Três CDs: Juliana Cortes, Aíla, Blubell

por Renan Guerra

“Gris”, Juliana Cortes (Tratore)
Juliana vale a atenção pelo simples fato de ser uma jovem cantora que busca caminhos distintos, não se aventura pelo sambinha-bossa-nova-wannabe-Marisa-Monte, o que já foge a regra da “tradição” na música brasileira, mas além disso, ela se vale de ritmos distintos para criar uma base rítmica rica fazendo a cama para que sua voz surja de forma delicada, criando cenários e sensações de delicadeza e destreza raras. Se em seu primeiro disco ela se aventurava pela obra de Vitor Ramil e por toda essa estética do frio, este seu segundo disco, “Gris”, opta por outras vozes, se conectando com diferentes geografias, coadunadas pela produção de Dante Ozzetti e também nas participações de Arrigo Barnabé, Antonio Loureiro e Paulinho Moska. Gravado entre São Paulo, Buenos Aires e Curitiba (terra natal de Juliana), “Gris” traz esse cenário cinza de inverno das grandes cidades, alavancada pela poesia das composições de Paulo Leminski, Luiz Tatit, Maurício Pereira, Estrela Leminski, o próprio Dante e, claro, novamente Vitor Ramil. No todo, “Gris” é um disco que aparenta uma possível simplicidade, mas que é de extrema complexidade, criando cenários de delicadeza quase barroca. Vale a audição atenta!

Nota: 8 (ouça no Spotify)

“Em Cada Verso Um Contra-Ataque”, Aíla (Natura Musical / Tratore)
É interessante como Aíla concatena temas tão pungentes nas redes sociais ou nas rodas de esquerda, como o feminismo, os abusos sexuais, a liberdade sexual e de expressão, num disco descaradamente pop. E o melhor de tudo: seu discurso não soa plastificado nem embalado para o “lacre”. “Em Cada Verso Um Contra-Ataque” apresenta-se mais como um olhar atento sobre o nosso tempo, que se comunica com essas vozes e gera poesia, dança e arte através da velocidade do cotidiano. De versos simples, que fixam na cabeça, esse segundo disco da cantora paraense é um ótimo antídoto contra o discurso fofolete de grande parte da MPB atual. Produzido por Lucas Santtana e lançado pela Natura Musical, o disco traz compositores da nova geração, como César Lacerda, Siba, Paulo Monarco, ao lado de grandes expoentes, como Chico César (na grudante “Melanina”) e Dona Onete (em parceria com Aíla na sacana “Lesbigay”); além disso, conta com a participação de Manoel Cordeiro e Doug Bone (Bixiga 70). Há que se destacar a presença na bateria de Arthur Kunz, uma das metades do Strobo e artista “sempre presente” que já acompanhou contemporâneos de Aíla como Felipe Cordeiro e Luê e que produziu o mais recente disco de Arthur Nogueira.

Nota: 8,5 (Download gratuito)

“Confissões de Camarim”, Blubell (Independente)
Produzido através de um crowndfunding, “Confissões de Camarim” é o quarto disco autoral de Blubell e é nele que a voz jazzística da cantora eleva-se cada vez mais em seus contornos pop, criando aqui um antídoto contra o mau humor e a chatice. Blubell assina a composição de quase todas as faixas, expondo no álbum sua capacidade de criar versos muito imagéticos, que redesenham cenas cotidianas, fazendo com que tudo que ela cante soe como a trilha sonora dos nossos dias mais comuns, daqueles em que vamos para o trabalho cedinho, fazemos coisas chatas, damos risada, brigamos e sentimos a vida de forma natural. As participações de Zeca Baleiro e da banda Mustache e os Apaches tornam apenas o cenário mais divertido, dando esse ar de canções entre amigos. No todo, a delicadeza e beleza de Blubell tomam conta de “Confissões de Camarim” e fazem deste um disco para alegrar dias cinzas e nos salvar de qualquer enxurrada de ódio.

Nota: 9 (ouça no Spotify)

Renan Guerra é jornalista e colabora com o sites You! Me! Dancing! e Scream & Yell

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