Boteco: as novas cervejas da Morada

por Marcelo Costa

Surgida em 2010 em Curitiba através dos esforços de André Junqueira, a Morada Companhia Etílica já tinha colocado seu nome em destaque no cenário cervejeiro nacional lançando uma linha caprichada de cervejas (Kölsch, Hop Arábica, Gasoline Soul e Double Vienna Lager), mas agora pretende ir muito além: nos planos da casa estão projetos que envolvem uma linha de sidras, com maçãs das serras gaúcha e catarinense, outra de hidromel, e uma linha de destilados de inspiração amazônica, em parceria com a cervejaria Cabôca, em Belém do Pará. Na área cervejeira, a Morada coloca na praça uma linha intitulada “Delícias Ácidas de Verão”, com quatro sours ale bem interessantes (duas delas em parceria com a Stillwater Artisanal – há ainda parceria com a mítica Fantôme, que rendeu a Tonka, uma saison com ingredientes brasileiros: jambu, cubeba, iquiriba, puxuri, cumaru-tonka e amburana). Abaixo, cinco ótimas novidades da Morada.

Abrindo a sequencia com a Roggen Kölsch, uma receita colaborativa entre a paranaense Morada Cia Etilica e a catarinense Das Bier que, acrescentando centeio, consegue melhorar ainda mais a ótima Kölsch que a Morada mantém no cardápio. De bela coloração dourada com creme branco de boa formação e permanência, a Roggen Kölsch apresenta um aroma suave com sugestão de mel, biscoito, leve cítrico (uva verde e maçã) e floral. Na boca, textura suave. O primeiro toque traz cítrico e doçura praticamente juntos seguidos de acidez suave auxiliando o amargor, eficiente (apenas 26 de IBU). Dai pra frente, um conjunto saboroso (mel, biscoito, maçã) e refrescante, que finaliza frutado sugerindo vinho branco. No retrogosto, suave cítrico e acético aliado a muita refrescancia. Uma delícia.

Outra colaborativa, desta vez com a cervejaria norte-americana Stillwater Artisanal, a Morada Liquid Rio, lançada no começo de 2015, foi o ponto partida de André Junqueira para o trio que segue abaixo. É uma Berliner Weisse feita com trigo, cevada, aveia, fermentação lática e, neste caso especial, adição de suco de pêssego. De coloração amarelo palha com leve turbidez e creme branco de média formação e curta retenção, a Morada Liquid Rio apresenta um aroma que adianta acidez e confirma a presença agradável do pêssego, que se destaca. Na boca, a textura é frisante com a acidez pinicando a língua. O primeiro toque traz acidez envolvente seguida de frutado (pêssego) e amargor suave (apenas 10 de IBU). O perfil que se abre traz a acidez no começo (incluindo um pouco de salgado) e pêssego no trecho final. No retrogosto, acético, leve adstringência, pêssego distante e sal. Boa.

Cu-de-Burro é um drink que consiste em misturar sal e limão na bebida (costumamente na cerveja, mas os shots de tequila da época da faculdade são inesquecíveis), e, partindo desta ideia, a Morada preparou uma cerveja cuja receita une aveia, cevada, água, lúpulo (incluindo dry hopping de Sorachi Ace), raspas de limão Tahiti, sal marinho e levedura. O resultado (que a casa apelida de Oatmeal Berliner Saison) é uma Gose de matriz alemã. De coloração dourada com creme branco de boa formação e média permanência, a Morada CDB exibe um aroma com suave sugestão cítrica (limão bem agradável), percepção de acidez (também suave) e sal. Na boca, a textura é frisante (o sol se esparrama sobre a língua). O primeiro toque traz acidez e limão. O amargor é baixíssimo (8 de IBU) e o conjunto, brilhantemente refrescante. O final é levemente acético e no retrogosto, mais acidez, limão e refrescância.

Seguindo o rastro das cervejas ácidas da Morada, a próxima é a Cupuaçu Sour, cuja receita une cevada, aveia, trigo, levedura, lúpulo, água e polpa de cupuaçu, famoso fruto amazônico, vindo de Ilhéus para Curitiba e acrescentado durante a fermentação. De coloração dourada com creme branco de média baixa formação e rápida dispersão, a Morada Cupuaçu Sour apresenta um aroma que junta notas cítricas, azedume, sal e leve doçura frutada derivada do cupuaçu, que também auxilia na potencia da acidez. Na boca, a textura é frisante, com muito sal sobre a língua. O primeiro toque traz acidez e a sequencia confirma a sugestão de azedume, salgado e frutado cítrico adiantado pelo aroma. O amargor é praticamente inexistente (7 de IBU), mas há muita gente que vai confundir a acidez, erroneamente, com ele. O final é salgado e acético. No retrogosto, mais sal, mais azedume, mais acidez e leve cupuaçu.

Fechando com outra colaborativa da Morada com a Stillwater mais a Vinícola Franco Italiano, que entra na segunda parte do processo envelhecendo parte do lote no método champenoise para a futura Abera Brut. Nesta receita base, destaque para o uso da levedura Brettanomyces. De coloração dourada com creme branco de ótima formação e média alta permanência, a Morada Abera Base apresenta um aroma intimidador, com azedo, salgado e leve cítrico (uva e maçã verdes) sugerindo uma aventura. Na boca, textura frisante e salgada. O primeiro toque traz frutado cítrico remetendo a caqui seguido de sal, azedume e amargor (28 de IBU só, embora pareça mais pela complexidade de sabores extremos). Dai pra frente, sugestões de abacaxi, caqui, azedume (moderado), salgado, vinho branco e doçura melada bem suave. Incrível. O final é cítrico e salgadinho. No retrogosto, leve doçura e adstringência, cítrico e sal. O que mais impressiona é a total ausência dos 9.5% de álcool! Sensacional <3

Balanço
Abrindo com a Morada Roggen Kölsch, uma cerveja tão gostosa que caso me presenteassem uma piscina dela, eu mergulhava e bebia tudo, feliz. Simplesmente deliciosa e refrescante. Fácil a melhor a Kölsch nacional (e mais interessantes que muitas originais da Colônia). Já a Liquid Rio é uma Berliner Weisse que soa mais interessante que as originais misturadas, mas perde para a tradicional (e para a Evil Twin Brazil Ich Bin Ein Berliner Maracujá) por exibir uma acidez bastante suave, que pode agradar novos paladares. A Morada Cu-de-Burro é uma baita surpresa, principalmente para fãs desse drink que une limão, sal e bebida. Refrescante demais. Já a Cupuaçu Sour começa a pegar na acidez e no salgado, honrando a proposta da casa. O cupuaçu, por sua vez, dá um colorido muito interessante à receita, trazendo mais acidez e o frutado característico. Boa. Fechando com a melhor do pacote (e uma das melhores de toda a ótima linha da Morada), Abera Base, uma apaixonante Sour com levedura Brett. Sensacional.

Morada Roggen Kölsch
– Estilo: Kölsch
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3,52/5
Preço pago em São Paulo: R$ 17 – 355 ml

Morada Liquid Rio
– Estilo: Berliner Weisse
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4%
– Nota: 3,15/5
Preço pago em São Paulo: R$ 17 – 355 ml

Morada CDB
– Estilo: Gose
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4,8%
– Nota: 3,52/5
Preço pago em São Paulo: R$ 23 – 355 ml

Morada Cupuaçu Sour
– Estilo: Sour
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,5%
– Nota: 3,15/5
Preço pago em São Paulo: R$ 24 – 355 ml

Morada Abera Base
– Estilo: Sour
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 9,5%
– Nota: 4,03/5
Preço pago em São Paulo: R$ 24 – 355 ml

Leia também
– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)
– Sobre todas as cervejas da Morada (aqui) e da Stillwater (aqui)

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