Entrevista: Esperanza (2015)

por Marcos Paulino

Os caras da Esperanza não têm medo de mudança. De qualquer tipo de mudança. Desde que formaram a banda, em 2004, Artur Roman (guitarra e vocal), Wonder Bettin (guitarra) e João Davi (contrabaixo) não param de mudar. “As pessoas dizem que somos meio mutantes”, brinca Artur em conversa com o Plug, parceiro do Scream & Yell.

A primeira mudança foi de cidade, quando saíram de Curitiba para São Paulo. Depois de gravadora, da Universal pra Sony. Também mudaram de nome, de Sabonetes pra Esperanza. E mais de uma vez mudaram de sonoridade, de dançante pra introspectiva, e desta pra outra novamente agora em “Z”, terceiro disco que acaba de ser lançado.

Outra mudança: a saída do baterista Alexandre Guedes, posto ocupado por Pedro Garcia. “Z” pode ser ouvido em www.esperanza.art.br. Lançado inicialmente apenas nas plataformas digitais, o disco físico, talvez também em vinil, ainda vai sair, conforme Artur revela nesta entrevista, em que fala sobre o atual momento da Esperanza.

Vocês já foram independentes, estiveram numa grande gravadora, voltaram a ser independentes e estão numa segunda gravadora. Por que tantas mudanças?
É uma história de idas e vindas. O primeiro disco, como Sabonetes, a gente gravou e lançou como independentes. Em 2011, a Universal quis assinar com a gente pra relançar esse disco, através do selo Midas Music. Quando começamos a fazer a pré-produção do segundo disco, houve discordâncias quanto à estética, achamos melhor rescindir o contrato e fizemos um financiamento coletivo pra lançá-lo, de forma independente. Foi quando a gente mudou o nome pra Esperanza. Depois disso, a Sony quis relançar esse segundo disco e assinamos com eles. Quando começamos os procedimentos pra fazer o relançamento do “Esperanza”, tínhamos algumas músicas novas e mostramos pro pessoal da Sony. Foi então que surgiu a proposta de gravar um disco novo em vez de relançar aquele que já estava na praça. Adoramos a ideia, até porque já tínhamos mais de 30 músicas novas, que estavam basicamente voz e violão, sem arranjos. Entramos no estúdio pra escolher 12 delas e gravar. Fomos desenvolvendo os arranjos enquanto gravávamos. O (Alexandre) Kassin, que produziu o disco, teve um papel muito importante, porque ajudou a definir a estética dele.

É a primeira vez que realmente dá pra sentir a mão do produtor no trabalho de vocês?
Acho que não. Nosso primeiro disco talvez seja o que dê pra perceber mais, porque a gente era muito novo e não tinha muita experiência em estúdio. Quem produziu foi o Tomás Magno, que virou nosso grande amigo. A gente não fazia muita ideia de pra onde ia, só sabia que tinha músicas boas e que iria gravá-las. Ele foi decisivo pra moldar esteticamente as músicas, e isso nos influenciou muito na forma de compor, de arranjar. No segundo disco, estávamos muito escolados. Foi o Kassin também quem produziu, só que a gente tinha feito uma pré-produção bem longa, passamos 20 dias num sítio ensaiando, arranjando e gravando. Enviamos essas gravações rústicas pro Kassin, e ele deu a ideia de gravar o disco ao vivo para captar essa energia. Então fomos pro estúdio já com tudo pronto, e a mão do Kassin foi mais pra definir os timbres. Neste novo disco, tem mais presença do Kassin com certeza, porque chegamos lá sem ter arranjo. Então, desde a escolha do repertório até o instrumento que a gente iria gravar ele participou. Foi um processo muito legal, muito espontâneo, muito divertido. O Kassin tem esse papel importante de deixar a gente à vontade criativamente.

Nesta última década, a banda passou por várias mudanças, do nome à sonoridade. Como você avalia essas transformações?
As pessoas dizem que somos meio mutantes. No Brasil, ser músico e artista é uma coisa que não te dá retorno, uma segurança financeira, é uma vida muito instável. Se você não fizer só o que quer fazer, do jeito que você quer fazer, não vale a pena fazer. A gente não se poda em nenhum momento. Se mudar nome é mercadologicamente ruim, e daí? Ser músico e ser artista tem muito disso de não se impor limites. A sociedade já impõe muitos limites. Se queremos fazer um disco mais dançante, fazemos; se queremos um mais introspectivo, fazemos. Essa geração de bandas que caminham junto com a gente entende isso e faz isso também.

Vamos aprofundar nesse tema. Vocês conseguiram uma boa projeção como Sabonetes, mas sem que tivessem chegado à grande mídia. Esse lado mutante pode ter contribuído pra isso?
Acho que não. Pode influenciar um pouco, mas não é definitivo. Estamos fazendo o trabalho que queremos, do jeito que queremos. Isso é o mais importante. Não tocar maciçamente na rádio, não estar na TV, não tem a ver com o som que você está fazendo. Claro que nosso objetivo é divulgar o máximo possível nosso trabalho, porque amamos a música pop e acreditamos na sua força. Nossa geração tem essa coisa de não fazer concessões pra que isso aconteça. Não é porque estamos numa gravadora grande que nos vendemos. A Sony foi muito parceira porque abraçou nossa ideia. Ninguém quis moldar nada, a gente escolheu o produtor e como queria gravar. Poder fazer as coisas do jeito que queremos é uma grande vitória.

Novos Baianos, Clube da Esquina, Roberto Carlos são alguns dos artistas que vocês já citaram como influências. Inclusive é evidente como vocês passeiam por várias sonoridades no novo disco. Na hora de compor, como vocês fazem pra dar conta de toda essa mistura?
[Risos] Pra te responder, preciso dizer que a gente é muito fã de Beatles e de Blur. O Blur tem discos muito diferentes uns dos outros, e dentro do mesmo disco pode ter uma música que é punk rock, guitarra, baixo e bateria, e uma faixa que é só uma orquestra com cordas, metais, percussão e voz. A grande beleza da música pop é não ter nenhuma limitação estética, o que importa é ter uma boa canção. Pra formatar essa canção, você pode ser livre pra deixar sua criatividade viajar. Os três da banda compõem muito, e chegamos num ponto de intimidade em que podemos conversar sobre a música de cada um, mudar, sugerir. As influências não são tão importantes na hora de compor. Elas inspiram pra fazer um disco, mas não diretamente. Às vezes, gravando, alguém pode sugerir pra dar um clima Tim Maia, colocar metais. É mais uma questão estética, e não de composição. É um desafio cantar rock e pop em português, porque já foi feita tanta música boa brasileira, que é sempre possível alguém querer te comparar ou dizer que foi influenciado. É uma responsa ter o Cazuza como influência e querer chegar perto disso. Mas a gente topa esse desafio e tenta fazer da melhor forma possível.

Vocês gravaram este disco já sem o Alexandre. Como foi essa experiência? E a ideia de ter um baterista convidado vai se perpetuar ou vocês pensam em efetivar alguém no lugar dele?
O Alexandre saiu um pouco antes de a gente entrar em estúdio. O Kassin foi muito importante também nesse sentido, porque ele indicou o Pedro Garcia, que foi batera do Planet Hemp. Além disso, é um grande engenheiro de som e um grande produtor. Acertamos em cheio com ele, porque gravou a bateria e ajudou muito na produção. Depois que o Alexandre saiu, a gente achou que iria ser foda ser uma banda de três, mas viramos uma big band. [Risos] A gente tem vários músicos amigos que têm participado dos shows, é uma banda de oito ou nove pessoas. Fazer música com essas pessoas tem sido muito legal. O que era pra ser uma dificuldade virou uma curtição. Tem sido bem legal pensar em cada show como sendo único e ensaiar pra ele. No nosso primeiro disco, rodamos o Brasil fazendo shows muito energéticos. No segundo, que era mais introspectivo, os shows eram mais lentos, eram pra assistir, e não pra dançar. Com este terceiro disco, voltamos pra vibe do primeiro, aquele show que você termina com um corte no rosto e não sabe nem de onde surgiu. [Risos] Estamos felizes de ter voltado a esse clima.

Ainda não há o “Z” como um disco físico, apenas nas plataformas digitais. Ele vai existir? É importante que exista?
Vamos lançar, e talvez ainda saia em vinil. O CD com certeza sai. Acho importante ter o disco físico, e gosto. Vai ter um encarte incrível, será lindão. E o de vinil será peça de colecionador, pra guardar com muito carinho. [Risos]

Como será a turnê do show novo?
Estamos começando a turnê agora. Já fizemos São Paulo e Curitiba, que foram muito legais. Tem show em Santa Catarina, onde tocamos muito no início da carreira. E queremos muito fazer o interior de São Paulo logo.

Marcos Paulino é editor do caderno Plug (plugmusic.zip.net), da Gazeta de Limeira.

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