Entrevista: Marcão, ex-Charlie Brown Jr.

entrevista por Marcos Paulino

São incontáveis as bandas que se dedicam a reproduzir em shows os muitos sucessos da lendária Legião Urbana. Mas há uma na atualidade que chama a atenção por conseguir reunir músicos que também têm destaque em trabalhos paralelos, a Urbana Legion. No vocal, Egypcio, e na bateria, PG, ambos do Tihuana. No baixo, Lena Papini, que era da A Banca e atualmente está na Bula. E, na guitarra, Marcão, que tocou em nada menos que o Charlie Brown Jr. e hoje lidera a Bula, na qual também canta.

Iniciativa de Egypcio, fã de carteirinha de Renato Russo e companhia, a Urbana Legion tomou forma em 2014, quando estreou na festa de lançamento do site oficial da Legião Urbana. E segue firme na estrada, apresentando-se no país todo. Mas o grande reconhecimento veio recentemente, quando a banda foi convidada por Giuliano, filho de Renato Russo, para que musicasse uma letra inédita de seu pai, “Apóstolo São João”, escrita há mais 20 anos. “Foi uma grande surpresa pra mim”, conta Marcão sobre o convite.

Na entrevista a seguir, concedida ao Mundo Plug, parceiro do Scream & Yell, Marcão fala sobre esse privilégio, sobre a Urbana Legion (“Nossa intenção não é imitar a Legião, mas sim tocar suas músicas da nossa maneira, sem desrespeitar o original”), sobre o CBJr. (“O Chorão tinha muita coisa em comum com o Renato Russo, eles eram muito eloquentes, compulsivos por comunicação”) e sobre a Bula, que já se apresentou no Rock in Rio e no Lollapalooza, e prepara agora o segundo disco de inéditas. Confira a conversa.

Como tem sido a experiência com a Urbana Legion?
É ótimo poder revisitar uma obra tão importante para o rock e para a história da música brasileira. Ainda mais quando se está ao lado de amigos que também se influenciaram por essa geração tão incrível de bandas dos anos 80. Temos feito umas versões muito boas dessas músicas.

Como vocês fazem pra conciliar a agenda da Urbana Legion e das outras bandas?
Nossos escritórios sempre trabalham em conjunto e isso tem facilitado as coisas, afinal temos nossas bandas autorais, e assim temos conseguido conciliar essa questão da agenda. Já chegamos até a fazer alguns shows juntos e foi bem divertido. No início da Urbana Legion, eu estava lançando o primeiro disco da Bula e já me acostumei com isso. É muito legal quando se faz o que se gosta.

Como surgiu a oportunidade de gravar “Apóstolo São João”?
O Giuliano, filho do Renato Russo, nos convidou pra que musicássemos uma letra inédita do pai dele. Foi uma grande surpresa pra mim. Não imaginava que um dia iria ter o privilégio de ser convidado pra fazer algo relacionado à obra dele. Com o Charlie Brown, já tínhamos regravado “Bader Meinhoff Blues”, mas era um cover tocado com a nossa pegada. Neste caso, é bem diferente, se trata de musicar uma letra inédita, é algo que envolve a criação em cima da letra de um dos artistas mais influentes de todos os tempos. Fiquei muito feliz com o convite, mas também com um frio na barriga, porque sou muito fã.

Qual diferencial você apontaria da Urbana Legion em relação a outras bandas cover da Legião?
A Urbana Legion se preocupa mais em fazer versões dos grandes clássicos da Legião. Nossa intenção não é imitar a Legião, mas sim tocar suas músicas da nossa maneira, sem desrespeitar o original. É um grande desafio, pois sabemos que muita coisa legal já foi feita, mas nossas versões têm sido bastante elogiadas e é muito bom ter esse feedback positivo. A ideia é levar pra essa galera que curte nossas bandas originais um pouco desse repertório incrível que a Legião deixou.

O fato de a Urbana Legion ter integrantes que já fizeram sucesso com outras bandas ajuda a abrir portas?
Acho que gera uma curiosidade. Você ouvir as músicas da Legião com uma pitada de Charlie Brown, Tihuana é bem interessante. Os shows têm sido muito bons e isso acaba determinando a receptividade da Urbana.

Vocês têm intenção de lançar um disco da Urbana Legion?
Seria ótimo ter um registro disso tudo. Temos gravado versões de músicas como “Tempo Perdido”, “Ainda É Cedo”, “Índios” e outras, além da mais recente e inédita “Apóstolo São João”. A princípio, não pensamos nisso, mas acho a ideia muito bacana. Mas tem muita coisa na internet que a galera já pode conferir.

Você tocou no CBJr., uma das bandas de rock de maior sucesso depois da época áurea dos anos 80. Como foi ter vivido essa experiência?
Foi incrível tocar no Charlie Brown Jr., fizemos muita coisa ao longo desses anos. Desenvolvemos um estilo próprio, lançamos vários discos realmente bons e fomos muito felizes. Alcançamos algo improvável e quase impossível na maioria da vida das pessoas. Fiz muitos amigos na estrada e isso tudo me dá vontade de continuar a fazer mais e mais o que mais amo, que é tocar. É algo viciante estar fazendo música e na estrada. Não vivo sem.

Você acredita que, se não fossem as mortes de Chorão e Champignon, a banda estaria na ativa?
Acredito que sim! A banda era o ponto central da vida de todos nós e acho que dificilmente pararíamos de tocar. Passamos por tudo e mais um pouco que uma banda pode passar. É uma linda história, que teve também seus momentos difíceis, mas não existia nada que um bom show não curasse. A música do Charlie Brown é atemporal e não tem prazo de validade. Vai ficar viva pra sempre.

Você vê similaridade nas histórias da Legião e do CBJr., já que as duas fizeram muito sucesso e tiveram cantores e compositores carismáticos que morreram de forma trágica?
Vejo sim. O Chorão tinha muita coisa em comum com o Renato Russo, eles eram muito eloquentes, compulsivos por comunicação e tinham um grande respeito pelos seus fãs. Suas artes sempre estiveram em primeiro lugar em suas vidas. Pessoas intensas geralmente vivem intensamente, e o rock é assim. Tem que ser de verdade. E eles eram mesmo. Não tive a oportunidade de conhecer o Renato, mas tenho amigos que já trabalharam com ele e me falaram sobre essas semelhanças de personalidade.

Na Bula, você também assumiu os vocais. Como tem sido isso pra você?
Tem sido ótimo! Uma ótima oportunidade pra expressar o que sinto e fazer música. Tem sido surpreendente pra mim, pois depois de muitos anos no posto de guitarrista, chegou o momento de criar minha própria banda e a banda é realmente incrível, todos eles são grandes músicos. Nossa estreia não poderia ter sido melhor, foi ótima, com shows no Rock in Rio, Lollapalooza e grandes festivais. É muito bom poder seguir compartilhando as músicas com as pessoas.

Em quais projetos a Bula está trabalhando neste momento?
Vamos lançar um material ao vivo gravado em São Paulo, num show alucinante no Espaço das Américas. Foi sensacional tocar pra 10 mil pessoas e receber toda aquela energia. Mas no momento estamos no Electro Sound, em Santos, gravando o segundo disco de inéditas, que está ficando muito bom. Estou ansioso pra mostrar pra vocês!

Marcos Paulino é editor do site Mundo Plug (www.mundoplug.com)

4 thoughts on “Entrevista: Marcão, ex-Charlie Brown Jr.

  1. Integrantes do CBJR e Tihuana no mesmo palco é como um dream team da ruindade do rock brasileiro, não é a toa que fazem covers hoje em dia.

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