Entrevista: Daniel Herculano (Clube Box) – Mercado Cinéfilo de Mídia Física 2020

entrevista por João Paulo Barreto

Terceira de uma série de 9 entrevistas sobre o Mercado Cinéfilo de Mídia Física n Brasil

Um dos primeiros clubes de assinatura a surgir no Brasil com um foco voltado para o colecionismo de filmes em mídia física e de itens de memorabilia cinéfila foi o Clube Box, projeto idealizado pelo crítico de cinema e curador Daniel Herculano e pela psicóloga Lívia Menezes.

Chegando à sua caixa 54, o Clube Box tem uma parceria com a Classicline, distribuidora situada em Fortaleza, e que trabalha com filmes de diversos nichos. “Desde que começou a pandemia, estou conseguindo manter uma média de 200 a 210 pessoas comprando o Clube Box todo mês. E se você pensar nisso, eu chego na Classicline e garanto que ela produza um filme que já parte com 200 vendas. Isso é muito importante. Digamos assim, um filme que ele talvez fosse não fosse arriscar mil peças, mas 500 peças, 300 peças, que é mais caro para um produtor como a Classicline fazer, eu já chego com 200 vendidas”, pontua Daniel ao salientar a importância da parceira para a empresa cearense.

Além de filmes em mídia física, os outros pontos que traem os assinantes da Clube Box estão nos itens de memorabilia cinematográfica que recheiam as caixas, como as opções de literatura com foco em cinema (quadrinhos, livros), camiseta com estampa exclusiva e réplicas de famosos objetos de cena (conhecidos como props). “Fizemos isso com o totem de ‘A Origem’; com a carteirinha do McLovin, no ‘Superbad’; como o cartão de visita do Hannibal ou do BeetleJuice; com a passagem de avião do ‘Final Destination’; com o sabonete do ‘Clube da Luta”, relembra Daniel.

Nessa entrevista ao Scream & Yell como parte da série de matérias sobre o Mercado de Mídia Física em 2020, Daniel Herculano aprofundou mais acerca da Clube Box, seu trabalho de curadoria na Classicline, bem como sobre o lançamento do Código Nolan, coleção com três filmes do diretor britânico. Confira o papo!

http://www.clubebox.com/

O Clube Box surgiu a partir de uma empreitada levada à frente por você e por sua esposa, Lívia Menezes. Como se desenvolveu essa ideia original de unir mídia física a outros itens de memorabilia de cinema para colecionadores em uma assinatura mensal?
Isso. Somos basicamente nós dois, com algumas pessoas que agregam. O Clube Box é o primeiro clube de assinatura de cinema. Abrange, também, literatura, mas é literatura de cinema. Tudo o que nós colocamos no Clube Box que é de literatura tem um foco no cinema. Podemos dizer que é o primeiro clube de cinema do Brasil. O primeiro a enviar mídia física. Começamos em junho/julho de 2016. Eu pensei em criar o Clube Box ao olhar para o mercado. Vendo que o mercado dos clubes de assinatura, naquele momento, era aquele verdadeiro boom e que, hoje, é algo consolidado. Os melhores permaneceram e conseguiram permanecer vivos, sobrevivendo a tudo isso. Na época, acho que existiam no Brasil 500 clubes de assinatura, pela minha pesquisa. E percebi que, focado especificamente em cinema, não tinha nenhum. Tínhamos clubes de quinquilharias nerd/geek, como o Omelete, que acabou há pouco tempo. Ou como o Nerd ao Cubo e o Nerd Loot, que ainda existem. E tinha também a TAG, que acho que é um grande exemplo do Brasil. Um clube literário exemplo mesmo de negócio. Algo fora de série, focado mesmo na literatura. E aí pensei em algo que ficasse entre um e outro. Pensei em algo nicho do nicho. E o nicho do nicho que eu também me encaixava dentro desses dois, é o cinema. Escrevo para cinema desde 1995. Cinéfilo apaixonado. Depois me profissionalizei com o curso de Jornalismo e outros cursos. Entrei na Abraccine, depois na Fipresci, com júri da Fipresci em festival internacional. E, obviamente, meu mundo gira ao redor do cinema. Eu que sou o meu cliente. Então, nada mais justo do que fazer um clube de cinema. E daí a gente começou a pensar no que poderia vir na caixa. A primeira coisa que pensei foi em trazer um filme. Tinha que vir um filme. Eu já conhecia a Classicline. Já trabalhei para a Distrivideo, uma empresa do grupo, quando eu tinha 17, 18 anos. Há muito tempo. Trabalhei na locadora deles, conhecia todos os negócios. Eles têm uma distribuidora de filmes, a Classicline, que é um selo que existe há 18 anos, e os procurei para ser meu parceiro prioritário. Nesse caso, ele seria o meu fornecedor de DVDs. A minha proposta era que eles me vendessem um filme a um preço, digamos, próximo do de custo e que não desse nenhum prejuízo à marca. E eu iria difundir a Classicline junto aos meus assinantes. Junto às minhas redes sociais, às minhas parcerias com jornalistas e formadores de opinião que recebem as caixas mensalmente. E isso iria fortalecer o nome da Classicline. E acredito, olhando agora, quatro anos depois da Clube Box, que nós fizemos isso. Hoje, a Classicline é uma marca conhecida. Hoje, a Classicline é uma marca que os nossos assinantes compram, procuram os filmes. Às vezes mandam mensagens perguntando: “E aí? Vocês vão colocar esse filme em algum momento na caixa? Se não vão, me diz que eu vou comprar lá na Classicline”. Mas antes de chegar a esse ponto da Classicline, para falar da criação da Clube Box, foi isso. Pensamos nisso. Pensamos em um clube que não existia, mas que poderia ter um mercado. Hoje, temos esse mercado. Nós conquistamos. E que abrangesse cinema e literatura. Mas, obviamente, focado no cinema. Enviando, sempre, mídia física.

Como você mesmo disse, sua proximidade com cinema desde muito jovem, bem como sua trajetória como crítico e jornalista, ajudou no seu trabalho desenvolvendo a Clube Box e fazendo a curadoria. Misturar trabalho com uma paixão pelo cinema, uma vez que aquele hobby pode gerar atritos ao se tornar uma obrigação profissional, pode ser prejudicial, na sua opinião?
Na verdade, acho que me ajudou ter essa proximidade. Até o Pablo Villaça me perguntou, quando fiz uma live com ele há pouco mais de um mês (N.E. Entrevista realizada em 23/09/2020), como eu estava lidando, hoje, com minha carreira de crítico. E, hoje, a minha carreira de crítico de cinema é voltada para minha curadoria da Clube Box. Todo o meu conhecimento, algo que nunca para, a gente está sempre estudando, aprendendo, pesquisando, lendo, e vendo muito filme. Todo o meu conhecimento nesses anos foi essencial para criar o conteúdo da Clube Box. Se eu não assistisse há três, quatro anos, a 400 filmes por ano, como eu conseguia antes, quando a vida era mais tranquila, eu não poderia, por exemplo, criar itens para a minha caixa que fossem atrativos para o meu público. Para contextualizar, a Clube Box envia todo mês um filme em DVD. Além disso, enviamos uma camiseta exclusiva sempre com referência aos filmes naquele tema do mês. Uma camiseta pensada para a caixa. Não é uma camiseta que você compra no mercado, mas uma camiseta feita para aquele mês. Enviamos, também, um livro. Geralmente, uma adaptação ou algo do tipo, sobre aquele tema que criamos. E um quarto ou quinto item, a depender do mês, vem da memorabilia. Pode ser um pôster, um colecionável. Por exemplo, já enviamos réplicas de um prop, que é um item de cena que nós replicamos. Fizemos isso com o totem de “A Origem”; com a carteirinha do McLovin, no “Superbad”; como o cartão de visita do Hannibal ou do BeetleJuice; com a passagem de avião do “Final Destination”; com o sabonete do “Clube da Luta”. Então, tudo o que acumulei como bagagem de cinema, me faz ter a capacidade de, todo mês, pensar em um tema comercial, um tema viável, um tema que seja atrativo para meu público. É algo que me faz saber escolher o filme, saber comprar o livro, passar um briefing para o ilustrador para saber quais são os filmes que a gente pode usar naquela camiseta. Algo que vai fazer o coração do cinéfilo pulsar mais forte quando abrir a caixa. Isso foi essencial para mim. Se eu fosse uma pessoa extremamente comercial e nada cinéfila, eu poderia fazer altos negócios. Comprar um filme mais barato, comprar um livro mais barato. Negociar com a empresa que faz minhas camisas um preço legal. Mas, talvez, o conteúdo não fosse bom. Então, isso, para mim, é essencial para fazer com que eu tenha um conteúdo atrativo todo mês.

Com a ascensão do streaming no Brasil coincidindo justamente com a criação e o desenvolvimento da Clube Box em sua proposta de enviar filmes em mídia física, você sentiu que poderia representar uma ameaça a esse formato de oferecimento de produto na caixa?
Olhando de trás para frente, à época, não conseguíamos perceber o streaming como, digamos, uma ameaça, como muitos falam, para a mídia física. Mas a gente acreditava que tínhamos um conjunto o qual as pessoas queriam sempre ter. Uma experiência completa. Quando começamos com a caixa, não tínhamos esse modelo ‘filme, camisa e livro’. Eu tinha certeza que ia vir só filme e livro. E daí a gente foi experimentando. Sempre tem que vir livro porque o pessoal quer. Sempre ter que vir um colecionável. De junho e julho de 2016 para cá, até a caixa oito, a gente moldou o nosso público e disse: “Olha, eu estou te garantindo que vai vir esses três itens”. O que eu percebia naquela época, quando houve o boom do streaming, foi que as pessoas começaram a procurar por isso e algumas abandonaram a mídia física. Algumas, claro. Não todas. Afinal, estamos aqui vivos como colecionadores. Nós começamos a perceber que a camiseta era um grande atrativo, sabe? O mais engraçado: alguns abandonaram o filme físico, mas sempre quiseram um livro. Um ou outro assinante pede para enviarmos dois livros, ao invés de um DVD. Perguntam para a gente se é possível. Nós vamos lá, negociamos. Mas eu percebo, também, que de quatro anos para cá, criamos uma série de colecionadores de filmes. Então, pessoas que tinham um ou outro filme em casa, filmes como, por exemplo, “Titanic”, “Dirty Dancing”, “Ghost”, “ O Auto da Compadecida”, enfim, algum grande sucesso ou algum inesquecível por algum motivo da vida da pessoa. Essas pessoas começaram a criar gosto por terem os filmes. A gente enviar o filme incentivou muitos a se tornarem colecionadores. Inclusive, a criarem perfis de Instagram para mostrar as coleções. De fazerem suas prateleiras não somente com o filme, mas, também, com um colecionável ou com um pôster ou com algo do filme. Percebemos muito isso. Engraçado é que, no mês oito da Clube Box, lançamos junto com a DarkSide Books, o livro dos bastidores do “Twin Peaks”. E aquele mês foi muito importante, pois cravou que a gente não podia abandonar a mídia física. Naquele mês, o livro me custou algo em torno de R$40. Custou mais da metade do valor da caixa ou 70% do valor da caixa. Então, eu não tinha como colocar um filme por conta do valor daquele livro que eu estava lançando. Então, naquele mês, eu coloquei uma camiseta do Black Mirror, o livro do Twin Peaks, e mais dois colecionáveis do Arquivo X, finalizando os quatro itens. E todo mundo que recebeu essa caixa entrou em contato perguntando porque não tinha vindo DVD naquele mês (risos). “Como é que você faz isso? Você me acalentou durante sete meses mandando DVD, alguns até duplos, e nesse mês você não faz isso?” Ali, percebi que não poderia abandonar a mídia física jamais. Eu tenho que mudar o preço do livro, se for possível, tenho que adequar, mas não posso abandonar a mídia física. Nos outros meses seguintes, mandamos dois filmes, mandamos filmes duplos, sempre para compensar. Eu lembro que quando foi no final do ano, eu até falei com a Classicline, disse que ia comprar um filme com eles para a caixa, ia colocar como Classicline Apresenta, e que o outro filme eles iam dar aos assinantes como presente de natal. A Classicline chegou junto. Deu o filme, patrocinou nossa caixa. E no natal daquele ano, se eu não me engano, a caixa 10, as pessoas receberam dois filmes. A partir disso, até tiveram outros casos de a gente enviar filmes duplos ou até dois filmes separados para compor um tema.

Sempre envios mensais?
Isso. Estamos na caixa 51 hoje. Sempre mensal. 51 caixas ininterruptas. Já lançamos um caixão da Elvira, lançamos uma caixa “Halloween” extra. E teve, também, o número zero, que foi a forma que eu fiz para lançar o Clube Box, quando eu enviei para 20 pessoas escolhidas entre formadores de opinião, jornalistas, críticos, youtubers. A partir daí, moldei a minha forma de divulgação. A minha forma de divulgação é estritamente isso. Todo mês eu tenho quatro, cinco pessoas que recebem a minha caixa, abrem e mostram para outras pessoas nas redes. Dentro desse meio de literatura e cinema.

Além de livros temáticos relacionados a Cinema, eu li que a Clube Box também já enviou quadrinho.
Sim. Tivemos duas edições Clube Box nomeadas de quadrinhos. Uma foi a Super HQs, a 24, quando lançamos, junto com a Dark Side, a edição definitiva de “O Corvo”. Foi a edição de aniversário de dois anos. Sempre pensando em que? Primeiro, era um lançamento. Era um livro, uma graphic novel que todo mundo queria ter. E se adequava não apenas por isso, mas, também por ter tido uma adaptação de cinema tão boa que ficou cultuada. Inicialmente, se tornou conhecida pelo motivo triste da morte do Brandon Lee, mas que, artisticamente, é um filme que considero notável. Esse foi o motivo da escolha de “O Corvo”. Na edição 30, tivemos a Super Comics, na qual enviamos a placa do “Ghost Rider”, o filme do “Darkman”, e um quadrinho chamado “Bill Finger – A História Secreta do Cavaleiro das Trevas”, que a editora Skript lançou. A Skript é uma editora que está crescendo assustadoramente no mercado. Essa graphic novel tem a biografia do Bill Finger, que foi muitos anos depois reconhecido como o co-criador do Batman, junto com o Bob Kane. E também foi muito bem recebido no lançamento. E pegou os assinantes de surpresa, porque não conheciam a Skript, uma nova editora no mercado, mas com uma qualidade maravilhosa do produto. Essas duas foram edições que homenageavam os quadrinhos, mas que refletiam o cinema. Sempre escolhemos pensando no cinema. Com “O Corvo”, a minha divulgação foi em cima do lançamento da graphic novel, mas usando, também, o filme como grande chamariz. E com Bill Finger foi, obviamente, chamando pelo Batman e seus personagens. Como ele se inspirou para criar a Mulher Gato, o Coringa, o Charada, enfim, todos aqueles personagens ali ao redor do Batman. Além dessas duas edições bem focadas, tivemos uma incursão de quadrinhos na edição três, que foi cult-movies. Foi na caixa três, na qual eu não enviei uma publicação, um livro, nem um graphic novel, digamos assim, que tenha um peso de livro, mas enviei quadrinhos one-shot, com histórias que o assinante poderia ler do começo ao fim só naquela edição. Quadrinhos que também tiveram adaptações. E a divulgação, também, foi toda feita em cima dos filmes. Eu não falei quais eram os quadrinhos que iam sair, mas as escolhas foram bem recebidas. Desde então, a gente só enviou livros de adaptações ou de bastidores, e esses dois graphic novels em edições específicas de quadrinhos.

Além de editoras já estabelecidas no mercado, já houve alguma parceria através de lançamentos feitos por financiamentos coletivos?
Sempre procuramos publicações que podem estar no Catarse. Apoiamos, inclusive, um autor cearense, o Adams Pinto, que estava publicando “Jardim dos Famintos”. A parte dois deve sair ainda até o final do ano. Alguns autores até nos procuram para falar de lançamentos buscando o Clube Box. O que é muito importante dizer até para as pessoas que buscam esse tipo de parceria ou querem entrar no meio da Clube Box é que quando alguém oferece um livro ou um quadrinho, e ele está no Catarse, é importante a referência, sabe? De onde vem, de onde eu posso puxar a divulgação desse quadrinho ou livro. Quero fazer mais parcerias? Quero até publicar e ajudar no Catarse? Sim, quero. Mas, por exemplo, não adianta a pessoa nos procurar com um material totalmente inédito no qual eu não vou conseguir explorar para divulgá-lo. Porque a Clube Box não divulga seus itens dentro da caixa. Existiram uma ou outra situação, como “O Farol”, que divulgamos. Mas como é que eu vou colocar um spoiler de uma publicação que não tem nenhum tipo de referências com o cinema, por exemplo? Nesse sentido, a gente busca novos autores e produtos no Catarse? Sim. Mas produtos que a gente possa ter algum tipo de referência para se utilizar e para mostrar ao assinante Clube Box que tem esse tipo de referência. Na Clube Box #49, por exemplo, apoiamos não um quadrinho, mas um livro, que também saiu pela Skript, de uma autora de suspense brasileira premiada chamada Larissa Prado, que é “O Rastro da Serpente”. https://www.catarse.me/orastrodaserpente Como eu divulguei esse livro, já que não era referencial? Ele tinha nuances de “Bebê de Rosemary”, ele tinha nuances de “A Profecia”. Então, tinha como a gente falar disso. Mas se eu pegar um livro que não tem nenhum tipo de referência ou que não possa se apegar a isso, não tenho como divulgar, infelizmente.

Você citou a camiseta exclusiva e o artista ilustrador que trabalha na criação das estampas. Poderia falar um pouco sobre esse processo de construção?
A camisa, até janeiro de 2021, (N.E. Atualização – a parceria foi até novembro/2020) está garantida com uma marca cearense chamada Quadrin. Ela é de um artista cearense que tem parceria até fora do país com as estampas dele. São estampas 100% originais. A gente nunca pega um cartaz e chapa na camiseta. Nunca. Acho que o mais próximo que chegamos a fazer isso foi com um que fizemos do “Get Out!” que tem uma imagem desenhada em cima do cartaz, mas que usa outros elementos do filme. Mas se você olhar todas as camisetas que já enviamos até hoje, em alguns meses até duas camisetas, são sempre artes totalmente originais. A gente pode até modificar o pôster, para fazer uma brincadeira, mas sempre com um resultado original. Nossos “mash ups” ou misturas de filmes com artes são totalmente originais. Isso é uma grande vantagem. Porque você está utilizando uma camisa pensada para o meu tema. Não é uma camisa que eu posso comprar em qualquer loja, ou que possam pedir a estampa para imprimir. Então, assim, eu “brifo” o artista, eu “brifo” a marca, e falo: “Esse mês, eu vou trabalhar com lendas do horror e eu pensei em fazer uma camisa na qual você vai pegar o ‘Lenda Urbana’, e ao invés da cara dos atores, vão estar o Babadook, o Candyman, o personagem de Pânico”. Você vai ter, digamos, um retalho daqueles filmes de terror com suas lendas todas ali. Então, a partir disso, ele coloca a arte dele. Ele aceita ou não, dá as sugestões, e coloca a arte dele. Inclusive, uma história relacionada a isso que eu falei de a gente não chapar o poster do filme, foi uma brincadeira que fizemos há três meses (N.E. Entrevista realizada em 23/09/2020), na caixa “Serial Lover”, quando brincamos com a palavras serial de serial killer. Foi nossa caixa dos namorados que tinha duas camisetas. Em uma delas, eu queria muito misturar “Instinto Selvagem” e “Atração Fatal”, porque os dois eram com Michael Douglas, os dois eram thrillers eróticos fantásticos, sucessos de crítica e público. Ao mesmo tempo, pensei que teria um terceiro vértice nesse história, que não tinha muito a ver com Michael Douglas, mas que era um filme que bebia nesses dois, que é o “Garotas Selvagens”. Sugeri colocar o pôster do “Atração Fatal” e, na parte vermelha, aquele sangue que divide a Glenn Close e o Michael Douglas, eu colocaria a Sharon Stone naquela cena clássica do interrogatório, e o nome “Wild Things” ficou no lugar de “Atração Fatal”. E dai ficou bem bonita a camisa. Uma estampa só com uma homenagem ao “Garotas Selvagens”, ao “Instinto Selvagem” e ao “Atração Fatal”, sabe? É isso que eu penso. Entregar uma camiseta como essa ao meu assinante. Ter essa surpresa e ter essa estampa exclusiva por aí.

Como se deu o crescimento em termos de números de assinantes de 2016 para cá? Qual foi o impacto da pandemia nesse número?
Começamos na caixa zero com 20 convidados. Depois, caixa 1, fomos para cinquenta assinantes. Depois fomos escalonando. Tivemos um boom, quando chegamos a 250 assinantes. Acho que o boom foi no final de 2017, começo de 2018, mais ou menos na metade do Clube. E daí tivemos uma queda que chegamos ficar com uma média de 150/160 assinaturas. Lembrando sempre que é algo variável, pois temos assinaturas recorrentes e pessoas que só compram, pelo tema, uma caixa só. Aí vem uma coisa importante: quando a pandemia chegou, nós estávamos com uma média de 160/170 assinantes. Estávamos com essa média um pouco para cima. Quando começou a pandemia, assim como a mídia física reviveu para muitos, nós aumentamos as assinaturas. Hoje, na caixa 51, temos 215 assinantes. Mas como é um número variado, temos assinantes com planos ativos que eu posso sempre me garantir de um mês para outro, mas tem aqueles que sempre compram por tema. Então, eu vou te dizer que, desde que começou a pandemia até hoje, eu estou conseguindo manter uma média de 200 a 210 pessoas comprando o Clube Box todo mês. E se você pensar nisso, eu chego na Classicline, garanto que ela produza um filme e já parta com 200 vendas. Isso é muito importante. Digamos assim, um filme que ela talvez fosse não fosse arriscar mil peças, mas 500 peças, 300 peças, que é mais caro para um produtor como a Classicline fazer, eu já chego com 200 vendidas. Ele já está começando a pedir a tiragem de um filme que ele não arriscaria tanto, 500, 750, 1000 peças. Ou seja, a Clube Box está fazendo o mercado de mídia física girar.

É possível observar uma relação bem direta com o movimento do mercado de mídia física, não somente por fazer uma distribuidora como a Classicline perceber o potencial de já sair com, ao menos, 20% de seu estoque vendido, mas, também, por alimentar esse colecionismo de filmes em DVD.
Sim, podemos fazer esse paralelo. Como falei anteriormente, nós criamos alguns colecionadores. Fizemos com que pessoas que tinham apenas um ou dois filmes em casa, adotassem a mídia física, também. A partir daí, essas pessoas que se tornaram colecionadores passaram a procurar outros filmes. Nós temos essa proximidade com muitos dos nossos assinantes. Sabemos, mais ou menos, o que eles fazem , em que trabalham, temos contato direto no inbox. Às vezes passo o contato direto do WhatsApp para conversar. Temos essa proximidade com muitos assinantes. E percebemos que criamos colecionadores e que eles estão procurando outros filmes, sim. Por isso que também é importante a Clube Box sempre escolher lançamentos para as suas edições. O que quero dizer com lançamentos? Não lançamentos como “O Farol”, que a gente realmente trouxe. Um filme novo e que chegou agora. Mas lançamentos de filmes que não tinham ou foram relançados, ou não existiam em DVD e que chegaram agora. Filmes clássicos, premiados, ou que estavam obscuros e nós jogamos uma luz. Ou que a gente vai escolhendo, e aí eu já falo como curador da Classicline. Todo mês, fecho junto à Classicline um filme exclusivo para a Clube Box. A partir de um leque de opções que a Classicline me oferta ou que eu levo para ele, eu digo: “Vamos lançar ‘A Conversação’?” Ou, no caso, relançar, que é um filme que já está há muito tempo esgotado do mercado. E é um filme que se encaixa com minha temática do mês, que é paranoia. Então, é importante garantir aos meus assinantes que se tornaram colecionadores que eles vão receber um filme que não é repetido. E isso acontece muito no primeiro contato que fazem conosco. Inclusive, invertendo esse caminho, algumas pessoas já colecionadoras de mídia física e que já têm um número elevado de filmes em casa, entram em contato com a gente por inbox ou email perguntando se podem saber qual filme que vem. São pessoas com coleções grandes e há um medo de ficar com títulos repetidos. E daí damos a garantia de que 90% dos filmes da Clube Box, todo mês, ou são lançamentos, relançamentos ou são filme que até então eram inéditos no Brasil. A coleção dessa pessoa sempre vai ter filmes novos com a Clube Box. Mas quando escolhermos um filme que pode se tratar de algum mais conhecido ou um filme que não seja especificamente um lançamento ou esteja na prateleira há alguns meses, mas que escolhemos naquele mês, nós entramos em contato com aquele cliente específico para tirar a dúvida. Se aquele cliente que perguntou não tiver, mandamos aquele filme para ser um inédito. Se ele tiver, eu posso conseguir outro filme. Temos esse tipo de contato com os clientes, também, para fazer com que tanto os nossos assinantes que viraram colecionadores tenham filmes novos, quanto os colecionadores que se tornaram assinantes tenham filmes novos, também.

Nesse contato dos assinantes, surgem muitas sugestões? Como você avalia como curador e na questão da viabilidade econômica?
Nós costumamos abrir algumas votações para temas de caixas futuras. Nós deixamos a nossa caixa de e-mail aberta a sugestões. Já fizemos postagens sobre isso. Obviamente, não de uma caixa já fechada e uma pessoa pedir um filme desse tema. Porque no momento em que eu estou anunciando o tema #52, por exemplo, como o que eu vou anunciar semana que vem (N.E. Entrevista realizada em 23/09/2020), eu já estou com todo material feito. Eu já comprei o livro, já tenho o filme comprado para chegar. Já tenho a ideia da estampa, só vou mandar fazer as camisas. Então, dentro de um tema já lançado, não dá pra mudar, pois já foi feito o orçamento para aquele mês e já temos os produtos prontos. Mas, para caixas futuras, sempre há espaço. Mas, aquela coisa, já teve gente que me deu sugestão como “Star Wars”, e eu expliquei que poderia fazer um tema espaço sideral, clássico SCI FI, blockbusters e incluir “Star Wars”. Mas por que eu não faço “Star Wars” como tema? Primeiro porque que não posso utilizar o nome. E mesmo que eu pudesse usar o nome dessa forma, eu garanto na minha caixa filme, livro e camiseta. Livro eu até encontro. Livros de histórias paralelas de “Star Wars”, que eu até já coloquei um da Aleph, e as pessoas gostaram. Algo oficial, mesmo. Camiseta eu também posso fazer algo inspirado em (“Star Wars”), sem chapar nada oficial. Mas como é que eu vou colocar um filme de “Star Wars” na minha caixa, entende? Eu tenho que garantir isso. Se eu tenho um tema “Star Wars”, vai vir uma camisa, um livro e um DVD ou Bluray de “Star Wars”. É algo que as pessoas ou já tem, ou tem uma coleção, enfim. Quando alguém sugere algo como Ghibli, (eu pergunto): “Como eu vou fazer se não tem DVD do Ghibli no mercado?” Aceito todas as sugestões e até as adapto de alguma forma. Mas o tema tem que ser viável para eu ter essas três escolhas na mão. É importante dizer que a Clube Box é um clube que forma colecionadores, mas que colecionadores podem aderir ao clube e sempre vão ter garantia de uma curadoria feita por um especialista. Eles vão receber os filmes que, digamos assim, eles, talvez, precisavam descobrir. Os mesmos colecionadores que têm muitos filmes, que têm muito conhecimento, às vezes recebem um filme no mês que nunca ouviu falar e se surpreende. Então, é importante a gente colocar que a Clube Box não é feita só de pessoas que se tornaram colecionadoras. É importante jogar luz nisso porque é como eu te falei: os colecionadores ficam muito receosos às vezes de assinar e receberem um filme que eles já têm. É importante a gente jogar luz nisso de que é um clube o qual você sempre vai receber o filme escolhido pela pessoa certa. Um lançamento ou um relançamento, enfim. Todo mês um tema novo e um kit novo. Sempre exclusivo. E pensado para o assinante.

Como funciona a parceria com a Classicline? Há uma exclusividade?
A Classicline está comigo desde a caixa zero, mas no momento em que eu preciso, ou em algum momento que a Classicline não me atende, digamos assim, ela me abre a oportunidade de fazer outros lançamentos. Por exemplo, eu posso dizer que 95% das minhas caixas são Classicline. Mas eu já tive, por exemplo, um mês de Warner; já tive um mês de Sony; já tive um mês de Fox/MGM; já tive um mês de Universal. Já tive uma caixa com “O Farol”, que também é da Universal, mas que foi um lançamento. Mas são meses bem específicos. Eu não diria exclusividade, porque ela abre mão da própria exclusividade quando não me atende. Por exemplo, esse mês eu preciso de um filme sobrenatural. Isso como um exemplo. Então, ela fala que não tem como lançar, mas diz: “Que tal comprar pela própria Classicline, já que a Classicline tem uma loja, junto a Sony o filme tal?” Então, a Classicline me abre a porta que eles compram da Sony, e é como se a Classicline estivesse comprando, entendeu? Mas não dá para dizer exclusividade porque, por exemplo, o Valmir (Fernandes, diretor da Obras Primas do Cinema), me ofereceu “Sessão Anos 80 de Terror Vol. 4” para lançar dentro da Clube Box. Posso lançar? Posso. Podemos dizer que eu sou curador Classicline, e que trabalhamos, a Clube Box, prioritariamente com a Classicline.

Como citei na pergunta anterior, essa vantagem de contar com pelo menos 200 peças deve ser observada com atenção pela Classicline, afinal, em uma tiragem de 1000 unidades, já são 20% daquele estoque. Sem contar que isso fortalece bem um giro dentro do mercado de mídia física.
Sim. Ter esse arranque de 200 peças vendidas para um título Classicline e ter uma programação de dois, três meses para a frente de títulos escolhidos, primeiro fortalece o mercado; segundo, fortalece a marca Classicline, que a torna mais conhecida no mercado. E terceiro: faz com que a Classicline venda outros títulos, também, para os assinantes, sabe? As pessoas, depois de receberem os filmes da Classicline pela Clubebox, vão lá no site da Classicline e compram outros filmes. Isso para a gente é muito importante porque está se cumprindo algo que eu disse ao Alexandre Arrais (N.E. Diretor e proprietário da Classicline) na primeira caixa que ele entrou. Que era por isso que eu queria que eles entrassem. Porque as pessoas iam receber a Classicline e iam saber que essa marca existe.

Conhecendo um acervo bastante voltando para clássicos e westerns que são bem característicos da Classicline, tenho observado mudanças significativas em seu catálogo. Como têm sido essas mudanças nos lançamentos da empresa tendo você como curador?
Se você olhar de quatro aos para cá, que é o período no qual eu estou lá, quatro anos e meio para cá, você vai perceber a mudança da Classicline em seus lançamentos. Exatamente porque, digamos assim, tem esse meu dedo de cutucar e de escolher filmes para ele lançar. Às vezes até acontece de eu escolher um filme para colocar no Clube Box e, por algum motivo, eu ter que mudar o tema e acabo não colocando na caixa. Mas a Classicline abraçou e lançou o filme. E foi bom para eles. Você percebe essa mudança de catálogo da Classicline nesses quatro anos e meio. Você percebe um filme como “O Corvo” entrando no catálogo em DVD; você percebe um filme como “Estranhos Prazeres” entrando no catálogo; “Espinha do Diabo” (filme do Guillermo Del Toro), que são filmes que ele não lançariam se eu não estivesse lá cutucando. E ele transforma a oferta dele para os clientes que não são Clube Box, e aí a gente já está falando da Classicline, e faz com que o leque dele se abra mais. Eles não têm só o filme clássico, ele não têm só o western. Engraçado que sempre tinha algo assim: “Eu tenho que lançar sempre um musical, uma comédia romântica, um western, um épico ou um clássico romântico”. Então, tinha essa linhagem de fazer isso. Essa programação do mês deles. Hoje, essa programação, mesmo não sendo um filme que eu escolha para ir na caixa, mas um filme que eu escolha para a gente lançar, que a gente converse sobre e que eu o convença a lançar, é um filme de apelo diferente para oferecer ao público da Classicline. Teve “Lembranças de Hollywood”, que é um filme não tão diferente; teve “Tucker”; “Contos de Nova York”; “Elvira”. Eles tiveram outros filmes que talvez não lançassem se eu não estivesse lá pedindo. Hoje, a Classicline tem algo a mais além dos tradicionais gêneros e estilos que ela sempre lançou e que o seu público sempre pede. O sr. Alexandre até fala assim: “Vamos lançar esse filme mais moderno, então, esse mês”, brincando. O filme mais moderno é um filme diferente. Ou até mesmo um filme que ele não sabe na esfera dele de comerciante. E ele é extremamente comerciante. Ele não é cinéfilo, ele é comerciante. Um filme que ele não saiba que está esgotado há muito tempo no mercado e que as pessoas estão loucas pelo filme, como “A Convenção das Bruxas”, por exemplo É um filme que peço a ele há dois halloweens, já. E ele não colocava porque, talvez, achava que não ia ser tão importante. Mas aí depois de ter colocado o “Elvira” e ter sido um sucesso. Depois de ter feito o “Elvira” de novo, trazendo uma continuação inédita no Brasil e ter sido, também, um sucesso. E depois ele relançou “Sortilégio de Amor”, que é um filme de bruxa com a Kim Novack maravilhoso e ter feito sucesso, ele viu que poderia lançar um filme assim. Então, ele mesmo, às vezes, já me oferece filme. É engraçado. “Daniel, e esse filme aqui, o que você acha? Acha que dá para a Clube Box?” Eu vou até dizer para você dois filmes que ele me ofereceu, e que ele vai lançar independente da Clube Box existir ou não: “Deliverance” (Amargo Pesadelo), um filme que há muito tempo estava esgotado; e ele vai lançar “Zaroff – O Caçador de Almas”, um filme fantástico que vi quando ele me emprestou a master, me perguntou o que eu achava e eu disse que tinha que lançar urgente. E não demorou muito para lançar. É um filme que foi feito no intervalo de gravação do “King Kong’ original, pegaram a mesma equipe, as mesmas pessoas e filmaram. É um filme fora de série. Eu vejo essa mudança de catálogo da Classicline. Eu percebo que o nome Classicline vem crescendo no mercado de colecionadores. Mas não só no mercado de colecionadores antigos. Muita gente fala: “Ah, eles só estão vendendo para pessoas que compram filmes dublados”. Mas vem se abrindo esse mercado para outras pessoas, e consegue mudar o seu cardápio. Com essa minha incursão, consegue mudar o seu cardápio.

Antes de você assumir como curador, existia alguém com essa função na Classicline?
A gente pode dizer que o Alexandre Arrais tem um mentor maior, que é o senhor Maurílio Arrais, pai dele e fundador da Distrivídeo, a Nordeste Distribuidora, e da Classicline. Ele, sim, é um grandíssimo cinéfilo. O sr. Maurílio era, inicialmente, o curador. Alguém que assistia a muitos filmes por dia, importava muitos filmes. E era quem indicava ao Alexandre quais os filmes com potencias de venda, quais eram os premiados. Inicialmente, o curador era o senhor Maurílio Arrais. E até hoje ele indica filmes para o filho. Até hoje ele compra e assiste a muitos filmes. Mas, digamos assim, ele nunca teve essa posição oficial de curadoria lá, como me coloquei. Comecei a frequentar a Classicline pela Clube Box para negociar os filmes, para escolher os filmes todo mês. Mas, digamos assim, um dia ele acordou lá na Classicline e eu estava lá, entendeu? Então, eu era o curador da Classicline. Digamos que, um pouco mais da metade da vida da Classicline, eles não tinham essa função de forma oficial. Eles tinham consultores como o sr. Maurílio Arrais, como o Marcelo Arrais, que é irmão dele e dono da Distrivídeo, uma locadora que existe até hoje aqui em Fortaleza e que tem muitas raridades ainda em DVD e em blu-ray. E o Marcelo também é um grande cinéfilo. Então, o Alexandre tinha algumas consultorias. Mas, oficialmente, não. Oficialmente, digamos que a Classicline tem uma curadoria comigo há cerca de quatro anos e meio.

É perceptível uma mudança, inclusive, para os lançamentos em alta definição, com filmes chegando em blu-ray com o selo Classicline. Foi uma mudança que você trouxe ou já existiam lançamentos em blu-ray na distribuidora?
Quando cheguei, eles já tinham os lançamentos de blu-ray. Em 2016, era um mercado que estava, digamos, estável. Depois teve uma queda. E acho que hoje nós temos uma grande procura. O interesse maior mudou de pouco tempo para cá. Não apenas especificamente do mercado colecionador, mas de outras pessoas, também. Os novos colecionadores que foram sendo criados a partir dessa nova oferta de filmes. Mas a partir do momento em que eu percebi que era algo que a gente deveria investir, eu passei para eles minhas observações. Um pouco antes de março. Um pouco antes até dessa pandemia explodir, eu passei para ele que tinha que ter um ou outro lançamento de blu-ray. E eles sempre tentavam me explicar dizendo que era complicado porque são mil peças, porque o investimento é de cinco vezes de um filme em DVD. Sempre tentavam justificar isso, sabe? Até cheguei a mostrar que a gente poderia utilizar de um exemplo do Catarse para dizer assim: “Beleza. O senhor acha que é muito caro fazer um blu-ray, não quer gastar com isso. Então, vamos deixar os colecionadores pagarem pelo seu filme? Vamos colocá-lo para render no Catarse. Se ele atinge R$40 mil, R$50 mil, o senhor faz. Se não atingir, o senhor não faz.” Ele pensou e disse: “Olha, não vou aceitar isso. Mas eu entendi o que você falou. Vamos para o lado da pré venda”. E era algo que nunca tinha sido feito, também. Mesmo sendo um comerciante nato, ele sempre pensou que o filme chegou, está feito, pode colocá-lo no site para vender. Ele sempre foi muito pé no chão nisso. Mas aí eu incuti na cabeça dele essa prioridade de ter sempre um lançamento por mês em blu-ray e fazer essa pré-venda. Abraçar a pré-venda. Algo que hoje está bem difundido e as pessoas conseguem compreender que estão comprando agora um filme e só vão receber dois, três meses depois.

Lembro-me de ver os filmes do Chaplin à venda pela Classicline. O primeiro a ser vendido nesse processo de pré-venda foi o “Código Nolan”?
O primeiro filme de pré-venda que ainda não existia fisicamente ou não estava pronto na RiMO ou na fábrica e ele mandou buscar, sim, foi o “Código Nolan”. O box do Chaplin já fazia parte da Classicline e já vendia bem. Ele abriu os olhos que o mercado estava comprando de novo o blu-ray. Hoje, o box do Chaplin é o produto mais vendido que ele tem. Ele está esgotando e sendo colocado de novo para nova tiragem. E ele vai lançar “O Circo”, que é um filme inédito. E talvez lance um quinto filme que ele tinha há um tempo.

Como foi o seu processo de escolha do “Código Nolan” junto à Classicline no planejamento para esse lançamento?
Primeiro a gente tinha que quebrar esse estigma de que a Classicline só produzia DVDs simples e que, digamos assim, não tivessem grandes arroubos de imagem. Mas isso não ocorre com todos os títulos. Isso ocorre com alguns títulos clássicos que têm cópias ruins e que a gente tenta lançar no mercado. Às vezes as pessoas pensam que são todos assim. Não são. Muitas pessoas que chegaram até a gente através do “Código Nolan” tiveram essa pequena barreira, sabe? De que as pessoas falaram: “Classicline lançando ‘Código Nolan’? Não seria melhor lançar o ‘Código Chaplin’?” Uma brincadeira assim, sabe? E a partir disso, a Classicline pegou, contando com o sr. Alexandre, cinco pessoas diferentes para analisar as cópias. Tanto as masters em blu-ray do “Nolan”, quanto as cópias em blu-ray feitas pela Classicline que vão estar com vocês depois. Garantir de que o filme, mesmo vindo em bd25, fosse em uma qualidade tão boa quanto. Então, por exemplo, a gente não tem o comentário do diretor, se eu não me engano, em um dos títulos. E isso faz com que a gente ganhe espaço e não prense a cópia do filme. Estamos falando no caso de “Amnésia”, que é o único que tem um tamanho maior do que o usual de 25gb. Mas, assim, são três filmes feitos com qualidade total e absoluta no qual você pausa e vê cristalino o filme. No qual você escuta um 5.1 maravilhoso em inglês. Você ouve uma dublagem totalmente inteligível. Inclusive, eu vi os três filmes dublados e legendados, posso dizer isso para você. Então, sim, a gente teve que quebrar alguma barreira em relação a isso. E eu acho que ainda vai ter gente que vai querer comprar depois que alguns receberem, sabe? Infelizmente, nem todo mundo quebrou essa barreira. E que a gente vai conseguir quebrar. Porque sabe da qualidade. Sabe como está bom. E outra coisa que a Classicline optou fazer que até alguns colecionadores vieram falar comigo inbox dizendo que foi um erro. E eu não acho um erro depois de ter pensado duas vezes. É em não só ter lançado o box, mas ter lançado a opção de três filmes separados, também. A gente fez isso e é algo que ninguém faz no mercado. Se você comprar os três filmes separados, vai estar pagando mais caro. Mas você estará comprando o mesmo conteúdo. E talvez a pessoa só possa comprar um por vez. Você tem que ver isso também. Atingir públicos que não tenham R$150, R$160 com frete, para dar em um box, mas tenham R$50 mais o frete esse mês, e no outro mês compre de novo. E foi mais ou menos isso que o Alexandre pensou e passou para mim. Eu falei: “Olha, eu sou contra os três filmes”. E ele falou: “Vamos fazer assim. A gente tem o box para a pessoa que quer comprar imediatamente na coleção, mas a gente também atinge outros públicos”. E é isso que vem acontecendo. Acredito até que os filmes simples vão esgotar em pouquíssimo tempo. A pessoa pode achar: “Ah, mas você vai perder venda”. Eu acho que não. Acho que a questão é que a gente tem 1000 cópias no mercado dos filmes. E se a gente tem 1000 cópias, eu vou vender as mil cópias, entendeu? De uma forma ou e outra.

Vai da pessoa se ela prefere ter o lançamento em embalagem digipack ou amaray.
Sim. Na minha opinião, acho melhor ter a coleção por dois motivos: primeiro você vai ter um digipack, algo que otimiza espaço. Hoje em dia espaço está difícil para o colecionador. Para mim, está difícil, exemplo. Eu tenho 2500 filmes e é muito difícil espaço na casa. Prefiro otimizar em uma coleção na qual vou ter tudo certinho, não estou perdendo nada de conteúdo. Nessa coleção você vai ter um acabamento de luxo. Isso para mim é diferencial, também. E tem outra coisa, na edição do “Código”, fiz uma minibiografia do Nolan – que está até assinado lá como “Daniel Herculano – Clube Box”. Então, assim, em épocas que a gente valoriza tanto o físico, o livro, o filme físico, (isso) está lá escrito. Você vai ler lá escrito. Você não vai ler na tela, como tem alguns filmes que botam a filmografia ou a biografia do diretor, ator na tela. Você vai pegar a sua edição, vai abrir, e vai ter lá um texto dentro do seu “Código Nolan”.

Tivemos problemas esse ano com o lançamento do blu-ray de “Parasita”, cuja opção da Pandora e da Alpha Films em acomodar em blu-ray de 25gb um filme cuja master era de tamanho bem maior, acabou prejudicando a imagem por conta da prensagem. Em relação ao “Código Nolan”, como foi feita essa avaliação para a escolha da mídia de 25gb?
Primeiro, acho válido o review de qualquer pessoa. Mas é muito importante mesmo você não demonizar a mídia de 25gb. Você tem que ter na sua consciência qual a cópia você está utilizando e que você está printando em mídia de 25gb porque ela é perfeitamente condizente com o original, com o master. Sem prejudicar o resultado final. E é isso que a gente fez no filme. Tive quatro reuniões com a Classicline. Em uma delas, o meu autorador foi muito didático para mim ao perguntar: “Você quer que eu coloque o ‘Amnésia’ em um BD50? Eu coloco. Só que você vai estar colocando quatro pessoas dentro de um ônibus. Eu posso colocar em um BD25 sem nenhum tipo de perda visual e de áudio, que é o que mais se preza em um filme de alta definição, e posso te garantir que você vai ter quatro pessoas dentro de um carro. Ele vai estar dentro do que é viável. Eu não vou colocar três pessoas em uma bicicleta, seis pessoas em um carro. Agora, se você quiser um BD50, eu vou colocar quatro pessoas dentro de um ônibus”. Ele falou desse jeito para mim. Então, assim, a partir disso, o que foi que eu fiz, coloquei tela a tela, lado a lado, a master que a gente tinha do “Amnésia”, e o filme pronto da Classicline. E, sinceramente, não vi diferença alguma pausando o filme. Não vi. Se outra pessoa pegar e ver, ele pode, talvez, até estar agindo subjetivamente. Ou estar com algum problema de ajuste de cor na sua tela. Mas o filme, digamos assim, está totalmente bem acomodado, digamos assim, no blu-ray de 25gb. A gente teve a clareza de escolher o conteúdo que iria no nosso bd de 25gb. Escolhemos um conteúdo que coubesse em um blu-rau de 25gb. Se eu fosse colocar ipsis litters o que eu tinha no meu master, eu ia ter que ter um bd50. Mas não tenho ipsis litters o que eu tenho na master. Eu não tenho a dublagem em coreano. Eu não tenho a dublagem em francês, por exemplo. Faixas de áudio foram extraídas de forma que, se não me engano, só tem inglês e português. Não tem nem espanhol. Então, priorizei imagem e som. E é isso que eu tenho. Tinha um extra gigantesco, se eu não me engano, mostrando desenhos que levaram o Nolan a criar as tatuagens do personagem principal. Só que eram arquivos gigantescos, e que não eram animados, que não eram nada. Que iam só amontoar fotos. E que eu não conseguia colocar no disco com qualidade. Falei: “Pode tirar”. E a gente teve que tirar. Por que? Para viabilizar extras como a entrevista do Nolan. O que está no disco está totalmente viável para estar dentro do disco. Isso que é importante. E tem outra coisa, também: levando em consideração a compra dos direitos dos filmes, levando em consideração a embalagem de luxo que a gente escolheu em colocar o filme, o digipack, e não em três amarays, que o pessoal falou para colocar o box, tivemos um custo elevado do filme. Então, se eu fosse, por exemplo, fazer uma coleção de dois bd25 e um de bd50, ela não sairia por R$139,90 preço final e R$119,90 promocional. Ela iria sair R$149,90 promocional e R$169,90 final, entendeu? Não sei, você compraria um filme de R$190? Não sei. Será que eu venderia 1000 cópias de R$190? Ficamos nesse meio termo em relação a isso. Garantindo a qualidade do filme, não tendo milhões de extras exatamente desse filme. Mas garantindo a qualidade do filme e do áudio. E tendo um preço acessível.

– João Paulo Barreto é jornalista, crítico de cinema e curador do Festival Panorama Internacional Coisa de Cinema. Membro da Abraccine, colabora para o Jornal A Tarde e assina o blog Película Virtual

Panorama do Mercado Cinéfilo de Mídia Física em 2020 no Brasil
01) Fábio Martins – Loja FAMDv
02) Fernando Luiz Alves – Loja The Originals
03) Classicline, 1Films e Vídeo Pérola
04) Valmir Fernandes (Obras Primas do Cinema)
05) Igor Oliveira (CPC UMES Filmes)
06) Daniel Herculano (Clube Box)
07) Gleisson Dias (Rosebud Club)
08) André Melo e Fernando Brito (Versátil)
09) Juliano Vasconcellos e Celso Menezes (Blog do Jotacê)

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