo dos quadrinhos no Brasil. Esse foi o mote que deu vida à nova série documental “G.I.B.I.S.”, que estreia neste mês no canal a cabo Prime Box Brazil e na plataforma de streaming Box Brazil Play. O nome da série é um acrônimo para “Guia Brasileiro de Ideias Super-Heroicas”.

Com apresentação dos irmãos Cris e Gustavo Peter, “G.I.B.I.S.” tem um tom bem-humorado para tratar do tema. Tentando fugir do quase-monopólio da Marvel e da DC, a série explora, em uma temporada de oito episódios, temas como os clássicos “formatinhos” — muito populares no país até os anos 90, mas que vêm perdendo espaço para o formato americano —, mangás, heróis brasileiros, HQs de terror, RPG e, é claro, a Turma da Mônica. Inclusive, com direito a entrevista exclusiva com o criador Mauricio de Sousa.

O primeiro episódio vai ao ar na Prime Box Brazil (canais 656 da Claro HD/Net HD, 156 da Claro/Net, 157 da Sky e 85 da Oi TV — também disponível em operadoras regionais) no dia 12 de novembro, às 20h30. Todas as sextas-feiras, no mesmo horário, um novo episódio vai ao ar (com reprises ao longo da semana). Para quem prefere o streaming, a série já está disponível na íntegra na plataforma Box Brazil Play. “G.I.B.I.S.” tem produção assinada pela Colateral Filmes, com coprodução da Prime Box Brazil e financiamento do Fundo Setorial do Audiovisual.

Conversamos com Filipe Barros, diretor e criador da série, que falou sobre sua obsessão por quadrinhos e o papel de Cris e Gustavo no desenvolvimento do programa, além de revelar qual seu episódio favorito. Confira!

Você fala que a ideia de “G.I.B.I.S.” vem da sua obsessão por quadrinhos. Como começou essa obsessão? Quer dizer, quando você percebeu que era mais do que um leitor de HQ, e sim alguém que queria fazer parte desse mundo de alguma forma? Teve algum autor ou obra que te deu um “empurrãozinho” para esse outro nível de relação com os quadrinhos?
Ao contrário de muita gente, eu comecei a comprar mais quadrinhos ali pelos 20 e poucos anos. Na adolescência eu cheguei a comprar alguma coisa, mas a maior parte da minha coleção começou aos 20 anos mesmo. Como eu sempre trabalhei com edição de vídeo, as HQs eram um jeito de descansar os olhos depois de passar um dia inteiro editando. A vontade de fazer parte desse mundo veio muito de tentar usar esse conhecimento que eu ganhei lendo quadrinhos na minha profissão: “como eu posso usar esse monte de quadrinhos no meu trabalho com audiovisual?”. A resposta foi desenvolver uma série que focasse em gibis e tentar mostrar além do universo Marvel e DC. Não que a série não fale sobre isso, mas a ideia inicial era ir além das grandes editoras. Não sei se tem como dizer que esse empurrãozinho foi por causa de algum autor ou quadrinho específico, mas quando li “Os Ignorantes“, do Étienne Davodeau, eu tive o estalo de como uma simples conversa entre o entrevistado e o apresentador pode ajudar a abrir esse caminho para novos tipos de HQ. Nesse quadrinho, o autor conta sobre como foi a troca dele com um vinicultor — o Étienne ensinava pro vinicultor sobre HQs e, em troca, o vinicultor ensinava sobre vinhos.

Gustavo e Cris Peter

Como se deu a escolha da Cris e do Gustavo Peter para serem os apresentadores da série? E de que forma você conciliou o seu papel como criador e diretor dos documentários com a própria experiência e relação pessoal deles com os quadrinhos? Quer dizer, o quanto do que veremos na tela é a visão do Filipe e quanto é a visão da Cris e do Gustavo?
Na ideia inicial, “G.I.B.I.S.” era quase uma mesa-redonda sobre quadrinhos, em que a Cris fazia parte junto com outros apresentadores. Mas com o desenvolvimento da série, a gente viu que ia ser difícil manter esse formato. Então, vendo o canal da Cris com o irmão dela, o Gustavo [“Super Peter Bros.”], a gente teve a ideia de ter os dois como apresentadores da série. Quem trouxe a Cris pro projeto, inicialmente, foi o nosso produtor executivo, Eduardo Christofoli. Ele tinha sido colega do Gustavo no colégio e sabia que a Cris trabalhava para o mercado de quadrinhos como colorista. Durante a pesquisa, eu tive um certo receio de como eu ia conciliar as minhas ideias sobre quadrinhos com as deles. Mas logo nas primeiras reuniões de pauta, eu vi que esse era um receio bobo. Os irmãos estavam bem abertos ao que foi proposto. Além disso, eles ajudaram bastante, sugerindo pautas e entrevistados. A série não é uma construção minha, ela é de toda a equipe que participou do projeto. Mas em uma coisa os irmãos ajudaram bastante: no humor presente nos episódios. Eu escrevi os roteiros, mas eles tiveram total liberdade para colocar as piadas do jeito deles.

A entrevista com Mauricio de Souza está no 8º episódio da série

Dos oito episódios produzidos, você tem algum favorito? Qual deles e por quê? E, caso tenham planos para uma segunda temporada, que tema gostaria de abordar ou qual entrevistado gostaria de incluir em um futuro episódio, que não tenha entrado na primeira?
Meu episódio favorito vai ser sempre o da Mônica. Eu sempre fui fã dos quadrinhos e não imaginava que a gente ia conseguir entrevistar o Mauricio de Sousa. Tanto que na diária de gravação, a gente inicialmente só ia gravar entrevistas com as pessoas que trabalhavam no estúdio. Mas tivemos sorte de o Mauricio aparecer lá. Nosso produtor, o Flávio, deu uma incomodada pra conseguir a entrevista com o Mauricio. E conseguiu! Foi algo rápido, mas bem legal. Além disso, o Flávio ainda conseguiu que o Mauricio desenhasse um Horácio pra mim. Logo depois da gravação eu fui tatuar o desenho no braço. Estamos conversando ainda sobre a segunda temporada, mas eu sei que ficou faltando muita coisa essencial pro leitor de quadrinhos brasileiros. Não temos nenhum episódio que fala sobre “Tex”, sobre os gibis da Disney ou, então, sobre os quadrinistas da “Chiclete com Banana”. Acho que ainda tem muito pano pra manga para uma segunda e terceira temporadas.

– Leonardo Tissot (www.leonardotissot.com) é jornalista e produtor de conteúdo

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